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É preciso saber perder

Quarto lugar na Copa trouxe à tona decepção da torcida com a Seleção e mostrou que o povo não sabe lidar com a derrota

Foto: Divulgação
Sonho do hexacampeonato foi adiado (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM).

O Brasil pode até ter sediado a tal Copa das Copas, no que diz respeito à hospitalidade para com os turistas e o clima de festa com que realizou o Mundial por aqui. Mas,  o desempenho da Seleção Brasileira dentro de campo esteve bem aquém do que esperava a Pátria de Chuteiras. Tanto, que nem mesmo o mais pessimista dos brasileiros poderia imaginar que aquele jogo contra a Alemanha, no Mineirão, em 08 de julho, viraria a maior derrota de um time anfitrião de Copa do Mundo e a pior goleada que já sofremos em 100 anos de história. Mais trágico ainda foi perder a chance de garantir o terceiro lugar, no último sábado (12), no mínimo, como prêmio de consolação.

Que foi “apenas um campeonato de futebol perdido”, todo mundo sabe. Todavia, um sentimento de frustração, de tristeza e, até mesmo, de luto tomou conta de grande parte da população brasileira. Muita gente encarou os dois resultados negativos como algo bem mais sério que uma competição esportiva. Na opinião da psicóloga Lauren Gómez, 34, a reação dos torcedores denota que o brasileiro, em linhas gerais, não sabe perder. “O reflexo disso se viu, por exemplo, nos programas de TV, que enfatizaram a tristeza das crianças ao assistirem o fracasso da Seleção. Isso mostra o quanto os pais reproduzem para os filhos esta falsa ideia de que o Brasil tem que ser perfeito em aspectos como o futebol e o Carnaval – já que não somos exemplo em educação, saúde etc -, em vez de prepararem suas crianças para aprender a conquistar, mas, também, saber enfrentar as perdas e tolerar frustrações”, opinou. Para ela, é essencial que se saiba viver e passar para as outras gerações a importância de conceitos como a resiliência e a adaptabilidade, justamente para enfrentar as crises, que são inevitáveis, da melhor forma possível. “O mundo não é suave quando se trata de lições de vida”, sentenciou a psicóloga.

Roberta (E) torceu, mas não se iludiu (Foto: Arquivo Pessoal).

A estudante Roberta Oliveira de Souza, 18, também disse acreditar que a reação da torcida não foi das mais adequadas. “Quem sabe perder? Acho que ninguém, né? Mas, deveríamos encarar isso como uma grande experiência de vida. Nem sempre conquistamos tudo”, comentou.

Torcedores conscientes
Lauren e Roberta torceram pela Seleção Brasileira na Copa. “Mas, com os pés no chão, porque eu sabia que eles não estavam preparados”, ressaltou a psicóloga. O estudante de Jornalismo, Henrique Massaro, 22, disse ter criticado bastante a maneira como a Copa foi trazida para o Brasil. Todavia, quando a Seleção entrou em campo, ele parou para torcer. Torcida que, infelizmente, não bastou para a conquista do hexa. “Acho que o brasileiro está tendo que se conformar, afinal já é a terceira eliminação seguida em copas. Mas, perder levando sete gols é algo que ninguém está preparado. Para mim, é momento de aproveitar e voltar os olhos para o futebol brasileiro, que está jogado às traças em termos de estrutura”, opinou.

"O jeito é se conformar", disse o estudante de Jornalismo (Foto: Henrique Massaro).
“O jeito é se conformar”, disse o estudante de Jornalismo (Foto: Henrique Massaro).
Foto: Arquivo pessoal
Juliana disse acreditar que os jogadores também merecem respeito (Foto: Arquivo Pessoal).

A auxiliar contábil Juliana Zandoná de Mattos, 27, ficou chateada com a má campanha. Porém… “Torcedor de verdade está junto ganhando ou perdendo. Espero que as famílias que têm filhos pequenos utilizem isso como lição de que, na vida, nem sempre teremos vitórias. Às vezes, nós perdemos e outros ganham”, disse. E, para ela, aceitar os momentos de perda com maturidade também incluiu respeitar a dor alheia, no caso, a dos protagonistas desse espetáculo que não teve um final feliz. “Antes de jogadores milionários, eles são seres humanos. Claro que eles não queriam que isso acontecesse também. Se nós estamos decepcionados, imagina eles?”.

Taís Brem
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Lembrancinha para todos

Tradicional brincadeira do “amigo secreto” é forma de democratizar presentes

(Foto: Divulgação).
Origem do clássico jogo é desconhecida (Foto: Divulgação).

Tem quem diga que tudo começou como uma forma de homenagem dos povos nórdicos aos deuses pagãos. Há quem defenda que foi na época da Grande Depressão, em 1929, que o hábito se popularizou, em função do aperto nas finanças. O certo é que hoje, pelo menos no Brasil, a brincadeira do amigo secreto – ou oculto – é tradição em grupos de amigos, colegas de trabalho e escola e até nas grandes famílias. Um jeito criativo de ninguém ficar sem presente não apenas no Natal, mas em diversas ocasiões ao longo do ano, como a Páscoa ou reuniões aleatórias.

Para a enfermeira Andressa Calheiros, 22, por exemplo, a brincadeira é interessante pelo aspecto do entrosamento. “Os prós são os momentos de risadas e maior interação entre os participantes, além da descontração”. Quanto aos contras… “Sabe aquelas pessoas que sempre dão presentes bons e ganham presentes muito inferiores ao que deram? Pronto, sou uma dessas!”, comentou, às gargalhadas. “E quando ganho! Já aconteceram, umas duas ou três vezes, de eu dar o presente e não receber, ou por a pessoa estar ausente ou por esquecer de levá-lo… Péssimo!”.

A jornalista Josiele Godinho, 29, participa sempre dos amigos secretos que ocorrem em seu local de trabalho. “É uma maneira de unir mais a equipe e de confraternizar”, opinou. Mas, o ambiente não é exclusivo: em família – que soma mais de 20 membros – a comunicadora também entra na brincadeira. “Na verdade, é uma tradição, uma forma de se divertir em família e entre amigos”, disse ela, que já tem até suas táticas para agradar ao presenteado. “Na família, já conheço bem os gostos de cada um. No trabalho, procuro conhecer mais a pessoa. Entre uma conversa e outra, entre um almoço e outro, a gente vai ‘pescando’ algumas coisas”, confessou.

Variações

"Inimigo secreto" também virou moda (Foto: Divulgação)
“Inimigo secreto” também virou moda (Foto: Divulgação)

O básico é o clássico pacotinho com vários papeis dobrados, cada um contendo o nome de um participante. O nome que se tira corresponde à pessoa que irá ganhar um presente seu no tão esperado dia da revelação, que deve ser feita com dicas para que os outros tentem acertar quem é o felizardo da vez. Entretanto, embora tradicional, a brincadeira do amigo secreto não fica só nisso. Atualmente, há sites que organizam o troca-troca e, também, versões mais divertidas do jogo, como o chamado “inimigo secreto” ou “amigo da onça”, quando cada um escolhe dar um presente inútil ou contrário ao gosto do presenteado.

Taís Brem
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Cansei de ter chefe

Preferência pelo empreendedorismo continua crescendo, mas nem tudo são flores

Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura do próprio negócio (Foto: Divulgação)
Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura da própria empresa (Foto: Divulgação)

De cada quatro brasileiros, três querem abrir o próprio negócio. É o que mostra uma pesquisa feita pela Endeavor Brasil, com o apoio da Ibope Inteligência, em fevereiro do ano passado. O dado pode ser relativamente antigo, mas continua a expressar a relação da população com o fenômeno do empreendedorismo. Cada vez mais pessoas, qualificadas ou não, desejam se libertar do padrão tradicional de emprego para serem chefes de si mesmas. Na empolgação, tem quem se surpreenda ao perceber que a experiência demanda muito trabalho – não raro, mais do que quando se trabalhava como empregado. E isso torna cada vez mais claro o fato de que ser dono da própria empresa está longe de ser brincadeira.

Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)
Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)

O jornalista Miguel Martins, 39, tinha certa noção disso desde o começo. Mas, depois de trabalhar em diversos setores – de supermercado a imobiliária, passando pela telefonia móvel -, desde os 17 anos, ele se deu conta de que poderia exercer melhor sua atual profissão na condição de empreendedor. “Após me formar em Jornalismo em 2007, observei que eu poderia fazer muito mais pela comunidade local com uma empresa própria do que somente como colaborador”, disse Martins, que é egresso da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

A empresa própria a que ele se refere é a revista Vida Saudável, que objetiva levar aos leitores informações sobre qualidade de vida e bem-estar. A publicação foi lançada em novembro de 2009 e é distribuída gratuitamente em toda a zona Sul do estado. A competitividade local, principalmente no que tange aos patrocínios comerciais, é colocada pelo jornalista como uma das principais dificuldades de levar adiante o negócio. Entretanto, quando questionado se faria tudo de novo, caso pudesse voltar atrás, ele é taxativo: “Sim, com certeza! Mas, teria tentado melhorar ainda mais o início de tudo”.

Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)
Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)

Arrependimento também não é o lema do analista de sistemas Guilherme Cunha, 27. De 2006 a 2013, ele passou por duas empresas diferentes e era bem remunerado pelo seu trabalho. “Mas, me sentia preso e nem sempre as minhas opiniões eram aceitas”, afirmou, ao explicar que a busca por liberdade profissional foi o que lhe impulsionou a pedir demissão e tornar-se seu próprio patrão.

O começo como proprietário da Data Extreme Consultoria em TI [Tecnologia da Informação] foi difícil e seu projeto ainda não alcançou os 100% de satisfação. “Há muita dificuldade para conseguir novos clientes, mas, aos poucos, tenho conseguido conquistar a confiança do meu público-alvo”, disse Cunha.

Além dos espinhos
Que seguir carreira como empreendedor é um desafio, isso já deu para entender. Porém, não há só problemas. Para Martins, a melhor coisa em ser chefe de si mesmo é a sensação diferenciada de dever cumprido. “Poder chegar em casa no fim do dia e sentir orgulho de fazer um trabalho que leva qualidade de vida para uma considerável fatia da população e saber que pessoas mudaram seus hábitos, deixando o sedentarismo de lado, após lerem a revista, é o melhor de tudo”. Cunha, por sua vez, destaca a conquista de independência. “Não ter que aturar desaforo e má educação por parte dos chefes é uma das melhores recompensas. Acredito que esse seja o motivo pelo qual tantas pessoas optam por seguir esse caminho, principalmente os jovens”.

Inspiração e transpiração

Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)
Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)

Para ser um empreendedor de sucesso algumas habilidades específicas são indispensáveis, como organização, liderança, flexibilidade e perseverança. De acordo com as dicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além disso, ter senso de planejamento é extremamente necessário para que a empresa não apenas seja criada, mas permaneça no mercado e sobreviva frente à concorrência.

Taís Brem
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Arco-íris de opções

Desde quinta-feira (13), Facebook em inglês disponibiliza opções além do “masculino’ e “feminino” para usuários definirem seu gênero

 Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Quando resolveu abrir sua identidade sexual para o público, ano passado, o autor de novelas Walcyr Carrasco definiu-se como bissexual. Na ocasião, ele recebeu críticas negativas da comunidade LGBT, que achou que ele deveria ter se assumido gay, apenas. Para ele, a crítica não tem fundamento, uma vez que não podia simplesmente afirmar que os relacionamentos com mulheres que teve ao longo de sua vida não significaram nada. Por ter consciência de que é capaz de amar homens e mulheres igualmente, Carrasco, portanto, se diz um autêntico bissexual.

Daqui a pouco, o escritor e todos os outros indivíduos que consideram ter encontrado sua real identidade sexual bem longe do gênero ao que parecem pertencer poderão comunicar sua opção, também, em seu perfil no Facebook. É que desde esta quinta-feira (13), a rede social passou a oferecer mais de 50 opções de gênero para que seus usuários possam se definir sexualmente. Por enquanto, a novidade abrange somente os facebookianos americanos, mas deve se estender para os perfis de demais idiomas, em breve.

Mais de seis mil pessoas curtiram a postagem sobre a novidade na página Facebook Diversity e o anúncio ultrapassou os dois mil compartilhamentos. Na postagem, a empresa se diz orgulhosa de estar oferecendo aos seus usuários a oportunidade de se sentirem confortáveis sendo quem são. “Reconhecemos que algumas pessoas enfrentam desafios compartilhando sua verdadeira identidade de gênero com os outros, e esta definição dá às pessoas a capacidade de se expressar de forma autêntica”, diz o comunicado.

Como não poderia ser diferente, a mudança polêmica suscitou debate no próprio post. Muitos internautas se manifestaram a favor da novidade e sugeriram, inclusive, novas medidas, como a disponibilidade de opções para definir famílias modernas e relacionamentos abertos, como os baseados no chamado “poliamor”. Outros, entretanto, não veem progresso nenhum na medida. “São mais de seis mil pessoas que não têm ideia do que está entre suas pernas ou o que querem ser outra pessoa”, comentou um rapaz sobre os usuários que curtiram a postagem. “Não podemos misturar o que a pessoa é com o que ela acha que é ou o que ela quer ser. Preto e branco, cinza não!”, opinou outro internauta. “Senão, daqui a pouco, vamos ter que abrir opções para todo tipo de gente que acha que é uma árvore, o Elvis ou o Wolverine”.

As opções disponibilizadas até agora pelo Facebook não incluem as alternativas ironicamente sugeridas pelo usuário descontente. Mas, entre elas estão definições, como “transexual”, “intersexual”, “andrógino”, “cisgênero” e, até, “nenhuma das opções”.

Taís Brem

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“A cidade respira essa tragédia todos os dias”

Um ano depois do incêndio, Santa Maria vive intensamente dor e revolta

Silhuetas simbolizando vítimas foram pintadas no asfalto (Foto: Portal Terra)
Silhuetas simbolizando vítimas foram pintadas no asfalto (Foto: Portal Terra)

Quem chega à cidade de Santa Maria hoje, dia 27 de janeiro de 2014, não tem como ficar alheio à realidade que assombrou o local há um ano atrás, quando 242 jovens perderam suas vidas no incêndio da Boate Kiss. A tragédia abalou não só o município,  mas o estado, o Brasil e o mundo. Provocado por uma performance pirotécnica da banda que se apresentava na casa noturna na ocasião, o acidente deixou vítimas que ainda hoje se recuperam dos efeitos causados pela fumaça tóxica inalada. Mas, não apenas isso. Além do saldo de mortos e feridos, o acontecimento comove pela sensação de impunidade, já que nenhum dos apontados pela justiça como responsáveis pelo acidente de fato cumpriu alguma pena até agora.

Carol mora na cidade há pouco mais de um ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Carol mora na cidade há pouco mais de um ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Esse, talvez, seja o principal motivo para que o clima pesado que paira sobre Santa Maria desde aquela fatídica madrugada ainda
esteja tão palpável. “E isso, acredito, vai [durar] no minimo, uns dez anos”, arriscou a jornalista Carolina Graziadei, 28. Quando o incêndio ocorreu, fazia apenas quatro meses que a pelotense havia se mudado para Santa Maria, para trabalhar como comunicadora da Rádio Atlântida de lá. Ela não estava na festa e, dos convidados, conhecia somente o DJ, que se salvou por conhecer bem a saída do local. “Eu estava em Bagé, no casamento de uma grande amiga. Soube às 7h, quando meu pai foi acordado com um telefonema perguntando se eu não estava na boate”, relembrou. “Quando peguei meu celular, tinha várias ligações e mensagens, inclusive do meu chefe. Antes do meio-dia, cheguei e fui direto para a rádio e fizemos plantão até as 2h”.

Carolina não chegou a entrevistar familiares ou amigos das vítimas, pois a cobertura da emissora ficou a cargo da Rádio Gaúcha até a segunda-feira (28). Quando a programação voltou ao “normal”, porém, apenas uma nota oficial foi lida em referência ao sinistro. “Em toda aquela semana e na outra quase não falamos nada no ar. Não havia motivos para sermos alegres. Perdemos 242 ouvintes”, explicou a jornalista. Como profissional, ela já havia trabalhado num caso semelhante quando cobriu o acidente com o
time do Brasil de Pelotas em 2009, na época, pela TV Pampa. “Ali, eu cresci muito, porque conhecia os jogadores e acompanhei tudo de perto”, disse. “Mas, eles foram ‘só’ três perto deste número assustador”.

Regularmente, associações ligadas à memória das vítimas fazem questão de organizar atos que não deixam a tragédia cair no esquecimento. Um deles foi a pintura de 242 silhuetas no asfalto em frente à boate, simbolizando os jovens mortos. Durante um bom tempo, quem passar pelo local, verá os corpos estirados, em lembrança à tragédia. “No calçadão, há uma tenda montada justamente para que a população não se esqueça do acontecido. Todos os dias se fala nisso, se lembra. A cidade respira essa tragédia todos os dias”, comentou Carolina.

Taís Brem

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O que Deus uniu, não separe o Face

Onda de casais que mantêm perfis duplos na rede social é cada vez mais comum

(Foto: Taís Brem)
Perfil “Ines Y Jorge” é um exemplo desse modismo (Foto: Taís Brem)

Se esse não é o seu caso, com certeza, sua lista de amigos do Facebook contém um ou outro perfil do tipo “João Maria da Silva” ou “Maria José Aguiar”, por exemplo. E não porque alguém resolveu se identificar na rede social com o nome completo que, por acaso, contém um segundo nome característico do sexo oposto. Mas, porque a tendência de unificar perfis na rede está cada vez mais forte entre os casais. A moda vale para namorados, noivos, casados e afins. Para quem está do outro lado, a opção é confusa, já que nunca se sabe ao certo com quem se está falando, de quem é o aniversário indicado, a idade e outras tantas informações disponíveis no Face que foram feitas para cada indivíduo em particular e não para duplas. Porém, quem aderiu ao modelo garante que está tudo bem. Ciúme, forma de controle, falta de individualidade? Que nada! Para eles, Mark Zuckerberg é que deveria se atualizar e criar opções para esse público que não se desgruda nem na hora de se conectar ao mundo virtual.

Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)

É assim com o agente de segurança Jorge Luis Padilha, 43, e sua mulher, a universitária Inês, 30. A ideia de criar o perfil duplo foi dela. E ele, por sua vez, quando soube, aprovou. “Para os casais que levam a relação a sério, a tendencia é aumentar [a escolha por esse tipo de perfil], pois a confiança entre eles é maior”, opinou Padilha. “Além do mais, não temos nada a esconder um do outro”, disse ele, ao comentar que, por enquanto, é Inês quem usa mais a conta, em função das informações acadêmicas que acessa pela rede.

Spohr: "Tudo depende da forma como o Face é usado" (Foto: Arquivo Pessoal)
Spohr: “Tudo depende da forma como o Face é usado” (Foto: Arquivo Pessoal)

Donos do perfil “Marcus Debora Spohr”, o jornalista e professor universitário de 34 anos e a cabeleireira e maquiadora, de 32, também são casados e, assim como Jorge e Inês, consideram positiva a moda de unificar contas nas redes sociais. “Ela me falava que queria um Face. Como eu já tinha, decidimos unir os dois nomes. Não tinha sentido manter apenas no meu nome, visto que eu e minha esposa vivemos em unidade”, explicou Spohr, ao frisar que a medida não deve ultrapassar limites: “O mútuo acordo sobre o que deve ser publicado é fundamental. Entendemos que o Face é uma ferramenta muito boa para se comunicar. No entanto, o que é bom pode ser, também, muito negativo. Tudo depende da forma que ele é usado”.

Particularmente, a psicóloga Ângela Luca Firmino Branco não vê com bons olhos a ideia do compartilhamento de perfis. “Cada um é sua própria singularidade e nas redes sociais não deve ser diferente. Alguns casais utilizam esse recurso, na minha opinião, como forma de controle do outro ou por insegurança, na ilusão de achar que o que é compartilhado ficará sob controle”, disse. “Ledo engano. Acho que a vida a dois pode ser suficientemente compartilhada em diversos momentos do dia a dia sem que cada um precise perder ou diluir sua própria identidade. É preciso ter claro até onde podemos e para quê precisamos expôr nossa privacidade. E, se optarmos por isso, precisamos ter claro a serviço de quê estamos fazendo”.

Para Ângela, a moda dos perfis duplos é mais um sinal de que, ao longo das décadas, as pessoas foram perdendo a noção de privacidade e individualidade. “Há alguns anos, antes da Internet e das redes sociais, brigava-se para que a informação fosse democratizada e compartilhada. Hoje, brigamos para que essas mesmas informações sejam privativas e não compartilhadas e precisamos mudar uma configuração para que nossa vontade se legitime. Assim, acredito que perdemos muito do nosso anonimato, nossa individualidade e tudo, inclusive meu ‘eu’ pode ser compartilhado, dividido, exposto, divulgado, universalizado. Meu perfil sou eu e mais alguém, um grupo, uma coletividade, deixei de ser um sujeito e passei a ser um grupo, deixei de ser completo para ser uma parte, deixei de ser inteiro para ser uma metade”, opinou. “Existem muitas vantagens nas redes sociais, a universalidade da informação facilitou muito diversos aspectos da vida moderna numa rapidez impressionante, mas ainda sou do tempo em que alguns aspectos da vida a dois combinam mais entre quatro paredes”.

Solução virtual

Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)
Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)

Tanto Inês e Jorge quanto Marcus e Débora concordam que seria muito melhor se o próprio Facebook oferecesse uma opção de perfil para casais. “Daria uma maior dinâmica de uso da ferramenta para os usuários”, disse Spohr. “E, aí, fica um perfil que envolve realmente os dois, com informações de data de aniversário, sexo, empregos, locais onde estudou etc de cada um”, completou Padilha.

A boa notícia é que, embora no formato de perfil as configurações sejam restritas apenas a indivíduos em particular – ainda que na teoria -, no modo “página”, é possível adaptar a opção para unificar perfis. “O próprio Facebook oferece páginas com perfil de casal ou sobre o relacionamento entre quaisquer dois amigos no Facebook, a partir da combinação das informações dos dois usuários. Funciona, também, para casais”, sugeriu a jornalista e professora do curso de Design Digital da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Gabriela Zago, 27. “Pela lógica, um perfil de casal deveria ser uma página, como as criadas para representar grupos ou associações. Embora seja uma prática que já vem de outras redes, como Orkut, acho [a tendência de unificar perfis] ruim. Dificulta o contato com outras pessoas e a interação na rede. Numa rede social, cada perfil deveria representar um indivíduo”, comentou.

Taís Brem

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Black Friday made in Brazil

Promoção ocorrida há duas semanas mostrou que empresas ainda tentam enganar o consumidor

No Brasil, promoção tem o negativo rótulo de "Black Fraude" (Foto: Taís Brem)
No Brasil, promoção tem o negativo rótulo de “Black Fraude” (Foto: Taís Brem)

Há duas semanas, está aberta a temporada oficial de compras para as festas de fim de ano. É o que diz a cópia brasileira da tradicional promoção do comércio americano, a tal Black Friday, ocorrida por aqui no dia 29 de novembro. A sexta-feira que antecede o feriado de Ações de Graças na terra do Tio Sam é marcada pela desesperada procura dos clientes por preços mais baratos que os convencionais. Mas, a onda do varejo que existe desde a década de 1960 nos Estados Unidos não tem, pelo menos por enquanto, muita semelhança com o que acontece no Brasil há quatro anos. Se lá, a chamada “sexta-feira negra” é cenário, inclusive, para cenas de violência (onde pessoas cospem umas nas outras ou disparam tiros para garantir pechinchas), aqui o consumidor tem mesmo é que se cuidar para não ser violentado pela esperteza das empresas, que não raro aproveitam a oportunidade para maquiar preços, alardear descontos que, na prática, não existem e faturar em cima da ingenuidade dos clientes.

A tática, apelidada de “Black Fraude”, tem chamado a atenção, até do Procon, o Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor, que multa as empresas que comprovadamente usam de “má-fé” com o público. As reclamações registradas por compradores tanto de lojas físicas quanto de virtuais no Procon ou em sites como o Reclame Aqui bateram recorde em 2013: em apenas 12 horas de promoção, havia mais de 5 mil queixas registradas contra 8 mil em um período de 24 horas no ano passado.

Maquiagem comprovada

Pesquisa mostrou resultados da edição 2013 (Foto: Taís Brem)
Pesquisa mostrou resultados da edição 2013 (Foto: Taís Brem)

Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (13) pelo Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (PROVAR/FIA), em parceria com a empresa de monitoramento de preços no comércio virtual Íconna mostrou que 21,5% dos produtos pesquisados apresentou alta de 10,2% nos preços. Ao todo, foram analisadas as variações de preços de 1.312 produtos, como aparelhos de ar condicionado, lavadoras, câmeras digitais, fogões, cooktops, aparelhos de DVD, refrigeradores, filmadoras, impressoras, livros e conjuntos de panelas. Mas, nem tudo foram espinhos: em relação aos produtos com redução, 9,5% dos itens apresentaram desconto médio de 11% nos preços. Embora pareça pouco, os números são menos desagradáveis que em 2012, quando apenas 2,8% dos produtos apresentaram queda média de 6,3%. “Houve promoções e alguns itens apresentaram grandes quedas, mas um consumidor sem referência de preços correu um risco maior de pagar mais caro do que obter um bom desconto no dia da promoção”, afirmou o diretor de pesquisas do Provar e coordenador da pesquisa, Nuno Fouto.

Mesmo com todos os inconvenientes, a edição 2013 da Black Friday Brasil movimentou R$ 424 milhões somente em vendas no ambiente virtual, o que se traduz como 95% a mais do que o registrado em 2012, quando o faturamento chegou a R$ 217 milhões.

Andressa queria um livro e uma camiseta (Foto: Arquivo Pessoal)
Andressa queria um livro e uma camiseta (Foto: Arquivo Pessoal)

A fotógrafa Andressa Barros, 27, estava “enrolando” há um tempão para comprar uma camiseta com a imagem do roqueiro Ozzy Osbourne estampada. Preço básico do objeto de desejo em dias normais: R$ 75,00 mais frete (R$ 16,00 via PAC, a encomenda “econômica” dos Correios, e R$ 34,00 via Sedex, o serviço de encomenda expressa). No dia 29, quando conversou com o Blog Quemany, Andressa tinha acabado de ouvir falar que todas as t-shirts do site paulistano por que se enamorara estavam com preço reduzido: R$ 39,00. A oferta foi uma tentação. “Nunca comprei nada [na Black Friday], mas se essa camiseta fizer parte da promoção, com certeza estrearei minhas compras hoje”, disse, ao citar que também estava de olho num livro de composição fotográfica que estava por R$ 9,00.

Ana e o irmão: sugestão de presente (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana e o irmão: sugestão de presente (Foto: Arquivo Pessoal)

A gerente administrativa Ana Carolina Magalhães, 21, queria mesmo era adquirir uma câmera fotográfica. Só que… “Há um mês, ela estava por R$ 699,00 e, na Black Friday, continua com o mesmo preço, mesmo anunciada como promoção. Ou seja, não compensa”, comentou. Para ela, a ilusão dos consumidores se deve ao “vislumbre das propagandas”. “As empresas fazem o cliente acreditar que está fazendo um bom negócio. Só que para se certificar disso, é necessário fazer uma boa pesquisa”, opinou ela, que chegou a postar em seu perfil do Facebook o indignado post “Que Black Friday mais fajuta!”. Contudo, momentos depois, Ana encontrou na promoção uma forma de garantir economia para o bolso do irmão, no caso de ele desejar comprar uma “lembrancinha” para ela: “Aproveita o preço de hoje e já compra meu presente de Natal! Grata!”, cutucou, linkando o site que anunciava a promoção da coleção de 40 DVD’s com as dez temporadas completas do seriado americano Friends.

Coleção de temporadas de seriado estiveram em promoção (Foto: Divulgação)
Coleção de temporadas de seriado esteve em promoção (Foto: Divulgação)

Taís Brem
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A corrupção nossa de cada dia

Mesmo imperceptíveis, atos corruptos acabam fazendo parte do cotidiano de simples cidadãos

Quando apreendidos, produtos falsificados são destruídos (Foto: Prefeitura de Contagem)
Quando apreendidos, produtos falsificados são destruídos (Foto: Prefeitura de Contagem)

A prima de Breno* comemorava a instalação de uma televisão a cabo gospel em sua casa. Era o fim da dependência midiática àquela emissora cuja qualidade da programação há muito deixou de acompanhar sua popularidade. Ele também viu nisso motivo para comemoração e não perdeu a chance de fazer a proposta: “Vamos compartilhar?”.

Durante uma discussão acalorada, Maiara* aumentou o tom da voz para que todos os colegas de classe pudessem ouvir sua opinião a respeito do consumo de produtos piratas. O professor lançou a questão e ela falou, até com certa dose de orgulho nas palavras: “Eu compro piratas, sim! E, duvido que, com o preço que estão os originais, alguém consiga manter uma coleção de CD’s se não for desse jeito!”.

Gislaine* é médica, profissão sonhada por muitos por ter a fama de remunerar bem. Em tese, não tem do que reclamar. Mas, quando o assunto é imposto, ela reclama, sim. “Eu acho muito dinheiro. Trabalhei ‘um monte’ ano passado, retive na fonte e ainda tive que pagar R$ 8 mil que faltaram!”. Sobre a pirataria, a questão financeira, novamente, ganha foco: “É ambivalente mesmo e eu fico me culpando. Tento evitar, mas, se eu não comprar pirata, eu não vou comprar o original, porque não tenho o dinheiro”, argumenta.

Ândrea* diz que nada compensa o preço baixo dos produtos piratas, porque danificam os aparelhos e, é lógico, não têm a qualidade de um produto original. “Já comprei, mas, hoje em dia, prefiro não comprar mais”.

Bárbara* conhece a lei. Sabe que comprar mercadorias não-originais é crime e demonstra receio em admitir. Entretanto… “Sim, eu compro. Mas sei que é errado”.

O leitor que chegou até aqui deve estar com um pé atrás com o título da reportagem. Até porque pequena é a probabilidade de você estar numa praia paradisíaca, lendo essa notícia no seu notebook ou tablet para relaxar, depois de aplicar o seu mais recente golpe milionário. Mas, pode acreditar, não é nada pessoal. Qualquer um de nós está sujeito a ser corrupto em pequenos e corriqueiros hábitos do dia a dia. No contexto, a compra de produtos piratas, a sonegação de impostos e a ligação clandestina de energia elétrica, de sinal a cabo e de Internet são somente a ponta do iceberg. Tem, também, a cola na prova, o troco a mais não devolvido, o atestado “frio” no serviço e até a manobra para furar a fila e chegar mais rápido ao atendimento. A lista só aumenta. Infelizmente, a frequência com que tais comportamentos são praticados é tão grande que esses e outros atos corruptos viraram rotina. E, o pior: uma rotina aceitável na qual o adjetivo “corrupto” soa até como exagero. No momento em que o país inteiro se revolta contra a má administração do governo e os episódios de corrupção que dominam a máquina pública, é válida a reflexão sobre a parte que cada cidadão deve desempenhar. Apesar dos preços altos e do superfaturamento que favorece os setores público e privado, é justificável pagar na mesma moeda?

Na opinião do pastor do Ministério Casa de Oração (MCO) e coronel da reserva do Exército Brasileiro, Sergio Ribeiro Guimarães, a postura não é generalizada. Mas, muitas das pessoas que reclamam da desonestidade dos políticos, também agem de forma desonesta. “Na verdade, elas estão reclamando, porque não tiveram a oportunidade de fazer o mesmo que esses políticos estão fazendo. Acredito, também, que existam muitas pessoas honestas indignadas com a bandalheira dos nossos políticos e que esperam uma mudança na mentalidade que tem norteado muitos brasileiros para levar vantagem em tudo”, comentou.

“Não existe pequena corrupção ou grande corrupção. O que existe é a oportunidade de cometê-la no meio que estamos inseridos. Estes grandes corruptores quando estavam em outras camadas sociais já praticavam suas corrupções, assim como creio que esses que cometem as pequenas, se chegarem lá no alto poder virão a cometer as grandes, também”.

A psicóloga Marilei Vaz partilha da mesma opinião e diz acreditar, inclusive, que até os asteriscos que acompanham o nome das personagens no início desta reportagem (colocados a pedido dos entrevistados para proteger sua real identidade), podem ser encaixados no que, na psicanálise, chama-se “mecanismos de defesa”: “Embora essas atitudes desonestas tenham respaldo social, as pessoas tendem a querer camuflá-las e usar de mecanismos para suportar a dificuldade de aceitar os próprios erros”, explicou. “Na verdade, não importa se são pequenas coisas ou não. Quem é honesto, é honesto. O ideal seria que a sociedade parasse de resolver tudo na mentira e voltasse à transparência”.

Um jeitinho ali, outro acolá
Soando ou não como falso moralismo, o debate é extenso e provoca posicionamentos diversos. O músico e publicitário, André Chiesa, por exemplo, concorda que práticas como a sonegação de impostos e a pirataria sejam erradas. Porém, faz ressalvas. “Tenho dois lados. Acho importante ser visto que, assim como não é certo consumir um produto que não é original, uma pessoa que vende esse tipo de produto trabalha igualmente, como qualquer outro comerciante. Até onde estamos errados?”, questiona. “Sabemos que as marcas originais superfaturam seus valores simplesmente pelo logo impresso ao mesmo tempo em que escravizam chineses, indianos e tantos outros em suas fábricas terceirizadas”.

Integrante da banda Pimenta Buena, Chiesa diz, inclusive, que não se sente lesado com as cópias que volta e meia surgem do DVD e dos dois CD’s já lançados pelo grupo. “Acho que ajuda muito a divulgar. Em um mercado onde quem menos ganha é quem cria tudo, para nós só ajudou”, disse.

Punição ou conscientização?
Em maio desse ano, o Ministério da Justiça lançou o 3º Plano Nacional de Combate à Pirataria, elaborado pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual (CNCP). A ideia é trabalhar ações de conscientização tanto junto aos consumidores quanto aos próprios órgãos públicos, além de apoiar iniciativas empresariais voltadas à formalização da economia, inclusão social, apoio à gestão da inovação e ao empreendedorismo. Aumentar o enfrentamento da pirataria por meio de ações repressivas ou de fiscalização também está no projeto.

Companhia faz fiscalização e campanhas de alerta à população (Foto: CEEE)
Companhia faz fiscalização e campanhas de alerta à população (Foto: CEEE)

Sob o mote “Se alguém está utilizando energia de graça, os outros estão pagando por isso!”, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) possui até formulário online para quem quiser contribuir denunciando irregularidades. E não apenas pelo prejuízo financeiro, mas, para evitar casos como o ocorrido em dezembro de 2011, quando um homem morreu eletrocutado, próximo à Estação Rodoviária de Pelotas, ao tentar puxar energia elétrica para sua casa de um poste da CEEE.

Quando o assunto é a clandestinidade no sinal de TV a cabo, também se fala em providências. Conforme dados divulgados pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), num período de dez anos, sem um combate eficiente, a pirataria no setor pode eliminar 150 mil postos de trabalho legais e qualificados, sonegar mais de R$ 500 milhões ao Tesouro Nacional, desviar R$ 10 bilhões em investimentos e atrasar programas de inclusão digital. Embora socialmente tolerados, os praticantes dessa infração são enquadrados, há dois anos, como usuários ilegais de telecomunicações, pela Lei Geral das Telecomunicações. Isso vale tanto para quem concede como para quem utiliza o sinal clandestino.

Quem pratica sonegação fiscal, omitindo informações na Declaração do Imposto de Renda para diminuir a contribuição, por exemplo, está sujeito a pena de reclusão e a multa, de acordo com a legislação federal.

Mas, e quando os pequenos delitos não são considerados crimes formalmente falando? A funcionária pública Luiza Soares, considera que, mesmo assim, vale a auto-vigilância. “São coisas muito sérias. Se não vigiarmos, nas pequenas coisas podemos estar concordando com o que eles [os corruptos] estão fazendo”. Ao que Sergio Guimarães completa: “Cabe a cada um de nós fazer a nossa parte dentro da sociedade e orarmos para que essa mudança ocorra ainda em nossos dias”. Agora, a responsabilidade fica na consciência de cada um.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente em agosto de 2013 no site de notícias Reportchê.

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Consciência capilar

Liso ou crespo: Qual é o estilo de cabelo que mais valoriza a raça negra?

Para além do Dia da Consciência Negra, tema divide opiniões (Foto: Divulgação)
Para além do Dia da Consciência Negra, tema divide opiniões (Foto: Divulgação)

É fácil presumir que o indivíduo está a fim de potencializar sua negritude quando resolve apostar no black power ou nas tradicionais tranças. Mas, e quando a opção de penteado passa pelo alisamento ou, até, pelas colorações nada comuns à pele negra, como os tons de loiros das luzes e mechas californianas? É exagero afirmar que a escolha por modificar a natureza dos crespos afeta a consciência racial?

O debate é polêmico. Contudo, grande parte das pessoas entrevistadas para esta reportagem acha que sim, é precipitado medir a consciência que alguém tem de sua raça a partir do penteado que escolhe para adornar sua cabeça. Trocando em miúdos, a maioria diz acreditar que não é porque alisa, alonga ou pinta as madeixas segundo o “padrão branco de aceitação” da sociedade que um negro está tentando anular suas raízes.

Especialista no tratamento de cabelos afro, a cabeleireira Simone Santiago estima que 80% das clientes do salão Tranças e Td +, do qual é proprietária, preferem alterar a estrutura dos fios alisando-os, seja à base de produtos químicos ou, simplesmente, com chapinha e escova. “20% prefere os crespos, mas não abrem mão de uma escova lisa vez ou outra para algum evento comemorativo. Já as tranças são sempre bem-vindas, em todos os tipos de cabelos”, destacou. Para ela, cada vez mais as mulheres negras têm se permitido mudar a aparência, à medida que vão passando por cada fase da vida. “Fases marcantes, como 15 anos, formaturas, casamentos, começo ou fim de relacionamentos, novo emprego… E usar cabelo liso ou crespo em cada um desses momentos transcende a consciência racial. Há inúmeros recursos que nos permitem mudar a aparência, conservando a saúde dos fios e expressando nossos sentimentos, conquistas e mudanças sem perder a referência ou a consciência”, enumerou. “Particularmente, essa conversa de que ‘em terra de chapinha, quem tem cabelo crespo é rainha’ é conversa de cabeleireiro preguiçoso. Uma escova bem feita tem seu valor”.

Simone, em suas várias versões (Fotos: Arquivo Pessoal)
Simone, em suas várias versões (Fotos: Arquivo Pessoal)

Engana-se quem lê uma declaração dessas e pensa que é papo de quem quer apenas fazer propaganda de seu trabalho usando a cabeça alheia como cobaia. Com a mesma ênfase com que defende o lado artístico do seu ganha-pão, Simone se dispõe a experimentar os mais diversos tipos de penteados na própria cabeça, em seu cotidiano. A mesma mulher que está de longas tranças na segunda-feira, pode lhe surpreender com um chanel desfiado no dia seguinte, com um mega-hair extravagantemente liso na sexta e com um corte curto, crespo, natural e discreto na próxima semana. Até se apaixonar por uma tintura bem puxada para o azul e mudar novamente. Ela é praticamente uma camaleoa, assim como suas clientes. “Somos negras com estilo e personalidade e podemos, sim, nos expressar através de nossos cabelos, sem parecer um batalhão de ‘tudo a mesma coisa'”, sentenciou a cabeleireira.

“Gosto do carapinho”

Atualmente, jornalista tem preferido os crespos (Foto: Arquivo Pessoal)
Atualmente, jornalista tem preferido os crespos (Foto: Arquivo Pessoal)

Dizem que as mulheres “normais” nunca estão plenamente satisfeitas com sua aparência. Para a jornalista Conceição Lourenço, 53, a afirmação é tão verdadeira que serve para explicar a necessidade de mudança de visual que o sexo feminino expressa em suas transformações. O que, por certo, não é diferente com a raça negra. A dona da cabeleira crespa e exuberante costuma chamar atenção por onde passa, ora por despertar preconceito (“Muita gente olha com desdém e risinhos…”), ora por surtir admiração (“Sábado, por exemplo, duas senhoras brancas me chamaram no shopping para dizer que eu deveria ser modelo. Dei risada e disse que era jornalista. Elas ficaram decepcionadas, mas foi bonitinho”). E há, também, os que demonstram curiosidade. “Um dos porteiros do meu prédio, que é negro, perguntou: ‘Seu cabelo é tão fofo… Não dá trabalho?’. Respondi: ‘É igual ao seu… Deixe crescer e descubra!'”,relembrou, às gargalhadas.

Há alguns anos, Conceição tem deixado as madeixas crescerem de forma natural. E o reflexo que vê no espelho muito lhe agrada. “Não acho que a negra que modifica o cabelo está negando nada, absolutamente. Hoje, acho meu cabelo bonito, mas já alisei. Gosto do carapinho, do crespo e ando gostando cada vez mais. Parece que valoriza meu rosto”.

Na contramão

Wilson, em seu tempo de black power (Foto: Arquivo Pessoal)
Wilson, em sua fase “black power” (Foto: Arquivo Pessoal)

O servidor público Carlos Wilson, 38, já conviveu com o visual da própria mulher, cuja pele é mais escura que a dele, com fios alisados e tingidos de loiro. Mas, é publicamente fã de cachos e tranças. “Para mim, alisar o cabelo e pintar de tons que não têm a ver com a natureza da raça é querer se amoldar ao padrão estético que a sociedade impõe, mesmo que inconscientemente. Até, nós, homens, quando rapamos a cabeça para se livrar da dificuldade de pentear o cabelo estamos fazendo isso”, comentou ele, que já cultivou um cabelão black power há uns cinco anos, mas teve de se desfazer do estilo em nome da praticidade e da apresentação necessária na vida profissional. Agora que tudo o que tem são alguns fios que se encontram com a navalha periodicamente para manter o cabelo baixinho, Wilson se diverte penteando o filho, João Esdras, de um ano. “Vou incentivar o ‘negãozinho’ a valorizar seu cabelo natural e suas raízes afrodescendentes. Pelo menos, até que ele tenha idade para decidir que estilo quer adotar”.

Pai penteando o filho (Foto: Arquivo Pessoal)
Pai penteando o filho (Foto: Arquivo Pessoal)

Taís Brem

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No topo das preferências

Curso de Medicina permanece como mais disputado nos vestibulares

(Foto: Wilson Lima)
Índice de vestibulandos que escolhe a graduação é sempre alto (Foto: Wilson Lima)

Todo santo ano é a mesma coisa: é só verificar as listas dos cursos escolhidos pelos vestibulandos para testificar a imensa quantidade de pessoas que opta por cursar Medicina. Há quem, inclusive, faça um verdadeiro tour pelo Brasil, prestando provas do Oiapoque ao Chuí, na esperança de conseguir vaga em alguma instituição de Ensino Superior e, assim, realizar o sonho de exercer uma das profissões mais cobiçadas do mercado. Qual a motivação de tanto esforço? Pressão familiar? Busca por status? Retorno financeiro? Ou, puramente, vontade de ajudar as pessoas?

Maira concluiu a graduação em 1991 (Foto: Arquivo Pessoal)
Maira concluiu a graduação em 1991 (Foto: Arquivo Pessoal)

A diretora do Hospital Miguel Piltcher (HMP), Maira Piltcher, 47, é otimista. Para ela, que formou-se em 1991 pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), a maioria das pessoas que busca a área médica como profissão o faz por vocação. “Infelizmente, temos aqueles que realmente procuram a Medicina pela questão financeira ou por imposição da família. O que é algo problemático, pois posso garantir que ninguém é feliz ou faz bem aquilo que não faz por amor. No caso da Medicina, isso não só acarreta problemas pessoais como pode atingir o paciente”, disse.

A vontade de poder ajudar o próximo, entender e aliviar seus problemas, unida à necessidade de levar adiante o negócio da família também acabou por guiar Maira ao caminho que segue até hoje. O lado positivo é que sua escolha não foi abafada por uma visão fantasiosa da profissão. Ter crescido no ambiente característico, vendo seu pai, o também médico Miguel Piltcher, trabalhar muito e viver a intensa correria de plantões e urgências, a preparou naturalmente para a movimentação cotidiana que viria a enfrentar. “Aquilo já me fascinava”, relembrou ela, que acabou escolhendo uma especialidade que não lhe permite muito
descanso: ginecologia e obstetrícia.

Partos são atividade rotineira no dia a dia de Maira (Foto: Arquivo Pessoal)
Partos são atividade rotineira no dia a dia de Maira (Foto: Arquivo Pessoal)
Etiene conclui curso no fim do ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Etiene conclui curso no fim do ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Curiosamente, foi, também, o lado movimentado da profissão – academicamente falando – que estimulou Etiene Dias, 28, a querer seguir carreira como médica. Ela se forma no próximo mês, pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), e desde o início do Ensino Médio ficou fascinada pela possibilidade de trabalhar numa área que exige constante atualização. “Isso me atraia muito. Sei que muitas pessoas escolhem a área médica por esperar um bom retorno financeiro e algum status perante a sociedade. No meu caso, não pensei diretamente nisso, pois acredito que, quando se é um bom profissional, dedicado e competente, essas duas questões são uma consequência direta”, opinou.

Mudança de planos
Se Maira e Etiene sempre tiveram uma inclinação clara para a área da Medicina, com Carolina Malhão, 26, as coisas não foram definidas de forma tão simples desde o começo. Embora ingressar no curso mais disputado das faculdades fosse um sonho antigo, a vontade esbarrava no medo do vestibular e na ideia de que não conseguiria passar pela concorrência. Então, Carolina seguiu a profissão do pai: o jornalista Jorge Malhão. Depois de formada e tendo exercitado o talento genético tanto pelas ondas do rádio quanto pelas páginas do jornal, decidiu abandonar tudo e arriscar no seu sonho. “Ainda estou lutando para ter uma vaga na universidade, por isso não tenho muitos planos para depois de formada”, afirmou. Quando questionada sobre a possível razão para que a profissão de Medicina seja tão almejada pelos vestibulandos, Carolina comentou: “Claro que muitos são guiados pela vontade de fazer dinheiro. Mas, acredito que não há nada de errado disso, desde que não se abandone o humanismo tão necessário na profissão”.

Carolina deixou o Jornalismo para investir em seu sonho (Foto: Arquivo Pessoal)
Carolina deixou o Jornalismo para investir em seu sonho (Foto: Arquivo Pessoal)

Números
Raramente os altos índices de procura pelos cursos de Medicina nas instituições de Ensino Superior mostram alguma surpresa. De um modo geral, em várias regiões do país, do interior às capitais, o fenômeno observado é o mesmo: muita gente lutando pelas mesmas vagas. No início desse ano, por exemplo, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, registrou 451 candidatos inscritos para cada uma das vagas disponibilizadas para a graduação. Para 2014, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o índice é de 104 candidatos por vaga. Na Universidade Federal do Ceará, que tem a
sugestiva sigla “UFC”, a disputa também é acirrada: são 9.748 inscritos para 140 vagas. Já no processo que selecionará os novos alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para o próximo ano, há 57 candidatos disputando cada uma das vagas disponíveis para Medicina.

Em Pelotas não é diferente: nas duas universidades que oferecem o curso – UFPel e UCPel, a procura é bastante grande, tanto por estudantes daqui quanto por candidatos de outras partes do Brasil. Na Católica, por exemplo, que disponibiliza 90 vagas ao ano para a graduação, o índice de candidatos por vaga que era 22 em 2010 subiu para 36 em 2012.

Sonho familiar
Quando se fala em vida profissional dos filhos, para a maioria dos pais, o mais importante é que eles exerçam uma carreira que lhes deixe felizes. Mas, o desejo de um emprego que remunere bem também é um anseio. É o que mostra uma pesquisa feita recentemente pela rede social corporativa Linkedin. O levantamento, que colheu a opinião de 1.001 pessoas, mostra, ainda, que 35% dos entrevistados sonham em ver os filhos atuando como médicos ou como empreendedores, dirigindo o próprio negócio.

Taís Brem

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