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Preconceito ou valorização?

A entrada de alunos menos favorecidos na Universidade tem virado notícia em diversas plataformas (Foto: Divulgação).
O ingresso de alunos menos favorecidos na Universidade tem virado notícia em diversas plataformas e dividido a opinião do público (Foto: Divulgação).

A divulgação de aprovados em universidades do Brasil inteiro, em função do resultado do Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação (Sisu/MEC), no início deste primeiro semestre letivo, provocou uma onda de noticiários que enfatizaram especialmente a conquista de alguns estudantes ao adentrar no Ensino Superior. Jornais, revistas e sites de todo o país fizeram manchetes com a filha da doméstica que deu um novo rumo à história da família pobre, a travesti que conseguiu sua vaga na Universidade e o catador de lixo que, finalmente, pode começar seu plano de ser “alguém na vida”. A posição dos veículos de comunicação dividiu opiniões.

Enquanto parte do público apoiou a iniciativa e considerou essa uma forma justa de valorizar o feito de pessoas que se esforçaram tanto a ponto de romper com uma condição, a princípio, de desvantagem, outra parcela entendeu que noticiar tais acontecimentos reforça, ainda mais, o preconceito.

O publicitário Diego Lucas Barbosa, 26, faz parte do primeiro grupo. Para ele, esse tipo de notícia não agrega informações suficientes para formar uma opinião concreta em quem ainda não tem posicionamento formado sobre o assunto. “[A matéria] pode reforçar os pensamentos que os leitores já possuem. Se são contra, pode aumentar o preconceito. Se são a favor, fará ter orgulho da situação”, pontuou. “Aos indecisos, creio que elas deem um ‘empurrão’ para que se construa sua posição pessoal”. Já a auxiliar de Educação Infantil e acadêmica de Pedagogia Eloísa Santos, 43, disse enxergar nisso tudo um “preconceito camuflado”. “O QI [quociente de inteligência] de uma pessoa não está relacionado a cor, classe social ou sexo”, disse.

Começo de vitória

Transexual passou em universidade pública e virou notícia (Foto: Facebook).
Transexual passou em universidade pública e virou notícia (Foto: Facebook).

Amanda Palha é transexual e tem 28 anos. No início de 2016, ela foi notícia em vários canais por ter sido aprovada em primeiro lugar pelo Sisu no curso de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mas, para ela, sua conquista e outras semelhantes só podem ser consideradas um grande passo rumo a uma sociedade melhor a partir do que se faz com isso. “A mera inclusão de pessoas trans na faculdade não significa muita coisa se existir isoladamente”, comentou, em entrevista. “O que faz diferença é o que a gente faz dentro espaço. Por isso que eu não acho que é uma vitória ainda, é um começo”.

Após a divulgação da matéria no site da revista Exame, diversos internautas manifestaram sua opinião. “Não importa se ela é hetero, trans, travesti ou gay. Importa que ela está mostrando que as travestis também estudam e não são todas prostitutas, como a maior parte da sociedade generaliza”, disse um. Outro, menos favorável à publicação, discursou: “Segundo a Constituição, somos todos iguais, independente de gênero. Um hetero é mais intelectual que um homossexual, por isso precisa de holofotes quando passa em alguma coisa? Claro que não. O preconceito começa a partir do momento em que separam a população entre nós e eles”.

Como funciona o Sisu?
O processo seletivo do Sisu, que existe desde 2009, é uma forma que universidades públicas do Brasil têm utilizado para selecionar novos alunos, em detrimento do antigo vestibular. Para isso, o candidato efetua sua inscrição e o sistema seleciona automaticamente os candidatos mais bem classificados em cada curso, de acordo com suas notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A partir daí, são considerados selecionados os candidatos classificados dentro do número de vagas ofertadas pelo Sisu em cada curso, por modalidade de concorrência.  Há instituições participantes do Sisu que disponibilizam uma parte de suas vagas para as políticas afirmativas que beneficiam afrodescendentes, indígenas e alunos vindos de escola pública, por exemplo.

Taís Brem

Graça sem graça

Mais de 60 mil pessoas já curtiram a ideia e para lá de 260 mil compartilharam. Embora não oficial, o movimento de uma fanpage chamada Mussum Sinceris propôs numa postagem, dia desses, que reprises do programa Os Trapalhões (que passou na Globo entre 1969 e 1994) substituam o humorístico Zorra Total, nos sábados à noite.

A bem da verdade, nunca conheci uma pessoa sequer que goste realmente do Zorra, que ria daquelas piadas sem graça, que ache que aquilo deva continuar no ar. A estatística que mostra a quantidade de gente que apoia a saída da atração da grade de programação da Rede Globo, por si só, poderia comprovar isso. Mas, levando em conta que é “apenas” uma proposta facebookiana, restrita aos usuários da rede social, há que se ter certo cuidado.

O que se sabe mesmo é que fazer rir, de verdade, está cada vez mais difícil. E isso, obviamente, não se restringe à emissora de maior audiência no Brasil. A Globo é somente mais um exemplo. O SBT é outro, com seu maior representante do gênero – A Praça é Nossa, criado na década de 1950 e no ar até hoje –, igualmente deficitário em termos de irreverência de qualidade. Em ambos os programas, os tipos são caricatos demais, os atores que os interpretam não têm, sequer, o domínio de controlar as próprias risadas enquanto encarnam os personagens e os textos são sofríveis. O pior é que essa tendência tem invadido outras atrações. As novelas, por exemplo. É óbvio que não é de hoje que os escritores incluem no elenco personagens com uma dose de humor – ninguém aguentaria apenas dramalhão nos folhetins. Mas, o que é Cláudia Raia naquele desespero interpretando a paranormal de Alto Astral? E Paulo Betti, com seu jornalista exageradamente gay na recém-substituída Império? Aguinaldo Silva declarou que estava orgulhoso da atuação de Betti e não conseguia vê-lo encarnar Téo Pereira sem gargalhar a milhões. Eu, como telespectadora, posso estar totalmente fora do padrão, mas discordo dele – a expressão “vergonha alheia” é a única que melhor define o que sinto quando os assisto.

Sílvio Santos diria que se o povo gosta desse tipo de atração, por mais sem graça e bizarra que seja, é isso que o povo vai ter. Afinal, se a audiência está garantida, o resto é mero detalhe. Os intelectuais, por sua vez, diriam que isso é menosprezar a inteligência do povo.

Talvez a Globo esteja testando a aceitação de programas mais antigos com ações como a aplicada no Vídeo Show, há alguns meses. Quem acompanha o programa já percebeu, com certeza que todo santo dia, após a saudação de Otaviano Costa, quem toma as rédeas é o clássico personagem de Chico Anysio, o Professor Raimundo, com sua Escolinha. Seria esse um sinal de que, a qualquer hora, podemos ser surpreendidos com o imortal quarteto de volta à telinha? Só revendo os episódios para saber se valeria a pena. À época da exibição original, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias faziam até o poeta Carlos Drummond de Andrade parar em frente à televisão. E isso não me parece pouca coisa. Pelo menos, poderíamos esperar programas um pouco melhores.

Taís Brem
*Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa.

#aletradaspessoas

Tudo bem: o assunto pode ser repetitivo e sem-graça para muita gente. Mas, um fato que ninguém pode negar é que os chamados “memes” são verdadeiras febres virtuais e, dada a repercussão que ganham, fica praticamente impossível não encontrar menção a respeito deles na mídia tradicional.

Se semanas atrás o tal vestido branco e dourado – ou azul e preto – tomou conta da Internet e de outros veículos de comunicação, virando manchete nos jornais, revistas e programas de TV, há alguns dias, o que tem virado notícia é a hashtag “A letra das pessoas”. O movimento on-line consiste, basicamente, em incentivar os usuários da rede a escreverem pequenas mensagens à mão e publicar, uma vez que, por mais simples que seja, o hábito de escrever sem usar o computador virou, para muitos, coisa obsoleta.

Abordagem do Correio Braziliense chamou atenção pela criatividade (Foto: Correio Braziliense).
Abordagem do Correio Braziliense chamou atenção pela criatividade (Foto: Correio Braziliense).

Pois, em vez de, simplesmente, mencionar a adesão de boa parte dos internautas à causa, o Correio Braziliense encontrou uma forma bastante criativa de abordar o assunto. Na quinta-feira (05), o jornal publicou em seu site uma matéria toda manuscrita. O texto em letra cursiva foi assinado pela repórter Luiza Ikemoto e tem três parágrafos. Além de falar acerca da modinha do momento, a reportagem comenta sobre a forma com que a escrita era vista nos tempos do colégio e algumas marcas que acusam a personalidade de quem está escrevendo. Resultado: logo após a publicação – e vários dias depois – a notícia ficou entre as mais lidas da página. Uma ótima inspiração para a imprensa que deseja fugir do convencional e, de quebra, surpreender os leitores.

Taís Brem
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O apoio das estrelas

Candidatos aproveitam a influência das celebridades para arrebatar eleitores

Foto Orlando Brito
Aécio Neves recebe reforço de Ronaldo Nazário e Fafá de Belém (Foto: Orlando Brito).

Eles podem não ter arriscado concorrer a uma vaga para ingressar na vida política. Por outro lado, se dispõem a aproveitar a visibilidade que a fama lhes propicia para apoiar seu presidenciável favorito. A mesma tática de marketing vista no primeiro turno das Eleições 2014 (que, diga-se de passagem, não é exclusividade deste ano), está ainda mais explícita, conforme se aproxima o dia de definir quem, de fato, fica com o poder a partir de 2015. Chamar personalidades para participar das campanhas eleitorais pode ser um bom norteador aos indecisos. Porém, há quem veja com cautela esta postura.

Renan Vaz (Foto: Wilson Lima).
Renan Vaz (Foto: Wilson Lima).

O advogado Rodrigo Garcia, 33, é um desses. Ele diz reconhecer que o fato de pessoas públicas abrirem seu voto influencia,
sim, a muitos, mas garante não ser o seu caso. “De acordo com as besteiras que alguns falam para colaborar com a propaganda dos candidatos, às vezes, crio até uma antipatia pela celebridade em questão”, disse. O professor de Matemática, Renan Vaz, 29, também não encara a estratégia com bons olhos. “Eles se expõem pelo dinheiro, que, por sinal, não é pouco”, sugeriu, com desconfiança. “Mesmo o sistema sendo democrático, acho que nenhum artista deveria influenciar no voto da população. Pra mim, o voto é secreto”.

Embora vá justificar sua presença nas urnas no próximo dia 26 por estar se recuperando de um acidente, Vaz afirmou que também não faz parte daqueles que se deixam levar pelas dicas das celebridades. “Antes de votar, sempre leio tudo sobre o candidato, entro no site, vejo se ele possui a ficha limpa, quais são seus projetos e o que pretende fazer para melhorar mais nosso país”, enumerou. “Penso que, como eu, existem milhares de pessoas por aí. Logo, acho que os artistas não deveriam se expor tanto”.

David Coimbra: Influência não é tão grande quanto parece (Foto: Clic RBS).
David Coimbra: Influência não é tão grande quanto parece (Foto: Clic RBS).

O jornalista e escritor David Coimbra, 52, disse não ver problema algum em qualquer pessoa declarar o seu voto, seja ela famosa ou não. Entretanto, reconhece a possibilidade de uma celebridade mudar o voto de alguém. “Mas, acho que é menos do que se acredita que mude, até porque o posicionamento de muitos já é bastante conhecido. Todo mundo sabe que o Chico Buarque é petista, mesmo que ele diga que não é. Todo mundo sabe que o Lobão e o Roger são anti-PT”, disse. “O ideal, é claro, seria que o apoio de uma celebridade não mudasse o voto de ninguém, a não ser que ela desse argumentos bons o suficiente para que isso acontecesse. Mas, aí, estamos entrando no terreno do mundo ideal, que não existe”.

Foto: Arquivo pessoal
Thaís Carvalho (Foto: Arquivo pessoal).

Ideal, aliás, é o mesmo termo que a professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Thaís Carvalho, 27, utilizou para exemplificar a sociedade formada por “cidadãos conscientes da importância de seu papel, não só no período eleitoral, mas em todas as decisões concernentes a sua cidade, seu bairro e seu país”. “Este tipo de atitude não teria a influência e nem a atenção que as campanhas eleitorais e a mídia lhe conferem atualmente. A despolitização do voto no Brasil passa pelo apelo sensacionalista de xingamentos chulos, pela exploração da vida pessoal dos candidatos, pelo apoio de pessoas públicas, dentre outras maneiras que desvinculam as eleições de um pensamento voltado ao bem coletivo e à construção da cidadania. Eu, particularmente, não mudo meu voto em razão do apoio desta ou daquela celebridade. O contrário (infelizmente) talvez aconteça: de o apoio político de determinado artista me decepcionar de tal maneira que eu jamais volte a vê-lo com o mesmo encantamento”, destacou Thaís, que é graduada em História.

A assistente social Adriane Vasconcelos, 42, demonstra mais flexibilidade. “Não posso julgar quando alguém utiliza essa postura para se expressar, porque cada um tem a capacidade de analisar aquilo em que acredita”, opinou. “A melhor propaganda, como já diziam nossos avôs, é o ‘boca-a-boca’. Mas, por que não melhorar isso trazendo para a população depoimentos de pessoas famosas, cujo símbolo de beleza está estampado nas novelas e nas capas de revistas? A propaganda eleitoral tem que ser renovada, já não bastam mais os santinhos. Hoje, o eleitor quer algo mais. E quando esse ‘algo mais’ vem acompanhado da imagem do galã da novela falando que vai votar nesse ou naquele candidato, isso faz diferença para muitos eleitores”, concluiu. “E é bom para a carreira deles, porque quem não é visto não é lembrado”.

Quem apoia quem?

Foto: Assessoria Dilma Rousseff
Para Lula, obviamente, Dilma é a candidata do povo (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).

Além dos galãs e das beldades, esportistas, intelectuais, religiosos e, é claro, outros políticos, já fizeram questão de tornar pública a decisão que poderia ficar restrita apenas à urna eletrônica. “No primeiro turno, votei na Luciana Genro. Agora, voto na Dilma. Uma questão de coerência”, resumiu a cantora Marina Lima. Já o ator Dado Dolabella, criou polêmica ao comparar os eleitores da presidente atual a quem foi contaminado com o vírus ebola. “É digno de pena e reclusão da sociedade. Um marginal”, exclamou.

De um lado, estão figuras como a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, o lutador Anderson Silva e o ator Milton Gonçalves. De outro, aparecem a cantora Alcione, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e a atriz Marieta Severo. Até quem não vota no Brasil, aproveitou para dar o seu palpite. O ator americano Danny Glover, que é casado com a escritora brasileira Eliane Cavalleiro, destacou, em nota, o progresso do país durante o governo petista e, por isso, disse apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Já a revista britânica The Economist publicou, na última semana, uma matéria favorável à candidatura de Aécio Neves (PSDB), o que, obviamente, contou com a rejeição do também petista e ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, o Lula. “Essa revista é a mais importante do sistema financeiro internacional, dos bancos, dos achacadores que dizem que são de investidores, mas que são exploradores. Pois bem. Qual é a resposta que temos que dar? Que o Aécio é candidato dos banqueiros? Ótimo. A Dilma é candidata do povo brasileiro”, rebateu.

Nesta terça-feira (21), a empresa Hollywood.TV, que tem filial no Brasil e é especializada em publicidade com celebridades, mediou um pseudo-apoio da modelo britânica Naomi Campbell e da atriz americana Lindsay Lohan à candidatura tucana. Em entrevista à Folha de São Paulo, Jairo Soares, um dos sócios da empresa, admitiu que, como vai votar em Aécio, “usou sua influência para conseguir os posts”, sem, contudo, envolver dinheiro na transação.

O professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Eduardo Silveira de Menezes, 30, escreveu, em 2010, um artigo a respeito do tema, intitulado Da estética do medo ao medo da estética. Nele, Menezes e seu então orientador de mestrado, Valério Cruz Brittos, comentaram o grau de espetacularização que os responsáveis por planejar e operacionalizar as ações de marketing político conferem ao processo eleitoral. “Embora estejamos vivenciando o momento histórico de maior crise das agremiações partidárias – o que se reflete na confusão ideológica da maior parte dos eleitores –, acredito que o eleitorado que se identifica com determinados artistas o faz justamente por endossar os discursos daqueles que toma como referência política ou cultural”, disse o professor, que, também, é jornalista. “A todo o momento a postura e o compromisso de cada uma dessas personalidades agregam ou afastam o público; eles criam adesões e as repelem na mesma medida em que manifestam suas opiniões. Nesse sentido, o PSDB certamente agrega um maior número de votos despolitizados. Dificilmente alguém que vota no Aécio por ser fã de Luciano Hulk, por exemplo, tem algum envolvimento com a militância política ou uma mínima compreensão da diferença crucial entre os dois candidatos”.

Eles vão de 13

Antônio Pitanga (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).
Antônio Pitanga (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).

– Henri Castelli, ator
– Negra Li,
cantora
– Emicida, cantor
– Sergio Loroza, ator e cantor
– Céu, cantora
– Xico Sá, jornalista
– Marcelo Yuka, músico
– Laerte, cartunista
– Zeca Baleiro, cantor
– Fernando Morais, jornalista e escritor

Eles preferem 45

Oscar Schmidt (Foto: Assessoria Aécio Neves).
Oscar Schmidt (Foto: Assessoria Aécio Neves).

– Rosamaria Murtinho, atriz
– Marina Silva, política
– Lima Duarte, ator
– Pastor Everaldo, político
– Eduardo Jorge, político
– Fagner, cantor
– Wanessa, cantora
– Leonardo, cantor
– Luiz Fernando Guimarães, ator
– Alexandre Frota, ator

Taís Brem
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Dinamismo estonteante

Quando Diogo Portugal chamou a colega de palco de “estonteante”, ela rebateu com uma pergunta à altura de sua famosa raridade: “Você está dizendo que eu estou bonita ou que estou tonta?”. O programa em questão era o talk show Luciana by Night, apresentado uma vez por semana por Luciana Gimenez, na Rede TV!. Mas, a piada, planejada ou não, pode vir à memória noutro momento da grade de programação da mesma emissora: o Rede TV News.

É que, de um tempo para cá, a produção do telejornal resolveu fugir do convencional modelo de apresentação na bancada para trazer um pouco mais de dinamismo aos telespectadores. Em função disso, em vez de apenas chamar VTs de reportagens e comentar os assuntos, os âncoras vão adiante, muitas vezes, de forma literal. Não raro, os apresentadores saem do cenário principal e passeiam pelo estúdio, enquanto repassam as notícias à audiência. Caminhando, de um lado para outro, eles mostram vídeos, fotos e textos que estão rolando no site da emissora, entrevistam personagens das reportagens, trocam ideias com os colegas que acabaram de finalizar as matérias que irão ao ar, registram imagens externas, como a da lua gigante, que apareceu no início de setembro, entre outras peripécias.

Fora o exagero e os momentos em que se perdem em meio a tanta liberdade de atuação, os apresentadores desempenham bem a tarefa. Se a ideia era gerar um programa mais dinâmico, com certeza, o objetivo está sendo alcançado. O modelo é semelhante ao que se vê em outros canais, quando os âncoras tentam inovar, dialogando mais abertamente, trocando piadinhas, inventando novos modos de informar a previsão do tempo etc.

O desafio, agora, é manter e aprimorar a qualidade do que mais interessa – a transmissão da notícia – sem que os recursos de apresentação acabem tonteando o telespectador, em vez de embelezar o produto final.

Taís Brem

*Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

As capas da derrota

Capa do jornal O Dia em 09/07/14
Capa do jornal O Dia em 09/07/14

Esqueça a ética e a imparcialidade. Pode dar adeus, também, ao bom senso. Afinal, antes de tudo, você é um torcedor brasileiro. Se os editores responsáveis pela capa de grande parte dos jornais nacionais dessem uma aula de como elaborar uma primeira página no último 09 de julho, com certeza essas dicas ganhariam ênfase especial.

Não foi um dia qualquer. Como bem sugeriu o Hora de Santa Catarina, o dia seguinte à amarga derrota da Seleção brasileira para a Alemanha na Copa que sediamos poderia ser chamado de “Quarta-feira de cinzas”. Realmente, os sete gols que levamos geraram um misto de frustração, vergonha e indignação. Porém, o que se viu no dia 09 mostrou a enorme capacidade da imprensa brasileira de não conseguir separar as coisas, enfatizando a máxima de que o futebol é mesmo uma paixão nacional. O negócio acabou, realmente, indo para o lado pessoal.

Se a escolha pela cor preta define bem o sentimento de luto que a torcida brasileira sentiu naquela quarta-feira, muitos foram os jornais que optaram por ela para cobrir suas capas. Uma das mais ousadas foi a do jornal Meia Hora, do Rio, que destacou a frase “Não vai ter capa” – fazendo um trocadilho com o famoso bordão “Não vai ter copa” – e justificou que os editores estavam abalados demais para pensar noutra opção de primeira página. Na contramão, o Lance deixou a capa em branco e sugeriu que os próprios leitores escrevessem nela o que sentiam após o fracasso da Seleção brasileira. Indignação, revolta, pena e frustração foram algumas das sugestões deixadas pela publicação.

Houve quem optasse apenas por palavras únicas de impacto em letras garrafais, como fiasco, vexame, ressaca. O Diário do Nordeste ainda destacou os números que ninguém conseguirá esquecer por um bom tempo: “Humilhação, 7 x 1”. E, logo após: “Foi duro. O placar diz mais que qualquer texto”. O Correio do Povo, de Porto Alegre, resumiu: “1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 x 1. Foi isso”.

O jornal NH conseguiu ser solidário com o nosso camisa 12. Mostrando o goleiro Julio César sentado, atonitamente, o periódico estampou na capa a frase: “Dizer o quê?”. E complementou: “Coitado, não teve o que fazer”. Já o Diário Gáucho desabafou: “6 era sonho. 7 é pesadelo”.

Dentre todos os veículos que aproveitaram para chutar o balde e colocar o sentimento de revolta na frente de qualquer princípio editorial, O Dia, certamente, foi destaque. “Vá pro inferno você, Felipão”, imprimiu, com fúria, a publicação na capa. “Ele ganha cerca de R$ 1 milhão por mês, é o maior garoto-propaganda do país, não treinou, escalou mal e substituiu errado. Foi responsável pela pior humilhação da Seleção em mais de um século de história. Semana passada, questionado sobre suas atitudes, ele disse: ‘Vou fazer do meu jeito. Gostou, gostou. Quem não gostou, vá pro inferno’”, concluiu.

Jornal Extra fez referência à Copa de 1950
Jornal Extra fez referência à Copa de 1950

Mas foi justamente desmistificando a que se considerava a nossa pior derrota como país-sede de um Mundial que o Extra e o Diário de Pernambuco conseguiram se diferenciar dos colegas. As alfinetadas à atual equipe, é claro, não ficaram de lado. Entretanto, o reconhecimento à Seleção de 1950 foi uma sacada interessante e criativa, que acabou virando homenagem. “Parabéns aos vice-campeões de 1950, que sempre foram acusados de dar o maior vexame do futebol brasileiro. Ontem, conhecemos o que é vexame de verdade”, disse o Extra. O Diário de Pernambuco optou pela frase “Barbosa, descanse em paz”, uma alusão à injusta culpa que o goleiro do Brasil na ocasião, Moacir Barbosa Nascimento, carregou até mesmo depois de sua morte, em 2000, por ter tomado dois gols do Uruguai em pleno Maracanã.

No mínimo, um bom material a ser discutido nos cursos de Jornalismo país afora.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

 

Grande novidade

É como se tivesse virado regra: não precisa casar. Vive um tempo junto, para se ter re-al-men-te certeza do que se quer e, depois, casa. Todavia, se não der certo, separa. Mas, não apenas corporalmente. Divorciar-se, direitinho, com papel e tudo, está mais fácil. Agora, quem quer fazê-lo, só precisa desembolsar uns trocados – porque, de graça, nem injeção na testa – e dirigir-se a um cartório de notas. Lá, se encaminha tudo para que o casamento seja desfeito. Uma das únicas ressalvas é que não haja menores de idade envolvidos na tramitação. Porque somente cônjuges de fato responsáveis podem tomar uma decisão como essa.

Há duas semanas, o Jornal Hoje anunciou uma reportagem sobre o assunto. E, quando Sandra Annemberg deu a manchete, parecia até que era novidade. Mas, não. Divorciar-se não está mais fácil “agora”. Já era, desde 2007, quando saiu a lei que descomplica o processo para desfazer um casamento.

A matéria mostrada no telejornal teve como case uma moça que priorizou “ser feliz” e não pensou duas vezes para sair fora da relação matrimonial. Foi até um cartório e pronto: desfez os laços que outrora eram para sempre. As imagens mostravam uma mulher bem-resolvida. E uma criança pequena, provavelmente fruto da união que não deu certo.

Só alguns segundos depois é que ficou claro o que era, de verdade, tudo aquilo. Explicaram que a lei do divórcio rápido não é nada nova. O que sustenta que a notícia deveria ter sido sobre o aumento no número de divórcios do ano passado para este, conforme uma pesquisa divulgada há pouco. Essa, sim, que poderia ser considerada uma “novidade”, apareceu basicamente pincelada. Nem sei se alguém conseguiu entender do que se tratava. A abordagem foi tão confusa que, após o programa, quem procurou revê-la no site do JH, não a encontrou postada entre as matérias daquela edição. Talvez, a produção tenha se dado conta de que o chamariz deveria ter sido mais condizente com a real informação que seria passada. Antes tarde do que nunca.

Ah, e a menininha que apareceu enfatizando a ideia de que, na busca pela felicidade, os filhos são meros coadjuvantes, não era filha do primeiro casamento. Mas, do segundo, ocorrido dez anos depois, do qual a entrevistada diz não se arrepender. “Agora, é tudo diferente.” Fazemos votos que sim.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Rasa profundidade

Primeiro, a citação de um grande nome, para dar aquela ideia de pesquisa profunda. Depois, a súbita queda de nível. Ocorreu em dois programas de televisão, em duas emissoras diferentes, quando as apresentadoras tratavam de assuntos igualmente diversos. Mas, demonstrou ser uma fórmula bem utilizada no gênero. Na Rede TV!, a repórter entrevistava um desses MC’s que está no topo das paradas de sucesso. Durante o bate-papo, ela resolveu provar ao rapaz que ele não é o único representante do chamado estilo “ostentação”. “Primeiro, começou com Chico Buarque”, disse a moça, com certo ar de intelectualidade, ao referir-se ao compositor da música “Construção”, na qual um amor marcante é narrado, seguido de uma morte trágica.

Quem estava assistindo, até poderia pensar que a produção do programa havia gasto um tempo pesquisando o gênero a fundo entre os representantes de todo o tipo de música nacional – do funk à MPB. Mas, não. Foram até Chico e pararam por ali mesmo. Porque, depois, o que vieram foram os intérpretes de “Lepo-lepo” e companhia limitada. No mínimo, frustrante. Se Chico Buarque estivesse morto, com certeza, teria revirado no túmulo ao se ver incluso numa lista daquelas.

Mas, Adoniran Barbosa deve tê-lo feito quando Angélica, no Estrelas, resolveu listá-lo como uma das personalidades que têm “a cara de São Paulo”. Acontece que a loira caiu no mesmo erro que a colega da Rede TV!: iludiu a audiência com a ideia de uma grande pesquisa no tema, se valendo de uma citação relevante, para, depois, preencher a lista com personalidades mais rasas, como Ana Maria Braga e Serginho Groisman. Está certo que os dois têm seu prestígio artístico, além de serem globais, o que já garante um lugar na lista. Mas mostrou que a arrancada só serviu para tentar impressionar. Acredito que o telespectador se surpreenda com essas quedas bruscas. Ou se começa raso e se mantém o padrão, ou se inicia profundamente e continua fundo. Quente ou frio. Morno, não está pegando bem.

Taís Brem

*Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Arco-íris de opções

Desde quinta-feira (13), Facebook em inglês disponibiliza opções além do “masculino’ e “feminino” para usuários definirem seu gênero

 Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Quando resolveu abrir sua identidade sexual para o público, ano passado, o autor de novelas Walcyr Carrasco definiu-se como bissexual. Na ocasião, ele recebeu críticas negativas da comunidade LGBT, que achou que ele deveria ter se assumido gay, apenas. Para ele, a crítica não tem fundamento, uma vez que não podia simplesmente afirmar que os relacionamentos com mulheres que teve ao longo de sua vida não significaram nada. Por ter consciência de que é capaz de amar homens e mulheres igualmente, Carrasco, portanto, se diz um autêntico bissexual.

Daqui a pouco, o escritor e todos os outros indivíduos que consideram ter encontrado sua real identidade sexual bem longe do gênero ao que parecem pertencer poderão comunicar sua opção, também, em seu perfil no Facebook. É que desde esta quinta-feira (13), a rede social passou a oferecer mais de 50 opções de gênero para que seus usuários possam se definir sexualmente. Por enquanto, a novidade abrange somente os facebookianos americanos, mas deve se estender para os perfis de demais idiomas, em breve.

Mais de seis mil pessoas curtiram a postagem sobre a novidade na página Facebook Diversity e o anúncio ultrapassou os dois mil compartilhamentos. Na postagem, a empresa se diz orgulhosa de estar oferecendo aos seus usuários a oportunidade de se sentirem confortáveis sendo quem são. “Reconhecemos que algumas pessoas enfrentam desafios compartilhando sua verdadeira identidade de gênero com os outros, e esta definição dá às pessoas a capacidade de se expressar de forma autêntica”, diz o comunicado.

Como não poderia ser diferente, a mudança polêmica suscitou debate no próprio post. Muitos internautas se manifestaram a favor da novidade e sugeriram, inclusive, novas medidas, como a disponibilidade de opções para definir famílias modernas e relacionamentos abertos, como os baseados no chamado “poliamor”. Outros, entretanto, não veem progresso nenhum na medida. “São mais de seis mil pessoas que não têm ideia do que está entre suas pernas ou o que querem ser outra pessoa”, comentou um rapaz sobre os usuários que curtiram a postagem. “Não podemos misturar o que a pessoa é com o que ela acha que é ou o que ela quer ser. Preto e branco, cinza não!”, opinou outro internauta. “Senão, daqui a pouco, vamos ter que abrir opções para todo tipo de gente que acha que é uma árvore, o Elvis ou o Wolverine”.

As opções disponibilizadas até agora pelo Facebook não incluem as alternativas ironicamente sugeridas pelo usuário descontente. Mas, entre elas estão definições, como “transexual”, “intersexual”, “andrógino”, “cisgênero” e, até, “nenhuma das opções”.

Taís Brem

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Não era o que você estava pensando

Imagem polêmica de líderes mundiais gerou comentários maliciosos

Cameron, Helle, Obama e Michelle (Foto: Roberto Schmidt/ Agência AFP)
Cameron, Helle, Obama e Michelle (Foto: Roberto Schmidt/ Agência AFP)

Muita gente publicou e republicou. Curtiu e ajudou a repercurtir. E, a cada versão, o conto ganhou mais um ponto. Distorcido. A sequência de imagens feitas pelo fotógrafo da Agência AFP Roberto Schmidt num evento em memória ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, na terça-feira (10), acompanhada de comentários maliciosos por parte da imprensa de todo o mundo, foi o suficiente para levantar uma série de afirmações sobre a falta de educação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e da primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt.

Quem olha as fotos, vê o trio às gargalhadas, posando para foto no celular de Helle, e Michelle, a primeira-dama americana, com cara de poucos amigos ao lado. As conclusões: além de estar se divertindo em hora imprópria com os colegas, Obama estava correndo sério risco de ir dormir no sofá, dada a situação chata provocada pelo entrosamento com a loira assanhada. Foi isso que o planeta inteiro comentou. Acontece que, pelo que parece, a apuração jornalística gerou um “furo furado”. Porque não foi bem isso que ocorreu. Para esclarecer o caso polêmico, Schmidt publicou um post no blog dos correspondentes da AFP, dizendo que tirou as fotos logo após Obama ter discursado no estádio FNB (Soccer City), em Johannesburgo. No momento, o clima era de celebração pela memória de Mandela, bem ao estilo africano de ser, com danças, cânticos e sorrisos, inclusive. Uma questão cultural. “Era mais como uma atmosfera de carnaval, nem um pouco mórbida. A cerimônia já tinha ido por duas horas e duraria mais duas”, relembrou. “Eu não vi nada de chocante no meu visor. Os líderes mundiais simplesmente agiram como seres humanos, como eu e você. Duvido que alguém teria permanecido totalmente pedregoso enquanto dezenas de milhares de pessoas estavam comemorando no estádio. Políticos ou não, estávamos na África”.

Conforme o relato, Obama, Cameron e Helle estariam, então, apenas entrando no clima da descontraída homenagem. Michelle, também. Não fossem alguns segundos de diferença do clique, ela mesma teria sido flagrada brincando com o trio. “Seu olhar severo foi capturado por acaso”, explicou o fotógrafo, ao demonstrar frustração com a repercussão negativa atribuída ao trabalho. “Mandamos cerca de 500 fotos, tentando retratar verdadeiros sentimentos, e esta imagem aparentemente trivial parece ter eclipsado muito desse trabalho coletivo. Confesso, também, que me deixa um pouco triste que estamos tão obcecados com o dia a dia de trivialidades, em vez de coisas de real importância”, finalizou.

Ainda bem que as palavras estão aí para desfazer os mal-entendidos que a interpretação errada de uma imagem pode causar.

Taís Brem

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