Letras miúdas

MP900385253Seria muito bom se aquele aparelho de DVD custasse apenas R$ 33,00. Ou se o aquecedor estivesse só R$ 39,90, ainda mais com o frio que anda fazendo por essas bandas nos últimos dias. Mas, não. Para identificar o preço verdadeiro desses e de outros produtos, os consumidores têm de fazer um esforço extra. Não basta somente passar os olhos pelos encartes e cartazes que anunciam promoções. É imprenscindível atentar para os detalhes e ver se o preço alardeado com fontes garrafais não está acompanhado de algum asterisco ou informação em letras menores, que indicam, por exemplo, que o valor convidativo é apenas o que custa uma das parcelas necessárias ao pagamento da bendita mercadoria.

Ao prestar atenção nesses pequenos e importantes detalhes, o consumidor pode descobrir que não é R$ 18,00. São 3x de 18. Não é R$ 29,99. São 30x desse valor. Uma surpresa bem desagradável. Ou não. Afinal, um pouco de desconfiança nesses casos não faz mal a ninguém. E, a bem da verdade, por mais estratégica que seja a iniciativa das empresas em camuflar as letras miúdas que realmente interessam num contrato de compra e venda, isso não é nenhuma novidade.

Na linguagem do marketing, deve ser a mesma lógica que guia os números para as vírgulas e os “99″ da vida. Porque todo mundo sabe que são minúsculas as chances de se receber R$ 0,01 de troco quando se paga R$ 10,00 por algo que, pela etiqueta, vale R$ 9,99. Mas, todo mundo compra. E se gaba de ter feito um bom negócio. Já dizia o velho ditado: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Ainda que as letras sejam miúdas demais para se enxergar a olho nu.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Falando em Copa

Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).
Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).

Falar de Copa de Mundo me traz muitas coisas à mente. Lembro da Copa de 1990, quando a bola em campo era o que menos me importava. Tudo o que eu mais queria era colecionar aqueles copões da Pepsi, decorados com motivos relacionados ao Mundial. Lembro da de 1994, a “minha primeira Copa”, de fato, da qual participei ativamente, torcendo, opinando, preenchendo as tabelinhas dos jogos, ajudando minha mãe e minha avó a preparar os lanches para as partidas, aprendendo sobre um universo novo, que se tornou fascinantemente especial depois da conquista do tetra. Lembro de chorar pela derrota de 1998 e me perguntar por que aquele cara da França tinha que nos humilhar ainda mais marcando o terceiro gol contra nós, no finalzinho do segundo tempo. Lembro de acordar de madrugada em 2002 para assistir a muitas das partidas que nos levariam ao pentacampeonato. E lembro de pouco me lixar para o que aconteceu nas copas que vieram depois. Até essa, de 2014.

A Copa do Mundo desse ano está sendo diferente. Porque somos os anfitriões, sim. Embora, eu vá assistir a todos os jogos pela TV mesmo, como sempre. Mas, principalmente, porque a reação dos brasileiros quanto ao evento está tornando esse um momento singular. Há quem considere essa uma ótima oportunidade de demonstrar toda a nossa paixão pela camisa verde e amarela, vibrando e fazendo o possível para que essa seja a Copa das Copas. Todavia, há quem torça contra o sucesso do Mundial e, também, da Seleção Brasileira. A motivação? Protestar contra a corrupção. Porque se acha totalmente inútil mobilizar todo um país para um evento supérfluo enquanto a educação, a saúde e todo o resto agonizam. Parece justo. Acontece que não é. Não na minha humilde opinião.

É como aquela velha polêmica que questiona por que gastar dinheiro comemorando Carnaval enquanto outros setores públicos precisam tanto de verba. Particularmente, não sou adepta da comemoração. Mas, creio que, se o dinheiro da educação, da saúde, do transporte, da habitação e da “mãe do Badanha” fossem aplicados como deveriam, haveria recurso de sobra para tudo. Inclusive, para a cultura e o entretenimento. As festas não são o vilão. O vilão é a má-utilização do dinheiro público. E isso acontece com ou sem Copa. Com ou sem Carnaval. Com ou sem PT. Infelizmente.

Muitas vezes, esse pessimismo coletivo não tem nem um fundamento decente. Hoje, por exemplo, tinha gente se dizendo croata desde pequeninho e nem sabia explicar o porquê. Quer dizer, sabia: apenas para ser contra o Brasil.

Ainda bem que a gente ganhou. Seria muito frustrante perder o primeiro jogo, em casa, reforçando todo esse ar de mau humor que anda pairando por aí nos últimos meses. Entendo as justificativas de quem espera muito mais do que estádios padrão FIFA para melhorar a nossa situação. De quem quer muito mais do que chamar a atenção do resto do mundo, quer uma vida digna para se viver quando não tiver nenhum turista olhando. Entendo tudo isso. Sou brasileira. Mas, não sou alienígena. Por isso, nessa Copa, entre o pessimismo e o otimismo, fico com o segundo. Que tudo possa dar muito certo. Dentro e fora do campo. O espetáculo começou e, sim, vai ter Copa.

Taís Brem
Siga-nos no Twitter e curta-nos no Facebook #NóisGostaDeFeedback
😉