Um irmão na prefeitura

 

Pode conferir: chega a época de eleições e todo o candidato a alguma coisa é crente desde criancinha. E umbandista, católico, kardecista, testemunha de Jeová… Ou seja, eles dançam conforme a música. Ontem várias situações que acompanhei testificaram que a frase postada sobre o Kassab não dá a São Paulo a exclusividade de candidatos que se “convertem” à alguma religião para aumentar sua popularidade entre os eleitores ingênuos. Aqui, bem pertinho de nós, isso também ocorreu. E há quem ainda se iluda: “Aleluia! Agora temos um irmão na prefeitura!”. Irmão? Tá bem, então.

 

 

A primeira reação que tive quando ouvi esta declaração dentro do ônibus ontem foi um misto de pena (pelo cara que achou que o Fetter, nosso ilustríssimo prefeito, agora devidamente eleito, tinha mesmo se convertido ao Evangelho) e nojo (pelo próprio Fetter que acha que este tipo de coisa é brinquedo). Mas, depois, fiquei refletindo bem e cheguei à conclusão de que, se alguém se ilude, é porque quer mesmo. Sabe-se que as coisas funcionam assim. É tudo política, tudo um jogo. A assessoria de Kassab, lá em Sampa, justificou o ato público de conversão do bonito de forma bem clara: ele foi lá e apenas cumpriu o protocolo normal do local. Se adequou às regras e ganhou a simpatia do público. E era isso. A religião que ele tinha antes de entrar, continuou a mesma depois que ele saiu. Sua declaração não mudou nada. Foi apenas uma cena fictícia.

 

Só não vou dizer que estas confissões são coisas de que até Deus duvida,  porque, como criador do ser humano, Ele está cansado de saber do que somos capazes por nossos interesses próprios. E vá que eu esteja exagerando quando, na verdade, as orações foram sinceras, né? Entretanto, meu apelo para que oremos por nossos governantes continua. Acho que é a saída mais sensata. Como diz minha frase no MSN desde segunda: “Ó, Deus, sejas tu o prefeito de Pelotas (e de POA, Gravataí, do RJ, de SP, de Tabatinga, Lorena…)”. Alguma sugestão para aumentarmos a lista? Quem sabe pedimos para que Ele seja presidente dos Estados Unidos também?

 

Taís Brem

Então, hein?

 

“A partir de hoje, diante do teu altar, eu consagro minha vida, meus sonhos, minha carreira política e a minha reeleição para prefeito e, em nome de Jesus, se o Senhor me conceder essa oportunidade de voltar a ser o prefeito de São Paulo, quero fazer um voto contigo hoje. Vou fazer um culto de ação de graças para louvor e honra a partir de agora para meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, amém”.

Gilberto Kassab, prefeito reeleito de São Paulo e multi-religioso, em culto numa igreja evangélica durante campanha eleitoral. Embora tenha tentado convencer os eleitores evangélicos com a cena, assessores afirmam que a religião de Kassab continua sendo a católica e que participar de reuniões de credos diversos durante o período eleitoral é natural…

 

“Não foi campanha política. Ele teve a oportunidade de ter a experiência com Deus e declarar isso diante do público”.

Viviane Nascimento, pastora da igreja que Kassab visitou, defendendo a postura do prefeito. Sem comentários.

 

“Quem me deu o nome do meio, Hussein, obviamente não imaginava que um dia eu concorreria à Presidência”.

Barack Hussein Obama, candidato democrata à Presidência americana.

 

“Começo a acreditar que Deus é realmente brasileiro”.

William Rhodes, executivo-chefe do Citibank, comparando a situação bancária do Brasil com a dos EUA.

 

“Eu fico com os piratas. Já sofri muito em mão de gravadora, enchi”.

Rita Lee, cantora, numa clara apologia à pirataria.

 

“Deus, como sempre, me protegeu. Fui salva aos 44 minutos do segundo tempo”.

Luana Piovani, sobre o fim do relacionamento com Dado Dolabella.

 

“Estamos acostumados com essa imagem de bad boy que fazem do Dado. O que posso falar é que meu irmão é um cara do bem. Somos meninos bem criados, de família, não batemos em mulher”.

Gilberto Dolabella, irmão de Dado, negando a acusação de que o mano teria agredido Luana e sua camareira, Esmê. A funcionária chegou a ir na delegacia prestar queixa contra o rapaz.

 

“Em última instância, com o envelhecimento do Brasil e do mundo um novo personagem se apresenta: o idoso que vai trabalhar”.

Venceslau Antônio Coelho, médico do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), sobre a profissão de office-boy na terceira idade. Além de experientes e responsáveis, os office-idosos têm cativado as empresas por não pagarem ônibus e poupar tempo nos serviços diários, já que podem utilizar as filas especiais.

 

Movimento dos Sem-filhos

 

A proposta é se opor a uma das leis máximas da natureza: o famoso “crescei e multiplicai-vos”. E o objetivo incomoda justamente por ser uma espécie de hino contra o que chamamos de família normal, como a própria autora define. Escrito pela francesa Corinne Maier, o livro “Sem filhos – Quarenta razões para não ter” chegou ao Brasil em agosto, depois de causar muita polêmica pela Europa e continua levantando por aqui dúvidas acerca da necessidade de procriar.

 

Há quem diga que não há mal algum numa mulher que decide, por A + B, que gerar não é um bom negócio. O mundo não vai ficar significativamente menor por causa disso. Ok. Muitos são os que decidem permanecer solteiros e até o apóstolo Paulo já dizia que, se alguém prefere não casar e, por conseqüência, não dar início a uma nova família, nisso não peca. Beleza. A liberdade desta escolha está inclusa no que denominamos livre arbítrio. Mas existe o grupo – e eu me incluo nele – que vê nesta posição anti-filhos uma coisa meio de frustração, de vazio. Parece-me um negócio estranho demais alguém querer ir contra tudo o que se faz normalmente desde que mundo é mundo. E além do mais, ela usa argumentos absurdos, como, por exemplo, que ter filhos num país rico é um tipo de atentado ao meio-ambiente, já que a população aumenta e o consumo cresce obrigatoriamente… Meu Deus, que drama! Todavia, para que você tire suas próprias conclusões, leia abaixo a íntegra da entrevista que a agência O Globo fez com Corinne. Em tempo, ela mesmo é mãe de dois adolescentes, mas dizer que se arrepende bastante disso faz parte de seu discurso.

 

 

O Globo – Das 40 razões para não ter filhos, quais as três que você considera as principais?

Corinne – Os filhos exigem tanto tempo e energia dos pais que impedem eles de fazer um monte de coisas: mudar, viajar, ter uma vida de aventura, se enfiar na política, ganhar dinheiro… tudo isso é difícil quando se tem filhos. Principalmente para as mulheres. Não as avisamos o suficiente que elas serão prisioneiras dos filhos por 20 anos.

 

O Globo – Por que uma mulher que opta por não ter filhos é considerada suspeita, fraca, medrosa ou doente ainda nos dias de hoje?

Corinne – São preconceitos de gente sem imaginação. No século 20, mulheres como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt ou Alexandra David-Neel tiveram vidas interessantes e escolheram não ter filhos. Elas não eram nem fracas, nem medrosas.

 

O Globo – Você admite que em alguns momentos se arrepende de ter tido filhos. Que tipo de reação essa declaração provoca?

Corinne – Isso choca algumas pessoas. O discurso esperado é: eu sou preenchida (plena) pelos meus filhos. As crianças dão sentido à vida? Tenho dúvidas. Pode ser para uma minoria de pessoas, mas não para todas. Seria muito simples e um pouco decepcionante: a espécie humana estaria na terra unicamente para se reproduzir? Não é um pouco limitado?

 

O Globo – Para você, o que motiva as pessoas a terem filhos: os antigos dogmas ou o que chamou de baby-business? A paternidade é, mesmo, um aliado objetivo do capitalismo?

Corinne – Muita gente quer filhos: talvez seja um meio de fazer como todo mundo, de se integrar à sociedade. Talvez seja um meio de se projetar no futuro. Mas não existem outros meios como, por exemplo, fazer o que a gente realmente gosta? Ter filhos conforta a ordem: as crianças estimulam os pais a consumir sempre mais para provar que eles são bons pais. E também, quando somos pais, estamos tão ocupados em ganhar a vida e educar os filhos que a gente não tem tempo para pensar em mudar o mundo ou imaginar uma outra sociedade.

 

O Globo – Você diz que existem 40 razões para não ter filhos; há ao menos quatro razões para tê-los?

Corinne – Talvez,  mas não é meu métier de falar disso. Eu escrevo ensaios para fazer refletir (ou incomodar), não hinos à família.

 

O Globo – Alguém já disse que você se sente uma péssima filha e uma péssima mãe e por isso escreveu o livro? Qual seria sua resposta a isso?

Corinne – Me acusam de ser uma mãe ruim por causa desse livro. Tudo bem, isso me faz rir. As boas mães são as que não se questionam? Além do mais, as boas mães existem?

 

O Globo – Você afirma que um filho é capaz de acabar com a vida sexual e o desejo de um casal. Que tipo de reação você queria provocar, ao misturar num mesmo livro dois tabus – maternidade e sexo?

Corinne – Nenhuma, eu só disse que a verdade, com humor, sobre a vida sexual de muitos dos pais.

 

O Globo – Por que afirma que ter um filho num país rico é um ato não-cidadão?

Corinne – Porque o planeta já é superpopuloso e não necessita das nossas maravilhosas crianças. Seria preciso fazer as pessoas que decidem ter crianças pagar mais impostos. Na verdade, os pais acabam pressionados a consumir mais (carro, casa, gadgets, etc) e o meio ambiente sofre.

 

 

 

Vampiros do controle remoto

 

O título parece forte. Mas, combinado com o contexto que David Coimbra utilizou em sua coluna de Zero Hora, na última sexta-feira, ele cai como uma luva. Acho mesmo que dá pra intitular assim o monte de pessoas que volta e meia se delicia com tragédias em frente a telinha. E é assim desde que me conheço por gente. O sensacionalismo sempre deu ibope. Assunto do momento, o assassinato de Eloá rendeu uma boa divulgação na mídia. E ainda renderá muito mais, acredite. Como se não bastasse, 30 mil pessoas compareceram ao seu enterro sem nunca tê-la visto mais gorda. Caso semelhante foi o que li noutro dia. Uma senhora levou a netinha de quatro anos para um passeio no cemitério em que Isabella Nardoni foi enterrada. É o cúmulo! E elas são apenas duas das milhares de pessoas que enchem o tal cemitério todos os dias. O que, afinal, prende tanto a atenção das pessoas neste tipo de atração? Falta do que fazer? Vazio emocional? Satisfação pela tragédia alheia? David Coimbra deixa sua opinião sobre o assunto.

 

 

O doce sangue do outro

 

Brasileiro adora um velório. Lógico, velórios são importantes, psicologicamente falando. Pois a história da vida de um homem é a história das suas perdas e, sobretudo, de como ele lida com elas. No caso de uma morte, de resto uma perda bastante definitiva, o velório serve para que os vivos se acostumem com o (em geral) infausto ocorrido. É por isso que as pessoas devem passar pelo caixão e olhar para o morto. Para que sua mente registre: ele não fala mais, não se mexe, não respira; ele está morto. E não é por outro motivo que o homem pré-histórico já realizava funerais. A sabedoria ancestral.

 

Faz-se essa liturgia quando da morte de um ente querido. Um amigo. Um familiar. Ou um personagem público muito admirado. Vide os funerais de Aírton Senna, de Getúlio Vargas e de Tancredo Neves que mobilizaram o Brasil, ou o de Lady Di, que comoveu o planeta via satélite, ou o de Lincoln, que cruzou os Estados Unidos em cima do aço de trilhos de trem.

 

Certo. Mas como se explica 30 mil pessoas comparecerem ao sepultamento de uma desconhecida, como aquela menina que foi assassinada pelo namorado em São Paulo dias atrás? Aí a distorção nacional. O brasileiro tornou-se um consumidor de tragédias. Nada a ver com o gosto pela crônica policial, pelo mistério, nada disso. Eu mesmo sou um entusiasta da Editoria de Polícia, onde muito trabalhei, e com deleite. Porque, sempre digo, não existe nada mais humano do que um assassinato, e todo assassinato tem uma história interessante. Pode ser uma briga de bar – conte o dia em que a vítima acordou para morrer e que o assassino acordou para matar e, pronto, você tem uma bela página.

 

Mas o acompanhamento ansioso do enterro de uma vítima ou o consumo sôfrego de certas minúcias da tragédia, como se tem visto, isso foge do fascínio pelo mistério. E a volúpia pela desgraça alheia é tamanha que até o jornal televisivo mais respeitado do país, o Jornal Nacional, entrega-se à tentação de explorá-la. O que me decepciona, eu que sempre fui, e sou, admirador do Jornal Nacional. Há quem justifique que tal se dá devido à luta pela audiência medida minuto a minuto. Mas ainda acredito no jornalismo. Ainda creio que, a médio e longo prazo, o jornalismo sério tem mais audiência do que a apelação.

 

Enfim. A verdade é que os telejornais estão atendendo a um apelo do consumidor e o que me interessa aqui é saber por que o brasileiro se transformou nesse vampiro de controle remoto. Digo por quê: por causa do vazio. O sujeito atravessa seus dias num emprego monótono e as noites no cárcere de um apartamento de dois quartos dividido com a mulher e os três filhos, ele não sai de casa com medo da violência e não tem dinheiro para viajar, nem ler ele lê porque ninguém o ensinou a gostar de livros, e o pior: ele vive em algum lugar selvagem e árido como São Paulo. Quer dizer: a vida dele não tem sentido. Assim, quando esse triste brasileiro encontra motivo para uma emoção poderosa e inofensiva, ele, de alguma forma, se realiza. Donde, 30 mil pessoas no enterro da menina desconhecida do subúrbio, uma multidão cevando suas próprias emoções rasteiras tirando fotos do caixão com seus celulares luminosos, chorando, escabelando-se, se desesperando. Vivendo, finalmente. As tragédias de telejornal são a salvação espiritual do brasileiro medíocre.

 

 

Olha só!

 

“Temos algumas semelhanças. De fato, Moisés esteve no exílio, assim como eu. De fato, Moisés voltou para acudir seu povo, e eu estou aqui para acudir meu povo”.

Fernando Gabeira, candidato do PV à prefeitura do Rio, se comparando ao líder bíblico em discurso na Igreja Assembléia de Deus Ministério da Restauração.

 

“A resistência de algumas congregações acaba ofuscando questões éticas que são mais importantes. A igreja tem de ser um canal de diálogo aberto com todos os setores da sociedade”.

Hermes Fernandes, bispo da Igreja Reina, criticando alguns de seus colegas religiosos a favor de Gabeira.

 

“Eu fui menino, adolescente e jovem e nunca me passou pela cabeça uma coisa dessas. Ele tem de pagar”.
José Luciano, agricultor e pai de Lindemberg Alves, 22 anos, sobre o homicídio que o filho praticou contra a ex-namorada Eloá nesta semana.

 

“Consigo perdoar o Lindemberg. Eu sei que ela tá com Deus e eu tô feliz. Talvez Deus tenha feito isso para dar a vida a sete pessoas”.

Ana Cristina Pimentel , mãe da menina Eloá.

 

“Muitos brancos sentem que estão perdendo seu país diante dos próprios olhos. O que estamos vendo neste momento é o começo de uma verdadeira reação”.

Mark Potok, diretor da entidade jurídica Southern Poverty Law Center, que monitora agressões raciais, sobre a manifestação de alguns grupos diante da provável eleição de Barack Obama à presidência dos EUA.

 

“Eu não era esperto o suficiente para me arriscar em um papel desses”.

Will Smith, ator americano, lamentando tardiamente a recusa ao papel de Neo, do filme Matrix, em 2000. A história maluca demais que não prometia muito sucesso acabou surpreendendo público e crítica e consagrou Keanu Reeves no papel principal.

 

“Era para ser assim…. palco checado, luzes afinadas, cenário perfeito, banda pronta, e ai então, sem ainda sabermos a razão, o artista não veio”.

Ivete Sangalo, cantora, sobre o aborto espontâneo que sofreu com seis semanas de gestação. “Estou firme e tranqüila, certa de que Deus é sábio”, completou.

 

Eterno enquanto durou

Parecia um plano perfeito: casar em meio a um dos espetáculos mais badalados do planeta e ainda associar isso à provável boa sorte atribuída a uma data. Pois é… Acontece que agora, cerca de dois meses depois, mais de 300 casais (isso mesmo, eu disse 300) já não acham que a escolha deles foi tão bem-sucedida assim e planejam divórcio. Eles fazem parte dos 16 mil pares de noivos que definiram o dia 08/08/08 como um dia propício para trocar alianças em Xangai. Foi exatamente quando houve a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Uma das recém-casadas-e-quase-divorciadas reconheceu que casar com o homem que havia conhecido apenas há sete dias não foi bom negócio. Ela não queria perder a chance de aproveitar a data de sorte, mas agora… “Estou arrependida porque descobri que meu marido é viciado em mahjong (jogo muito popular na China) e não tem nenhum plano de vida”.

Shu Xin, a criadora da agência Shanghai Weiqing Business Consulting, também conhecida como “clube do divórcio”, disse que, dos mais de 300 casais que planejam se divorciar, a maioria é formada por jovens que estavam juntos há poucos meses e que se casaram pelo impulso de se unir pela superstição.

Será que a boa intenção acabou propiciando efeito contrário e, em vez de sorte, deu azar? Como diria Boris Casoy, “durma-se com um barulho desses!”.

 

Taís Brem
*Com informações da BBC Brasil 

 

Perigo de gente grande

                   

Esses dias eu tava pensando… Se existem dois assuntos que serão carta marcada na próxima retrospectiva, estes assuntos atendem pelo nome de Caso Isabella e Caso Eloá. Não tem como ser diferente. Assim que os veículos de comunicação começarem a arregaçar as manguinhas pra fazer o balanço de 2008, estes dois assassinatos brutais entrarão na pauta. E não precisa nem ser jornalista para saber disso.

                   

Mas, falando mais especificamente deste último acontecimento, uma coisa que também me passou pela cabeça nestes dias foi um jeito de abordar por aqui este episódio da menina de 15 anos que foi morta pelo ex-namorado. Não encontrei gancho. Na verdade, achei que seria chover no molhado eu, como projeto de defensora da moral e dos bons costumes que sou, comentar algo que não fugiria muito de minha reprovação acerca de um relacionamento assumido tão cedo. Ela tinha 12 anos, uma criança, quando começou o namoro com este tal Lindemberg, um cara já maior de idade e, agora, comprovadamente mal-intencionado. Precipitado dizer que foi culpa dos pais? Talvez. Entretanto, se não partir de casa o conter das rédeas, quem segura então?

                   

E foi por, justamente, perceber que esta minha opinião não é apenas papo de crente, que resolvi transcrever aqui a coluna da Martha Medeiros que tá hoje na Zero Hora. Ela fala disso: a forma adulta que os jovens acham que podem assumir e que, vez ou outra, acabam tendo desfechos trágicos como o que Eloá teve. Infelizmente. Namoros permitidos ainda na infância, liberdade para ir a festas e beber todas até cair são alguns dos pontos que ela comenta. Dá uma lida no texto na íntegra.

 

 

Foi mal

 

Semana passada eu estive no curso pré-vestibular Unificado conversando com alguns professores e pais de alunos, e entre vários assuntos debatidos surgiu um que tem preocupado a todos: a liberalidade que certos jovens conquistaram em casa e estão exibindo nas ruas. Longe de qualquer moralismo, o fato é que é alarmante que uma garotada de 12 ou 13 anos já esteja freqüentando festas com álcool – às vezes liberado pelos próprios pais, que se rendem ao manjado argumento: “Pô, todos os meus amigos podem!”. Ah, então tudo bem.

 

Juventude sempre foi sinônimo de “viver perigosamente”: esperto era quem esnobava a morte e se divertia com o risco. Essa rebeldia já teve seu seu charme, eletrizava. Só que o passado passou: hoje vivemos numa sociedade muito mais violenta, e dar uma de valente, se ainda impressiona, é pela inconseqüência e babaquice, por nada mais.

 

Alguns acontecimentos dos últimos dias deixaram claro que os jovens, hoje, correm riscos de gente grande. Primeiro foi o caso da Eloá, a menina de 15 anos que namorava um desajustado há três. Pra mim, dos 12 aos 15 ainda se é praticamente uma criança. Como alguém nessa faixa etária vive uma relação com uma carga de passionalidade tão intensa, tão adulta? Enfim, a menina foi uma vítima, lógico, mas cabe a nós, pais e mães, colar neles: com quem se envolvem, o que revelam através do Orkut, a quem estão se anunciando? A propósito, soube que há uma nova moda pegando na Austrália: as garotas vão para a praia com o número do celular pintado nas costas. Um convite pra encrenca. Mais um.

 

Outra notícia desalentadora foi a do menino de 18 anos que faleceu por causa de uma bala perdida disparada numa festa. Acontece todos os finais de semana em bairros da periferia, mas quando atinge um estudante universitário a visibilidade da notícia se expande. No entanto, o drama e as dúvidas são as mesmas para todas as famílias: quem controla o porte de arma numa festa? E mesmo quando esse tipo de tragédia acontece do lado de fora do recinto, como começa? Creio que a resposta está no início do texto: bebida à vontade para uma garotada em busca de afirmação. Infelizmente, muitos adolescentes não são orientados ou não desenvolvem a segurança necessária para ir contra o rebanho. Se todos bebem, eles bebem também. Não sabem se divertir com o entusiasmo que naturalmente possuem: precisam potencializá-lo. Aí exageram e entram num estado de exaltação que faz com que provoquem brigas desnecessárias, façam sexo sem uso de preservativos, dirijam em alta velocidade, ferrem com a própria saúde. Ou com a vida de alguém.

 

Sei que estou dando uma de madre superiora, mas nunca é demais bater nessa tecla do exagero. O adolescente vai sempre cometer excessos, faz parte da sua natureza, mas o mínimo que os pais podem fazer é não tratá-los como adultos antes da hora. Nada de aceitar que meninas de 15 se comportem como mulheres vividas e de aceitar que meninos de 16 cantem de galo. A marcação tem que ser mais cerrada. É proibido dirigir e beber antes dos 18. Ponto final. É inegociável. Não adianta eles chegarem em casa dizendo “foi mal” e no dia seguinte vacilarem de novo. Uma briga pode causar uma morte. Um amasso pode gerar uma gravidez indesejada. Um pega pode acabar em tragédia. Foi mal? Pode ser péssimo, crianças.

 

Martha Medeiros

 

Era isso

 

“A pornografia está disfarçada na novela das seis, no programa de auditório, na quase totalidade dos filmes e atingiu meu mercado de trabalho”.

Pedro Cardoso, ator, justificando o manifesto contra a nudez na mídia, que tornou público no último dia 08. Para ele, as “empresas exploram a comunicação em massa disfarçando a pornografia em obra de arte e em entretenimento”. Mas… “Quem quiser fazer pornografia ou usufruir dela no seu mundo privado, não é assunto meu”, complementou.

 

“Li a filosofia hinduísta, que é a mais antiga e deu origem ao cristianismo. O ‘ama a si próprio como a ti mesmo’ vem daí”.

Cláudia Alencar, atriz. Na verdade ela queria dizer: “ama a teu próximo como a ti mesmo”…

 

“O meu público sabe que, quando estou no palco, canto como se fosse o último dia da minha vida, me entrego de corpo e alma naquele momento”.

Ana Carolina, cantora.

 

“Não acho que Obama vai se eleger porque é negro. Ele vai se eleger porque é o melhor candidato. E a crise econômica só o ajudou, porque o americano só muda quando começa a doer no bolso dele”.

Bruno Barreto, cineasta e cidadão americano, opinando sobre as eleições dos EUA.

 

“A Igreja que não se moderniza morre. É preciso manter os princípios, mas perceber que o mundo muda”.

Israel Néri, presidente da Sociedade de Catequetas Latino-Americanos, sobre a estratégia católica de utilizar filmes como “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter” na catequização de jovens.

 

“Me arrependi de ter aberto meus diários. Não escrevi aquilo para ser lido. Só dei a chave, porque não lembrava do que tinha escrito”.

Paulo Coelho, escritor, sobre a biografia O Mago, escrita por Fernando Meirelles, com base em suas anotações pessoais.

 

“Queria ser porto-alegrense essa semana para votar em Maria do Rosário”.

Chico Buarque, músico, durante o programa eleitoral gratuito da candidata petista. Apesar de se considerar neutro quando o assunto é política, Buarque afirmou que a discussão na capital gaúcha é uma exceção.  “Porto Alegre para nós é outra coisa. Tenho a impressão de que quando há eleição lá, não se discute somente eleições, se discute o futuro do País”, sentenciou.

 

“As pessoas adoram jogar quilos na suas costas. Acho cruel me pegarem para ser Jesus”.

Grazi Massafera, atriz, sobre o ônus da popularidade instantânea que conquistou.

  

 

Vaidade de vaidades

 

Bem dizia o sábio Salomão no livro de Eclesiastes: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade”. Li hoje uma matéria muito interessante no site de Veja sobre coisas que não precisamos fazer antes de morrer. Sim, você entendeu direito: uma lista do que NÃO precisamos fazer antes de ir para nosso destino final. Ao mesmo tempo engraçada e reflexiva, a reportagem fala do caminho inverso que se pode trilhar em vez de ficar se sobrecarregando com coisas fúteis que alguns abençoados dizem ser indispensáveis para dar um sentido melhor à vida. Batalhar para entrar pro Guiness ou ter seus 15 minutos de fama na televisão, ficar rico, nadar com golfinhos e ler romances inúteis de trilhões de páginas são apenas alguns destes muitos itens que tornam a existência um fardo pesado demais para ser carregado.


E é tão pesado que nem Dave Freeman, um dos autores do livro Cem Coisas para Fazer Antes de Morrer, conseguiu levar. Freeman e Neil Teplica publicaram o livro em 1999 dando uma espécie de pontapé inicial para que todos os demais reles mortais passassem a se sentir bastante frustrados por não atingir todos aqueles objetivos traçados. O problema é que ele mesmo acabou morrendo no meio da lista e não pode, portanto, cumprir sua nobre missão. Na contramão disso, três outros livros foram lançados recentemente para amenizar o drama: 101 Coisas para Não Fazer Antes de Morrer, do americano Robert Harris, Não Ligo a Mínima – 101 Coisas para Não Fazer Antes de Morrer, do inglês Richard Wilson, e Cai Fora! 103 Coisas para Não Fazer Antes de Morrer, do inglês Sam Jordison. Eu, que ainda não cheguei aos 40 anos, vi as listas do que fazer e tive a sensação de que nunca iria conseguir. Primeiro fiquei meio deprimido. Depois percebi que era ridículo e decidi livrar as pessoas desse tipo de opressão”, brincou Jordison. Dá uma olhadinha em algumas destas bizarrices.

 

Visitar o Taj Mahal — Conhecer o mausoléu transformado em declaração póstuma de amor é item obrigatório dos viajantes aventureiros. Atente-se para o fato de que o monumento é cercado de Índia por todos os lados: o rio cheira mal, o calor é insuportável, mendigos imploram por trocados e, acima de tudo, há turistas demais. Todos, sem exceção, tirando fotos que serão versões pioradas das imagens dos cartões-postais e guias de turismo. “Eu estive no Taj Mahal e acho que acontece o mesmo que com as pirâmides do Egito e com Machu Picchu: já vimos tanto na televisão e em fotos que, ao vivo, não são tão bonitos. Também dizem que é incrível mergulhar nas Maldivas, mas eu nem sei nadar”, disse Wilson.

 

Aprender outra língua – Grego antigo, alemão moderno, mandarim? Quem já fala no mínimo outros três idiomas pode se dispensar da obrigação. A regra só não serve para mulheres solteiras que querem usar o método de aprender italiano, na Itália, usando o universal e comprovado método de namorar um local.

 

Ler Guerra e Paz Ou Ulisses, ou a Ilíada. São obras-primas da literatura, é verdade. Mas ninguém é obrigado a ler suas centenas de páginas se não aproveitar de verdade. Em resumo: não acabe um livro de que você não gosta. Leia outra coisa.

 

Pular de pára-quedas – Ou fazer bungee jumping. Ou, radicalismo dos radicalismos, praticar o “zorbing”, assustadora modalidade em que o praticante é colocado em uma bola gigante, muitas vezes cheia de água, que rola morro abaixo. “Nunca tinha ouvido falar nisso até ler as listas do que fazer. Se você é viciado em adrenalina, faz sentido. Eu sofri um acidente de carro e posso dizer que a sensação é a mesma. Taquicardia, frio e tremedeira. É muito desagradável”, descreve Jordison.

 

Ir a uma praia de nudismo – Além de correr o risco de sofrer queimaduras em áreas nunca dantes bronzeadas, você se sentirá inferior diante de corpos mais bonitos ou constrangido por outros nem tanto. E passará o dia sendo examinado por estranhos. Pra quem tem vocação para manequim de vitrine, serve.

 

Assistir a uma corrida de Formula 1 em Mônaco – Além de um barulho infernal, os carros passam rápidos demais, não dá para saber quem está em qual colocação, é impossível ver a maior parte da pista, o ar fica cheirando a gasolina e os preços são extorsivos.

 

Passar a virada do ano em Times Square, em NY – Entre outras coisas faz muito frio, o tempo todo alguém faz uma piadinha sem graça, todas as ruas em volta estão fechadas por causa da passagem das autoridades e você percebe que ficou preso no meio de 500.000 pessoas. Depois de um bom tempo de pé, você precisa de um banheiro.

 

Ficar rico – Se não ficou até agora…

 

 

Melhor se inspirar nas palavras de Salomão:

 

“É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço — um cansaço tão grande, que nem dá para contar.

Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja! Isto nunca aconteceu no mundo”? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. Ninguém lembra do que aconteceu no passado; quem vier depois das coisas que vão acontecer no futuro também não vai lembrar delas.

Eu, o Sábio, fui rei de Israel, em Jerusalém. E resolvi examinar e estudar tudo o que se faz neste mundo. Que serviço cansativo é este que Deus nos deu! Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto, nem fazer contas quando faltam os números. E pensei assim: ‘Eu me tornei um grande homem, muito mais sábio do que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o que é o conhecimento.’ Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento”.

 

Eclesiastes-1
 

Mais frases

 

“Se chegar nessa fase é melhor liberar o seu parceiro, pois há outras pessoas que podem cuidar bem dele. Tudo tem data de validade, gente!”.

Vera Holtz, atriz, defendendo a ruptura de relacionamentos quando a vida a dois cai na rotina. Data de validade? Eu, hein!

 

“Meus pais falavam que eu era mentirosa, mas não era, eu atuava para saber o teor do meu poder de convencimento. Uma vez, caí no chão com uma amiga com quem eu tava andando de patins, cheguei em casa e fiquei um mês fingindo que estava sem memória. Não era por maldade, eu só queria testar”.

Deborah Secco, atriz, contando as bizarrices que aprontava quando criança, já ensaiando para a profissão que exerceria no futuro.

 

Tem uma droga que eu uso muito hoje, que é H2O”.

Fernando Gabeira, candidato à prefeitura do Rio, falando que já não fuma mais maconha por não considerar “razoável” exercer mandato no Legislativo e, ao mesmo tempo, “ter uma posição de desrespeitar a lei”.

 

“Esta música vai para todos os emocionalmente confusos. Vocês devem conhecer algumas pessoas que se encaixam nessa categoria. E Deus sabe, eu conheço”.

Madonna, cantora, antes de tocar a música “Miles Away” (sobre um casal que se separa), em Boston. O comentário foi uma camuflada alusão ao seu próprio divórcio, anunciado nesta semana.

 

“Sou de uma geração em que os ídolos morriam de overdose. Eu queria viver a vida como Jim Morrison”.

Walter Casagrande Júnior, ex-jogador de futebol e atual comentarista esportivo da Globo, falando do período em que usou drogas. Esta foi a primeira entrevista dele depois de um longo tempo internado para se recuperar do vício.

 

“Tivemos brigas feias em diferentes ocasiões. Certa vez, logo depois de ele voltar de Boston, onde estava se tratando, ele tinha quase morrido, mas voltou e estávamos todos muito felizes. Fomos almoçar, e ele, ainda bastante frágil, tomou vinho. Quando encheu o segundo copo, eu disse que não entendia o que estava querendo. Ele começou uma história de que seus heróis tinham morrido cedo. Disse que iria embora e discutimos”.

Frejat, músico, sobre as situações de desentendimento com o amigo Cazuza por conta da vida desregrada que o ídolo levava mesmo depois de saber que tinha AIDS.