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“A cidade respira essa tragédia todos os dias”

Um ano depois do incêndio, Santa Maria vive intensamente dor e revolta

Silhuetas simbolizando vítimas foram pintadas no asfalto (Foto: Portal Terra)
Silhuetas simbolizando vítimas foram pintadas no asfalto (Foto: Portal Terra)

Quem chega à cidade de Santa Maria hoje, dia 27 de janeiro de 2014, não tem como ficar alheio à realidade que assombrou o local há um ano atrás, quando 242 jovens perderam suas vidas no incêndio da Boate Kiss. A tragédia abalou não só o município,  mas o estado, o Brasil e o mundo. Provocado por uma performance pirotécnica da banda que se apresentava na casa noturna na ocasião, o acidente deixou vítimas que ainda hoje se recuperam dos efeitos causados pela fumaça tóxica inalada. Mas, não apenas isso. Além do saldo de mortos e feridos, o acontecimento comove pela sensação de impunidade, já que nenhum dos apontados pela justiça como responsáveis pelo acidente de fato cumpriu alguma pena até agora.

Carol mora na cidade há pouco mais de um ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Carol mora na cidade há pouco mais de um ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Esse, talvez, seja o principal motivo para que o clima pesado que paira sobre Santa Maria desde aquela fatídica madrugada ainda
esteja tão palpável. “E isso, acredito, vai [durar] no minimo, uns dez anos”, arriscou a jornalista Carolina Graziadei, 28. Quando o incêndio ocorreu, fazia apenas quatro meses que a pelotense havia se mudado para Santa Maria, para trabalhar como comunicadora da Rádio Atlântida de lá. Ela não estava na festa e, dos convidados, conhecia somente o DJ, que se salvou por conhecer bem a saída do local. “Eu estava em Bagé, no casamento de uma grande amiga. Soube às 7h, quando meu pai foi acordado com um telefonema perguntando se eu não estava na boate”, relembrou. “Quando peguei meu celular, tinha várias ligações e mensagens, inclusive do meu chefe. Antes do meio-dia, cheguei e fui direto para a rádio e fizemos plantão até as 2h”.

Carolina não chegou a entrevistar familiares ou amigos das vítimas, pois a cobertura da emissora ficou a cargo da Rádio Gaúcha até a segunda-feira (28). Quando a programação voltou ao “normal”, porém, apenas uma nota oficial foi lida em referência ao sinistro. “Em toda aquela semana e na outra quase não falamos nada no ar. Não havia motivos para sermos alegres. Perdemos 242 ouvintes”, explicou a jornalista. Como profissional, ela já havia trabalhado num caso semelhante quando cobriu o acidente com o
time do Brasil de Pelotas em 2009, na época, pela TV Pampa. “Ali, eu cresci muito, porque conhecia os jogadores e acompanhei tudo de perto”, disse. “Mas, eles foram ‘só’ três perto deste número assustador”.

Regularmente, associações ligadas à memória das vítimas fazem questão de organizar atos que não deixam a tragédia cair no esquecimento. Um deles foi a pintura de 242 silhuetas no asfalto em frente à boate, simbolizando os jovens mortos. Durante um bom tempo, quem passar pelo local, verá os corpos estirados, em lembrança à tragédia. “No calçadão, há uma tenda montada justamente para que a população não se esqueça do acontecido. Todos os dias se fala nisso, se lembra. A cidade respira essa tragédia todos os dias”, comentou Carolina.

Taís Brem

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