We love you, horário de verão!

Muita gente reclama dele, mas o período também tem seus admiradores

Temporada vai até mês de fevereiro (Foto: Paulo Soares)
Temporada vai até mês de fevereiro (Foto: Paulo Soares)

Há uma semana com os relógios adiantados, moradores de 11 estados brasileiros se adaptam ao período que se estende até fevereiro de 2014. Seu nome de batismo é “horário de economia de luz no verão”, mas já somos íntimos – o conhecemos apenas como “horário de verão”. Embora colecione inimigos, desde a sua implantação (na época em que Getúlio Vargas era presidente da República), há quem simpatize com ele e preferia, inclusive, que fosse permanente em nosso calendário.

Hélio aproveita para curtir a natureza (Foto: Arquivo Pessoal)
Hélio aproveita para curtir a natureza (Foto: Arquivo Pessoal)

O administrador e programador de sistemas web Hélio Coelho, 37, é um desses. Para ele, a vontade de viver o horário de verão é tão intensa que a diferença de horário nos primeiros dias não traz problema algum. Transtorno biológico? Ele jura desconhecer o significado disso. “É como fazer um pequenino sacrifício para um bem estar maior. Se alguém reclama da uma hora perdida de sono, então que seja razoável consigo mesmo e vá dormir uma hora mais cedo”, sugeriu, ironicamente.

Coelho gosta tanto do horário de verão que fica desapontado com as novas tecnologias que avançam os relógios do computador e do celular automaticamente. “Pelo menos, tenho um relógio manual em minha casa que me dá o prazer de poder adiantá-lo no sábado à meia-noite”, conforma-se. Para o mineiro, o período traz consigo todo um simbolismo de aproximação com a natureza. “A hora do dia que mais gosto é o entardecer no pôr-do-sol. Me sinto em um momento de transição: do stress diurno para a paz e calmaria noturna; dos desafios e conflitos diurnos para os momentos de reflexão e renovo que só o travesseiro irá me proporcionar mais tarde”, disse. “Gosto do entardecer em qualquer dia do horário normal, porém no horário de verão eu ganho mais uma hora para poder fazer usufruto desse período maravilhoso que marca minha vida todos os dias. Além disso, as águas do verão proporcionam um ambiente cheiroso de terra molhada aqui nessas terras mineiras. Sol na cara e terra molhada me fazem sentir mais parte desse ‘Brasilzão Natureza’ a que pertencemos”.

Neto mora no Mato Grosso (Foto: Divulgação)
Neto mora no Mato Grosso (Foto: Divulgação)

Morador de Cuiabá, no Mato Grosso, o professor de Língua Portuguesa José Neto vive, durante todo o ano, uma hora atrasado em relação ao restante do Brasil que segue o horário de Brasília. Ele cita o fato de poder apreciar o sol logo após sair do trabalho como um dos pontos positivos em adiantar o relógio 60 minutos. É verdade, entretanto, que, nesses primeiros dias, Neto ainda não está totalmente acostumado com a temporada do “horário novo”. Para isso, ele diz precisar de, mais ou menos, três semanas. “Não acho tão fácil acordar no escuro. No entanto, todo o restante do dia vale a pena. O corpo parece mais disposto ao se acostumar com as primeiras horas da manhã. Nesse sentido, inclusive, a sabedoria popular costuma dizer que nossa mente é mais receptiva no primeiro período do dia. Alongá-lo, então, não pode ser um crime”, afirmou.

Para a pelotense Carolina Pegorini, 32, a parte incômoda do horário de verão já passou. “Só sinto a confusão no meu relógio biológico no primeiro dia do horário novo, pois, além de ‘perder’ uma hora da noite anterior, geralmente acordo atrasada. Ainda bem que esse primeiro dia sempre é em um domingo”, comentou. Assessora de Relações Internacionais, Carolina não se considera fã das estações quentes. Mas, gosta bastante do horário de verão por poder aproveitar um tempo a mais de luz natural, especialmente à tardinha. “Favorece a prática de atividades físicas ao ar livre, como andar de bicicleta e passear com o cachorro, por exemplo”.

Estratégia econômica
Cheiro de terra molhada, passeio ao entardecer e tempo disponível para praticar esportes ao ar livre são realmente coisas muito agradáveis. Mas, não foi pensando em brindar os brasileiros com experiências do tipo que o governo federal resolveu implantar o horário de verão na década de 1930 e continuar a adotá-lo até hoje. A ideia de manobrar os ponteiros para fazer com que os dias pareçam maiores é uma iniciativa que visa diminuir os gastos com energia elétrica nos estados do Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e no Distrito Federal. Na temporada 2013/2014, de acordo com o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Ildo Grüdtner, espera-se que, aproveitando melhor a luz solar, os consumidores economizem 400 milhões de reais em geração de energia. Segundo o secretário, tal prática corta gastos em geração e transmissão e evita, também, possíveis aumentos na tarifa de luz.

Carolina crê na economia aliada à mudança de hábitos (Foto: Arquivo Pessoal)
Carolina crê na economia aliada à mudança de hábitos (Foto: Arquivo Pessoal)

Na opinião de Carolina, a ideia só funciona nesse sentido se as pessoas, de fato, se propuserem a economizar, alterando um pouco seus hábitos. “Na minha casa, vejo a diferença quando chego do trabalho, após as 18h. Acabo aproveitando a claridade do dia para passar mais tempo no pátio, cuidando das plantas e dos cães, em vez de ir direto para a frente do computador ou da TV”, exemplificou. Ao considerar que todos em sua casa continuam a utilizar a energia elétrica durante a madrugada, Neto considera que, tecnicamente, não há redução de consumo. “O comércio, porém, fecha mais cedo suas portas. Assim, se o centro da cidade poupa luz, alguma economia tal atitude deve gerar. Enfim, penso que devemos confiar nos governantes nesse aspecto, pois se um estudo sobre isso é feito e os pesquisadores afirmam ser ele positivo, resta-nos apenas crer no caráter dos resultados”, concluiu o professor. Já Coelho, diz ter absoluta certeza de que o horário de verão realmente cumpre seu papel econômico. “A grande maioria dos países no mundo faz uso dessa manobra para buscar, no período em que a luz do sol é mais ativa e extensa, a menor utilização possível de energia e isso já faz muita diferença. Só para se ter noção, a demanda média de energia em momentos de pico durante o horário de verão, cai mais de 4%. Em média, o Brasil tem conseguido bons resultados e economizado entre 4% e 5% de energia nesse período, o que corresponde a uma economia de mais de 150 milhões de reais a cada temporada”, disse, ao citar dados do Operador Nacional do Sistema (ONS). “Percebo claramente que nessa uma hora a mais de sol no dia, eu utilizo menos a luz do que em um período de inverno. Dizem que na parte da manhã (6h, ainda escuro no horário de verão), as luzes são acesas e não adianta fazer a manobra. Isso é uma inverdade, pois o que conta é o horário em que mais pessoas estão acordadas e ativas para o dia a dia. A quantidade de pessoas acordadas e ativas às 6h não chega nem perto da imensidão de pessoas acordadas às 18h, quando o sol ainda está de pé e não se faz uso da luz elétrica até que escureça, às 19h. Vejo isso todos os dias nas vidas das pessoas aqui no meu bairro em Belo Horizonte”, afirmou.

Contagem regressiva

Horário normal volta em fevereiro (Foto: Divulgação)
Horário normal volta em fevereiro (Foto: Divulgação)

No dia 16 de fevereiro, os relógios dos moradores dos 11 estados em que o horário de verão está em vigor voltam ao normal. Até lá, faltam alguns meses. Mas, como legítimo defensor da temporada, Hélio já pensa no fim do período com certo pesar. “Quando o horário de verão está chegando ao fim me bate uma dor aqui no coração e o meu semblante cai, mas logo me lembro de duas coisas que me animam: na volta ao horário normal, os relógios são atrasados e eu ganho uma hora inteira a mais no domingo posterior à troca; e na segunda-feira, me lembro que o horário de verão retornará dentro de poucos meses e, então, essa esperança de um novo horário de verão me anima novamente”, disse. Nada como olhar tudo pelo lado positivo.

Taís Brem

“Eu realmente não esperava por isso”

Publicitário se surpreende com sucesso de projeto que indica pronúncia correta de marcas estrangeiras

Forma abrasileirada de marcas famosas são divulgadas no projeto (Foto: Divulgação)
Página divulga forma abrasileirada de marcas famosas (Foto: Divulgação)

É praticamente um serviço de utilidade pública. Por meio do Facebook e do Tumblr, o redator curitibano Gustavo Asth, 26, auxilia os internautas a pronunciar corretamente o nome de marcas estrangeiras. O projeto teve início há apenas dois meses. De lá para cá, a iniciativa já tem quase nove mil fãs e inspira, também, as próprias marcas a fazer suas versões abrasileiradas, como a rede de lanchonetes Burger King, que, dia desses, postou em sua Fan Page a forma certa de falar o nome de um dos sanduíches de seu cardápio. Nesse rápido bate-papo com o “Blogue Kêmani”, Asth conta um pouco de como está sendo essa experiência e admite: o sucesso superou suas expectativas.

Burger King embarcou na brincadeira (Foto: Divulgação)
Burger King embarcou na brincadeira (Foto: Divulgação)

Blog Quemany – Como surgiu a ideia de criar a página Como Fala?
Gustavo Asth – A ideia veio de observar as pessoas falarem o nome de algumas marcas dos jeitos mais diferentes possíveis. São marcas que estão na boca do povo, que fazem parte do nosso cotidiano, mas que a gente nem sempre sabe pronunciar corretamente.

BQ – As expectativas foram superadas?
Asth – O que começou como uma brincadeira, ganhou destaque rapidamente. Em apenas dois meses de existência, a página #ComoFala já acumula mais de 150 mil acessos. Foi engraçado ver meus amigos compartilhando a página sem nem saber que era minha. Agora, recebo dezenas de sugestões todos os dias. Eu realmente não esperava por isso!

Página tem quase nove mil fãs (Foto: Divulgação)
Página tem quase nove mil fãs (Foto: Divulgação)

BQ – Quantas pessoas integram o projeto?
Asth – Eu e meu amigo, o diretor de arte Pedro Falcão, encarregado de “layoutar” as marcas.

BQ – Dá para dizer que a página é uma sátira à forma errada que as pessoas têm de falar o nome das marcas ou é mais uma crítica ao estrangeirismo exagerado na publicidade?
Asth – Não se trata de crítica a estrangeirismo nenhum, longe disso. É apenas uma forma irreverente de ajudar as pessoas a falarem do jeito certo.

Taís Brem

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“A discriminação como regra e a igualdade como exceção”

Tese sobre falta de educadores negros em Pelotas discute desigualdade racial

Pesquisa comprova falta de docentes negros na cidade (Foto: Divulgação)
Pesquisa comprova falta de docentes negros na cidade (Foto: Divulgação)

“Uma análise sobre o discurso da desracialização da docência negra em Instituições de Ensino da Cidade de Pelotas-RS”. Esse é o título da pesquisa realizada pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (PPGL/UCPel) Olga Maria Lima Pereira. Nessa entrevista ao Blog Quemany, Olga explica como sua pesquisa pode ajudar a trazer à tona reflexões sobre a situação dos negros no contexto educacional pelotense, não apenas como professores, mas, também, como alunos.

Blog Quemany – Do que trata o seu trabalho, especificamente?
Olga Maria Pereira – O projeto nasceu de uma certa inquietude e de uma busca constante por desconstruir certas histórias que, de tão sedimentadas, tendem a construir, em relação aos negros e seus descendentes, uma única e distorcida história. Por isso, quando escolhi, como tema principal da pesquisa, refletir sobre o discurso da desracialização da docência negra em algumas instituições de ensino da cidade de Pelotas, o fiz por compreender que o mito da democracia e harmonia racial entre negros e brancos, tão aclamado em nosso país, representa apenas uma forma confortável de negação do negro como cidadão de fato e de direito. Por mais que seja angustiante constatar certas verdades que permeiam as relações raciais na cidade de Pelotas, não podemos entrar no conformismo do velho ditado que sempre nos diz que “as coisas sempre foram assim”, que “até têm negros que são encontrados em alguns cargos de chefia, direção etc” e que “em nossas escolas (como não?) há professores negros, sim, senhor!”. No entanto, sabemos que a realidade que nos é apresentada no cotidiano é muito diferente das sutis afirmações de confraternidade e oportunidade entre negros e brancos. Como negar que em nossas instituições de ensino a ausência de docentes negros é um fato e não uma utopia? Como fingir que em nossas escolas o contingente de alunos e professores brancos ,de forma desproporcional, anula a pequena parcela de alunos e docentes negros ? Como desconsiderar a realidade socioeconômica dos negros em nossa cidade e continuar negando um racismo e uma discriminação velada, porém, facilmente identificada? A ausência e a invisibilidade de negros em nossas escolas são realidades escancaradas e jogadas a zonas de total silenciamento. Temos pouquíssimos professores negros em nossa cidade. E daí? Muitas vezes foi isso que ouvi! E o mais grave, na minha opinião, é que essa realidade tenha se naturalizado de tal forma que a impressão que se tem é que ninguém, ou poucos, procuram questionar os porquês dessas ausências justamente nos locais onde a educação e a reflexão deveriam ser sinônimos! Refletir sobre isso é mais do que um dever como pesquisadora: é uma atitude racional e humanizada. A sociedade precisa compreender que as sequelas deixadas em nossos irmãos africanos não podem mais ficar condenadas a uma fala distante, desprovida de atitudes transformadoras.

BQ – Como surgiu a ideia de abordar essa temática?
Olga – Desde minha adolescência, sempre participei de concursos literários sobre a abolição da escravatura realizados na cidade de Pelotas. Por isso, posso dizer que minha pesquisa começou antes mesmo que eu pudesse compreender que um dia ela se tornaria um instrumento reflexivo e de repúdio ao preconceito racial, tema tão caro e tão carente de políticas, verdadeiramente, reparatórias. Aliás, nunca consegui compreender porque o branco precisou anular tanto o negro para fazer sobressair sua vazia vaidade e soberania. Nas escolas, infelizmente, o que aprendemos foi a história do colonizador e, jamais, a história do colonizado – ou escravo, como queiram. Ensinaram-nos que um dia o país precisou ter escravos para escancarar seu desenvolvimento, porém, não nos fizeram refletir que esses escravos tinham uma cor e que essa cor serviu para justificar a desumanidade, fruto de um comércio farto de africanos sequestrados da África e jogados em solo brasileiro. O pigmento de uma pele foi a justificativa mais frágil que o branco arranjou para transformar o negro em escravo e rotulá-lo de ser desprovido de alma e de intelectualidade. No livro de Franz Fanon, “Pele negra, máscaras brancas”, o autor sintetiza essa realidade vivenciada por todos os negros: “Quando me amam, dizem que o fazem apesar da minha cor. Quando me detestam, acrescentam que não é minha cor. Aqui ou ali, sou prisioneiro do círculo infernal”. Essas inquietações foram me acompanhando e fortalecendo dentro de mim a incessante busca por tudo aquilo que me negaram tanto nas escolas como na própria academia: a verdadeira aprendizagem reflexiva sobre a outra história tão ausente nos livros didáticos e nos currículos escolares. Por isso, pensei: “Por que não aprofundar a pesquisa sobre essa ausência de alunos negros em nossos cursos de tecnologias? Por que não usar o mestrado como ferramenta reflexiva para me auxiliar a compreender como, de fato, se deu a trajetória desses alunos desde o seu ingresso até a colação de grau?

Poucos alunos negros chegaram à formatura (Foto: Taís Brem)
Poucos alunos negros chegaram à formatura (Foto: Taís Brem)

BQ – Como foi realizada essa pesquisa?
Olga – Fiz um recorte, de 2000 a 2008, de todos os alunos negros dos cursos de tecnologias do Campus Pelotas do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IF-SUL), traçando estatísticas sobre desistência, trancamento, reprovação, cancelamento e colação de grau. Nesses oito anos analisados, fiquei decepcionada e indignada ao perceber que o direito de todos à educação sinaliza apenas uma frase bonita que não condiz com a prática e o quanto a educação continua sendo traduzida pela cor e pela negação do outro que tornei diferente. Apenas oito alunos negros chegaram à colação de grau. Os demais ficaram dispersos nas estatísticas de reprovação, desistência, trancamento e cancelamento de matrículas por motivos de trabalho. Seria por que a intelectualidade é só dos brancos? Ou seria porque a maioria dos alunos negros precisavam dividir a escola com a família e o trabalho? Muitos diziam para mim (afinal, trabalhei por 28 anos no Departamento de Registros Escolares da instituição): “Gostaria muito de continuar o curso, ele é tudo de bom! Chego a me ver como um grande e notável profissional” ou “Seria legal ter um diploma e trabalhar numa grande empresa, mas tenho família e preciso levar o sustento pra casa. Chego tarde da escola e cedo tenho que ir trabalhar. Meu cansaço é tanto, que não estou conseguindo acompanhar as lições do curso”. Ouvindo certos depoimentos ficava me questionando por que temos que conviver com sutilezas de determinadas leis que, desde a escravidão, tendem a legalizar amparos desamparando os negros e seus descendentes. Essas reflexões foram se agigantando dentro de mim e foi aí que resolvi usar o doutorado para pesquisar sobre a significativa ausência de docentes negros nos espaços escolares.

BQ – Mesmo não sendo negra, de que forma você percebe o preconceito racial na área da docência em Pelotas?
Olga – O fato de eu não ser negra, de certa forma, me faz perceber melhor o quanto é significante esse preconceito. Aprofundando um pouquinho mais nossos olhares sobre o preconceito racial numa cidade cujas marcas da escravidão são identificadas pelo período charqueadense, podemos entender, ainda que nos custe, o quanto o negro foi abandonado às margens de periferias e bairros e o quanto o acesso à educação sempre foi privilégio de poucos e não direitos de todos, como rege a Constituição Federal. A ausência de alunos negros nas redes de ensino de Pelotas é o reflexo e a consequência de suas ausências como docentes nesses mesmos espaços que serviram para excluí-los.

Olga estuda na UCPel e trabalha no IF-Sul (Foto: Arquivo Pessoal)
Olga estuda na UCPel e trabalha no IF-Sul (Foto: Arquivo Pessoal)

BQ – Como sua pesquisa poderá contribuir para a comunidade pelotense na educação e na cultura?
Olga – Em primeiro lugar, como bem sinalizado pela escritora nigeriana Chimamanda Adchie, é importante que não tenhamos sobre os outros a versão de uma única história. Lamentavelmente, somos cônscios que os ensinamentos repassados tanto na escola como na academia sobre o negro e sua contribuição cultural ficaram à mercê de zonas de total silenciamento. Diria mais: o que desaprendemos sobre o negro foi tão forte que preexiste uma falsa concepção sobre sua cor que através dos séculos fragilizou e fragmentou sua identidade. O negro não se enxerga na história como ator portador de uma voz que o identifique. Ele foi e continua abandonado e relegado a povo sem memória. Meu propósito é instigar reflexões sobre temas tão caros que foram silenciados pela ganância e pelo poder desmedido. Ainda que a pesquisa seja apenas um grão de areia num imenso deserto chamado “consciência humana”, creio que, como um todo, ela trará interrogações a serem debatidas e aprofundadas sobre os diversos porquês que insistem em delimitar oportunidades tão estreitas ao exercício da docência negra em Pelotas. Espero, acima de tudo, que ao ingressarmos nesses espaços escolares, nossa sensibilidade aflore a indignação e, através desse desconforto, possamos refletir sobre o papel dessas instituições que naturalizando a ausência dos negros em suas cadeiras fortalecem sua cumplicidade e passividade discriminatória e racista. Se a educação tem como objetivo principal um olhar de acolhimento coletivo, onde estão nossos alunos e professores negros? Até quando os avanços das tecnologias serão maiores que as relações com o outro? Será que é tão difícil compreender que somos todos diferentes, independente do pigmento de uma pele, e isso jamais pode se transformar em motivo torpe capaz de magoar, ignorar e negar ao outro os direitos que dizem ser de todos? Até quando o negro precisará recorrer a todo tipo de lei que os ampare se, desde do período pré-abolição, nenhuma lei foi cumprida em sua integralidade? Como conceber que diante de uma imensa legislação o negro continue sendo discriminado pela cor e, também, por recorrer a tais amparos? Nossa cidade historicamente foi marcada pelo longo período charqueadense, onde o negro foi explorado e humilhado em troca de uma desumana jornada trabalho. No entanto, os casarões dos grandes charqueadores da época hoje servem de pontos turísticos que, ao ressaltar a preciosidade de nossa arquitetura, de forma adversa, silenciam as dores de centenas de negros que deram seu sangue em troca de uma vida miserável. Não temos como quantificar o sofrimento desses negros porque, na história, eles foram transformados em peças,mulas e coisificações múltiplas. A luta por uma igualdade de direitos continua maculando nossa sociedade que , de tantos preconceitos, acaba ratificando a discriminação como regra e a igualdade como exceção.

BQ – Os resultados da pesquisa já estão fechados? O que já pode ser divulgado até esse momento?
Olga – Os resultados ainda não estão fechados, porque utilizei a técnica dos questionários e os mesmos estão chegando a todo o momento. Posso sinalizar que as análises finais não serão capazes de amenizar o preconceito pela cor em nossa cidade que, de forma velada, mas identificada, continua fortalecendo a sensação de um “não-lugar” para negros e negras, sejam eles docentes ou não. A invisibilidade da cor sofrida pelo educador negro continua, tal como num passado não muito distante, a sequelar sua identidade, através de situações constrangedoras vivenciadas no exercício de sua docência. Infelizmente, a mentalidade que simboliza nossa cidade, carrega consigo uma educação fundamentada pela permanência de um branqueamento que ainda persiste em achar que negro numa instituição possa assumir qualquer cargo, menos o de professor. Essa mentalidade, por sua vez, reforça, também, no seu quadro discente um desrespeito por educadores negros. No entanto, tenho percebido que os intelectuais negros estão dispostos a reverter esse quadro lamentável. Esse desconforto está desencadeando uma reação de reversão à imagem depreciativa que sempre lhe impuseram e, isso, em minha opinião, será um grande momento que marcará para sempre a história da educação em nossa cidade.

Taís Brem

Diga-me como te vestes…

Como o figurino que escolhemos para o cotidiano influencia na imagem que passamos adiante

Foto: Jeff Münchow
Em geral, sociedade valoriza hábito de vestir-se bem (Foto: Jeff Münchow)

Você pode até argumentar que ninguém tem nada a ver com a sua vida ou com as roupas que escolhe para passar os dias e as noites. Afinal, sua rotina não é marcar presença nos famosos tapetes vermelhos dos eventos internacionais e a sua ida à padaria não será exatamente disputada pelos paparazzis de plantão para ilustrar a capa daquela revista de celebridades. Mesmo assim, há quem dê certa importância para o hábito de vestir-se bem, o que acaba por confirmar que as pessoas julgam umas às outras pelo que estão vestindo.

Mariana trabalha com moda festa (Foto: Arquivo Pessoal)
Mariana trabalha com moda festa (Foto: Arquivo Pessoal)

A estilista e publicitária Mariana Gomes, 27, diz perceber essa atitude como algo natural na sociedade. “Moda é comunicação, e felizes são aqueles que conseguem passar suas mensagens apenas entrando em um ambiente. A moda é tão ou mais poderosa que a publicidade. E nenhum aqui é vilão”, opinou. “É um julgamento justo. Eu sou aquilo o que pareço, porque sou ou acredito. Eu escolhi ser esta mensagem hoje. Talvez amanhã, eu nem saiba o que dizer. Mas posso ser julgada pelo o que visto, sim, porque foi o que escolhi entre um milhão de opções. Para menos ou para mais, a escolha é pessoal e as consequências também”.

Mariana ressaltou, entretanto, que ligar determinado figurino a status é algo ultrapassado. “Eu acho que a escolha do figurino é sempre fundamental, mas não na prática diária. Não é todo dia que conseguimos sair de casa sendo o que somos ou trabalhando aquela imagem que queremos ser. O cotidiano tem dessas coisas: embora tenhamos comprado quase tudo o que temos no armário, em muitas ocasiões rotineiras, pela pressa ou falta de paciência, acabamos nos descaracterizando ou nos jogando a alguns vícios estéticos que adquirimos em busca de praticidade”, comentou a estilista, que trabalha com moda festa. Ela diz ter escolhido esse nicho específico exatamente pela motivação de produzir peças únicas e especiais. “Quem vem a mim, tem ocasião e motivo para querer ser o seu melhor, tem anseios, sonhos e vontades específicas. É sempre especial. Não é um dia qualquer”.

Eliza (E) considera a escolha da roupa essencial em qualquer ocasião (Foto: Arquivo Pessoal)
Eliza (E) considera a escolha da roupa essencial em qualquer ocasião (Foto: Arquivo Pessoal)

Colega de profissão de Mariana, a estilista Eliza Andrade lida com todo o tipo de roupa em seu ateliê – de peças básicas a vestidos de noiva. Para ela, a escolha de um figurino é fundamental para a vida e o dia a dia, não só quando se vai a eventos pontuais. “Quando saímos para trabalhar ou fazer qualquer outra coisa que pertença a nossa rotina, precisamos estar adequados. É sempre bom pensar se vamos ter que andar muito, se abaixar ou correr, para escolher peças que tragam conforto, que ajudem e não atrapalhem”, resumiu. Quanto ao julgamento feito a partir da roupa que se usa, Eliza diz considerar algo normal. “É um hábito humano que existe há muito tempo e sempre vai existir. Na verdade, é uma forma de diferenciação em uma sociedade totalmente visual”.

Mais que roupa, atitude
Na opinião da empresária Ana Paula Pereira, 37, a escolha de uma roupa não é tudo, porém é um bom princípio. “Realmente, vestir-se bem abre portas, porque é assim que imprimimos nossa personalidade. Entretanto, atitude e educação completam o estilo de uma pessoa. Não é somente pela forma como me visto, mas pela forma como me comporto que serei reconhecida”, disse. O pastor, cantor e recepcionista Paulo Melquiades, 23, concorda: “Vestir-se bem tem tudo a ver com a ‘roupa de dentro’. Não combina gente bem vestida com palavras chulas e atitudes baixas. Não é uma questão de dinheiro, é uma questão de berço ou transformação de mente. É importante que você esteja ciente de que a mensagem que você quer passar está coerente com suas ações, bem como com o seu guarda-roupa”, pontuou. Melquiades diz considerar essencial manter uma postura equilibrada de bom senso na hora de escolher o que se vai vestir. “O desleixo e o exagero são extremos que podem causar sérios danos, seja na vida profissional, social etc. A maneira como eu me apresento diante da sociedade reflete o valor que eu dou a ela. Se você tem a postura de ‘ninguém tem nada a ver com a minha vida, ninguém paga minhas contas, eu saio do jeito que eu quero’, a resposta que você terá é ‘espere mais tempo na fila’, ‘volte amanhã’, ‘as vagas acabaram’… Já que ninguém tem nada a ver com a sua vida, você não pode exigir nada de ninguém, não é mesmo?”, questionou.

Melquiades (C) procura adaptar-se ao modo de vestir dos israelenses (Foto: Arquivo Pessoal)
Melquiades (C) procura adaptar-se ao modo de vestir dos israelenses (Foto: Arquivo Pessoal)

Morando em Tel Aviv, Israel, há um ano, Melquiades notou diferenças entre o estilo de vestir dos brasileiros e dos estrangeiros. E, aos poucos, está tentando se adaptar a isso. “A moda aqui é cosmopolita, mas sempre existe um estilo em vigor e cada região de Israel possui um estilo bem característico. No norte, por exemplo, região da Galiléia, é comum os rapazes saírem com roupas mais clássicas, como camisa de botão, sapato, blazer. Na região de Tel Aviv, onde moro, as pessoas são mais despojadas, porém tem espaço para todos os estilos. No geral, os homens gostam de roupas mais justas e as mulheres de batas mais larguinhas. O contrário do Brasil”, ironizou.

Gosto se discute?

"Conceito de bom gosto é discutível", diz Leonardo (Foto: Luigi Sodré)
“Conceito de bom gosto é discutível”, diz Leonardo (Foto: Luigi Sodré)

Controverso e questionável. É assim que o universitário Leonardo Ferreira, 21, define o conceito de “bom e mau gosto para se vestir”. Mesmo assim, o futuro jornalista diz acreditar que, de fato, a aparência é relevante, principalmente pela grande exposição via Internet, crescente nos dias atuais. “O julgamento é feito inconscientemente, na maioria das vezes, pois nos baseamos em uma estética já moldada pela mídia e o que não é compreendido é tido como diferente e errado”, comentou. “A roupa expressa uma série de signos subjetivos, que são avaliados (positivamente e negativamente) pela sociedade. Vejo isso como algo importante para a interação social. Por isso, costumo cuidar da aparência. Minha profissão vai exigir que eu lide com o público e é necessário já manter certo posicionamento nesse sentido”.

Na história
Muito antes de inventarem as publicações de moda, as semanas internacionais fashion ou os programas de TV que dão dicas sobre as tendências atuais, a Bíblia – sim, ela mesma! – já

Comunicação pela moda vem desde a antiguidade (Foto: Jeff Münchow)
Comunicação pela moda vem desde a antiguidade (Foto: Jeff Münchow)

falava da importância do vestuário na transmissão de determinada mensagem. “Essa mensagem pode ser o que somos, o que pensamos, o que desejamos que os outros pensem ou o trabalho que realizamos. As roupas sacerdotais, por exemplo, foram criadas para transmitir santidade, pureza, separação de alguém para o serviço divino. Os guerreiros, por sua vez, utilizavam vestimentas anunciando o desejo de vencer o seu inimigo e gerar medo no oponente. Pessoas que estavam sofrendo utilizavam roupas de pano grosseiro”, citou o diácono do Ministério Casa de Oração (MCO), Wilson Brem, 37. “A roupa não é uma verdade em si. Entretanto, podemos conhecer alguém pela maneira como ela se veste. Se a pessoa deseja causar boa impressão, conquistar um trabalho, avisar que é perigosa, gerar desejo sexual ou apenas se sentir bem, demonstrará tudo isso na sua maneira de se vestir”.

Taís Brem

Wilson Lima e suas histórias

Gosto pela fotografia começou na infância (Foto: Robson Hellebrandt)
Gosto pela fotografia começou na infância (Foto: Robson Hellebrandt)

A primeira vez que ouvi falar de Wilson Lima foi durante um estágio no Jornal Diário Popular, lá por 2006, 2007. Lembro que a editora-chefe comentou: “Já visses as fotos do seu Wilson? Tem uma que mostra uma guriazinha tomando vacina que é perfeita! Ele conseguiu capturar a gotinha bem redondinha, entrando na boca dela. Ele é fantástico!”. Fiquei curiosa para ver a tal foto, tamanha era a empolgação da narração. Felizmente, não demorou muito para que eu pudesse conhecer não apenas essa imagem, mas muitas outras que fazem parte da carreira desse talentoso fotógrafo que, atualmente com 74 anos, acumula 66 de carreira, diversos prêmios e passagens por veículos importantes na história da Comunicação no Brasil, como as extintas revistas Manchete e Cruzeiro.

Minha convivência com seu Wilson começou quando passei a estagiar na Assessoria de Comunicação e Marketing da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), onde, aliás, trabalhamos até hoje. Ele é o único fotógrafo da Universidade, responsável por registrar os variados momentos que fazem parte da vida acadêmica, desde grandes eventos a simples entrevistas do dia a dia. O talento e a disposição com que exerce o seu dom são admiráveis. A fotografia é o seu ganha-pão, sim. Ele mesmo já declarou que não se imagina trabalhando noutra coisa. Mas, mais do que meio de sobrevivência, tirar fotos é um prazer para o seu Wilson. Seu olhar está tão acostumado a fotografar, que ele sempre vê um ângulo diferente, novo e surpreendente em cada situação.

Wilson Lima tem diversos prêmios em seu currículo (Foto: Paulo Rossi)
Wilson Lima tem diversos prêmios em seu currículo (Foto: Paulo Rossi)

Trabalhar com Wilson Lima é estar lado a lado com o prodígio que, aos oito anos de idade, tirou um retrato do muro caído de um galpão no Centro da cidade e teve sua foto publicada no jornal onde seu pai, o também fotógrafo Ramão Barros, trabalhava. É ouvir as histórias de bastidores de eventos como as edições do Festival de Cinema de Gramado das décadas de 1970 e 1980. É enxergar o brilho do olhar de quem esteve no México, durante a Copa do Mundo de 1970, capturando o momento em que Pelé dava o seu famoso soco no ar. É se admirar ao saber que ali está o responsável pelo registro que imortalizou Fidel Castro bebendo Coca-Cola. É imaginar a felicidade de Elis Regina ao experimentar seu vestido de noiva durante uma sessão de fotos e se emocionar com a sensibilidade da artista chorando a morte de Che Guevara, momentos depois. É se divertir escutando a reprodução dos trechos de uma conversa com Raul Seixas, assim como descobrir as surpresas que podem ocorrer durante um velório, como o de Lupicínio Rodrigues. E é, também, querer revirar meio-mundo atrás das fotografias que registram essas histórias todas. Não para comprovar a veracidade delas. Apenas para ter o gosto de apreciá-las e guardá-las com carinho. Seu Wilson não fez isso. Acostumado a ver seu trabalho publicado periodicamente, ele nunca achou que seria importante guardar as edições para que, no futuro, pudesse relembrar os momentos de sua carreira ou mesmo compartilhar esses fatos com quem não teve a oportunidade de vivenciá-los. Achava que era bobagem. Uma lástima.

São muitas as experiências a que se tem acesso quando ele é o assunto e uma saída para uma pauta é garantia de boas risadas. Muito provavelmente, porque por trás desses 74 anos, há uma criança que nunca saiu de cena. Seu Wilson é tão contagiante que apenas reproduzir suas piadas já garante um bom status humorístico. Não é pouca a quantidade de amigos e familiares que tenho que dizem “Preciso conhecer esse senhor!”, quando eu conto suas peripécias. Sua companhia é tão agradável e divertida que certa vez um de seus netos passou um espetáculo de circo inteiro na plateia apenas observando os palhaços sem esboçar a reação característica das crianças diante de uma atração desse tipo. Não havia motivo para rir. Por quê? “Meu avô é muito mais engraçado que eles!”, justificou, desapontado.

Wilson Lima e Taís Brem (Foto: Paulo Soares)
Wilson Lima e Taís Brem (Foto: Paulo Soares)

Dizem que para ser completo, o ser humano precisa plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Um filho eu já tenho, embora planeje ter mais uns dois, se assim Deus permitir. Árvore eu já plantei, levando em conta, inclusive, as sementes de feijão plantadas no colégio. Mas, livro, ainda está na esfera dos sonhos. Fiz alguns ensaios de publicações quando criança, dignos de quem sempre quis ser algo como jornalista ou escritora, desde que se entende por gente. Porém, ainda que em fase de projeto, uma coisa é certa: quando minha carreira como escritora deslanchar, seu Wilson será assunto de um dos meus livros. Sua história é digna de ser conhecida por muita gente e imortalizada como um tributo a pessoas que fazem desse planeta um lugar melhor para se viver.

Taís Brem
*Texto classificado em segundo lugar na categoria Histórias de Vida do III Prêmio Longevidade Bradesco Seguros 2013

Blog Quemany conquista segundo lugar em premiação nacional

Cerimônia do Prêmio Longevidade Bradesco Seguros ocorreu em São Paulo

Fotógrafo Wilson Lima foi homenageado em trabalho (Foto: Taís Brem)
Fotógrafo Wilson Lima foi homenageado em trabalho (Foto: Taís Brem)

O segundo lugar é nosso! Nesta terça-feira (15), o Blog Quemany foi premiado como segundo colocado na terceira edição do Prêmio Longevidade Bradesco Seguros 2013, com o texto “Wilson Lima e suas histórias”. A premiação ocorre dentro do Fórum da Longevidade, evento internacional, promovido pelo Grupo Bradesco Seguros para discutir a situação das chamadas terceira e quarta idades e incentivar a população, como um todo, a chegar cada vez mais longe na estrada da vida. O texto premiado, que, até então, é inédito, é uma homenagem ao fotojornalista Wilson Lima, que aos 74 anos está em plena atividade profissional.

A cerimônia de premiação foi realizada no World Trade Center, na cidade de São Paulo.

Taís Brem

Quer que eu soletre?

Embora não raros, nomes diferentes sempre chamam a atenção; Saiba quais são as regras para se registrar um filho no Brasil

Pais demonstram criatividade na hora de registrar os filhos (Foto: Taís Brem)
Pais demonstram criatividade na hora de registrar os filhos (Foto: Taís Brem)

Poderiam ter escolhido chamá-lo Sandro, Sílvio ou Sergio. Até porque, a única exigência familiar era seguir a tradição de colocar nos filhos nomes com a mesma inicial – a letra “S”. Nessa linha, o irmão caçula de Soraya, Saulo e Sara, nascido em abril de 1983, quase ganhou o direito de ter o nome de um craque do futebol da época, o jogador Sócrates. Mas, a leitura de um livro de nomes gregos, ainda na maternidade, trouxe um toque de exclusividade para a família. Ou quase isso, porque, até hoje, Ságares Martins conheceu somente uma pessoa com nome igual ao seu, por meio do Facebook.

Ságares sempre levou piadas na "esportiva" (Foto: Arquivo Pessoal)
Ságares sempre levou piadas na “esportiva” (Foto: Arquivo Pessoal)

Pastor da Aliança das Igrejas Para Restauração (AIR), Ságares diz nunca ter tido problemas por se chamar assim. Pelo contrário: seu nome diferente facilitou a vida dos amigos, que não tiveram o trabalho de pensar num apelido para ele. “Na minha infância, até por causa da minha personalidade, sempre levei as piadinhas na esportiva”, comentou. “Sei que não é um nome comum, mas sempre fui apaixonado pelo meu nome e ele sempre me dá uma oportunidade de conhecer pessoas diferentes”.

Laixa: pronúncia é o que mais atrapalha (Foto: Arquivo Pessoal)
Laixa: pronúncia é o mais complicado (Foto: Arquivo Pessoal)

Também surgiu por intermédio de um livro – desta vez, russo – a ideia de pôr, há 29 anos, o nome de Laixa, na moça que, hoje, é administradora. Quem se apaixonou pelo nome escrito no romance foi a tia de sua avó paterna, que, ao ter uma filha, lhe batizou assim. Às vésperas do casamento de seus pais, enquanto o nome da parente era escrito nos convites para a cerimônia, a mãe de Laixa decretou: quando tivesse uma filha, seguiria o exemplo. O único empecilho para registrar a criança foi comprovar que já havia alguém chamado da mesma forma. “Tiveram que levar a carteira de identidade da Laixa para provar que já havia registro de outra pessoa com esse nome e que o mesmo era um nome de família”, explicou Laixa Soares. Ela diz nunca ter tido vontade de mudar seu nome. “Pelo contrário, adoro. As pessoas erram sempre, nunca conseguem falar certo na primeira vez. A dificuldade é na pronúncia, que tenho que repetir várias vezes para que as pessoas entendam o som do ‘x’, mas nada que venha a me atrapalhar”. Detalhe: é provável que, até aqui, você também tenha errado a pronúncia do nome dela. O “x” não tem som de “ch”, mas é pronunciado como na palavra “táxi”, daí a complicação.

Embora nos últimos anos os cartórios tenham visto uma verdadeira volta ao passado no fato de os pais procurarem registrar seus filhos com nomes tradicionais – que o digam os Joões, Pedros, Marias e Franciscos –, volta e meia o recurso da soletração é acionado para facilitar a escrita e a pronúncia de nomes diferentes, como o de Ságares e Laixa.

“Nosso papel é acatar a vontade dos pais, desde que escolham um nome que não venha a prejudicar a criança no futuro”, explicou o tabelião oficial do Cartório Dunas – Tabelionato de Notas e Registro Civil, Evaldo Afrânio Pereira da Silva. De acordo com o tabelião, a primeira regra que se leva em conta para permitir o registro de nascimento é respeitar a língua oficial de nosso país. Entretanto, os cartórios são flexíveis com as opções por nomes carregados de “k”, “y”, “h” e “w”, letras que lembram estrangeirismos. “Tem gente que vai registrar ‘Tiago’, por exemplo, e prefere colocar com ‘th’. Indicamos que usem a forma aportuguesada, mas, respeitamos costumes de família ou de religião, se não for um nome que vai levar aquela criança que se tornará um adulto ao ridículo. Do contrário, levamos à via judicial e encaminhamos para o Fôro”, comentou Pereira da Silva. “Normalmente, temos poucos casos fora do padrão. É muito tranquilo”.

Made in Brazil

Beriane considera seu nome legitimamente brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)
Beriane considera seu nome legitimamente brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo dona de um nome incomum, a engenheira agrônoma Beriane Veleda, 37, considera que a escolha que seus pais fizeram, inspirados num nome que ouviram durante um programa de rádio, se encaixa perfeitamente na língua portuguesa. “Acho legal e diferente. Sempre gostei do meu nome, que é brasileiro e de escrita simples”, opinou. “As pessoas agora pegaram essa mania de botar nas crianças nomes americanizados que, muitas vezes, não sabem nem escrever muito menos falar. Eu, particularmente, não gosto e não apoio. Somos brasileiros e devemos valorizar isso”.

A técnica em Edificações Aline Vallim, 28, e seu marido, o militar Daniel, 29, haviam pensado em duas opções de registro para o segundo filho do casal: Tito, em referência ao discípulo citado na Bíblia; e Yonathan, cujo significado é bênção, presente dado por Deus. “Concordamos que Yonathan era mais bonito e definimos a grafia com “y” e “th”, mesmo depois de uma enfermeira ter comentado na maternidade que, talvez, tivéssemos problemas para registrá-lo”, relembrou ela. No cartório, entretanto, não houve empecilho algum. Quanto às restrições existentes para o registro de nomes no Brasil, Aline disse acreditar ser importante. Pelo menos, em parte. “Evita que muitos registrem seus filhos com nomes realmente estranhos e que, no futuro, possam causar constrangimentos às crianças. Porém, quando é apenas uma questão quanto à forma escrita, me parece um pouco de exagero”.

Únicos e exclusivos

Nome de Dioglafan foi "sugerido" em sonho (Foto: Arquivo Pessoal)
Nome de Dioglafan foi “sugerido” em sonho (Foto: Arquivo Pessoal)

Pode até haver outra pessoa que se chame assim. Todavia, não que ele saiba. “Sou modelo único. Papai do Céu me fez e jogou a forma fora”, brincou o agente de trânsito Dioglafan Vieira, 35. O nome do qual ele se orgulha e diz nunca ter pensado em trocar surgiu de um sonho que sua mãe teve quando estava grávida de seu irmão mais velho. “No sonho, entregaram para ela um pequeno pedaço de papel em que estava escrito ‘Dioglafan’. A pessoa que entregou o bilhete falou que ela deveria colocar este nome no primeiro filho, pois, se não o fizesse, perderia o segundo que viria a ter. Minha mãe contou para o meu pai, mas ele achou que era bobagem. Em 1974, após o nascimento de meu irmão, meu pai foi ao cartório e registrou-o como Roger. Em 1976, minha mãe engravidou do segundo filho, o qual nasceu após complicações na hora do parto, vindo a falecer algumas horas depois. Dois anos mais tarde, grávida novamente, ela disse a meu pai: ‘Não importa o que tu queiras ou o que aconteça: o nome será Dioglafan”, relatou. E assim foi.

No momento do registro de Dioglafan houve um caso semelhante ao que o tabelião Evaldo mencionou como extremo: a mãe dele teve de pedir ao juiz da comarca de Pedro Osório – município em que a família morava na época – para interceder junto ao cartório em favor dela, já que o escrivão não aceitava registrar um nome tão diferente e inédito. Com a liberação judicial, Dioglafan fez nascer mais um galho na curiosa árvore genealógica que já contava com o avô materno Estelito, a avó paterna Cesaltina e o próprio pai, Orani. Ao colocar o nome em seus filhos, contudo, Dioglafan facilitou o processo: as meninas chamam-se Manuela e Laura. Simplesmente.

Para Lárarson, nome diferente funciona como "cartão de visitas" (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Lárarson, nome diferente funciona como “cartão de visitas” (Foto: Arquivo Pessoal)

Além das inspirações incomuns, há, ainda, histórias de nomes que são registrados de forma estranha em função de erros. O do jornalista Lárarson Cortelini, 25, é um exemplo. “Meu pai foi quem escolheu meu nome, mas nunca perguntei para ele o porquê. O que minha mãe conta é que meu pai queria me registrar como Larson, mas não soube explicar para a pessoa que fazia o registro e acabou registrando Lárarson”, afirmou. “Nunca tive vontade de mudar de nome, porque sempre funcionou como um cartão de visitas. Ele faz com que as pessoas lembrem de mim e isso é útil, principalmente na minha profissão” .

Se o leitor considera criativos os nomes citados nessa reportagem, precisa conhecer o livro “Nomes próprios pouco comuns – Contribuição ao estudo da antroponímia brasileira”, escrito pelo etnógrafo Mário Souto Maior e prefaciado por Carlos Drummond de Andrade. Entre os nomes registrados na obra estão Gilete Queiroga de Castro, Magnésia Bisurada do Patrocínio e Naída Navinda Navolta Pereira. A boa notícia para quem não for tão bem-resolvido quanto nossos entrevistados é que existe legislação que protege o direito do cidadão de mudar de nome. De acordo com a Lei de Registros Públicos, é possível solicitar a troca não apenas em caso de exposição ao ridículo, mas quando há nome igual ao de alguém que tenha problemas financeiros; no caso de mudança de sexo; em processo de adoção; em caso de proteção a vítimas e testemunhas e na substituição por apelidos públicos notórios, como o cantor Neguinho da Beija-Flor, que, agora, assina Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.

Taís Brem

“É um estar no mundo diferente do que se tinha décadas atrás”

Pediatra Luiza Novaes explica as peculiaridades do desenvolvimento das crianças de hoje à luz da ciência

Afinidade com a tecnologia é principal diferencial das crianças atuais (Foto: Taís Brem)
Afinidade com a tecnologia é principal diferencial das crianças atuais (Foto: Taís Brem)

Elas estão, a cada dia, mais espertas. E isso não é apenas impressão sua. Realmente, “não se faz mais crianças como antigamente”. Nesta entrevista concedida ao Blog Quemany, a médica especialista em Pediatria Luiza Helena Vinholes Siqueira Novaes comenta de que forma a Medicina explica essa evolução do desenvolvimento infantil ao longo das eras. Médica do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), Luiza Helena é mestre em Saúde e Comportamento, doutora em Ciências da Educação e professora adjunta de Pediatria no curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

Blog Quemany – Ao comentar a forma como as crianças demonstram desenvolvimento, as pessoas costumam dizer que antigamente “os bebês nasciam de olhos fechados e, hoje, só faltam nascer falando”. A ciência mostra que realmente há uma evolução das crianças de hoje em comparação às de antigamente ou é apenas impressão nossa?

Luiza Novaes (Foto: Wilson Lima)
Luiza Novaes (Foto: Wilson Lima)

Dra. Luiza Helena Novaes – A neurobiologia tem nos ajudado a entender este fato observável pelos pais. O cérebro é muito dinâmico, tem uma capacidade de reorganização de seus neurônios admirável, que sofrem amadurecimento e organização em diferentes tempos e etapas, e são influenciáveis pelo ambiente em que se insere a criança e sua família. Este fenômeno é conhecido por nós, médicos, como neuroplasticidade. Se compararmos o ambiente de algumas décadas atrás com o ambiente em que é hoje recebida a criança, notaremos mudanças marcantes em relação à luz, aos sons, aos movimentos, à dinâmica da família e da sociedade. Para exemplificar, antes a criança nascia, permanecia no hospital de três a quatro dias no ambiente escurecido, com todos se comunicando à meia-voz, interagindo com ela o mínimo possível para não excitá-la e perturbá-la. Hoje, se tudo bem, com 24 horas, um bebê está em casa, inserido no toque do celular, das fotos, da televisão, do barulho da rua, das luzes do dia e da noite, com a algaravia diária da casa, sem maiores restrições aos irmãos, familiares e amigos da família. Isto é saudável para o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo da criança, desde que dentro de parâmetros equilibrados. O desenvolvimento infantil começa ainda na gestação e o que podemos e devemos é estimular o cérebro infantil desde muito cedo.

BQ – Como se dá essa “evolução”? Esse movimento é algo natural, de tempos em tempos?
Dra. Luiza – Esta “evolução” acompanha a evolução das sociedades, das diferentes culturas em que está inserida a criança, e é um fenômeno natural, assim como a nossa vida, cada dia mais nova, plena de novas descobertas e conhecimentos em todas as áreas, inclusive na área médica, que crescem de maneira exponencial e de forma muito rápida.

(Foto: Taís Brem)
Ligação com aparelhos eletrônicos é comum (Foto: Taís Brem)

BQ – Na sua percepção, como profissional, que diferenças são mais marcantes entre a geração atual de crianças e crianças que viveram em outras décadas?
Dra. Luiza – O que mais me chama a atenção é a capacidade da criança atual, em ainda tenra idade, ser capaz de mergulhar com tanta facilidade no mundo tecnológico do toque na tela ou no teclado e estar conectada aos seus e ao mundo, mesmo que distantes dela. É fato comum para ela comunicar-se com a mãe no trabalho via celular ou pelo computador, assim como com os avós, que moram no outro lado do mundo. É um estar no mundo diferente do que se tinha décadas atrás, que esperamos, trará benefícios para a criança e seu desenvolvimento, se usado com cuidado, sob supervisão e orientação. Os estudos, em um futuro muito breve, nos mostrarão o resultado e as implicações disso tudo.

BQ – Que fatores podem ser citados como aceleradores do desenvolvimento infantil?
Dra. Luiza – Não se é capaz de acelerar aquilo para o qual o cérebro da criança ainda não está pronto a realizar, mas podemos, sabedores de que haverá etapas de amadurecimento neurológico a serem vencidas, ofertar um ambiente e atitudes paternas e familiares, e, também, da sociedade onde se incluem a escola, a assistência médica, as entidades das quais a família participa, a própria mídia de qualidade, favoráveis a este desenvolvimento de qualidade. Ao início da vida da criança, é o afeto, o tempo de qualidade despendido com ela e o toque amoroso, que ensinam o amor e a confiança. Logo depois, o brincar, o “conversar”, o sorrir, a música, a descoberta dos objetos em suas diferentes texturas, dos diferentes cheiros que compõem a vida. Com mais idade, a movimentação ativa, a descoberta das palavras, das sentenças, das histórias, das letras, dos números e por aí afora. Oportunizar à criança estes contatos e estas experiências estimulará seu desenvolvimento, suas emoções e sentimentos, determinando mais confiança e coragem para sua vida.

Taís Brem

Nova seção

Você já deve ter percebido que o Blog Quemany mudou. Se em 2008, esse espaço virtual havia sido criado para ser praticamente um diário particular online, com textos carregados de opiniões e postagens bastante pessoais, há alguns meses ele assumiu uma nova faceta: a de um veículo jornalístico, que traz ao público reportagens, artigos, crônicas e compilações de frases sobre temas diversos, com a intenção de mostrar o que Pelotas tem de melhor. E isso numa via de mão dupla. O que a gente fala por aqui não é apenas notícia ligada ao cotidiano pelotense. Mas, pretende fazer com que o povo de Pelotas possa enxergar no que acontece no resto do mundo um link com a sua própria realidade, bem como proporcionar que o resto do mundo enxergue e valorize uma Pelotas que tem potencial para ir cada vez mais longe.

Hoje, dia 12 de outubro, inauguramos uma nova seção neste projeto. A cada sábado, se o Senhor permitir, postaremos um bate-papo direto e objetivo sobre assuntos variados. Na estreia, convidamos a pediatra do Hospital Universitário São Francisco de Paula da Universidade Católica de Pelotas (HUSFP/UCPel) Luiza Helena Vinholes Siqueira Novaes para falar sobre esperteza das crianças de hoje. #VemVer #NóisGostaDeFeedback

Taís Brem

À la Jolie

Considerada controversa por profissionais, retirada de mamas para prevenir câncer fez dobrar procura pela cirurgia no Brasil

Procedimento feito por Angelina Jolie tem sido mais procurado por pacientes (Foto: Divulgação)
Procedimento feito por Angelina Jolie tem sido mais procurado por pacientes (Foto: Divulgação)

Uns fazem por necessidade. Outros, por puro modismo. O fato é que depois que a atriz holiwoodiana Angelina Jolie, 38, anunciou ter feito uma dupla mastectomia preventiva – cirurgia para retirada dos seios –, os pedidos por esse tipo de operação dobraram aqui no Brasil e até um curso básico de reconstrução mamária (com carga horária de 200 horas) foi criado no Distrito Federal para capacitar mastologistas a lidar com a nova demanda. A situação levou a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) a realizar o Fórum Internacional sobre Cirurgia Redutora de Risco do Câncer de Mama, em 28 de setembro. Durante o evento, oncologistas, mastologistas, geneticistas e cirurgiões plásticos, além de outros profissionais envolvidos no diagnóstico e tratamento do câncer de mama, debateram, entre outras questões, que critérios devem ser adotados para com as pacientes que, a cada dia, chegam aos consultórios solicitando a retirada de mamas para prevenção de tumores futuros. Afinal, esse tratamento controverso realmente previne o câncer de mama?

Entre os leigos, a questão divide opiniões. A publicitária Lara Yamim, 26, por exemplo, disse considerar válida a atitude de Angelina. “Acredito que, se tivesse os percentuais que ela tinha de desenvolver a doença, eu também o faria, pois, atualmente, com os recursos oferecidos de prótese, isso não geraria um problema estético impossível de ser contornado. Exceto, claro, para algumas parcelas da população, que não teriam acesso a eles”, disse. Lara, que está estudando para prestar vestibular para Medicina, concorda que muitas pessoas estão se deixando influenciar pela atitude da atriz, fazendo o procedimento sem saber direito dos riscos reais de desenvolver o câncer. “Mas, acho que [o exemplo dela] acabou motivando mais positivamente do que o contrário”, pontuou.

Da mesma forma, o estoquista Israel Vallim, 23, demonstrou ser favorável à cirurgia. “Creio que ela foi prudente, ainda mais porque, além de ter histórico da doença na família, Angelina trabalha com a imagem e precisa se cuidar. É o que mais pesa para ela”, opinou.

Servidora pública, Carmen Severo discorda: “É uma mutilação desnecessária, principalmente porque os médicos nem sabem garantir ainda se o procedimento, de fato, evita o câncer. Eu não faria, com certeza”. Na opinião do bombeiro civil Daniel Borges, 33, o fato de Angelina Jolie ser uma figura de influência midiática é um fator preocupante, nesse caso. “É a valorização daquele velho estereótipo do ‘ter’ e não do ‘ser’. A maioria das pessoas se maravilha em ter um corpo lindo, longe de doenças, sem gordurinhas, ter grana para esbanjar, ter influência para burlar o sistema, mas eu ainda prefiro ficar nessa minoria do ‘ser’ do que não ter nada de proveitoso para apresentar ao próximo”.

Decisão polêmica

Diversas ações de conscientização são realizadas em outubro (Foto: Divulgação)
Ciência não prova que retirada dos seios evita câncer (Foto: Divulgação)

Após retirar os dois seios, Angelina colocou próteses de silicone e sentenciou: “Agora, posso dizer aos meus filhos que eles não precisam ter medo de me perder para o câncer de mama”. Contudo, a situação não é tão simples quanto parece, pois não há consenso científico que respalde a eficácia da mastectomia como forma de prevenção do câncer. Além disso, nem sempre o implante de silicone feito depois da operação agrada às pacientes, que podem, entre outros malefícios, perder a sensibilidade na região das mamas.

No artigo “Minha escolha médica”, escrito para o jornal The New York Times, a atriz argumentou que decidiu agir dessa forma pró-ativa, principalmente, pelos seis filhos que tem com o também ator Brad Pitt, 49.  “Minha mãe combateu o câncer por quase uma década e morreu aos 59 anos. As crianças perguntaram se o mesmo podia acontecer comigo. Sempre respondi que não deviam se preocupar, mas a verdade é que eu tinha risco de 87% de desenvolver câncer de mama e de 50% de desenvolver câncer de ovário”, explicou, ao mencionar que, com a cirurgia, o primeiro índice caiu para 5%. Eles sabem que os amo e que farei qualquer coisa para ficar com eles pelo maior tempo possível”. De acordo com a atriz, a principal motivação em compartilhar sua decisão foi encorajar outras mulheres com histórico semelhante a fazer o mesmo. “A vida vem com muitos desafios. Aqueles que podemos encarar e sobre os quais podemos tomar o controle não devem nos assustar”, afirmou.

Cor-de-rosa choque
Desde a década de 1990, outubro é um mês marcado, em diversos países, pela realização de ações que intensificam os esforços pela detecção precoce do câncer de mama. O período é chamado “Outubro Rosa”. De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de mama é a quinta maior causa de mortalidade do mundo.

A voz do povo
carmen_quemany“É uma mutilação desnecessária, principalmente porque os médicos nem sabem garantir ainda se o procedimento, de fato, evita o câncer. Eu não faria, com certeza”.
Carmen Severo, servidora pública

lara_quemany

 

“Acredito que, se tivesse os percentuais que ela tinha de desenvolver a doença, eu também o faria”.
Lara Yamim, publicitária

daniel_quemany

 

“Não concordo. É a valorização daquele velho estereótipo do ‘ter’ e não do ‘ser’”.
Daniel Borges, bombeiro civil

israel_quemany

 

“Creio que ela foi prudente. Angelina trabalha com a imagem e precisa se cuidar. É o que mais pesa para ela”.
Israel Vallim, estoquista

 

Taís Brem