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Dinamismo estonteante

Quando Diogo Portugal chamou a colega de palco de “estonteante”, ela rebateu com uma pergunta à altura de sua famosa raridade: “Você está dizendo que eu estou bonita ou que estou tonta?”. O programa em questão era o talk show Luciana by Night, apresentado uma vez por semana por Luciana Gimenez, na Rede TV!. Mas, a piada, planejada ou não, pode vir à memória noutro momento da grade de programação da mesma emissora: o Rede TV News.

É que, de um tempo para cá, a produção do telejornal resolveu fugir do convencional modelo de apresentação na bancada para trazer um pouco mais de dinamismo aos telespectadores. Em função disso, em vez de apenas chamar VTs de reportagens e comentar os assuntos, os âncoras vão adiante, muitas vezes, de forma literal. Não raro, os apresentadores saem do cenário principal e passeiam pelo estúdio, enquanto repassam as notícias à audiência. Caminhando, de um lado para outro, eles mostram vídeos, fotos e textos que estão rolando no site da emissora, entrevistam personagens das reportagens, trocam ideias com os colegas que acabaram de finalizar as matérias que irão ao ar, registram imagens externas, como a da lua gigante, que apareceu no início de setembro, entre outras peripécias.

Fora o exagero e os momentos em que se perdem em meio a tanta liberdade de atuação, os apresentadores desempenham bem a tarefa. Se a ideia era gerar um programa mais dinâmico, com certeza, o objetivo está sendo alcançado. O modelo é semelhante ao que se vê em outros canais, quando os âncoras tentam inovar, dialogando mais abertamente, trocando piadinhas, inventando novos modos de informar a previsão do tempo etc.

O desafio, agora, é manter e aprimorar a qualidade do que mais interessa – a transmissão da notícia – sem que os recursos de apresentação acabem tonteando o telespectador, em vez de embelezar o produto final.

Taís Brem

*Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Rasa profundidade

Primeiro, a citação de um grande nome, para dar aquela ideia de pesquisa profunda. Depois, a súbita queda de nível. Ocorreu em dois programas de televisão, em duas emissoras diferentes, quando as apresentadoras tratavam de assuntos igualmente diversos. Mas, demonstrou ser uma fórmula bem utilizada no gênero. Na Rede TV!, a repórter entrevistava um desses MC’s que está no topo das paradas de sucesso. Durante o bate-papo, ela resolveu provar ao rapaz que ele não é o único representante do chamado estilo “ostentação”. “Primeiro, começou com Chico Buarque”, disse a moça, com certo ar de intelectualidade, ao referir-se ao compositor da música “Construção”, na qual um amor marcante é narrado, seguido de uma morte trágica.

Quem estava assistindo, até poderia pensar que a produção do programa havia gasto um tempo pesquisando o gênero a fundo entre os representantes de todo o tipo de música nacional – do funk à MPB. Mas, não. Foram até Chico e pararam por ali mesmo. Porque, depois, o que vieram foram os intérpretes de “Lepo-lepo” e companhia limitada. No mínimo, frustrante. Se Chico Buarque estivesse morto, com certeza, teria revirado no túmulo ao se ver incluso numa lista daquelas.

Mas, Adoniran Barbosa deve tê-lo feito quando Angélica, no Estrelas, resolveu listá-lo como uma das personalidades que têm “a cara de São Paulo”. Acontece que a loira caiu no mesmo erro que a colega da Rede TV!: iludiu a audiência com a ideia de uma grande pesquisa no tema, se valendo de uma citação relevante, para, depois, preencher a lista com personalidades mais rasas, como Ana Maria Braga e Serginho Groisman. Está certo que os dois têm seu prestígio artístico, além de serem globais, o que já garante um lugar na lista. Mas mostrou que a arrancada só serviu para tentar impressionar. Acredito que o telespectador se surpreenda com essas quedas bruscas. Ou se começa raso e se mantém o padrão, ou se inicia profundamente e continua fundo. Quente ou frio. Morno, não está pegando bem.

Taís Brem

*Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Mundo paralelo


Particularmente, não lembro disso muito bem. Mas, tenho um amigo que, volta e meia, recorda uma cena que povoou boa parte das manhãs das crianças da década de 1980: a mesa de café da manhã da Rainha dos Baixinhos. Tinha de tudo ali, não só o básico café preto, obviamente. Tinha leite, iogurte e suco. Tinha pão, bolacha e bolo. Tinha geléia, margarina, patê e sabe-se-lá-mais-o-quê! E frutas, muitas frutas. De todas as cores, tamanhos e sabores. Uma mesa farta, de encher os olhos, da qual a apresentadora pegava um grão de alguma coisa e, com o poder de quem pode ignorar toda aquela abundância, seguia o programa, deixando toda a audiência com água na boca. Audiência essa – sempre bom lembrar – que, em sua maioria, não devia ter nem um terço do que estava naquela mesa para provar em sua humilde residência. A mesa de café da manhã da Xuxa era outra realidade. Praticamente, um mundo paralelo. Uma coisa vivida por alguém que parecia estar tão perto, ali, do outro lado da tela, mas, na verdade, estava muito afastada do que ocorre no mundo dos reles mortais.

No dia em que recebeu a atriz Maitê Proença no palco do Video Show, semana que passou, Zeca Camargo bem que podia ter colocado uma trilha da Xuxa de fundo. Talvez os mais espirituosos entendessem o link enquanto o rapaz e sua convidada marcavam num grande mapa-múndi os países que já haviam visitado. Maitê, apresentada como uma viajante nata, jurou nunca ter contado os locais em que já foi durante sua vida inteira, mas fazia ideia de serem umas 70 nações. Camargo se exibiu e foi certeiro: visitou 97 e pretende, em breve, fechar 100. Falou com a naturalidade de quem planeja, depois de amanhã, conhecer o novo minimercado que abriu no bairro vizinho. E isso para um público que, se bobear, não sabe nem que Brasil faz fronteira com o Uruguai.

Daí, o indivíduo que está quebrando a cabeça para ver como vai conseguir completar o dinheiro da passagem do ônibus para o próximo dia de trabalho, se depara com uma notícia-bomba direto do mundo dos esportes: dizem que a fortuna envolvida na compra do Neymar pelo Barcelona não foi “só” de cerca de R$ 188,5 milhões, como o divulgado até então, mas de R$ 284,5 milhões. Um valor que dá nó na cabeça só de tentar contabilizar.

É impossível o cidadão comum não se sentir deslocado com contrastes como esses, que – não é de hoje – pipocam na mídia como se fizessem parte da vida de todos. Para a geral, o jeito é assistir ao lado “vida real” da programação como quem acompanha um programa de ficção. No mínimo, vai doer menos. Para a imprensa, cabe a dica de se adequar melhor à realidade do público que deseja atingir. A menos que os inadequados nessa história toda sejam mesmo os pobres-sonhadores-telespectadores que têm posado de intrusos do outro lado da TV.

Taís Brem

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Eu te vi, Jequiti!


Deve durar um segundo, o tempo de um piscar de olhos. Ou menos. Ou mais. De qualquer modo, se for realmente uma tentativa de mensagem subliminar, está um tanto mal feita, pois pode ser percebida. No início não ficava claro se se tratava ou não de um erro da equipe técnica da emissora. Acontece que o “erro” foi ficando cada vez mais frequente e… Bem, a coisa chegou ao ponto de telespectadores recorrerem à internet para reclamar que estão se sentindo lesados. Afinal, em primeira instância, quando se liga a televisão para assistir a um filme, um noticiário ou o programa que seja, não se faz para avistar mini-comerciais de cosméticos. Assim, a atitude do SBT em colocar em sua programação pequenas inserções contendo propagandas dos produtos da marca Jequiti – que, como se sabe, pertence ao “patrão” Silvio Santos – é, no mínimo, uma estratégia perigosa.

A questão da eficácia das mensagens subliminares é discutida há décadas por comunicadores e profissionais afins. Será que inserir de propósito determinados estímulos no meio de uma sequência de imagens realmente tem o poder de nos levar a consumir algo ou simplesmente agir de um jeito conveniente a uma empresa ou uma ideologia, por exemplo? Há mensagens que duram apenas um frame (0,04 segundo). Dessa forma, portanto, não podem ser percebidas pela visão. Mas, se, realmente, o cérebro captar a mensagem, é aí que mora o perigo.

Um dos casos mais famosos de mensagem subliminar ocorreu na década de 1950. Enquanto as pessoas assistiam a um filme no cinema, “liam”, em milésimos de segundos, as frases “Beba Coca-Cola” e “Coma pipoca”. Reza a lenda que, no fim da exibição, a maioria das pessoas foi mesmo acatar a “sugestão”, o que alavancou as vendas dos dois produtos.

“Tiro no pé”

Esses estímulos preparados para atingir o cérebro de modo não consciente podem adquirir, também, a forma de sons, como os barulhos sinistros que já foram inseridos em filmes de terror para aumentar o pânico de quem está assistindo.

Embora em nosso país a legislação não puna diretamente quem utiliza esse tipo de estratégia, a punição pode vir, justamente, de um resultado contrário ao que espera a empresa. Porque, em vez de começar a cogitar a ideia de se tornar consumidor Jequiti, de tanto se deparar com as imagens em momentos inapropriados, o telespectador pode passar a ter repulsa contra os tais produtos e não querer vê-los nem pintados de ouro! Conheço quem já levanta essa bandeira e acha a ideia desrespeitosa, irritante e inconveniente. Mesmo que o número de reclamações não aumente nem se transforme em pedidos de indenização por danos morais, nesse caso, se torna automaticamente desnecessário fazer qualquer tipo de estudo aprofundado sobre o poder de eficácia do método. Tá na cara que não colou.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Mais do mesmo

O telespectador postou no Facebook que estava assistindo à morte do Tião Galinha na TV. Não, ele não estava contando aos amigos o sonho que teve durante o soninho da tarde. Estava assistindo ao Canal Viva, canal da televisão paga, pertencente à Rede Globo, que se destina a transmitir reprises de programas da emissora, principalmente novelas. No caso mencionado na rede social, tratava-se de Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, exibida originalmente em 1993.

A ideia da Globo foi boa. Afinal, sabe-se que sempre há uma audiência garantida para esse tipo de programação. Quem não gosta de reassistir algo que foi marcante em sua vida? Acontece que, ultimamente, até quem não acha que valha a pena ver de novo tem tido poucas opções para fugir do “Hum… Acho que já vi essa cena antes…”.

Sim, os remakes e as reprises estão na moda e estão com tudo. Nessa onda, já voltaram com nova cara à telinha “O Astro”, “Gabriela”, “Ti-ti-ti”, “Guerra dos Sexos”, “Dona Xepa”, “Saramandaia”, “Carrossel”… E seguem reprisando clássicos da TV mexicana que a audiência já cansou de ver – que o digam a série de folhetins das “Marias” interpretadas por Thalia Ariadna e a dupla Chaves e Chapolin Colorado.

Alguém pode protestar que o método só segue sendo executado porque está sendo tão divertido para os olhos dos telespectadores quanto é rentável para o cofre das emissoras. O povo gosta. Fica apenas a reflexão se os milhares de comunicadores e afins que as faculdades jogam para o mercado todos os semestres não têm a criatividade necessária para inovar e arriscar um pouco mais. O exemplo não se resume a novelas e seriados. Outros formatos de programas, de entretenimento a noticiários, são copiados tal e qual de TV’s estrangeiras. Uma vez ou outra, tudo bem. Mas, o significativo aumento dessas ocorrências chega a ser sofrível, deixa implícito que a capacidade dos profissionais da mídia televisiva brasileira não tem sido usada a pleno. Não precisa abusar tanto assim da famosa máxima “Nada se cria, tudo se copia”.

A contribuição dos enlatados

Em sua maioria importadas dos Estados Unidos, até as séries têm contribuído, ultimamente, para reforçar o ar de falta de criatividade na TV. A primeira vez que notei o debate em uníssono deve ter ocorrido mês passado. O senhor Drummond, da família protagonista de “Arnold”, fazendo o possível e o impossível para esconder sua idade real e, assim, conquistar uma namorada mais nova. Tal qual um dos personagens principais de “Três é Demais”. Depois, a abordagem hilária do conflito de gerações passou para os filhos mais velhos de Drummond: tanto a garota quanto o garoto fingiram ser mais velhos para fazer bonito com seus pretendentes. Tudo isso em episódios diferentes, se é que se pode usar essa expressão.

Na última semana, foi a vez de “Eu, a Patroa e as Crianças” e “Um Maluco no Pedaço” se combinarem para mostrar ao público a saga dos adolescentes que sofrem bullying na escola e acabam vendo seus pais se engalfinhando para defendê-los. De novo, a mesma história; só mudou o endereço.

Os exemplos podem ser fruto de planejamento. Talvez na tentativa de reforçar uma espécie de marketing social na cabeça das pessoas (eles podem ser fãs de Glória Perez, por que não?).

Enquanto isso, a ideia segue sendo executada. As novas Chiquititas, que estrearam nessa segunda-feira (15), são um ótimo convite para quem está gostando da brincadeira.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa

Pré-requisitos

Nunca li o anúncio de uma vaga para o cargo de apresentadora de programa infantil. Mas, suspeito que, em algum momento, as aspirantes a esse tipo de oportunidade tenham tido conhecimento de que, para conquistar tal emprego fosse indispensável ter, como pré-requisito, participações em reality shows e ensaios fotográficos nus para revistas masculinas. Uma experiência em cada um desses pontos de atuação, não mais. Digo isso porque não é a primeira vez que uma moça com atribuições como essas se arrisca a dizer na mídia – como se fosse a coisa mais natural do mundo – que deseja ingressar no ramo televisivo, mais especificamente para protagonizar programas de entretenimento aos pequenos.

Foi mais ou menos assim com Mara Maravilha, com Xuxa e com Carla Perez, embora não houvesse reality shows na época delas. A ex-BBB Francine Piaia e Geisy Arruda também já demonstraram interesse no segmento e a candidata da vez atende pelo nome de Nicole Bahls.

Em recente entrevista à imprensa, logo após deixar o confinamento de A Fazenda, a modelo – que já tem um quadro no Programa da Tarde, da Record, com Théo Becker – disparou que gostaria de seguir na carreira artística apresentando um programa infantil. Disse que sempre teve jeito com crianças, daí a vocação.

Pode parecer puritanismo, mas soa esquisito que quem tenha como profissão mexer com o imaginário masculino, ganhando a vida com métodos que de inocentes não têm nada, mude de rumo assim, tão drasticamente. Está certo que, se as chances de comandar programas infantis fossem restritas apenas a pessoas castas, ligadas à moral e aos bons costumes, seria difícil encontrar quem preenchesse os pré-requisitos. Mas, convenhamos, nessa matemática não caem bem nem o oito nem o oitenta. Só parece ter lógica se a intenção for ganhar pontos no ibope através de pais que estarão mais atentos aos predicados da apresentadora que à qualidade do programa em si. Ou se a intenção for acelerar o processo de sexualização precoce, assunto que sempre dá nó na cabeça de pais – os responsáveis de verdade – e educadores.

Agora é aguardar para ver se Nicole colherá maduros os verdes que jogou para ganhar seus minutinhos de fama como formadora de opinião e comportamento dos telespectadores mirins do Brasil.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Meia hora de fama

Foi-se o tempo em que assistir ao Horário Eleitoral Gratuito era motivo de enfado. Os 30 minutos reservados para a apresentação de propostas políticas que cortavam o embalo de quem estava vidrado na programação das emissoras de televisão e de rádio, agora, vão além do propósito que os criou e servem de diversão garantida para toda a família. Pelo menos, no espaço reservado, nessa eleição, aos aspirantes às vagas de vereador.

Não bastassem os jingles curiosos e bizarros a que nossos ouvidos são submetidos toda vez que passam os alto-falantes nas ruas, nos meios de comunicação – sobretudo na TV –, o que era para ser sério, vira chacota.

Tem os candidatos – literalmente – palhaços, que só podem ter se inspirado na eleição de Tiririca para tentar uma vaga nas câmaras municipais. Tem as celebridades comunitárias – o músico, o líder do bairro, o ex-Rei Momo, a mulher-fruta e o radialista popular. Tem as figurinhas carimbadas, que estão na fila para ver se cumprem um mandato quase que vitalício. Tem os parentes desses, que tentam se eleger pegando carona na popularidade genealógica. Fora os que ninguém nunca viu mais gordos, que são hilários ou porque não levam o mínimo jeito para a política ou porque extrapolam mesmo e apostam pesado nas frases de efeito, nos nomes de legenda esquisitos e nas propostas que não podem ter outra finalidade a não ser fazer rir.

O que dizer de um candidato que promete arrumar os próprios dentes, se for eleito? Justificativa: é a proposta de campanha para melhorar a área da saúde. A dele, no caso. O estiloso que proclama que a população tem o direito de ser fashion na segurança, na educação e na cultura faz mais que impressionar por seus trejeitos. Traz à tona a pergunta: ser fashion nessas áreas significa o que mesmo, candidato?

Quando entrevistados – sempre há uma coluna de jornal, revista ou site com foco nessas pérolas – todos eles, em coro, juram de pés juntos que levam política a sério. Das duas, uma: ou a intelectualidade dos eleitores está tão fatalmente subestimada que toda essa encenação é até aplaudida ou o próprio povo, cansado de tudo o que já viu no campo da politicagem até aqui, foi para o outro lado da tela tentar ganhar a vida como os vários exemplos que já presenciou. E o pior: as tentativas dão certo a cada eleição. O índice dos tais votos de protesto aumenta cada vez mais, junto com essas aparições ridículas.

No contexto, difícil é eleger o que é o pior: o argumento do “Rouba, mas faz” ou as desculpas do tipo “Ninguém faz nada mesmo. Mas, pelo menos, esses são sinceros”.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

A quem admirar?

Eleger a personalidade nascida em solo verde e amarelo mais notável, seja por grandes obras culturais deixadas para deleite da população, por bons exemplos dados à família brasileira, por uma representatividade exemplar na política ou por grandes feitos no campo dos esportes. Eis o objetivo do programa “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, do SBT. Acontece que a abertura da votação para um público não-especializado, embora positiva do ponto de vista democrático, deixa margem para um certo receio de que, no fim, o tal maior brasileiro não seja alguém que mereça, de fato, o título.
A primeira fase das escolhas resultou numa lista bem diversa e surpreendente. Tudo bem que Michel Teló levou a música popular brasileira para o exterior. Mas, daí a poder ser considerado o maior brasileiro de todos os tempos há uma enorme diferença. Creio que houve falha de entendimento entre o ser uma personalidade histórica e o estar em voga simplesmente por ser uma celebridade instantânea.

No programa semanalmente apresentado por Carlos Nascimento não há jogo ou disputa intelectual. Simplesmente, quem tiver mais empatia com o público, ganha o maior número de votos e, assim, mais chances de ser o vitorioso. Dia desses, ao procurar palavras para defender Ayrton Senna, seu representante disse que o piloto merecia ganhar por ter conseguido fazer toda a nação acordar cedo a cada domingo pela manhã para assistir as suas corridas. No mínimo, um dado inusitado. Outra pessoa opinou que Pelé devia vencer porque, além de toda sua genialidade, está vivo e merece uma homenagem desse nível ainda em condição de presenciá-la. O argumento provocou um fã de Juscelino, que acabou dando ao fundador de Brasília e ex-presidente da República um status de Elvis Presley: “Isso é injustiça! Juscelino não morreu! Ele continua vivo toda vez que nasce um brasiliense”, disse o emocionado senhor.

Embora haja expectativas sobre o resultado, nutrir ilusões não é recomendado. É bem provável que o escolhido não satisfaça o gosto da coletividade. Particularmente, não enxergo nenhuma personalidade dentre as citadas no programa que possa traduzir a grandeza de um brasileiro singularmente notável por sua contribuição à pátria como Nelson Mandela o foi – e é – para a África do Sul, se tornando assim o maior sul-africano de todos os tempos na versão da atração veiculada por lá. Até quem conhece minimamente a história daquele país considera a escolha merecida. Aqui, entretanto, quem merece a honraria? Talvez o xis da questão esteja no infeliz e inegável fato de que o Brasil é pobre em referência de heróis e, também, em identificá-los e honrá-los. Daí a dificuldade para os acertos e a facilidade para as confusões numa escolha como a proposta pela atração.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa e no Diário Popular.

Força na língua

De novo, cá estou eu, depois de um tempo sem escrever, felizmente não tão longo. E embora essa seja minha primeira postagem oficial como jornalista (uhu!), nada há de novo debaixo desse sol, pelo menos no que diz respeito ao formato do que vou escrever: optei pelas frases. Quanto ao conteúdo, esse sim, é novidade. Ainda que tenha sido dito há algum tempo, merece atenção. Retenha o que é bom!

Taís Brem

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“Todas as cabeças coroadas da TV Globo conhecem e gostam de drogas. Os que não usam mais, um dia já usaram”.
Paulo Cesar Pereio, ator

“A vida é cheia de contradições. Sim, o roqueiro toma seu café da manhã ao som da pregação de pastores e angelicais canções evangélicas. Sem problemas, vivemos numa democracia”.
Tony Belloto, cantor, descrevendo, na boa, como a cozinheira evangélica de sua casa afeta o começo do seu dia.

“Prometi para os meus filhos que até o fim deste mês não caso mais. Preciso cumprir essa promessa”.
Fábio Junior, cantor, se achando…

“Em que parte da Bíblia está escrito que devemos julgar os demais? Ah sim, em parte alguma. Deus é o único juiz, queridos. Deus é amor”.
Miley Cyrus, cantora, que diz apoiar “todas as formas de amor”, apesar de ser uma cristã fervorosa.

“Às vezes, o pastor reclama, mas é trabalho, sei separar”.
Stéphannie Oliveira, modelo e filha do ex-jogador Bebeto, ao justificar que consegue equilibrar os nus fotográficos que faz com sua vida espiritual.

“As pessoas me veem alegre, e sou de fato muito alegre porque, por exemplo, se estou mal e vejo você na rua, fico feliz de te ver. Mas aí você vai embora e volto para a melancolia de antes”.
Sarah Oliveira, apresentadora.

“São só palavras impressas no papel, o resto está na cabeça de quem lê. Quem me critica, não está falando de mim, está falando de si próprio”.
William P. Young, autor do best-seller A Cabana, sobre as críticas negativas que recebe pela publicação.

Quatro cabeças pensantes

Ainda hoje não sei – e também não me dei ao trabalho de procurar saber – porque os antigos vídeos-cassete eram classificados em duas e quatro – e talvez até mais – cabeças. De todo o jeito, essa qualidade deles sempre me chamou a atenção. Desde a primeira vez que ouvi a designação, quando criança, achei, no mínimo, engraçado.

Mas, além de me divertirem, as cabeças do vídeo-cassete ajudavam na tarefa de reproduzir filmes, transformando nossas humildes salas em mini cinemas. E também serviam para gravar coisas que considerávamos importantes. Lembra do botãozinho REC, sempre acionado para registrar finais de capítulos das novelas, reportagens interessantes de telejornal e célebres propagandas? O mais legal de tudo isso é que hoje em dia o produto das quatro cabeças pensantes está disponível pela internet, através do You Tube. Sim, porque, embora eu não tenha a dimensão exata de como essas coisas foram se acoplando por lá, imagino que tenham sido os milhões de arquivos pessoais de VHS dos aficionados por vídeos Brasil e mundo afora que originaram os baita acervos digitais a que temos acesso. E é maravilhoso poder digitar uma frase memorável de algum destes momentos legais de nossas infâncias e testificar “Puxa, eles têm isso aqui gravado também!”.

Desses registros, são as propagandas o que mais me chama a atenção. Quem não lembra do “elefante fã de Parmalat” que junto com o “boto cor-de-rosa e o macaco” fizeram um dos melhores comerciais de leite de todos os tempos? E o japinha simpático que contava, com a encantadora inocência de uma criança, como era o seu café da manhã – “eu gosto com açucra, porque o açucra afunda”? Isso sem deixar de citar a vontade que dava de tomar uma guaraná bem geladinha toda vez que a “pipoca na panela começava a arrebentar”. Agradáveis lembranças! Nessa hora, meu lado publicitário até tenta se manifestar para me influenciar a fazer uma segunda faculdade!

Triste é notar que aquela analogia da faca é muito real também no mundo virtual. Tal qual como o talher pode servir tanto para passar a All Day no pão quanto para sacrificar um mamífero – e inclua-se nisso o homem –, redes sociais como o You Tube também são usadas tanto para o que presta quanto para o que não vale um sabugo. Li outro dia que tá na moda adolescentes filmarem suas aventuras sexuais e postar na rede. A intenção é ver quem tem maior capacidade de atrair o olhar alheio. E assim eles, que ainda nem saíram das fraldas, disputam a audiência doentia de quem se delicia com a intimidade – e a imaturidade – dos outros. Perigo. Não somente porque é uma pouca vergonha. Deixando de lado, os julgamentos moralistas, o que mais choca é perceber que um ato impensado desses pode custar danos em todas as esferas, inclusive a emocional, que vão afetar pela vida toda. Esses adolescentes apenas se iludem com a possibilidade de estar curtindo a liberdade, mas, na verdade, estão sendo escravos da libertinagem. E pior ainda são os que nunca crescem. Lamentável. Para melhorar, oremos.

Taís Brem