Mãos ao alto

O Brasil inteiro acompanhou o noticiário sobre a prisão precipitada e injusta do ator, vendedor e psicólogo Vinícius Romão que foi confundido com um assaltante no Rio. O rapaz ficou em reclusão por 16 dias numa cela com outros 15 detentos. E, ao que tudo indica, o erro foi da vítima, que cismou que fora Romão o responsável por lhe roubar a bolsa em que carregava R$ 10,00, um telefone celular e um cartão de crédito. O policial responsável pela prisão aceitou o depoimento, embora as evidências não batessem com o relato. Porque era negro, da mesma forma que o real criminoso, Romão ficou com a fama de culpado. E só nesta quarta-feira (26) pode desfrutar novamente de liberdade.

O caso não é isolado, disso todos sabemos. O episódio surge com força na mídia e levanta uma bandeira – que, espera-se, seja verídica – de revolta contra o preconceito racial, assim como há algumas semanas ocorreu com o caso vivido pelo jogador de futebol Tinga, no Peru. O esportista, que defende as cores do Cruzeiro, foi hostilizado pelos torcedores do Real Garcilaso, contra quem Tinga jogava pela Taça Libertadores da América. A torcida adversária imitou gritos de macaco para ofender o jogador, que, obviamente, lamentou o ocorrido e declarou que trocaria todos os títulos conquistados em sua carreira por um futebol sem racismo.

O ideal seria que não apenas os campos e arquibancadas dos estádios de futebol fossem limpos desse comportamento nojento, mas todos os setores da sociedade. Como os salões de beleza, por exemplo, de onde surgiu uma detenta há alguns dias, pega em flagrante discriminando uma manicure por ser afrodescendente. A australiana disse que não se sujaria entregando suas mãos a alguém que tinha a pele escura demais para fazer suas unhas. Como se não bastasse, ofendeu, também, o policial que lhe prendeu logo depois, que também era negro. A prisão foi merecida. E a estrangeira, se é que não sabia, ficou a par de que, aqui no Brasil, racismo é crime. Inafiançável, desde a Constituição de 1988.

Bom seria, também, que essas prisões – as adequadas – fossem tão comuns quanto é comum a expressão do preconceito racial. Seria ótimo se o global Big Brother Brasil inovasse com uma visita surpresa e marcante à casa. Nem funkeiros, nem apresentadores ou artistas. Quem sabe algum policial disposto a colocar a legislação em prática? Testemunhas é o que não faltam para comprovar a infelicíssima declaração da tal Fran que dias desses disse que, se não usasse desodorante, ficaria cheirando como uma “neguinha”. Fora um outro participante que já havia feito um comentário tão desastroso quanto, a respeito de seu envolvimento sexual com uma moça “de cor”.

Se é para fazer justiça, que se faça em toda e qualquer situação. Não se trata de espetáculo gratuito. Trata-se de impor limites para que se conheça exatamente o sentido e o exercício da palavra “respeito”.

Taís Brem

*Texto publicado, também, no Reportchê.

Arco-íris de opções

Desde quinta-feira (13), Facebook em inglês disponibiliza opções além do “masculino’ e “feminino” para usuários definirem seu gênero

 Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Quando resolveu abrir sua identidade sexual para o público, ano passado, o autor de novelas Walcyr Carrasco definiu-se como bissexual. Na ocasião, ele recebeu críticas negativas da comunidade LGBT, que achou que ele deveria ter se assumido gay, apenas. Para ele, a crítica não tem fundamento, uma vez que não podia simplesmente afirmar que os relacionamentos com mulheres que teve ao longo de sua vida não significaram nada. Por ter consciência de que é capaz de amar homens e mulheres igualmente, Carrasco, portanto, se diz um autêntico bissexual.

Daqui a pouco, o escritor e todos os outros indivíduos que consideram ter encontrado sua real identidade sexual bem longe do gênero ao que parecem pertencer poderão comunicar sua opção, também, em seu perfil no Facebook. É que desde esta quinta-feira (13), a rede social passou a oferecer mais de 50 opções de gênero para que seus usuários possam se definir sexualmente. Por enquanto, a novidade abrange somente os facebookianos americanos, mas deve se estender para os perfis de demais idiomas, em breve.

Mais de seis mil pessoas curtiram a postagem sobre a novidade na página Facebook Diversity e o anúncio ultrapassou os dois mil compartilhamentos. Na postagem, a empresa se diz orgulhosa de estar oferecendo aos seus usuários a oportunidade de se sentirem confortáveis sendo quem são. “Reconhecemos que algumas pessoas enfrentam desafios compartilhando sua verdadeira identidade de gênero com os outros, e esta definição dá às pessoas a capacidade de se expressar de forma autêntica”, diz o comunicado.

Como não poderia ser diferente, a mudança polêmica suscitou debate no próprio post. Muitos internautas se manifestaram a favor da novidade e sugeriram, inclusive, novas medidas, como a disponibilidade de opções para definir famílias modernas e relacionamentos abertos, como os baseados no chamado “poliamor”. Outros, entretanto, não veem progresso nenhum na medida. “São mais de seis mil pessoas que não têm ideia do que está entre suas pernas ou o que querem ser outra pessoa”, comentou um rapaz sobre os usuários que curtiram a postagem. “Não podemos misturar o que a pessoa é com o que ela acha que é ou o que ela quer ser. Preto e branco, cinza não!”, opinou outro internauta. “Senão, daqui a pouco, vamos ter que abrir opções para todo tipo de gente que acha que é uma árvore, o Elvis ou o Wolverine”.

As opções disponibilizadas até agora pelo Facebook não incluem as alternativas ironicamente sugeridas pelo usuário descontente. Mas, entre elas estão definições, como “transexual”, “intersexual”, “andrógino”, “cisgênero” e, até, “nenhuma das opções”.

Taís Brem

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