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Coração voluntário

Jovens estão entre os milhares de brasileiros que trabalham doando tempo e talento voluntariamente

Élem e Jaqueline trabalham como voluntárias na escola e na igreja (Foto: Wilson Brem)
Élem e Jaqueline trabalham como voluntárias na escola e na igreja (Foto: Wilson Brem)

Jaqueline Cruz e Élem da Luz são tia e sobrinha, embora a idade delas não revele esse curioso detalhe. Aos 18 e 17 anos, respectivamente, as estudantes que no fim de 2013 concluem o Ensino Médio já possuem três anos de trabalho voluntário em seu currículo. E são um exemplo de jovens que dispõem de seu tempo e talento para disseminar conhecimento, ajudando outras pessoas e contribuindo para o enfrentamento de problemas que assolam nossa nação, como as barreiras ao desenvolvimento educacional no Brasil. Elas estão entre os milhares de brasileiros engajados no voluntariado em ações simples, desenvolvidas em escolas e igrejas, por exemplo, mas que têm um poderoso impacto de transformação na sociedade.

A história de amor delas com o trabalho voluntário teve início enquanto cursavam a oitava série e se candidataram para, em horário inverso ao de suas aulas, ajudarem na organização da biblioteca da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Aparentemente insignificante para alguns, a tarefa diária de catalogar livros e organizar prateleiras despertou nelas a paixão pela literatura, bem como a percepção para a lacuna que a falta de interesse pela leitura estava fazendo na educação dos pequenos.

Incentivo à leitura foi objetivo principal do projeto (Foto: Arquivo Pessoal)
Incentivo à leitura foi objetivo principal do projeto (Foto: Wilson Brem)

Após um tempo trabalhando ali, Jaque e Élem desenvolveram e apresentaram à diretoria da escola um projeto ao qual deram o nome de “Hora do Conto”. Trocando em miúdos, tratava-se de um plano de atividades voltadas para as séries iniciais, em que as meninas contariam histórias para as crianças, com o propósito de estimular o gosto pelos livros. “Começamos a ver que as crianças não tinham vontade de pegar os livros para ler. Então, pensamos em fazer um projeto de leitura e arrumar um cantinho específico na biblioteca para contar histórias e incentivá-las”, disse Jaqueline. A ideia foi prontamente aceita pela então diretora, a professora Neusa Coi, 55, e pelos demais docentes que, inclusive, colaboraram doando tapetes, almofadas e outros materiais que deixaram o cantinho destinado ao projeto confortável e convidativo. “Eles confiaram na gente e isso foi muito importante, porque, também, nos motivou a ir melhorando o projeto”, disse Élem. A Hora do Conto tinha cerca de meia-hora. Após ler uma história, elas distribuíam atividades para as crianças, como folhas com desenhos para colorir, e conversavam sobre o que tinha sido narrado, estimulando a imaginação dos pequenos. “A gente sempre propunha que eles dessem um novo final às historinhas”, relembrou Jaqueline.

O trabalho realizado pelas meninas merece destaque não apenas por ser voluntário, mas por ter surgido de uma iniciativa própria. Afinal, elas mesmas se dispuseram a pôr a mão na massa para mudar a situação de distanciamento que notaram entre os alunos e os livros. “Ambas tiveram um comportamento maravilhoso, tanto no trato para com os alunos, quanto no preparo das atividades e tarefas realizadas”, observou Neusa. “Elas são muito dinâmicas e criativas. Vejo como muito importante a participação de jovens em trabalhos voluntários como o que as meninas realizaram na escola, pois a instituição tem a oportunidade de oferecer aos alunos novas possibilidades de atividades e o voluntário adquire experiência”.

Para Neusa, o perfil do voluntário é essencial para o sucesso da atividade – no caso das meninas, elas deveriam gostar de crianças, ter paciência, ser tranquilas, criativas e sentir muito prazer no que estavam fazendo. Quesitos esses que foram preenchidos com muito êxito, tanto que, quando tiveram que deixar a escola para iniciar o Ensino Médio em outro colégio, Jaqueline e Élem continuaram engajadas na causa do voluntariado na instituição, realizando, agora, tarefas de recreação vinculadas ao Programa Mais Educação, do Governo Federal. No momento, elas aguardam pela diretoria da escola o chamado para realizar algum trabalho com as séries iniciais.

Paixão que contagia

Atividades são desenvolvidas com crianças (Foto: Wilson Brem)
Atividades são desenvolvidas com crianças (Foto: Wilson Brem)

Anos depois de ter deixado – com muito pesar, é verdade – os momentos de leitura da Hora do Conto, as meninas ficaram sabendo que seu esforço rendeu frutos. Certa vez, ao visitarem a escola elas viram uma das alunas que ouvia as historinhas contadas por elas seguindo o exemplo e contando histórias a outras crianças menores. Perguntar se elas se sentiram orgulhosas com isso, seria desnecessário. Mas, a resposta é sim. “Foi algo muito legal. Percebemos que o projeto ajudou as pessoas e trouxe crescimento e experiência de vida, tanto para eles, quanto para nós”, frisou Jaqueline que, já pensa no que fazer assim que concluir o Ensino Médio: dar aulas de História. Já Élem, não gostaria de seguir nenhuma profissão ligada à Pedagogia, porém falar em escrever faz seus olhos brilharem. “Quero fazer algo ligado à Literatura ou Jornalismo, talvez”, afirmou.

Mãe de Élem e irmã de Jaque, a doméstica Neusa Luz, 50, disse considerar excelente o tempo que as duas dedicaram ao desenvolvimento das tarefas voluntárias na escola. “Elas demonstravam muito entusiasmo e ficaram muito mais responsáveis. Foi ótimo para elas”, pontuou.

Amanda, Giovanna e Marianna também são discipuladoras (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda, Giovanna e Marianna também são discipuladoras (Foto: Arquivo Pessoal)

Na mesma época em que começaram as atividades na Escola Nossa Senhora de Fátima, Élem e Jaque foram convidadas a integrar o time das chamadas “discipuladoras” na igreja que frequentam, o Ministério Casa de Oração (MCO). Seu papel: nos dias de culto – aos domingos, terças e sextas-feiras –, ser responsáveis pelos membros infanto-juvenis do Ministério, desenvolvendo tarefas específicas para a faixa etária de 0 a 12 anos, enquanto os pais assistem à reunião no templo principal. Junto com elas, completam a equipe as irmãs Giovanna, 16, e Marianna Guimarães, 14, e Amanda Vieira, que também tem 14 anos. A irmã caçula de Élem, Milene, 15, não é discipuladora oficial. Todavia, ao que parece, isso é apenas questão de tempo, pois volta e meia a adolescente é flagrada com alguma criança no colo, auxiliando as mães que precisam de ajuda para cuidar dos filhos durante as reuniões.

Meninas se revezam no atendimento da Biblioteca Cultural (Foto: Wilson Brem)
Meninas se revezam no atendimento da Biblioteca Cultural (Foto: Wilson Brem)

O trabalho na biblioteca desenvolvido lá na escola, há três anos, serviu como base para o aperfeiçoamento de outro projeto ligado ao MCO. Sim, as garotas não param: elas também são as responsáveis pela Biblioteca Cultural da igreja. Num espaço cuidadosamente arrumado por elas culto após culto, estão estantes lotadas de livros doados pelos próprios membros do Ministério, que são colocados para locação. A verba arrecadada com a atividade é destinada para trabalhos missionários desenvolvidos dentro e fora do país, sobretudo em locais onde práticas ligadas ao cristianismo são reprimidas oficialmente, gerando perseguição aos seguidores da religião.

Taís Brem

Falaçada

“Aprendi a beber vodca e uísque, passei a fumar um maço de cigarro por dia. Me misturei ao personagem, entrei na energia dele… Foi uma entrega muito grande”.
Cauã Reymond,
ator, ao comentar os maus hábitos adquiridos na construção de Leo, um personagem “perdedor” que interpreta em “Se nada mais der certo”, de José Eduardo Belmonte.

“Quando eu perdi minha mãe, falei: ‘Meu Deus, eu vou ser filha de quem?’. Aí quando você concebe a ideia de ser mãe, você fala: ‘Meu Deus, eu vou ser mãe de alguém’. É o ciclo que se renova”.
Ivete Sangalo, cantora e grávida de seis meses.

“Não acredito nos vampiros da lenda, nem que haja mutantes como os que eu inventei para divertir as pessoas e fazê-las sonhar e amar. Gosto, sim, de pensar que existem santos, seres milagrosos, fadas e anjos, na vida real. Adoro o universo fantástico e misterioso”.
Tiago Santiago, autor da novela “Os Mutantes” da Record, sobre os personagens místicos que criou para o folhetim.

“Desculpe, Deus, não havia provas suficientes”.
Richard Dawkins,
autor do livro “Deus, um delírio”, ao justificar seu ateísmo e responder à pergunta sobre o que faria se caso encontrasse com o Todo-poderoso após a morte. Detalhe, querido Dawkins: Você irá encontrá-lo!

“Não me preocupo com o dinheiro. Mas, certamente, isso ocorre porque o tenho. Essa é a verdade”.
Daniel Radcliffe,
estrela de “Harry Potter”.

“Pedi que Deus me sarasse e, desde esse sábado, aconteceu um milagre! Sempre fui assim. Quando a coisa fica estranha jogo na mão dele!”.
Mara Manzan,
atriz, sobre a cura de câncer que diz ter sentido depois de clamar a ajuda de Deus.

 

Didático?

Primeiro foi o Paraguai, aparecendo duas vezes no mapa de um livro de Geografia da sexta série, o que já era péssimo. Agora, por acaso, alguém se deu conta que um erro ainda pior estava presente em publicações destinadas para o terceiro ano do Ensino Fundamental de escolas paulistas. Termos impróprios e de conotação sexual foram encontrados na obra “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, comprada aos montes pela Secretaria Estadual de São Paulo para subsidiar o ensino a estudantes com idade média de nove anos. Nove anos, terceira série… Pode? Dizem os subordinados de José Serra que o “equívoco” será resolvido em breve, já que houve ordem para que os livros sejam recolhidos imediatamente.

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A editora Via Lettera, responsável pela obra, justifica dizendo que o livro é voltado para adultos e adolescentes. “Não sabíamos para qual faixa etária seria destinado. Se soubéssemos, avisaríamos a secretaria”, disse o gerente de marketing da empresa, Roberto Gobatto. Caco Galhardo, cartunista que escreveu a história mais criticada da publicação por causa do conteúdo picante, foi além: “O cara que escolheu não leu o livro”.

Se realmente não leu, apesar de chocante, esta é a única explicação que ameniza o episódio. Mas do que, afinal, trata o livro? Bem, a história cuja autoria pertence a Galhardo, por exemplo, é a caricatura de um programa de mesa-redonda de futebol na TV. Enquanto o comentarista faz perguntas sobre sexo, jogadores e treinadores respondem com clichês de programas esportivos, como “o atleta tem de se adaptar a qualquer posição”. Fraquinho? Hã… Isso para não citar as palavras de baixo calão que constituem os apelidos mais “comuns” usados para ânus e sexo oral, se é que vocês me entendem… Meus filhos não leriam.

Embora tenha reconhecido que houve “falha”, o governo de São Paulo explicou que a intenção foi mais uma ação de boa-fé do “grande esforço que se tem feito para estimular o hábito da leitura” na idade escolar, por meio do projeto “Ler e Escrever”. Afirmou ainda que a infeliz comprinha de R$ 35 mil representa “apenas” um dos 818 títulos que os estudantes têm à sua disposição. Em miúdos, dá só 0,067% do total de publicações disponíveis para leitura na escola ou em casa. Como se o zero à esquerda aliviasse o transtorno.

 

Taís Brem 

O lado bom das filas

 

 

Li ontem este texto de Mário Quintana e achei por bem reproduzi-lo. Muito interessante. Fala sobre filas. Sim, aqueles famosos processos pelos quais, volta-e-meia, passamos pelos motivos mais variados possíveis. Tem fila para pagar as compras no caixa do super, fila para ser atendido no postinho médico, fila para se matricular na escola, fila para receber um órgão a ser transplantado, fila para, enfim, ganhar o tão suado salário no fim do mês e por aí vai. Coisas criadas para facilitar a vida de todo mundo, um progresso na civilização. Mas, o que mais vemos, na verdade, é que este todo mundo – eu, inclusive –, vive a reclamar das ditas-cujas. Todavia, se não fossem elas, imagina a bagunça! Melhor seguir o conselho de Quintana e aproveitar este tempo “livre” para um “útil lazer”. Veja as filas pelo seu lado bom.

 

 

As benditas filas

 

O homenzinho que estava à minha frente na fila do sabão de coco dobrou o jornal, voltou-se para mim e disse:

 

– Não sei por que os jornais falam tanto contra as filas. A fila não é um problema, a fila é uma solução. Lembro-me de que nos meus tempos de ginásio, quando as entradas para as matinês custavam trezentos réis, era aquela luta ombro a ombro nos guichês do Apolo! Venciam os guris mais fortes, os grandalhões, os “prevalecidos”, como a gente dizia. Era o domínio da força bruta, o fascismo, meu caro senhor! Veja agora que beleza, olhe só esta fila: não é o grandalhão, socialmente falando, que chega primeiro ao balcão; é o que tem direito a isso, conforme o seu lugar na fila. Olhe, eu sou um barnabé, pois lá atrás está a cunhada do chefe, que até me cumprimentou, mas “conhece o seu lugar”, compreende? Que é isso? Legalidade, ordem, democracia. Democracia, meu caro senhor. Não, a fila não é um problema, a fila é o orgulho da nossa civilização.

 

Como eu não dissesse nada, o homenzinho prosseguiu:

– E depois, não é só isso. Se não fossem as filas, como poderíamos calmamente ler os jornais do dia, nos inteirarmos dos problemas nacionais e internacionais, e refletir ponderadamente sobre as suas soluções? A fila é propícia à meditação e ao estudo. Ao estudo, sim. Disse isso porque um tio meu, que tem fama de gira, aprendeu grego durante a fila do leite. Está vendo? Se todos fizessem como ele, poderiam, trazendo um livro para a fila, aprofundar seus conhecimentos, cultivar seu espírito, em vez de estar a bradar contra o Sistema que lhe proporciona esse úteis lazeres.

 

QUINTANA, Mário. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006, p.708. 

   

A própria cegueira

 

saramago

 

Ele é aclamado no mundo inteiro por conta de seus livros, considerados verdadeiras obras-primas. Mas, quando se trata de espiritualidade, José Saramago, autor de “Ensaio sobre a Cegueira”, é o próprio cego. Foi o que deu pra notar dando uma olhada num vídeo de uma entrevista com ele que circula pela internet.

 

Confesso que sei muito pouco sobre a figura. É português. Ganhou o prêmio Nobel de Literatura. E escreveu este tal romance que virou filme e tem emocionado muita gente. Cristãos, inclusive. Enfim, deve ter seu mérito. Entretanto, qualquer pontinha de pré-admiração que eu pudesse ter por ele a ponto de me levar a pesquisar mais sobre sua vida e obra caiu por terra ontem, quando vi este vídeo. Trata-se de uma sabatina feita por alguns jornalistas da Folha. Nela, o cara fala, entre outras coisas, do que pensa sobre Deus e de como visualiza a Bíblia e coisas que, na sua opinião, a Igreja teria inventado, como o pecado e o inferno.

 

Parece que não é a primeira vez que ele dá suas alfinetadas no cristianismo e faz questão de dizer que é ateu. Não deveria. Entretanto, se fosse apenas uma opinião isolada que não fizesse diferença alguma para o resto do mundo, paciência. Não fomos criados como robôs e ninguém tem a obrigação de pensar de uma única forma. As religiões e seitas existem aos montes por aí – inclua-se nisso o ateísmo.  Cabe a cada um definir o que é melhor para sua vida. O problema é que, por ser alguém de muita influência, considerado extremamente sábio por público e crítica em todo o planeta, Saramago chega a envenenar com suas declarações pagãs. Basta observar os risinhos de aprovação e os aplausos da platéia para comprovar o efeito que sua postura causa.

 

Um dos repórteres perguntou se, após a cura da doença respiratória que quase lhe custou a vida, sua percepção sobre Deus havia mudado. E ele, sarcasticamente, responde: “Por que mudaria? Quem me curou foi meu médico e aquela senhora que está sentada ali”, disse, fazendo referência à esposa, Pilar. Logo depois, emendou: “Não quero ofender ninguém, mas, para mim, Deus não existe. Não brinquemos com estas coisas”.

 

Na seqüência, o autor, atualmente com 86 anos, diz acreditar que Deus é apenas uma invenção dos homens. Coisa de alguém que teve medo da morte e pensou que era melhor se agarrar à possibilidade de existência de um ser superior. Daí, segundo ele, é que a Igreja Católica teria aproveitado também para criar o inferno e o purgatório. O pecado, outra invenção, seria um “instrumento da igreja para controlar os corpos”.

 

Para arrematar os comentários de fundo (anti) religioso, Saramago fala que a Bíblia é um verdadeiro desastre. Foi escrita por homens e, por isso, não merece crédito. Além do mais está cheia de exemplos de incestos e assassinatos. “Não é um livro que possa ser deixado na mão de um inocente”, completou. Aham. Quem sabe a sua coleção aclamada mundo afora possa. Coleção esta que inclui o livro que lhe garantiu o Nobel de literatura, há dez anos, chamado “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Trata-se de um relato que, conforme a jornalista Maria das Graças Targino, mostra um “Deus vingativo”, um “diabo simpático” e um “Jesus maravilhosamente imperfeito”. “Uma obra-prima recheada de passagens literalmente incríveis”, comenta a moça, encantada.

 

Tá vendo como estas baboseiras perturbam a cabeça das pessoas? Mas, como ele é um intelectual inteligentíssimo, o cara, um grande sábio, tá valendo. Louco e ignorante é quem ousa discordar.

 

Taís Brem

Bueno!

 

“Os jogos de poder e as intrigas amorosas comuns à nossa natureza estão nessas obras. A Bíblia é um verdadeiro catálogo das paixões humanas”.

Moacyr Scliar, escritor, sobre o livro “Manual da Paixão Solitária”, que escreveu com base em Gênesis-38. A passagem bíblica narra a definição da linhagem de Judá a partir do incesto provocado por sua nora, Tamar.

 

“O que a minha família me passou foi esse conceito muito claro de liberdade: ‘Não tem que casar, não tem que ter filho. Você tem é que lutar para ser livre’”.

Glória Maria, jornalista.

 

“Associar o Saci à imagem de demônio não é válido. Pela lenda, ele é um menino sapeca que preferiu ser livre em vez de viver na senzala nos tempos de colonização do Brasil. Cada um cria sua imagem do Saci”.

Mário Candido da Silva Filho, presidente da Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci), defendendo o personagem. 

 

“Não gosto daquela felicidade plena que o Dalai Lama prega. Você não vai ter um estágio idiota de alegria. Isso é o dia-a-dia, isso é a realidade’”.

Evandro dos Santos, humorista e intérprete do personagem Christian Pior, do Pânico.

 

“Eu apresentei a ela heroína, cocaína e a autodestruição. Me sinto mais do que culpado”.

Blake Fielder-Civil, (quase-ex) marido da cantora Amy Winehouse, assumindo a culpa pelo estado extremo de dependência química a que a garota chegou.

 

“Recebi um telefonema de alguém que achava que o Garfield deveria fazer um vídeo de exercícios para compensar os maus hábitos. Garfield e exercícios, é forçar a barra”.

Jim Davis, criador de Garfield, ironizando a opinião de quem acha o personagem sedentário um mau exemplo por aparecer apenas comendo e dormindo nas tirinhas.

 

“Precisamos de Deus para quê? Nunca o vimos. Tudo aquilo que se diz sobre Deus foi escrito por pessoas”.

José Saramago, prêmio nobel de Literatura, criticando a crença na existência de Deus. Durante sabatina da Folha de S. Paulo, o escritor português ainda taxou a Bíblia de “desastre” que, por ser “cheia de maus conselhos”, não deve ser “deixada na mãos de inocentes”.

 

 

Idade não é documento

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Se ao olhar a foto, a idéia que lhe vem à cabeça é a de uma mulher distinta, esqueça. Este é o rótulo que menos se adapta à professora aposentada Jane Juska, hoje com 75 anos. Na época que a tornou celebridade dentro e fora dos Estados Unidos, aos 66, ela tomou a ousada atitude de publicar um anúncio num jornal de literatura de Nova York avisando que queria realizar o sonho de fazer “muito sexo com um homem de quem gostasse” antes de completar 67 anos. Realmente, rugas, cabelos brancos, filhos adultos e uma longa estrada de vida não são mais garantia de seriedade. Até porque, Jane tem tudo isso. O que faltou foi vergonha na cara mesmo.

 

Esta semana chega ao Brasil, pela Editora Rocco, o livro Uma Mulher de Vida Airada – Memórias de Amor e Sexo depois dos 60, escrito pela queridona. É o relato nada discreto das aventuras que teve com quatro dos 63 homens que responderam ao seu apelo e se candidataram para quebrar o jejum sexual de uns trinta anos que ela mantinha até então. O resultado, segundo Jane, foi tão “satisfatório” que, hoje em dia, ela não precisa nem mais de propaganda. Continua na atividade, apenas colhendo os frutos deste sucesso. “A maioria das pessoas de idade, em especial as mulheres, têm medo de correr riscos. Preferi agir a esperar que alguma coisa acontecesse”, justificou.

 

Entre os pretendentes teve gente de mais de 80 e até de 32. Sim, o mais novo deles, pelo qual Jane chegou a se apaixonar, poderia ser filho dela. Na publicação, a aposentada não poupa detalhes. Fala de um que ousou pegar em seu traseiro, de outro que apalpou seus seios e ainda sobre outro que roubou sua calcinha. Acerca do órgão sexual masculino, por exemplo, ela diz: “Eles são diferentes uns dos outros, retos e curvados, compridos e curtos, grossos ou finos, eternamente fascinantes em repouso ou ativos. Eles fazem coisas maravilhosas para mim e eu faço coisas maravilhosas com eles”. Baixaria? Capaz…

 

Mas, é claro, Uma Mulher de Vida Airada não fala só das picantes experiências da velhinha aposentada. Relata também outros acontecimentos de sua trajetória, como a educação rígida na infância, as decepções amorosas, o divórcio e os problemas com obesidade e alcoolismo. Ou seja, há um fundo de heroísmo na história. Aquela coisa de coragem que, como diz a revista Época desta semana, “mostra que a terceira idade não precisa ser um tempo apenas de renúncias e lembranças”. Não duvido que o mundo inteiro vá aplaudir e considerar esta aberração uma lição de vida. Como a própria Jane resume: “Posso acabar me tornando a heroína ou a vilã, quem sabe, mas o que eu sei ao certo agora é: sou facilmente excitável”. Bom proveito, então.

 

Taís Brem

 

Leia aqui a reportagem na íntegra 

 

 

É mole ou quer mais?

 

 

Mal chegou nas bancas e o tal beijo entre Mônica e Cebolinha, que comentei ontem, já tá gerando polêmica. A edição on line da Folha de S. Paulo traz uma reportagem que afirma que, além de terem aprovado a ousadia, os fãs do gibi agora estão sugerindo que Magali e Cascão engatem um romancinho também. Como se não bastasse, ainda dizem que este outro casal esquentaria mais a coisa, porque Magali já tem um namorado, o Quinzinho. Triângulo amoroso, seria?

 

Leia aqui a matéria na íntegra.

Beijinho, beijinho, tchau, tchau!

 

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Eu sabia que não ia demorar! O quarto número da revistinha Turma da Mônica Jovem já deu o ar da graça e apareceu com pinceladas mais picantes. Sabe aquela dupla que cansamos de ver se odiando na página dos gibis? Mônica e Cebolinha, isto mesmo. Agora eles já estão querendo se bicar de uma maneira mais… crescidinha, se é que você me entende. Coisas das novas aventuras desta turma extremamente familiar, como o criador Maurício de Sousa define.

 

Familiar? Sei. Só se no próximo número, Mônica resolver brincar de médico com Cebolinha e dar à luz novos personagens. E isso porque, se faltava tomar a iniciativa para roubar um beijinho dele, agora não falta mais. “Nesta nova fase da revista, a Mônica e o Cebola vivem na base de um flertezinho, uma paquera nas histórias. E achei que estava na hora de a Mônica ter um momento de mulherzinha, mais crescida e ir para cima do Cebola com um beijinho”, diz o pai das ex-crianças.

 

Claro que a cena ousada dá margem para que o público aguarde – uns empolgados, outros apavorados – enredos ainda mais apimentados. Mas, quanto a isso, Maurício ameniza: promete “manter a fronteira do bom gosto”. “Mesmo que com os personagens um pouco mais velhos, a Turma da Mônica é uma revista para família, que tem de ter mensagens. Vamos falar de qualquer tema, mas sempre de maneira suave e tranqüila, sem ferir sensibilidades”.

 

Aham. Tá bem, então. Melhor cair na real e dar adeus à esperança de encontrar o pouco de mensagem-família que ainda restava nos gibis da turminha. Beijinho, beijinho, tchau, tchau!

 

Taís Brem

Movimento dos Sem-filhos

 

A proposta é se opor a uma das leis máximas da natureza: o famoso “crescei e multiplicai-vos”. E o objetivo incomoda justamente por ser uma espécie de hino contra o que chamamos de família normal, como a própria autora define. Escrito pela francesa Corinne Maier, o livro “Sem filhos – Quarenta razões para não ter” chegou ao Brasil em agosto, depois de causar muita polêmica pela Europa e continua levantando por aqui dúvidas acerca da necessidade de procriar.

 

Há quem diga que não há mal algum numa mulher que decide, por A + B, que gerar não é um bom negócio. O mundo não vai ficar significativamente menor por causa disso. Ok. Muitos são os que decidem permanecer solteiros e até o apóstolo Paulo já dizia que, se alguém prefere não casar e, por conseqüência, não dar início a uma nova família, nisso não peca. Beleza. A liberdade desta escolha está inclusa no que denominamos livre arbítrio. Mas existe o grupo – e eu me incluo nele – que vê nesta posição anti-filhos uma coisa meio de frustração, de vazio. Parece-me um negócio estranho demais alguém querer ir contra tudo o que se faz normalmente desde que mundo é mundo. E além do mais, ela usa argumentos absurdos, como, por exemplo, que ter filhos num país rico é um tipo de atentado ao meio-ambiente, já que a população aumenta e o consumo cresce obrigatoriamente… Meu Deus, que drama! Todavia, para que você tire suas próprias conclusões, leia abaixo a íntegra da entrevista que a agência O Globo fez com Corinne. Em tempo, ela mesmo é mãe de dois adolescentes, mas dizer que se arrepende bastante disso faz parte de seu discurso.

 

 

O Globo – Das 40 razões para não ter filhos, quais as três que você considera as principais?

Corinne – Os filhos exigem tanto tempo e energia dos pais que impedem eles de fazer um monte de coisas: mudar, viajar, ter uma vida de aventura, se enfiar na política, ganhar dinheiro… tudo isso é difícil quando se tem filhos. Principalmente para as mulheres. Não as avisamos o suficiente que elas serão prisioneiras dos filhos por 20 anos.

 

O Globo – Por que uma mulher que opta por não ter filhos é considerada suspeita, fraca, medrosa ou doente ainda nos dias de hoje?

Corinne – São preconceitos de gente sem imaginação. No século 20, mulheres como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt ou Alexandra David-Neel tiveram vidas interessantes e escolheram não ter filhos. Elas não eram nem fracas, nem medrosas.

 

O Globo – Você admite que em alguns momentos se arrepende de ter tido filhos. Que tipo de reação essa declaração provoca?

Corinne – Isso choca algumas pessoas. O discurso esperado é: eu sou preenchida (plena) pelos meus filhos. As crianças dão sentido à vida? Tenho dúvidas. Pode ser para uma minoria de pessoas, mas não para todas. Seria muito simples e um pouco decepcionante: a espécie humana estaria na terra unicamente para se reproduzir? Não é um pouco limitado?

 

O Globo – Para você, o que motiva as pessoas a terem filhos: os antigos dogmas ou o que chamou de baby-business? A paternidade é, mesmo, um aliado objetivo do capitalismo?

Corinne – Muita gente quer filhos: talvez seja um meio de fazer como todo mundo, de se integrar à sociedade. Talvez seja um meio de se projetar no futuro. Mas não existem outros meios como, por exemplo, fazer o que a gente realmente gosta? Ter filhos conforta a ordem: as crianças estimulam os pais a consumir sempre mais para provar que eles são bons pais. E também, quando somos pais, estamos tão ocupados em ganhar a vida e educar os filhos que a gente não tem tempo para pensar em mudar o mundo ou imaginar uma outra sociedade.

 

O Globo – Você diz que existem 40 razões para não ter filhos; há ao menos quatro razões para tê-los?

Corinne – Talvez,  mas não é meu métier de falar disso. Eu escrevo ensaios para fazer refletir (ou incomodar), não hinos à família.

 

O Globo – Alguém já disse que você se sente uma péssima filha e uma péssima mãe e por isso escreveu o livro? Qual seria sua resposta a isso?

Corinne – Me acusam de ser uma mãe ruim por causa desse livro. Tudo bem, isso me faz rir. As boas mães são as que não se questionam? Além do mais, as boas mães existem?

 

O Globo – Você afirma que um filho é capaz de acabar com a vida sexual e o desejo de um casal. Que tipo de reação você queria provocar, ao misturar num mesmo livro dois tabus – maternidade e sexo?

Corinne – Nenhuma, eu só disse que a verdade, com humor, sobre a vida sexual de muitos dos pais.

 

O Globo – Por que afirma que ter um filho num país rico é um ato não-cidadão?

Corinne – Porque o planeta já é superpopuloso e não necessita das nossas maravilhosas crianças. Seria preciso fazer as pessoas que decidem ter crianças pagar mais impostos. Na verdade, os pais acabam pressionados a consumir mais (carro, casa, gadgets, etc) e o meio ambiente sofre.