Pelotismos e pelotices

Quem é pelotense nato, como eu, ou mora aqui há certo tempo deve estar se divertindo bastante ao acompanhar a campanha publicitária de um empreendimento que está em vias de inauguração na cidade. Feita no Facebook, a série de propagandas mostra o jeito peculiar que Pelotas tem de se comunicar. Claro que muito do que está ali pode ser confundido com o que é dito no resto do Rio Grande do Sul (como o “cacetinho”, o “guisado” e o “negrinho”). Mas, temos, sim, expressões que bem podiam ser apelidadas de “pelotismos” ou “pelotices”, que o digam o “partiu o Guabiroba”, o “te desse”, o “merece” e o “bem capaz”.

Além de provocar boas recordações, a iniciativa traz um sem número de expressões semelhantes à memória. Me peguei com bloco e caneta na mão dia desses anotando o que poderia caber exatamente na ideia daquelas propagandas. A torneira que chamamos de “pena”, o armazém que apelidamos de “venda”, o glacê que denominamos “merengue”, o rabo-de-cavalo que, pra nós, é “colinha”.

Há uns dez anos, uma amiga carioca, recém-chegada na cidade, se surpreendeu ao ouvir o elogio de uma pelotense à sua filha que tinha cerca de dois aninhos: “Que nojo!”, disse a mulher. A expressão dela, no entanto, não era de asco, mas de quem acabava de achar a guriazinha fofa demais, lindinha, quase uma bonequinha. Minha amiga deduziu, portanto que, para os pelotenses, “que nojo” também pode ser sinônimo de “que amor”, “que graça” ou coisa que valha.

Sim, ela estava chegando à terra em que ponto de ônibus é “paragem”, geada é “cerração” e inseticida é “flit” ou “xispa”. O que o resto do Brasil chama de manta, para nós é “coberta” ou, até, “sono leve”. E a nossa “manta”, para eles é cachecol.

Pelotas tem dessas coisas. Lembro do tempo em que 07 de setembro era data mais que certa no calendário para reunir as famílias para assistir à Parada da Juventude na Avenida. A atração mais esperada? “A Banda da Escola”. Ninguém precisava perguntar a que avenida, a que banda ou a que escola nos referíamos. Estava subentendido: a “avenida” era a Bento Gonçalves e a “banda”, a marcial da “escola”, a Escola Técnica Federal de Pelotas – que já foi CEFET e hoje atende pelo nome de IF-Sul. Conheço, inclusive, quem, ao completar a maioridade, se surpreendeu ao saber que Pelotas tinha, sim, outras avenidas e que a Bento não era exclusiva.

Só quem é daqui entende o que queremos dizer quando falamos de “Curva da Morte”, “Bairro Cidade”, “Guabi”, “Bonja”, “Donja” ou “Avenida Interbairros”. E aquela rua que lá na capital, Porto Alegre, chamam de “Marechal”, pra nós é apenas “Deodoro”. Deve ser porque nos sentimos mais íntimos.

Taís Brem

Texto publicado também no site Reportchê.

74 comentários em “Pelotismos e pelotices”

  1. Ler um trabalho como este transmite um sentimento tão gostoso. Lembrar de características que só tem quem mora por estes lados de Pelotas. Belo e empolgante trabalho. Tá na barca, he he!!!

  2. Vamos engrossar está lista de pelotices. .Fazer um lanche no BICÃO. Dar um rolê na Cohabipel. Desfile 7/09. Aí vem o Diocesano. Aí vem o Galinha Gorda( Gonzaga, minha escola querida) Comer um keke com leite. Ah! Recheada de mortadela. Comer um esquimó da cremesul.(Aninha, Élio Silva) Era muito bom. DICA: Ouça a música “Pelotas, do Kleiton e Kledir. É só pelotices. Saudades da minha terra.

      1. E o quequi, e a bicha, as pompas fúnebres, o carpim, onde ficam, ficaram esquecidos?

    1. Faltou minha escola querida…..”Aí vem a banda dos GATOS PELADOS”…..lembro outra tbm…..”Hoje tem jogo na Baixada”……

  3. Quando falamos de localidades não consigo deixar de pensar no QUADRADO como algo muito nosso, onde mais iriam ir matear em um retângulo cheio de água e ainda chamar de quadrado?
    E só poderia ser na cidade do doce que deixaríamos de falar repugnado para “pelotizar” o termo como repunar.. que está oficialmente errado.. mas vai corrigir alguém para ver. hehehe
    post joinha.. só quis ajudar na listinha das nossas pelotices 😀

  4. Adorei o texto, parabéns. Lembrei de outra expressão a Clorofina, que fora dai chama-se água sanitária, admito que mesmo morando fora de Pelotas a 10 anos ainda falo Clorofina. Amo nossa cidade, volto todos os anos para ficar junto de minha família e adoro sempre.

    1. Também falo clorofina!!! E fico feliz da vida quando posso dizer “merece” sem que me olhem com cara de espanto!! Hehrhe

    2. Chegar em Caxias e pedir pra tu comprar KiBoa no mercado e tu olhar com cara de: QUE?!?!?!?!?! é a mesma coisa.. .hehehehe daí cheguei no mercado, olhei e disse: Bah, mas é Clorofina com outro nome.

  5. Sou pelotense também, mas faltou uma que é muito importante rsrsrs
    Que “mandinho” (menino) chato.

  6. Está faltando mais atenção com os verbos já que costumam dizer é escrever por exemplo “”escrevesse em lugar de escreveste, falasse quando o certo é falaste e, por ai vai….

    Edda.bertoní@hotmail.com

  7. De forma “soft” e sem muito “rodeio” a pontuação da geografia da cidade foi contemplada. Por outro lado, o linguajar
    Foi bem lembrado. Parabéns pelo texto.

  8. Guri, quando noutras glebas falam menino – e mandinho além de menino já citado, também é peixe pequeno ( peixinho, o que se pesca com anzol, que chamam de ” mosquinha “, a batida que é a mesma vitamina em outros locais ( nescau, leite e mistura de frutas ), chinelo de dedo, pinta que é terno ( casaco e calça do mesmo tecido ) fazendo que é tecido.

  9. Ótimo texto!!! Amei…saudades da terrinha amada. Mas gostaria de saber qual a campanha publicitária, pois não moro mais em Pel.

  10. Amei o texto. Colocaria ainda as expressões: “vais te pisar”, termo que faz alusão a quem vai cair e “tri bom”, para quando alguma coisa esta muito gostosa. Adoro! É bem daqui…

  11. Muito oportuno o texto, boas lembranças…Lembro quando Mandinho, jogando futebol no Campo do Fiação e Tecidos, lá perto do Porto, ME PISEI , Não rara as vezes que não ME PISAVA…( Machucar ) . Pelotice pura. Saudades.

  12. Bela abordagem sobre Pelotas. Realmente nosso “palavreado” nos acompanha por onde quer que estejamos. Ao ler o texto dei boas risadas e fiquei muito emocionada com a citação sobre a “Parada da Juventude e a banda da Escola”, pois belas recordações me vieram à mente. Sou Pelotense mas moro fora do RS e as “pelotices” nao saem do vocabulário, então é preciso explicá-las para que os outros nos entendam. Agora, se me permites uma observação, sugiro alterar o texto conforme segue: “Além de provocar boas recordações, a iniciativa traz uns cem números de expressões semelhantes à memória. “. Abraço.

    1. Olá! Obrigada pelo comentário. Sobre a observação, a grafia está como “sem número” porque não faz referência ao número 100, literalmente, mas a “incontáveis” expressões, algo que não dá para numerar, que não teríamos como contar. 🙂

  13. Mas bahhhhhhh tchê! Que lindo este texto! Embora há anos morando fora de Pelotas, volto todos os anos e tenho orgulho de ser pelotense. “Gato Pelado, “Galinha Gorda”, “Canarinhos da tia Alice” apelidos das escolas, cusco para cãozinho vira-lata, “Igreja Cabeluda” e tantas outras expressões que só pelotense conhece. parabéns.

  14. Esqueceram da frase: Não tem emprego aqui em Pelotas, é facil falar saudades da terrinha, quem não mora mais aqui, mas foi pra outro lugar porque aqui não há reconhecimento aos nossos profissionais. Pelotas virou cidade de aposentados e concursados. Adorei as nossas gírias, realmente sao diferentes. Mas ter orgulho dessa cidade quebrada, mesmo sendo pelotense é demais.

  15. Uma amiga de Porto Alegre que foi para a Fenadoce disse demorou a entender o “merece” depois de dizer “obrigada” para as pessoas! Ri muito lendo as expressões. Já gostei da campanha!

  16. Falando em peixe , a gente pescava no Arroio Fragata Lambari,”Tambica(tbm conhecido como dentuço)Cará-Cará , jundiá …andávamos de Mobilette e de “Fubica” (Ford mod.A).Assistíamos no carnaval o Jacaré do Fragata e o Aguenta se Puder(maior bloco carnavalesco que Pelotas teve )enfim , parabéns por tudo que vi e lembrei que , muitos de nós pelotenses , até hoje ainda usamos essas expressões !

  17. KKK Máximo, adorei achar essa matéria que foi compartilhada no face por uma querida amiga… mas li tudo e não achei algo peculiar…
    Por exemplo, quando te perguntam de onde tu és, a gente (Pelotenses) respondemos.. Eu sou “di” Pelotas.. se fosse de Bagé, seria sou “de” Bagé, ou no caso de Herval, como minha mão.. sou “do” Herval.. mas a “DI Pelotas” é ótima… Parabéns pela iniciativa.

  18. Tem mais algum lugar onde usem “super” pra falar de supermercado ?

    Eu digo “vou ter que ir no super” e me olham atravessado… 🙂

  19. Adoramos a matéria, moro em Santa Cruz do Sul e frequentemente falo pelotices como: merece, falastes, dissestes, clorofina, capaz, e guardanapo(pano de copa aqui), amo Pelotas, amo ser pelotense!!!!

  20. Quem não lembra de alguém dizer errado que vai pegar uns “peugo” (pregos) e umas “taubinha” (tábua pequena) pra fazer um carrinho de rolimã?

  21. Muito legal, podemos acrescentar “naco” de torta ao invés de fatia, vamos de “Princesao”, referência carinhosa ao ônibus que faz ou fazia a linha Porto Alegre/Pelotas, Calça de ” brim coringa” como dizia minha saudosa avó, e por aí vamos com estas expressões tão peculiares de Pelotas e arredores, como Cangussu, terra amada dos meus familiares!

  22. Tri legal o texto E essas 2 alguém lembra ? O Patronato (escola agrícola) e As Linguarudas do Pepino ( no carnaval) ?

  23. Adorei a matéria, achei tudo verdadeiro, também uso muitos destes vícios e costumes Pelotenses, porém acho que faltou um outro muito comum ( Trí-Legal). Acho muito bom !!!

  24. Dar uma ” chegada ” no DELFIOL – casa mais tradicional de fotografias já tida na cidade de Pelotas.

  25. Foi dito todos nossos palavreado neste texto….me deu vontade de comer cacetinho da padaria! kkkkkk

  26. Muito bom! Só prá colaborar, gostaria de dizer que a “escola” referida no texto, na verdade era Escola Técnica de Pelotas, a ETP…

  27. Ainda faltou o “omo” (para sabão em pó), a “cancha” para (quadra) de futebol e o tradicional”cara” para pessoas!…

  28. Tinha a Casa Norma, onde havia um painel com um burrinho dando coice e dizendo “Só eu não compro aqui”, a loja Cintos Cruzeiro e o Foto Rápido Grande Hotel que ficava no porão do Grande Hotel. Tomar uma batida com bolinho de saúde era o máximo

  29. Minha mãe perguntava se eu queria sopa ou só comida seca. Comida seca era atribuído a refeição comum tipo arroz, feijão, bife, etc

  30. GOSTEI DEMAIS DESSES COM ENTARIOS DEIXA A PESSOA MUITO FELIZ DE SER PELOTENSE ……………….

  31. É SÓ SAIR DE PELOTAS E VER QUE NÃO É SÓ AÍ QUE SE FALA ASSIM, O QUE REALMENTE TEM DE PELOTENSE NESSE TEXTO É O EGO.

  32. Jogar bolinha de unha ( Bolinha de gude) Guisado ( carne moída) Lavar roupa na tina (barril cortado ao meio servia de tanque) Latrina,(banheiro) Brincar de passa passará – vou comprar um disco no Bazar Edson , vou no Bazar da Moda ( Lojas Mazza) comprar uma fatiota nova.

  33. Adorei!!! Acabei de chegar de Pelotas… E fiquei com saudades de novo !!!
    A 17 anos em Porto Alegre ainda tenho saudades dos baurus nos bicão da Avenida!! Parabéns!!!

  34. Hehe muito bom, falo todos e mais uns e tem o “abano” fulano está te abanando, aqui no PR é aceno

  35. “a campanha publicitária de um empreendimento que está em vias de inauguração na cidade.” – Por que não diz qual é, não posta o vídeo pra quem não conhece poder se divertir também?

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