Um lugarzinho no céu

É certeiro: morre uma celebridade e, no dia seguinte, lá está, no miolo de grande parte dos jornais, uma charge com a personalidade sendo recebida por uma multidão de anjos, por São Pedro e pelo próprio Deus. No céu, é claro. O cenário é sempre o mesmo. O que variam são as apresentações. Hebe Camargo, morta em setembro, por conta de complicações do câncer de peritônio contra o qual lutava desde 2010, foi homenageada inúmeras vezes dessa forma pelas publicações brasileiras.

Houve cartunista que deu ênfase ao seu principal bordão – “Gracinha!” – ao desenhar a apresentadora cumprimentando seus mais novos anfitriões. Houve quem focasse noutra de suas marcas registradas, o famoso selinho. Em algumas ilustrações, Hebe apareceu tascando um beijo no Criador. Noutras, mais comportadas, Ele conseguia fugir dela. Em síntese, nada que desse muitas asas angelicais à criatividade.

O desenhista Maurício de Sousa omitiu as nuvens do desenho feito para homenagear a dama da TV, mas, no comentário postado em sua conta do Twitter, registrou sua convicção de que a loira estaria brindada com um espaço na parte boa da eternidade: “Hebe passou gloriosamente pelos portões do céu. Documentação de toda uma vida em ordem para continuar a distribuir graça e alegria por lá”. Sousa fez coro com as dezenas de outras personalidades que também proferiram palavras do tipo. E assim o é, cada vez que o planeta Terra perde um habitante famoso.

Obviamente, não cabe a nós, reles mortais, discutir se Hebe Camargo foi ou não para o céu. Até porque, alguns de nós nem mesmo acreditam na existência dele. Mas é interessante observar como os chargistas reagem frente a ocorrências como a morte de pessoas que fazem história popularmente. Talvez seja mais fácil – e menos polêmico – sempre cair na mesmice de garantir um lugarzinho no céu para as celebridades falecidas que arriscar, como fazia Miguel Falabella quando apresentador do Vídeo Show, que alguma delas foi para o “andar de baixo”. Se bem que Falabella restringia esse destino apenas para políticos de muito má índole, estilo Hitler, ou para pop stars que tinham, assumidamente, uma certa simpatia pelo Cão. Pensando bem, não fora nada muito surpreendente.


Taís Brem