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O meme do ano que mal começou

Página Diferentona passa de meio milhão de curtidas e vira febre na Internet
Página Diferentona passa de meio milhão de curtidas e vira febre na Internet


Caso 2016 terminasse neste exato momento, ao falar em retrospectiva, seria indispensável mencionar a página Diferentona como o meme do ano. Ela pode até soar chata e repetitiva depois de algumas postagens, mas o fato é que, agradando ou desagradando os internautas, não se fala noutra coisa na rede nos últimos dias. Trata-se de um deboche à exclusividade que algumas pessoas acham que têm em determinado assunto. “Só eu que faço papel de trouxa?”, “Só eu que nunca acampei?”, “Só eu que sofro nesta vida?” e “Só eu que amo frio?” são alguns exemplos das questões levantadas pela página e respondidas com muito bom humor. “Sim, só você. Diferentona. A rainha do gelo. A coração frio. Frozen. Toma aqui seu certificado de amante do gelo”, arrematou a postagem do dia 03 de janeiro.

Postagens ironizam supostas exclusividades (Foto: Divulgação)
Postagens ironizam supostas exclusividades (Foto: Divulgação)

Diferentona é uma página de humor, embora esteja definida como “Artes e espetáculos” no Facebook. Sua ilustração principal mostra uma versão da famosa deusa Vênus pintada por Botticelli, revirando os olhos, como tipicamente se faz quando se acha algo bizarro. A origem exata da brincadeira é desconhecida, mas é possível que tudo tenha começado no Twitter, quando a usuária @nicesthing, em novembro do ano passado, irritada com os comentários do tipo “será que eu sou a única pessoa que…”, respondeu: “Sim. Só tu. Just you. Pioneira. Inovadora. Vanguardista. 7 bilhão de pessoa [sic] no mundo mas VC”. O tuíte se espalhou e a brincadeira se expandiu, gerando a tal página do Face (que, enquanto este texto era escrito tinha mais de 700 mil curtidas), um perfil no Twitter (com 24,4 mil seguidores) e um no Snapchat, entre outras cópias, como as páginas Diferentona Indelicada e Esquisitona, para não citar as homônimas que seguem o mesmo padrão de posts. “A questão dos virais é sempre complicada, é muito difícil apontar os elementos que o constituem. Justamente por isso, tantas empresas falham tentando produzi-los”, explicou a jornalista e mestre em Letras, Taiane Volcan, 27. “Os virais são influenciados por um alinhamento de fatores, como momento histórico, padrões consideravelmente estáveis no ambiente da rede social e uma sacada que não pode ser nem simples demais, nem complexa demais, pois precisa se popularizar entre os diferentes grupos que constituem a rede”.

Embora faça tanto sucesso, tem quem esteja achando que Diferentona não durará muito mais, afinal as postagens já estariam soando enjoativas. Taiane, que atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e desenvolve pesquisas sobre discurso, humor e política em ambientes virtuais, considera que o fenômeno está seguindo um curso natural. “Um meme é um viral e sua tendência é não ter vida muito longa mesmo. Ele representa os quinze minutos de fama nas redes sociais. Todos atingem o seu ápice e depois tendem a enfraquecer. A página Diferentona está fadada a ter uma queda de popularidade, atingindo o seu ponto de estabilidade, que é quando uma página produz conteúdos interessantes, as pessoas acompanham e alguns [desses conteúdos], mais eventualmente, se destacam”, pontuou, ao citar que o mesmo processo ocorreu com outras páginas famosas, como Gina Indelicada, Dilma Bolada, Diva Depressão, entre outras.

Aproveitando a onda
Grande parte do público que curte e segue Diferentona não apenas aprecia as postagens, como interage, criando memes parecidos e ganhando, também, alguma notoriedade. Foi o que ocorreu quando a página brincou com a questão “Só eu não tenho celulite?”. Nos comentários, a usuária Fernanda Aquino fez a pergunta inversa, foi criativa na resposta e recebeu 104 curtidas. “Só eu que tenho celulite? Sim, só você. Miss queijo suíço. Xodó da Coca-Cola. Cratera lunar. A peneira humana. Brocada. Casa de cupim”. A atriz global Camila Pitanga confessou, em sua conta no Twitter, que até já entendeu como funciona a brincadeira, mas considera não ter a mesma habilidade. Os internautas não perdoaram. “Chegou a diferentona. Que não sabe fazer meme. A deslocada. Adultona”, disse um. “Só você, Camila. A pitanga estragada da pitangueira. A falsiane do Twitter. O palitinho premiado. A sensação do momento”, exagerou outro.

UFPel também valeu-se do meme (Foto: Divulgação)
UFPel também valeu-se do meme (Foto: Divulgação)

Além de reles mortais e celebridades, empresas e instituições
públicas também estão fazendo questão de aproveitar a deixa – a exemplo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), da Prefeitura de Olinda, do Governo do Rio Grande do Sul, do canal de TV paga Multishow, da marca de automóveis Jeep e da rede de varejo Ricardo Eletro. “No caso da Diferentona, existe uma estabilidade do uso de humor como forma de comunicação nas redes sociais que se apropria da capacidade do humor de comunicar e de tornar o que é comunicado mais palatável, pois permite brincar com essa questão da diferença de opinião e suaviza esse ambiente

Peça encomendada pela Prefeitura de Olinda (Foto: Divulgação)
Peça encomendada pela Prefeitura de Olinda (Foto: Divulgação)

de disputa que vinha pesando cada vez mais na rede, especialmente em função de discursos políticos e religiosos, bastante controversos e populares”, comentou Taiane. “Considero o Diferentona um viral extremamente importante, especialmente em um contexto de disputas discursivas tão ríspidas como tenho observado nas redes sociais. É um sopro de humor na nuvem de discursos de ódio da rede, que surge para nos lembrar que não somos os únicos que pensamos diferente, que sempre irão existir opiniões opostas e que, muitas vezes, é possível se divertir com isso sem necessariamente fazer um novo inimigo”.

Taís Brem
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*Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Graça sem graça

Mais de 60 mil pessoas já curtiram a ideia e para lá de 260 mil compartilharam. Embora não oficial, o movimento de uma fanpage chamada Mussum Sinceris propôs numa postagem, dia desses, que reprises do programa Os Trapalhões (que passou na Globo entre 1969 e 1994) substituam o humorístico Zorra Total, nos sábados à noite.

A bem da verdade, nunca conheci uma pessoa sequer que goste realmente do Zorra, que ria daquelas piadas sem graça, que ache que aquilo deva continuar no ar. A estatística que mostra a quantidade de gente que apoia a saída da atração da grade de programação da Rede Globo, por si só, poderia comprovar isso. Mas, levando em conta que é “apenas” uma proposta facebookiana, restrita aos usuários da rede social, há que se ter certo cuidado.

O que se sabe mesmo é que fazer rir, de verdade, está cada vez mais difícil. E isso, obviamente, não se restringe à emissora de maior audiência no Brasil. A Globo é somente mais um exemplo. O SBT é outro, com seu maior representante do gênero – A Praça é Nossa, criado na década de 1950 e no ar até hoje –, igualmente deficitário em termos de irreverência de qualidade. Em ambos os programas, os tipos são caricatos demais, os atores que os interpretam não têm, sequer, o domínio de controlar as próprias risadas enquanto encarnam os personagens e os textos são sofríveis. O pior é que essa tendência tem invadido outras atrações. As novelas, por exemplo. É óbvio que não é de hoje que os escritores incluem no elenco personagens com uma dose de humor – ninguém aguentaria apenas dramalhão nos folhetins. Mas, o que é Cláudia Raia naquele desespero interpretando a paranormal de Alto Astral? E Paulo Betti, com seu jornalista exageradamente gay na recém-substituída Império? Aguinaldo Silva declarou que estava orgulhoso da atuação de Betti e não conseguia vê-lo encarnar Téo Pereira sem gargalhar a milhões. Eu, como telespectadora, posso estar totalmente fora do padrão, mas discordo dele – a expressão “vergonha alheia” é a única que melhor define o que sinto quando os assisto.

Sílvio Santos diria que se o povo gosta desse tipo de atração, por mais sem graça e bizarra que seja, é isso que o povo vai ter. Afinal, se a audiência está garantida, o resto é mero detalhe. Os intelectuais, por sua vez, diriam que isso é menosprezar a inteligência do povo.

Talvez a Globo esteja testando a aceitação de programas mais antigos com ações como a aplicada no Vídeo Show, há alguns meses. Quem acompanha o programa já percebeu, com certeza que todo santo dia, após a saudação de Otaviano Costa, quem toma as rédeas é o clássico personagem de Chico Anysio, o Professor Raimundo, com sua Escolinha. Seria esse um sinal de que, a qualquer hora, podemos ser surpreendidos com o imortal quarteto de volta à telinha? Só revendo os episódios para saber se valeria a pena. À época da exibição original, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias faziam até o poeta Carlos Drummond de Andrade parar em frente à televisão. E isso não me parece pouca coisa. Pelo menos, poderíamos esperar programas um pouco melhores.

Taís Brem
*Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa.

Deu a louca nos eventos

Brincadeira online tem criado vários encontros criativos

Música da dupla sertaneja Leandro e Leonardo inspirou um dos eventos fictícios (Foto: Divulgação).
Música da dupla sertaneja Leandro e Leonardo inspirou um dos eventos fictícios (Foto: Divulgação).

Que a criatividade dos internautas é algo incrível, não é novidade. Mas o ano de 2015 começou com um diferencial a mais: ideias malucas, inspiradas em diversos elementos que povoam o universo pop – de músicas e ditados populares a propagandas de TV – estão tomando conta do aplicativo que permite criar eventos no Facebook.

Entre os usuários da rede, tem quem considere a febre perda de tempo. “Não tens mais o que fazer?”, perguntou um rapaz ao amigo que o convidou para um dos eventos. “Na real mesmo, não”, respondeu, com sinceridade, o outro. Contudo, há milhares que

Dito popular "me caíram os butiá do bolso" também foi lembrado (Foto: Alice Umbrella).
Dito popular “Me caíram os butiá do bolso” também foi lembrado (Foto: Alice Umbrella).

preferem tratar a coisa no nível da diversão e embarcar, de fato, na onda, confirmando presença no Debate Teológico para Averiguar se a Florentina é Mesmo de Jesus, na Marcha para Comprovar que “Eu não sou tuas nega”, no Encontro para Assistir ao Filme do Pelé com a turma do seriado Chaves e, até, nas Aulas de Canto com a Aracy da iogurteira Top Therm, a garota-propaganda que ficou famosa por sua voz, no mínimo, fora de padrão. Isso sem falar na Excursão para o Raio que o Parta, na Passeata pelo Bosque Enquanto seu Lobo não Vem e no Mutirão para Juntar os Butiás que Caíram do Bolso.

A busca pela liderança em termos de originalidade é concorrida, mas, talvez o contraditório Mutirão para Passar o Dia todo Confirmando Presença em Eventos seja um dos melhores candidatos.

E já que as altas temperaturas têm atingido o país de Norte a Sul neste verão, houve quem tivesse a brilhante ideia de promover o Manifesto Nacional para Trazer o Frio para o Brasil. Ótima iniciativa, não fosse por um detalhe: o evento está marcado somente para o dia 1º de outubro, época em que o verão já foi embora, o outono e o inverno já deram as caras e a primavera já está gerando aquele gostinho de “quero-mais” em relação à estação mais quente do ano.

Inspiração
Uma das características que marca essa onda facebookiana é a variedade de fontes utilizadas para a criação dos eventos fictícios. A diversidade é tanta que, de uma forma ou outra, todos acabam se sentindo inclusos no movimento. Você pode até não saber quem é Valesca Popozuda e, portanto, não entendeu o porquê de alguém organizar um culto para desejar que “todas as inimigas tenham vida longa”. Por outro lado, deve ter identificado, de pronto, o sarcasmo da Caravana pra Pegar o Primeiro Avião com Destino à Felicidadeda Festa no Gueto Pode Vir Pode Chegar ou, ainda, da Mesa Redonda para Debater o que é que a Baiana TemQuem quiser confirmar presença na brincadeira com a qual melhor se identificar, está com o ingresso ao alcance de um clique.

Taís Brem
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Entre o consumismo e o desapego

Moda dos brechós on-line é uma das maneiras de incentivar o consumo sustentável

(Foto: Divulgação).
Artigos são vendidos pela Internet a preços simbólicos (Foto: Divulgação).

A bem da verdade, ela considera que colaboraria bem mais para o fim do consumismo – ou para uma diminuição significativa dele em sua esfera de convivência – se promovesse um troca-troca de roupas, calçados e acessórios com seus conhecidos. Mas, como um dinheirinho extra é sempre bem-vindo, a opção foi mesmo por organizar um brechó on-line. Na roda, entraram peças que a jornalista Nathalia King, 28, não usava mais e estavam ocupando o espaço que ela precisava esvaziar, em função da mudança para um imóvel menor. A quantidade de bens era grande, assim como foi a coragem de colocar em prática o tal do desapego, conceito que tem viralizado dentro e fora das redes sociais.

Jéssica trabalha com moda e sustentabilidade (Foto: Arquivo Pessoal).
Jéssica trabalha com moda e sustentabilidade (Foto: Arquivo Pessoal).

A estudante do terceiro semestre do curso de Design de Moda da Universidade Católica (UCPel) Jéssica Madruga acompanhou a onda dos brechós virtuais desde o começo em Pelotas, há uns dois anos, e acha iniciativas do tipo super positivas. Funciona assim: pelo Facebook ou outros canais semelhantes as pessoas expõem fotos de coisas que não utilizam mais – seja porque deixaram de servir ou não agradam mais – e colocam os objetos à venda. “No início, havia quem quisesse ganhar dinheiro mesmo com isso. Mas, depois, as pessoas passaram a se desfazer de suas roupas por um preço simbólico, apenas para fazer circular essas peças de um jeito não-agressivo para elas e para o meio ambiente”, disse ela que, além de trabalhar com projetos que aliam moda e sustentabilidade, é cliente assídua de brechós físicos, também. “Esses artigos, de certa forma, terão seu período de vida útil aumentado, não serão jogados fora, serão reaproveitados. E, enquanto isso, as pessoas continuam consumindo, mas de um jeito mais inteligente do que só focado no acúmulo desnecessário”.

Nathalia King (Foto: Arquivo Pessoal).
Nathalia King (Foto: Arquivo Pessoal).

Na calculadora de Nathalia, o “preço simbólico” a que Jéssica se refere varia de R$ 10,00 a R$ 30,00, não muito além disso. “Primeiro, doei muita coisa. Depois, o  objetivo foi vender as roupas para que elas fossem usadas por pessoas que realmente as apreciariam. Pelo menos, os preços são bem menores [que no comércio convencional] e ninguém se endivida”, disse, divertindo-se. “Admito que comprar dá uma sensação maravilhosa, mas, hoje em dia, não me considero mais uma pessoa consumista, como já fui – e muito!. A gente vai crescendo, amadurecendo e tendo novas prioridades. Aprendi que, economizando, posso ter conquistas bem maiores do que a compra de uma peça de roupa, por exemplo. E essa é a mentalidade. O primeiro passo é se livrar dos inúmeros cartões de crédito. Depois, passar a valorizar o que realmente é importante, sem esquecer de fazer aquela perguntinha: ‘Eu preciso disso mesmo?'”.

Blusa foi vendida no Brechó da Nath por R$ 15,00 (Foto: Arquivo Pessoal).
Blusa foi vendida no “Brechó da Nath” por R$ 15,00 (Foto: Arquivo Pessoal).

Consumo equilibrado
A também jornalista Yéssica Lopes, 23, diz não se considerar alguém consumista quando se trata do que ela chama de “bens materiais mais práticos”, como roupas e acessórios. “A maioria das minhas roupas é presente de família, que ganhei no aniversário, Natal…”, explicou. “Atualmente, só compro quando realmente não tenho outra escolha. Muitas peças da minha mãe me servem e isso facilita na hora de eventos mais formais. Já no sentido de ‘prazeres do dia a dia’, sim, me considero consumista. Prefiro andar a pé e de ônibus e poder beber uma cerveja todo dia a ficar pagando prestação de carro ou algo do gênero”.

Yéssica Lopes (Foto: Arquivo Pessoal).
Yéssica Lopes (Foto: Arquivo Pessoal).

Todo esse desprendimento deu um bom incentivo para que Yéssica também fizesse uso do Facebook para “comercializar” alguns itens que estavam sobrando em seu armário. Ou melhor: armários, no plural mesmo. “Morei cinco anos em Pelotas e, quando retornei a minha cidade natal, Rio Grande, estava praticamente com dois guarda-roupas completos. Então, separei umas cinco malas de roupa e doei quase tudo! Com algumas peças, eu tinha algum apego, como o vestido que usei na minha formatura de Ensino Médio, por exemplo. E fui enrolando”. Até que, há aproximadamente um ano, Yéssica atingiu seu limite de estresse por causa da dedicação extrema à carreira profissional. “Chegava a ser superior ao que eu dedicava a mim mesma. Então, comecei a encarar a vida de outra forma. A forma que encontrei de conseguir entregar peças bacanas às pessoas e receber um valor quase que simbólico pela troca foi a maneira que consegui desapegar de roupas que, em muitos casos, nem havia utilizado. Daí surgiu a ideia do brechó”, relatou.

Calça jeans foi um dos itens comercializados no brechó "Praticando o desapego" (Foto: Arquivo Pessoal).
Calça jeans foi um dos itens comercializados no brechó “Praticando o desapego” (Foto: Arquivo Pessoal).

Obviamente, sua atitude acabou beneficiando a ela mesma e, as economias que fez, geraram uma poupança em que ela deposita verba para viajar de vez em quando e aproveitar a vida. “O mundo anda uma loucura sem fim. Acredito que toda e qualquer ação que tente reduzir o consumo seja válida, do copo plástico ao sapato. Não serei demagoga a ponto de querer que todos se vistam da mesma forma todos os dias. Eu não faria isso. Mas, algumas ações caminham para o equilíbrio e isto sempre será benéfico, disse Yéssica. “Tenho uma linha de pensamento bem simples: tudo em excesso faz mal. Resta saber qual é o limite de cada excesso que carregamos”.

A voz das estatísticas
Se levarmos em conta o que diz a pesquisa de mercado divulgada pelo Instituto Euromonitor International, não dá para colocar o consumismo de um lado e o desapego de outro, taxativamente, por mais contraditório que pareça. Um relatório chamado As dez tendências globais de consumo para 2014, que veio a público no início do ano, mostra, entre outros dados, que as pessoas continuam em busca da boa e velha sensação de saciedade que acompanha a aquisição de um novo produto. Por causa disso, as tais compras por compulsão ainda não viraram comportamentos extintos. Entretanto, já é possível observar que esses mesmos consumidores estão muito mais atentos ao impacto que suas compras podem gerar na sociedade e no meio ambiente. A divulgação de notícias de marcas internacionais que fabricam suas peças às custas de trabalho escravo em países subdesenvolvidos, por exemplo, tem colaborado para que as pessoas revejam suas ações e busquem apoiar causas política e ecologicamente corretas.

Brincadeira sustentável

Suélen, Alonzo e Valquíria (Foto: Edyd Junges).
Suélen, Alonzo e Valquíria (Foto: Edyd Junges).

Os irmãos Alonzo, 8, e Valquíria, 6, estavam empolgadíssimos com a chegada do Dia das Crianças semanas antes de o calendário de 2014 marcar, de fato, o 12 de outubro. Por outro lado, os dois já tinham a consciência de que, assim como ganhariam presentes na data comemorativa, tinham a missão de separar alguns itens usados para trocar pelos novos integrantes de sua brinquedoteca particular. Há cerca de dois anos, esse é um trato que eles têm com os pais, o casal de comunicadores Edyd, 28, e Suélen Junges, 29. “Nós dois conversamos e achamos que a melhor forma de ensinarmos eles a não acumular coisas em vão era incentivar a doar”, disse o publicitário. “Não só no Dia das Crianças, mas no Natal ou nos aniversários deles, vamos até o baú de madeira onde eles guardam os brinquedos e, se vemos que há um acúmulo muito grande, separamos aqueles que ainda estão em boas condições para ‘passar para a frente'”, comentou. “De tempos em tempos, damos uma esvaziada no baú”. E todos saem ganhando.

Taís Brem
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Arco-íris de opções

Desde quinta-feira (13), Facebook em inglês disponibiliza opções além do “masculino’ e “feminino” para usuários definirem seu gênero

 Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Bandeira-símbolo do movimento LGBT foi estendida na sede do Facebook, na Califórnia (Foto: Divulgação)

Quando resolveu abrir sua identidade sexual para o público, ano passado, o autor de novelas Walcyr Carrasco definiu-se como bissexual. Na ocasião, ele recebeu críticas negativas da comunidade LGBT, que achou que ele deveria ter se assumido gay, apenas. Para ele, a crítica não tem fundamento, uma vez que não podia simplesmente afirmar que os relacionamentos com mulheres que teve ao longo de sua vida não significaram nada. Por ter consciência de que é capaz de amar homens e mulheres igualmente, Carrasco, portanto, se diz um autêntico bissexual.

Daqui a pouco, o escritor e todos os outros indivíduos que consideram ter encontrado sua real identidade sexual bem longe do gênero ao que parecem pertencer poderão comunicar sua opção, também, em seu perfil no Facebook. É que desde esta quinta-feira (13), a rede social passou a oferecer mais de 50 opções de gênero para que seus usuários possam se definir sexualmente. Por enquanto, a novidade abrange somente os facebookianos americanos, mas deve se estender para os perfis de demais idiomas, em breve.

Mais de seis mil pessoas curtiram a postagem sobre a novidade na página Facebook Diversity e o anúncio ultrapassou os dois mil compartilhamentos. Na postagem, a empresa se diz orgulhosa de estar oferecendo aos seus usuários a oportunidade de se sentirem confortáveis sendo quem são. “Reconhecemos que algumas pessoas enfrentam desafios compartilhando sua verdadeira identidade de gênero com os outros, e esta definição dá às pessoas a capacidade de se expressar de forma autêntica”, diz o comunicado.

Como não poderia ser diferente, a mudança polêmica suscitou debate no próprio post. Muitos internautas se manifestaram a favor da novidade e sugeriram, inclusive, novas medidas, como a disponibilidade de opções para definir famílias modernas e relacionamentos abertos, como os baseados no chamado “poliamor”. Outros, entretanto, não veem progresso nenhum na medida. “São mais de seis mil pessoas que não têm ideia do que está entre suas pernas ou o que querem ser outra pessoa”, comentou um rapaz sobre os usuários que curtiram a postagem. “Não podemos misturar o que a pessoa é com o que ela acha que é ou o que ela quer ser. Preto e branco, cinza não!”, opinou outro internauta. “Senão, daqui a pouco, vamos ter que abrir opções para todo tipo de gente que acha que é uma árvore, o Elvis ou o Wolverine”.

As opções disponibilizadas até agora pelo Facebook não incluem as alternativas ironicamente sugeridas pelo usuário descontente. Mas, entre elas estão definições, como “transexual”, “intersexual”, “andrógino”, “cisgênero” e, até, “nenhuma das opções”.

Taís Brem

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O que Deus uniu, não separe o Face

Onda de casais que mantêm perfis duplos na rede social é cada vez mais comum

(Foto: Taís Brem)
Perfil “Ines Y Jorge” é um exemplo desse modismo (Foto: Taís Brem)

Se esse não é o seu caso, com certeza, sua lista de amigos do Facebook contém um ou outro perfil do tipo “João Maria da Silva” ou “Maria José Aguiar”, por exemplo. E não porque alguém resolveu se identificar na rede social com o nome completo que, por acaso, contém um segundo nome característico do sexo oposto. Mas, porque a tendência de unificar perfis na rede está cada vez mais forte entre os casais. A moda vale para namorados, noivos, casados e afins. Para quem está do outro lado, a opção é confusa, já que nunca se sabe ao certo com quem se está falando, de quem é o aniversário indicado, a idade e outras tantas informações disponíveis no Face que foram feitas para cada indivíduo em particular e não para duplas. Porém, quem aderiu ao modelo garante que está tudo bem. Ciúme, forma de controle, falta de individualidade? Que nada! Para eles, Mark Zuckerberg é que deveria se atualizar e criar opções para esse público que não se desgruda nem na hora de se conectar ao mundo virtual.

Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)

É assim com o agente de segurança Jorge Luis Padilha, 43, e sua mulher, a universitária Inês, 30. A ideia de criar o perfil duplo foi dela. E ele, por sua vez, quando soube, aprovou. “Para os casais que levam a relação a sério, a tendencia é aumentar [a escolha por esse tipo de perfil], pois a confiança entre eles é maior”, opinou Padilha. “Além do mais, não temos nada a esconder um do outro”, disse ele, ao comentar que, por enquanto, é Inês quem usa mais a conta, em função das informações acadêmicas que acessa pela rede.

Spohr: "Tudo depende da forma como o Face é usado" (Foto: Arquivo Pessoal)
Spohr: “Tudo depende da forma como o Face é usado” (Foto: Arquivo Pessoal)

Donos do perfil “Marcus Debora Spohr”, o jornalista e professor universitário de 34 anos e a cabeleireira e maquiadora, de 32, também são casados e, assim como Jorge e Inês, consideram positiva a moda de unificar contas nas redes sociais. “Ela me falava que queria um Face. Como eu já tinha, decidimos unir os dois nomes. Não tinha sentido manter apenas no meu nome, visto que eu e minha esposa vivemos em unidade”, explicou Spohr, ao frisar que a medida não deve ultrapassar limites: “O mútuo acordo sobre o que deve ser publicado é fundamental. Entendemos que o Face é uma ferramenta muito boa para se comunicar. No entanto, o que é bom pode ser, também, muito negativo. Tudo depende da forma que ele é usado”.

Particularmente, a psicóloga Ângela Luca Firmino Branco não vê com bons olhos a ideia do compartilhamento de perfis. “Cada um é sua própria singularidade e nas redes sociais não deve ser diferente. Alguns casais utilizam esse recurso, na minha opinião, como forma de controle do outro ou por insegurança, na ilusão de achar que o que é compartilhado ficará sob controle”, disse. “Ledo engano. Acho que a vida a dois pode ser suficientemente compartilhada em diversos momentos do dia a dia sem que cada um precise perder ou diluir sua própria identidade. É preciso ter claro até onde podemos e para quê precisamos expôr nossa privacidade. E, se optarmos por isso, precisamos ter claro a serviço de quê estamos fazendo”.

Para Ângela, a moda dos perfis duplos é mais um sinal de que, ao longo das décadas, as pessoas foram perdendo a noção de privacidade e individualidade. “Há alguns anos, antes da Internet e das redes sociais, brigava-se para que a informação fosse democratizada e compartilhada. Hoje, brigamos para que essas mesmas informações sejam privativas e não compartilhadas e precisamos mudar uma configuração para que nossa vontade se legitime. Assim, acredito que perdemos muito do nosso anonimato, nossa individualidade e tudo, inclusive meu ‘eu’ pode ser compartilhado, dividido, exposto, divulgado, universalizado. Meu perfil sou eu e mais alguém, um grupo, uma coletividade, deixei de ser um sujeito e passei a ser um grupo, deixei de ser completo para ser uma parte, deixei de ser inteiro para ser uma metade”, opinou. “Existem muitas vantagens nas redes sociais, a universalidade da informação facilitou muito diversos aspectos da vida moderna numa rapidez impressionante, mas ainda sou do tempo em que alguns aspectos da vida a dois combinam mais entre quatro paredes”.

Solução virtual

Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)
Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)

Tanto Inês e Jorge quanto Marcus e Débora concordam que seria muito melhor se o próprio Facebook oferecesse uma opção de perfil para casais. “Daria uma maior dinâmica de uso da ferramenta para os usuários”, disse Spohr. “E, aí, fica um perfil que envolve realmente os dois, com informações de data de aniversário, sexo, empregos, locais onde estudou etc de cada um”, completou Padilha.

A boa notícia é que, embora no formato de perfil as configurações sejam restritas apenas a indivíduos em particular – ainda que na teoria -, no modo “página”, é possível adaptar a opção para unificar perfis. “O próprio Facebook oferece páginas com perfil de casal ou sobre o relacionamento entre quaisquer dois amigos no Facebook, a partir da combinação das informações dos dois usuários. Funciona, também, para casais”, sugeriu a jornalista e professora do curso de Design Digital da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Gabriela Zago, 27. “Pela lógica, um perfil de casal deveria ser uma página, como as criadas para representar grupos ou associações. Embora seja uma prática que já vem de outras redes, como Orkut, acho [a tendência de unificar perfis] ruim. Dificulta o contato com outras pessoas e a interação na rede. Numa rede social, cada perfil deveria representar um indivíduo”, comentou.

Taís Brem

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Falatório

“Se você passa a vida lutando pelo dinheiro, você pode se tornar como São Paulo: rico e triste”.
David Coimbra, jornalista, ao opinar sobre o clima que define a capital paulistana.

“Se alguém disser que o que está acontecendo em relação à Copa no Brasil é positivo para o país, eu vou chamar de mentiroso”.
Romário, deputado federal e ex-jogador de futebol.

“Não tenho medo de envelhecer. Preciso de cada marca de expressão no meu rosto, sou atriz”.
Carolina Dieckmann, atriz.

“Entre abrir um champanhe e preparar uma mamadeira, a preferência tem sido pelas taças.”
Jarbas Tomaschewski,
jornalista, ao comentar a tendência atual dos casais que preferem não ter filhos.

“Todo mundo quer a felicidade, a cara-metade e emagrecer. Se existissem essas três pílulas, estaria tudo resolvido”.
Flávia Alessandra,
atriz.

“Eu me sinto num joguinho de videogame, onde vou mudando de fases e as dificuldades no meio do caminho vão aumentando”.
Luiza Rabello, ciclista porto-alegrense, ao desabafar sobre seu cotidiano na coluna Informe Especial, do jornal Zero Hora.

“Gente, ele conhece minhas músicas e disse que adora ‘Zen’… Choquei”.
Anitta, cantora, ao comentar como o conhecimento de Roberto Carlos a seu respeito a surpreendeu. A novata irá cantar com o Rei no tradicional programa de fim de ano da Globo.

“Depois, vou vender caju na praça Buenos Aires. Vou pedir emprego em jornal, mas não escrevo mais.”
Fernando Morais, jornalista e escritor das biografias sobre Paulo Coelho, Assis Chateaubriand e Olga Benário, ao anunciar que não quer mais escrever biografias para não se preocupar com a burocracia das autorizações.

“É inadmissível ficar um mês em fila de show de Justin Bieber e chegar atrasado pro Enem”.
Dilma Bolada, perfil fake da presidenta Dilma Rousseff no Facebook, aconselhando candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio.

“Experimentar, mudar de opinião é das melhores coisas do mundo.”
Gilda Midani, fotógrafa, produtora e estilista.

Taís Brem

Quem nunca?

Costume de reutilizar embalagens é uma das maneiras mais comuns de contribuir para a sustentabilidade

Embalagens ganham nova utilidade no ateliê de Letícia (Foto: Arquivo Pessoal)
Potes usados ganham nova utilidade no ateliê de Letícia (Foto: Arquivo Pessoal)

A sugestão da página na Internet era simples: quando o sorvete acabar, usar os potes como divisórias na gaveta e organizar as lingeries. Uma ótima forma de manter as roupas íntimas em ordem ao mesmo tempo em que se colabora com o meio ambiente. Afinal, melhor que descartar corretamente o lixo, é arrumar um novo jeito de fazê-lo útil – princípio básico da boa e velha reciclagem.

Até que alguém usou a postagem do Facebook para questionar: “E o feijão?”. Foi uma forma bem-humorada de lembrar que, além de servir como matéria-prima para artesanato e organização, as embalagens também ganham nova serventia na cozinha. Os potes de margarina que guardam o que sobrou do almoço e os vidros de extrato de tomate que viram copo estão aí na sua casa – ainda que escondidos no fundo do armário ou da geladeira – para confirmar a tese.

A universitária Inês Padilha, 30, aprendeu com a mãe, dona Carolina, o costume de guardar – quase – tudo para reutilizar depois. “Potes de sorvete, vidros, caixinhas, sacolinhas…”, enumerou. “Faço isso por dois motivos: por ter me acostumado a ver a mãe guardar algumas embalagens e, também, para ajudar na sustentabilidade”.

Letícia e parte de suas produções (Foto: Arquivo Pessoal)
Letícia e parte de suas produções (Foto: Arquivo Pessoal)

Aproveitar o máximo que pode das embalagens tidas como descartáveis também é lema na casa da artista visual e designer de superfície Letícia Costa Gomes, 37. E mais ainda em seu local de trabalho, o ateliê Pitanga Crafts, do qual é proprietária. “Eu reutilizo potes para guardar alimentos, porque os acho bonitinhos, vedam bem e são duráveis. Mas, também, uso no ateliê, para guardar materiais”, disse. “Uso até mais do que em casa”. Os materiais a que Letícia se refere são canetinhas, giz de cera, carimbos e afins que utiliza para produzir diversos acessórios exclusivos. As bandejinhas de isopor que antes guardavam queijo e presunto, agora servem para misturar tintas ou colocar cola, por exemplo. E os garrafões de água mineral, com capacidade para cinco litros, se transformam em potes para colocar prendedores e retalhos de tecidos. “Também uso muitos vidros. Tenho botões e outras peças separadinhas em vidros de molho de tomate”, comentou Letícia.

O hábito de praticar o reaproveitamento de embalagens já rendeu cenas inusitadas no cotidiano da artista. “Uma vez, fui num aniversário e as lembrancinhas vinham nuns potinhos plásticos. Peguei os potes de todo mundo, porque, como eram cupcakes, o pessoal comeu e deixou os potinhos para trás”, relembrou. Hoje, os recipientes têm nova utilidade e, dada a sua aparência estilosa, ninguém diz que, a essa hora, eles poderiam estar no lixo.

Caiu na rede
Não fosse a reciclagem, o descarte incorreto de determinados materiais causaria danos graves à natureza. E isso porque estima-se que as embalagens plásticas levem de 200 a 450 anos para se decompor. Se forem garrafas de PVC, esse período salta para 500 anos. E se o recipiente for de vidro, o tempo é indeterminado. No esforço de trabalhar contra um colapso ambiental, redes sociais, como o Facebook e os blogs, acabam sendo um disseminador de sugestões criativas para a reutilização dessas embalagens. E, também, uma vitrine para expor a popularidade desse costume sustentável, sem vergonha alguma. Há, inclusive, quem poste fotos na Internet com verdadeiras declarações de amor aos potinhos e vidrinhos, garantindo, por exemplo, que um copo que antes guardava geleia se sai muito melhor na hora de matar a sede que muita taça de cristal por aí. O meio ambiente certamente curte a iniciativa.

Taís Brem

Um shopping para chamar de nosso

Em 03 de outubro, finalmente, Pelotas assistirá à inauguração de seu primeiro shopping center

Shopping Pelotas será o primeiro da cidade (Foto: Taís Brem)
Shopping Pelotas será o primeiro da cidade (Foto: Taís Brem)

O shopping que leva o nome da cidade e o peso de ser o primeiro empreendimento do tipo a ser inaugurado em Pelotas estará aberto ao público a partir do mês que vem. A expectativa é enorme entre os moradores da cidade. Afinal, a Princesa do Sul, do alto de seus 201 anos, já teve de tudo: centro comercial, galeria, hipermercado e lojas que lançaram a escada rolante como novidade, excursões para a capital que incluíam passeios em shoppings e vários projetos que nunca chegaram a vingar. Mas, shopping mesmo, é a primeira vez.

Laureni Mendes (Foto: Arquivo Pessoal)
Laureni Mendes (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a maioria dos cidadãos pelotenses, a implantação de um shopping na cidade é positiva, uma vez que, entre outras coisas, é sinal de desenvolvimento econômico. “Vai proporcionar novas oportunidades de emprego e será mais um ponto turístico para os visitantes, sem contar que é um grande investimento para Pelotas”, opinou a dona-de-casa Laureni Mendes, 45. Sheila Teixeira, 19, concorda, principalmente, porque poderá impulsionar as chances para os jovens que nunca trabalharam. Porém, embora considere que o empreendimento será um marco para a cidade, a estudante não acha que o visitará com frequência, já que o Shopping Pelotas funcionará no bairro Areal e Sheila mora no Fragata. Para o jornalista e professor Jairo Sanguiné, o empreendimento dará vida à cidade. “Meu interesse pessoal são as salas de cinema, pois Pelotas é tida como polo cultural e ainda não tem salas de cinema de qualidade”, apontou. A expectativa do militar Igor Silveira, 19, é por variedade de entretenimento. Tendo algo diferente, como boliche ou área de pentibol, eu pretendo frequentar”, comentou.

Com apenas um pavimento, o Shopping Pelotas tem mais de 35 mil metros quadrados de área construída e conta com 172 lojas, seis âncoras, cinco megalojas, dois restaurantes, 14 fast-foods, cinco salas de cinema (sendo que duas são 3D) e 1.173 vagas de estacionamento. Por serem inéditas em Pelotas, as filiais das lojas Americanas e Riachuelo e da rede de fast-food Burger King estão entre as mais aguardadas pelo público.

Progresso ou retrocesso?
Na opinião de Silveira, a instalação do shopping em Pelotas é uma evolução. “Mas, uma evolução meio atrasada”, explicou. “Nós temos uma economia significativa para fazer o shopping render e, de uns tempos para cá, a economia da cidade, que está entre as maiores do Rio Grande do Sul, ficou mais forte. [Essa inauguração] Poderia ter ocorrido antes”. Na mesma linha, a psicóloga Marilei Vaz opinou que o “reboliço” feito pela população em torno da implantação do empreendimento soa como exagero. “Para uma cidade que tem tantos prédios bonitos e já viveu tanto glamour, inaugurar um shopping a esta altura é um retrocesso”. “Depois que municípios, como Lajeado, Passo Fundo, Novo Hamburgo, entre outras cidades menores já têm shopping há mais de dez anos, é, no mínimo, motivo para reflexão”, disse o administrador de empresas Marco Soares, 41, que é pelotense, mas, atualmente, mora na capital paulista. “A propósito, agora que Pelotas está inaugurando um shopping, o ‘comércio de rua’ está em alta”, comentou Soares, ao citar o sucesso da 25 de março, do Brás, da Teodoro Sampaio e da avenida Paulista, em São Paulo; do Saara, no Rio de Janeiro; e dos Open Mall, uma espécie de shopping de rua, famoso nos Estados Unidos e que, agora, ganha força na região de Campinas e Belo Horizonte.

Os envolvidos com o projeto, obviamente, não estão alheios a essa realidade. “Um shopping em Pelotas é aguardado há décadas. Por isso, posicionamos o shopping como uma novidade que veio realizar um sonho do pelotense, mas, sem esquecer que é uma iniciativa que nasceu localmente, que tem a cara de Pelotas e que, por isso, irá satisfazer totalmente nossa comunidade”, disse o diretor de criação da Incomum, Daniel Moreira, o Cuca.

Ação teve início em junho (Foto: Divulgação)
Ação teve início em junho (Foto: Divulgação)

A Incomum é a agência de comunicação estratégica que possui a conta do Shopping Pelotas. Na ação prévia feita para gerar envolvimento e movimentação na Fan Page, a agência utilizou expressões características da região. O primeiro passo foi dado no evento da entrega dos capacetes, em 20 de junho. Na ocasião, os convidados receberam um bolo inglês acompanhado de uma etiqueta com a frase “Não é bolinho, é queque”. “Dando continuidade a esse mimo, criamos a campanha no Facebook, onde, com a mesma estrutura de frase, fizemos 25 posts, publicados de 26 de junho a 29 de julho”, disse Cuca. “A soma do alcance de cada post da campanha foi de 208 mil pessoas. O mais exitoso foi ‘Não é vou embora, é partiu o Guabiroba!’, com um alcance de mais de 40 mil pessoas distintas, 653 compartilhamentos, 450 curtidas e 40 comentários”.

Hoje, a Fan Page do Shopping Pelotas, que ficou popular trazendo à memória dos pelotenses o “frege”, o “mandinho”, o “de primeiro” e a “recheada”, tem mais de nove mil fãs. A expectativa da agência é chegar aos 15 mil até o fim desse ano.

Antes tarde do que nunca
O publicitário Paulo Soares, 52, que também já deixou de morar em Pelotas há mais de 20 anos, torce para que o empreendimento dê certo. A respeito de uma provável resistência local a novidades, o publicitário opinou: “Não há lógica em rejeitar o progresso, se não há uma manutenção e um progresso do comércio nativo. Na Bahia, há uma rejeição à música internacional e até mesmo a ritmos brasileiros não baianos, mas, há uma força incontestável do axé-music, com todas as suas variantes”, exemplificou. “O comércio de Pelotas não oferece, nem nos produtos locais, doces, compotas, artigos de couro, alternativa moderna de compra, nem uma feira permanente, a não ser a dominical da Avenida [Bento Gonçalves]. Em Fortaleza, tem uma feira como essa funcionando todos os dias, das 17h às 23h. Na Praia de Boa Viagem, em Recife, também. Por que Pelotas não trabalha sua vocação turística? Por que o Mercado Público está fechado, um ano depois da previsão de reabertura? São coisas como essas que eu acho que justificam o atraso desse empreendimento”, enumerou. “O Shopping Pelotas será um sucesso se incorporar a cultura da cidade, o samba, inclusive. Se tiver uma política de inclusão de pequenos estabelecimentos, sem deixar de focar nos grandes. Se tiver linhas de ônibus e lotação para acesso fácil, eventos culturais, participação na vida da cidade. Se tiver a coragem de romper com a apatia e se posicionar como uma operação revolucionária”, sugeriu. “Assim esperamos”.

Alerta redobrado

Agente alerta para a prudência no dia da inauguração (Foto: Taís Brem)
Agente alerta para a prudência no dia da inauguração (Foto: Taís Brem)

A inauguração do Shopping Pelotas está marcada para o dia 03 de outubro. E, como a movimentação deve ser intensa no local, intensifica-se, também, a necessidade de prudência no trânsito. “Mesmo se tratando de uma rótula, há um uso excessivo da velocidade dos veículos e desrespeito à sinalização. Por isso, é necessário ter prudência redobrada. O local estará mais sensível a ‘acidentes’, em função do aumento do número de veículos e de pessoas”, lembrou o agente de trânsito Wilson Brem.

O Shopping Pelotas funcionará na avenida Ferreira Viana, 1.526, no cruzamento com a São Francisco de Paula.

Taís Brem

“Ruim é teu passadis”


Na última semana, uma grande fabricante de produtos capilares publicou, em sua página do
Facebook, a foto de uma garota com o penteado da moda: coque com fios bagunçados. A menina tinha cabelo liso e loiro. Muitas curtidas e comentários simpáticos depois, um, em especial, chamou minha atenção: “Acho que vocês deveriam começar a postar dicas para cabelos crespos. Só acho”, sugeriu uma consumidora. A empresa prontamente respondeu que sim, providenciaria dicas que se adaptassem às diversas necessidades das clientes. Foi quando outra consumidora resolveu levar para o lado da ignorância e se meteu na conversa: “Fulana, se seu cabelo é ruim, ninguém pode fazer nada por você!”.

O comentário ridículo teve pouco apoio – uns dois likes, no máximo. A maioria do feedback que a moça recebeu pela sua infeliz colocação foi de reprovação. Não abri a foto para saber se a primeira sugestão veio de uma negra. Mas, quando ela resolveu levantar a bandeira dos cabelos crespos, ficou rotulada, no mínimo, como quem tem problemas graves a cada vez que decide pegar um pente para domar as madeixas, como os proprietários do chamado “cabelo ruim”. Ainda que apenas uma pessoas tenha tido a coragem de expor esse pensamento.

A classificação dada aos cabelos de afrodescendentes não é nova. A variação “cabelo duro”, inclusive, já foi usada para preencher os versos de uma música popular muito cantada lá pelos anos 1990 – ruim, aliás, era a tal música. Alguns diriam que esse “modo de falar”, trata-se apenas de um costume cultural inocente. Mas, para outros, é uma prova de que o preconceito racial que dizem já não existir aqui no Brasil não acabou coisa nenhuma. Afinal, qual é mesmo a métrica que se utiliza para definir se algo é “ruim” ou não? Cabelo de negro é difícil de pentear, é fato. Mas, a palavra ruim carrega consigo um sentido tão pejorativo quanto o que acompanha expressões como “ovelha negra”, “imprensa marrom”, “denegrir a imagem”… É como se o senso comum bradasse que, “se é preto ou negro, basta para ser ruim”. De qualquer forma, como disse meu pai quando conversávamos sobre o assunto há um tempo atrás, a única coisa que destoa dessa realidade é a “grana preta”, que todos querem ter.

Velado ou descoberto, consciente ou inconsciente, o tema merece reflexão sobre a forma com que emprestamos nossas bocas para reproduzir comportamentos preconceituosos que só atrasam o progresso da humanidade.

Se Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, legítimo representante do humor negro, entrasse naquela polêmica facebookiana, seu comentário certamente seria: “Ruim é teu passadis”.

Taís Brem

Texto publicado também no Reportchê.