Quatro cabeças pensantes

Ainda hoje não sei – e também não me dei ao trabalho de procurar saber – porque os antigos vídeos-cassete eram classificados em duas e quatro – e talvez até mais – cabeças. De todo o jeito, essa qualidade deles sempre me chamou a atenção. Desde a primeira vez que ouvi a designação, quando criança, achei, no mínimo, engraçado.

Mas, além de me divertirem, as cabeças do vídeo-cassete ajudavam na tarefa de reproduzir filmes, transformando nossas humildes salas em mini cinemas. E também serviam para gravar coisas que considerávamos importantes. Lembra do botãozinho REC, sempre acionado para registrar finais de capítulos das novelas, reportagens interessantes de telejornal e célebres propagandas? O mais legal de tudo isso é que hoje em dia o produto das quatro cabeças pensantes está disponível pela internet, através do You Tube. Sim, porque, embora eu não tenha a dimensão exata de como essas coisas foram se acoplando por lá, imagino que tenham sido os milhões de arquivos pessoais de VHS dos aficionados por vídeos Brasil e mundo afora que originaram os baita acervos digitais a que temos acesso. E é maravilhoso poder digitar uma frase memorável de algum destes momentos legais de nossas infâncias e testificar “Puxa, eles têm isso aqui gravado também!”.

Desses registros, são as propagandas o que mais me chama a atenção. Quem não lembra do “elefante fã de Parmalat” que junto com o “boto cor-de-rosa e o macaco” fizeram um dos melhores comerciais de leite de todos os tempos? E o japinha simpático que contava, com a encantadora inocência de uma criança, como era o seu café da manhã – “eu gosto com açucra, porque o açucra afunda”? Isso sem deixar de citar a vontade que dava de tomar uma guaraná bem geladinha toda vez que a “pipoca na panela começava a arrebentar”. Agradáveis lembranças! Nessa hora, meu lado publicitário até tenta se manifestar para me influenciar a fazer uma segunda faculdade!

Triste é notar que aquela analogia da faca é muito real também no mundo virtual. Tal qual como o talher pode servir tanto para passar a All Day no pão quanto para sacrificar um mamífero – e inclua-se nisso o homem –, redes sociais como o You Tube também são usadas tanto para o que presta quanto para o que não vale um sabugo. Li outro dia que tá na moda adolescentes filmarem suas aventuras sexuais e postar na rede. A intenção é ver quem tem maior capacidade de atrair o olhar alheio. E assim eles, que ainda nem saíram das fraldas, disputam a audiência doentia de quem se delicia com a intimidade – e a imaturidade – dos outros. Perigo. Não somente porque é uma pouca vergonha. Deixando de lado, os julgamentos moralistas, o que mais choca é perceber que um ato impensado desses pode custar danos em todas as esferas, inclusive a emocional, que vão afetar pela vida toda. Esses adolescentes apenas se iludem com a possibilidade de estar curtindo a liberdade, mas, na verdade, estão sendo escravos da libertinagem. E pior ainda são os que nunca crescem. Lamentável. Para melhorar, oremos.

Taís Brem