Falando em Amy…

Amy Winehouse morreu. Disso todo mundo já sabe. Foi aos 27 anos (mais uma…), no último sábado (23). Pelo menos foi esse o dia em que a encontraram morta em sua residência. Há quase três anos, escrevi um texto sobre ela falando de sua auto-destruição notável e da expectativa de pronto falecimento que isso, naturalmente, acabava gerando em todo o mundo que acompanhou suas peripécias, sendo fã da grande artista que ela foi ou não. O comentário, meio profético, meio previsível, que fiz foi publicado no blog e também serviu para ilustrar uma das páginas de uma revista que produzi como parte de um trabalho acadêmico na época. A quem interessar possa, abaixo está a republicação do texto e a reprodução da página que teve participação especial do meu pai, Paulo Soares, no tratamento da imagem.
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Obituário
*Escrito originalmente em 15/09/08

Certa vez, durante uma aula de Jornalismo Especializado, ouvi sobre uma função muito interessante desempenhada por alguns profissionais da imprensa. Não lembro o nome específico, mas a síntese é mais ou menos a seguinte: existe um certo funcionário em veículos de comunicação designado para reunir várias informações sobre celebridades e pessoas de destaque mundo afora, com o propósito específico de ter material suficiente para servir de base caso a pessoa venha a falecer. Já viu aqueles links na internet ou trechos de reportagens que enunciam: “Saiba mais sobre a vida e a obra de Fulano?”. Então. É pra isso. Assim, se a pessoa morre de repente, ninguém precisa ficar correndo atrás de informações que resumam o que de fato fez a vida do indivíduo virar algo de destaque. Macabro? Tá, pode ser. Mas eu achei tão interessante que penso que curtiria fazer um teste neste departamento. Tirando a parte ruim – do ter de noticiar um falecimento –, ficar reunindo dados sobre a trajetória das pessoas, me parece muito atraente.

O professor desta disciplina chegou a citar exemplos que normalmente aceleram a função destes profissionais. Tipo, se é necessário ter um histórico, já de arquivo, para quando certos famosos resolverem bater as botas, nada mais sensato que ir procurar os alvos mais prováveis de uma fatalidade. Exemplos? O papa João Paulo II, com a saúde tri debilitada por décadas a fio, e a Dercy Gonçalves, pra lá de idosa, já deviam ter seus históricos preparadinhos muito tempo antes do que realmente foi necessário. Os Mamonas Assassinas, por sua vez… Quem poderia imaginar que eles morreriam assim, no auge da carreira, com todo o gás? O Airton Senna ainda era um pouco mais provável, porque tinha uma profissão arriscada. Mas os Mamonas devem ter dado trabalho pro tal setor que alimenta o obituário dos jornais, revistas, sites etc. Imagino que foi correria geral.

Enfim, esta baita introdução é fruto do que eu estava refletindo há alguns dias, quando li que a última internação da cantora britânica Amy Winehouse foi em função de uma overdose de maconha. Parece que ela fumou haxixe durante 36 horas seguidas. Isto mesmo: 36 horas! Conforme as informações que correram o mundo por meio do tablóide The Sun, a brincaderinha deve custar à moça danos cerebrais permanentes, porque, além de usar o derivado da erva danada, ela fez uso de crystal meth, proveniente da heroína. Os médicos temem que o corpo dela – bastante fragilizado por causa de tantos excessos repetidos – possa acabar com os ossos quebrados. Já imaginou que loucura? Os amigos mais próximos, que viram ela passar mal, disseram até que as convulsões que a garota sofreu lembravam cenas do filme O Exorcista, em que a protagonista era possuída pelo capeta. Meu Deus!

Chega a ser triste. Eu não conheço muito bem o tipo de música que ela canta, porque minha praia é outra, mas dizem – não uma, nem duas, mas muitas pessoas – que Amy está sendo tal qual um furacão na música mundial. E o que levaria uma jovem de carreira tão promissora a escolher um caminho tão tenebroso quanto o das drogas, se ela parece ter boa parte de tudo o que as pessoas normais dizem precisar para serem felizes? Já ouvi opiniões frias a respeito ao comentar que sinto pena de observar esta situação: “Coitada? Coitado de mim que não tenho dinheiro!”.

Não vejo por aí. O dinheiro e a fama de Amy são apenas fatores que aceleram mais e mais a sua queda. O que se vê é uma pessoa cada vez mais vazia e frustrada que usa até a altura do penteado para indicar em que pé anda a sua depressão. Detalhe: o cabelo aparece cada vez mais alto. Neste caso, melhor ser pobre, saudável e feliz.

Enfim, a vida movimentada e polêmica do furacão Amy deve estar colocando ritmo acelerado ao trabalho dos caras do obituário. Mas é claro que, na minha opinião clássica de crente, a solução não virá por meio de consultas psiquiátricas, medicamentos e internações. Muito menos no aumento da venda de seus álbuns. Quem sabe dar mais veracidade ao clichê “Só Jesus salva”? Esperemos os próximos capítulos.

Taís Brem