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Curso de Medicina permanece como mais disputado nos vestibulares

(Foto: Wilson Lima)
Índice de vestibulandos que escolhe a graduação é sempre alto (Foto: Wilson Lima)

Todo santo ano é a mesma coisa: é só verificar as listas dos cursos escolhidos pelos vestibulandos para testificar a imensa quantidade de pessoas que opta por cursar Medicina. Há quem, inclusive, faça um verdadeiro tour pelo Brasil, prestando provas do Oiapoque ao Chuí, na esperança de conseguir vaga em alguma instituição de Ensino Superior e, assim, realizar o sonho de exercer uma das profissões mais cobiçadas do mercado. Qual a motivação de tanto esforço? Pressão familiar? Busca por status? Retorno financeiro? Ou, puramente, vontade de ajudar as pessoas?

Maira concluiu a graduação em 1991 (Foto: Arquivo Pessoal)
Maira concluiu a graduação em 1991 (Foto: Arquivo Pessoal)

A diretora do Hospital Miguel Piltcher (HMP), Maira Piltcher, 47, é otimista. Para ela, que formou-se em 1991 pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), a maioria das pessoas que busca a área médica como profissão o faz por vocação. “Infelizmente, temos aqueles que realmente procuram a Medicina pela questão financeira ou por imposição da família. O que é algo problemático, pois posso garantir que ninguém é feliz ou faz bem aquilo que não faz por amor. No caso da Medicina, isso não só acarreta problemas pessoais como pode atingir o paciente”, disse.

A vontade de poder ajudar o próximo, entender e aliviar seus problemas, unida à necessidade de levar adiante o negócio da família também acabou por guiar Maira ao caminho que segue até hoje. O lado positivo é que sua escolha não foi abafada por uma visão fantasiosa da profissão. Ter crescido no ambiente característico, vendo seu pai, o também médico Miguel Piltcher, trabalhar muito e viver a intensa correria de plantões e urgências, a preparou naturalmente para a movimentação cotidiana que viria a enfrentar. “Aquilo já me fascinava”, relembrou ela, que acabou escolhendo uma especialidade que não lhe permite muito
descanso: ginecologia e obstetrícia.

Partos são atividade rotineira no dia a dia de Maira (Foto: Arquivo Pessoal)
Partos são atividade rotineira no dia a dia de Maira (Foto: Arquivo Pessoal)
Etiene conclui curso no fim do ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Etiene conclui curso no fim do ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Curiosamente, foi, também, o lado movimentado da profissão – academicamente falando – que estimulou Etiene Dias, 28, a querer seguir carreira como médica. Ela se forma no próximo mês, pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), e desde o início do Ensino Médio ficou fascinada pela possibilidade de trabalhar numa área que exige constante atualização. “Isso me atraia muito. Sei que muitas pessoas escolhem a área médica por esperar um bom retorno financeiro e algum status perante a sociedade. No meu caso, não pensei diretamente nisso, pois acredito que, quando se é um bom profissional, dedicado e competente, essas duas questões são uma consequência direta”, opinou.

Mudança de planos
Se Maira e Etiene sempre tiveram uma inclinação clara para a área da Medicina, com Carolina Malhão, 26, as coisas não foram definidas de forma tão simples desde o começo. Embora ingressar no curso mais disputado das faculdades fosse um sonho antigo, a vontade esbarrava no medo do vestibular e na ideia de que não conseguiria passar pela concorrência. Então, Carolina seguiu a profissão do pai: o jornalista Jorge Malhão. Depois de formada e tendo exercitado o talento genético tanto pelas ondas do rádio quanto pelas páginas do jornal, decidiu abandonar tudo e arriscar no seu sonho. “Ainda estou lutando para ter uma vaga na universidade, por isso não tenho muitos planos para depois de formada”, afirmou. Quando questionada sobre a possível razão para que a profissão de Medicina seja tão almejada pelos vestibulandos, Carolina comentou: “Claro que muitos são guiados pela vontade de fazer dinheiro. Mas, acredito que não há nada de errado disso, desde que não se abandone o humanismo tão necessário na profissão”.

Carolina deixou o Jornalismo para investir em seu sonho (Foto: Arquivo Pessoal)
Carolina deixou o Jornalismo para investir em seu sonho (Foto: Arquivo Pessoal)

Números
Raramente os altos índices de procura pelos cursos de Medicina nas instituições de Ensino Superior mostram alguma surpresa. De um modo geral, em várias regiões do país, do interior às capitais, o fenômeno observado é o mesmo: muita gente lutando pelas mesmas vagas. No início desse ano, por exemplo, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, registrou 451 candidatos inscritos para cada uma das vagas disponibilizadas para a graduação. Para 2014, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o índice é de 104 candidatos por vaga. Na Universidade Federal do Ceará, que tem a
sugestiva sigla “UFC”, a disputa também é acirrada: são 9.748 inscritos para 140 vagas. Já no processo que selecionará os novos alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para o próximo ano, há 57 candidatos disputando cada uma das vagas disponíveis para Medicina.

Em Pelotas não é diferente: nas duas universidades que oferecem o curso – UFPel e UCPel, a procura é bastante grande, tanto por estudantes daqui quanto por candidatos de outras partes do Brasil. Na Católica, por exemplo, que disponibiliza 90 vagas ao ano para a graduação, o índice de candidatos por vaga que era 22 em 2010 subiu para 36 em 2012.

Sonho familiar
Quando se fala em vida profissional dos filhos, para a maioria dos pais, o mais importante é que eles exerçam uma carreira que lhes deixe felizes. Mas, o desejo de um emprego que remunere bem também é um anseio. É o que mostra uma pesquisa feita recentemente pela rede social corporativa Linkedin. O levantamento, que colheu a opinião de 1.001 pessoas, mostra, ainda, que 35% dos entrevistados sonham em ver os filhos atuando como médicos ou como empreendedores, dirigindo o próprio negócio.

Taís Brem

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Muito além da “Biritis”

Em 2014, completam-se 20 anos da morte de Mussum. Mas, ao que parece, o legítimo representante do humor negro continua mais vivo do que nunca

mussumO próximo dia 19 de agosto será marcado pelo lançamento da cerveja artesanal “Biritis”, produzida em homenagem ao humorista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum. Um dos idealizadores e sócios da cervejaria Brassaria Ampolis, seu filho Sandro Gomes, acertou ao dizer que “com um garoto-propaganda desses, o sucesso da marca está garantido”, ainda mais nos dias atuais. Também pudera. Muito antes de a bebida sonhar em existir, várias homenagens póstumas já vinham surgindo na mídia, cativando, até mesmo, os que nem eram nascidos quando o país perdeu um de seus artistas mais engraçados.

Bastou uma enquete informal com a pergunta “Qual dos Trapalhões era o seu favorito?” para comprovar o que já estava implícito. Manfried Sant’anna sequer foi citado. O terceiro lugar ficou para o líder do grupo, Renato Aragão, com apenas um voto. Também já falecido, Mauro Faccio Gonçalves pontuou bem, graças a sua boa impressão junto aos fãs, aparecendo como segunda opção. Mas, é mesmo de Antônio Carlos o mérito do primeiro lugar. Traduzindo, não é exagero dizer que Dedé, Didi e Zacarias devem boa parte da popularidade do quarteto mais famoso da televisão brasileira ao personagem Mussum, mesmo às vésperas dos vinte anos de sua morte.

O contabilista Lázaro Ferreira simpatizava com o humorista pela identificação com a raça negra, o samba e o modo “diferente” de falar – o consagrado vocabulário com a terminologia “is”, que acabou gerando bordões como o “cacildis” e o “forévis”. “Considero que ele seria um comediante melhor que o próprio Renato Aragão, nos dias de hoje. E acho que, além de estar conhecendo o trabalho que ele fazia, a nova geração, que não o viu, somente ouviu falar, está gostando, aprovando e se identificando”, destacou.

O universitário Anderson Rodrigues, que tinha apenas sete anos à época da morte de Mussum, concorda: “Ele é ‘o cara’. Penso que é importante manter viva a memória desse humorista e é uma excelente oportunidade para as novas gerações conhecerem”, disse, sobre a faixa etária na qual ele mesmo se inclui.

Na infância do músico e fotojornalista Solano Ferreira, 37, a influência do seriado foi tão intensa que, até hoje, sempre que presencia uma cena desastrada, ele faz questão de puxar a trilha sonora que marcou a abertura do programa. “Meus domingos eram divididos entre antes e depois dos Trapalhões. Inclusive, chorei quando os dois integrantes [Zacarias, em 1990, e Mussum, em 1994] morreram, porque os quatro para mim é que faziam a diferença. Juntos, eles eram insuperáveis. É que nem separar o Gordo do Magro ou um dos Três Patetas, que eu também sou super fã!”, comentou.

Weilla considera o humor do passado mais inocente
Weilla considera o humor do passado mais inocente

Para a atriz Weilla Martha, 28, Mussum e Zacarias eram os prediletos. Porém, os jargões e as frases de expressão próprios de Antônio Carlos cativavam mais sua atenção. Motivo pelo qual ela diz considerar o artista tão querido até hoje. “Acho que muitas das brincadeiras daquele tempo eram feitas com mais inocência em relação a hoje em dia. Então, nós, ‘os mais velhos’, temos boas lembranças daquele tempo engraçado”, disse ela, que também trabalha com humor na maioria das personagens que interpreta nos espetáculos da Cia de Artes Nissi.


Caiu na rede

Paródia do presidente americano foi divulgada na rede
Paródia do presidente americano foi divulgada na rede

Além de fazer carreira na televisão e no cinema como humorista, o carioca Mussum era integrante do grupo Originais do Samba e fazia questão de ressaltar seu amor à escola carnavalesca Estação Primeira de Mangueira. Quando morreu, em julho de 1994, por complicações no coração, o acesso à Internet ainda não era nada comum. Ainda assim, hoje até ele tem seu espaço garantido por lá. Uma das iniciativas da rede que mais deu certo, brindando fãs e arrebanhando novos admiradores, foi a divulgação de uma série de montagens que mesclavam o rosto do humorista com o de diversos famosos ou em cenários característicos. A boa ideia gerou figuras engraçadas, como o “Obamis”, o “Anderson Silvis”, o “Harry Potis” e a “Ana Maria Braguis”. Um excelente viral, como são chamadas as febres que estouram no ambiente virtual. “Eu acredito que é uma tendência bem forte essa retomada de alguns ícones. As páginas do Facebook que utilizam bastante esse método são super ‘pops’ e deslancham com muita facilidade. Com esse sucesso constatado, a publicidade se apropriou e fez o mesmo com o Mussum, usando a comédia”, opinou a jornalista, pesquisadora de redes sociais e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (PPGL/UCPel) Taiane Volcan. “Foi a velha regra da apropriação e, claro, um pouco de sorte”.

E bota sorte nisso. Na mesma época do famoso viral da Internet, em 2012, a agência de publicidade pelotense Santa Anna elaborou uma campanha de Natal para a loja Otros Aires. “A ideia era associar o Mussum, personagem-ícone dos anos 1980 e querido pelo público-alvo da marca, à data, que remete a tantas lembranças da infância. Usamos ele com touca de Papai Noel, em máscaras na vitrine e todas as peças possuíam a chamada ‘Feliz Natalis’”, relembrou, orgulhosa, a publicitária da agência, Cadija Souza. “Os consumidores gostaram tanto da ideia que muitos tiravam foto da vitrine e pediam para posar com a máscara”.

A também publicitária e sócia da Tr3s Comunicação Total, Fernanda Morales, não é muito adepta à tendência de utilizar em campanhas celebridades que já morreram, embora confesse ser fã dos Trapalhões. “Elvis Presley, mesmo, é um dos mais usados. Eu, pessoalmente, não gosto dessa estratégia, mas respeito quem usa. Realmente, o Mussum foi um ‘bum’”, opinou.

“Nada mudou”
Esse movimento todo soa, praticamente, como uma tentativa de ressurreição do ídolo nas diversas mídias. A imagem de Mussum está estampada em roupas, seu linguajar próprio na boca de todo o Brasil e sua figura cai como luva na divulgação de qualquer projeto que queira ser bem-sucedido. Talvez, como nunca antes na história desse país. Até porque, quando surgiu nas telinhas e telonas interpretando seu personagem mais famoso, Antônio Carlos enfrentou um racismo bem mais forte que o que existe atualmente. Porém, para a bancária Eva Maria Soares, graduada no curso de Licenciatura em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a valorização do personagem em nossos dias não remete a evolução racial. Negra e pelotense radicada em Porto Alegre há quase trinta anos, ela acompanhou o sucesso do quarteto de perto, toda vez que levava a afilhada aos shows no Gigantinho ou às estréias dos filmes nos cinemas. Era diversão garantida em família. Mas, as risadas não embaçavam seu olhar crítico. “Os Trapalhões eram extremamente preconceituosos com feios, negros, gordos e pobres. Acho lamentável que os três que acompanhavam o Didi compactuassem com isso (o Mussum negro, o Dedé gordo e o Zacarias feio)”, disse. “De uns tempos para cá, tivemos muitas celebridades negras aparecendo – e reaparecendo –, mas, é só para calar a nossa boca. Nada mudou. Os negros aparecem só um pouco. Não muito. O suficiente para a gente ‘achar’ que não tem preconceito e que a sociedade está nos aceitando. Na verdade, só está nos ‘engolindo’, porque sabe que qualquer deslize pode arder em seu bolso”.

In Memorian
Saúdis
biritisDo tipo Vienna Lager (caracterizado pela baixa fermentação, malte importado, cor alaranjada e aroma a lúpulo), a cerveja artesanal Biritis será comercializada no Rio e em São Paulo em embalagens de 600ml. Haverá ponto de venda até na quadra da escola de samba do coração do homenageado.

Cacildz
uiNão é a primeira vez que Mussum é lembrado em forma de canção. Um exemplo é “Cacildz” (assim mesmo, com “z”), que está no volume dois do CD Único Incomparável, do cantor de hip hop Pregador Luo. O ritmo é dançante, mas a letra não dispensa um toque de crítica social: “Cacildz, cacildz, a parada tá sinistris/ Tão tomando muito mé, exagerando na biritis/O povão tá estressado/ Quando você já não serve, metem o pé no seu forévis”.

Fusquis
fusquisMussum também é estrela na montagem feita pela Volkswagen, no início desse ano, para apresentar ao público o Novo Fusca. A campanha publicitária reconstituiu o cenário do Viaduto do Chá, em São Paulo, como na década de 1970.

Feliz Natalis
feliz_natalis
A frase virou slogan da campanha publicitária encomendada pela loja pelotense Otros Aires à agência Santa Anna, no Natal de 2012. Os clientes aprovaram.

Taís Brem

*Reportagem publicada, também, no Diário Popular, em 11/08/13.