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O milagre do respeito

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Acabei de ver um vídeo interessante que me fez refletir sobre o respeito ao próximo. É fato que vivemos numa sociedade cada vez mais egoísta em que o “faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem por você” anda em acelerado desuso. Mas, quando nos deparamos com ações como a da Comisión Especial de Discapacidad do Congreso de la República del Perú – ou Comissão Especial sobre Deficiência do Congresso da República do Peru, em tradução livre –, o choque é inevitável.

Deve ter sido exatamente esta a intenção de quem elaborou a peça: chocar. Objetivo que foi alcançado com êxito. É uma sacada bem simples, mas muito inteligente. Trata-se de um vídeo que mostra motoristas saindo de seus carros caminhando normalmente, logo após estacionarem os automóveis em vagas destinadas a pessoas portadoras de necessidades especiais. Então, atores chegam perto dos condutores simulando uma série de cuidados e perguntando se eles se sentem bem, se não querem uma cadeira de rodas pra auxiliar na locomoção, entre outras estratégias, todas bem aplicadas com o intuito de constranger a pessoa. Afinal, se o motorista que acabou de sair de um carro estacionado numa vaga para cadeirante o faz sem apresentar nenhum sintoma de deficiência que justifique a parada no local, das três, uma: ou essa pessoa precisa de ajuda para se locomover com segurança, ou merece os parabéns por ter sido milagrosa e instantaneamente curada ou está pedindo por um bem-dado “puxão de orelhas” para aprender a respeitar o espaço alheio. Infelizmente, as reações mostradas nas imagens levam a crer que a terceira hipótese é a correta.

Seria interessante se o mesmo grupo surpreendesse o falso cadeirante torcedor da Copa que foi pego saltitando da cadeira de rodas na fila próxima ao gramado, destinada pela Fifa aos portadores de necessidades especiais.

Uns o fazem simplesmente para conseguir um lugar privilegiado na competição esportiva mais emocionante do planeta. Outros, simplesmente porque querem levar vantagem numa boa vaga de estacionamento. A unanimidade fica por conta mesmo da falta de respeito. A peça peruana traz como slogan a frase “Pedimos respeito, não milagres”. Eu diria mais: seria bom se a prática do respeito deixasse de ser milagre e se tornasse algo corriqueiro. Um dia, quem sabe celebraremos esse prodígio.

Taís Brem

*Texto publicado originalmente no Clicsul.Net.

Letras miúdas

MP900385253Seria muito bom se aquele aparelho de DVD custasse apenas R$ 33,00. Ou se o aquecedor estivesse só R$ 39,90, ainda mais com o frio que anda fazendo por essas bandas nos últimos dias. Mas, não. Para identificar o preço verdadeiro desses e de outros produtos, os consumidores têm de fazer um esforço extra. Não basta somente passar os olhos pelos encartes e cartazes que anunciam promoções. É imprenscindível atentar para os detalhes e ver se o preço alardeado com fontes garrafais não está acompanhado de algum asterisco ou informação em letras menores, que indicam, por exemplo, que o valor convidativo é apenas o que custa uma das parcelas necessárias ao pagamento da bendita mercadoria.

Ao prestar atenção nesses pequenos e importantes detalhes, o consumidor pode descobrir que não é R$ 18,00. São 3x de 18. Não é R$ 29,99. São 30x desse valor. Uma surpresa bem desagradável. Ou não. Afinal, um pouco de desconfiança nesses casos não faz mal a ninguém. E, a bem da verdade, por mais estratégica que seja a iniciativa das empresas em camuflar as letras miúdas que realmente interessam num contrato de compra e venda, isso não é nenhuma novidade.

Na linguagem do marketing, deve ser a mesma lógica que guia os números para as vírgulas e os “99″ da vida. Porque todo mundo sabe que são minúsculas as chances de se receber R$ 0,01 de troco quando se paga R$ 10,00 por algo que, pela etiqueta, vale R$ 9,99. Mas, todo mundo compra. E se gaba de ter feito um bom negócio. Já dizia o velho ditado: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Ainda que as letras sejam miúdas demais para se enxergar a olho nu.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Falando em Copa

Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).
Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).

Falar de Copa de Mundo me traz muitas coisas à mente. Lembro da Copa de 1990, quando a bola em campo era o que menos me importava. Tudo o que eu mais queria era colecionar aqueles copões da Pepsi, decorados com motivos relacionados ao Mundial. Lembro da de 1994, a “minha primeira Copa”, de fato, da qual participei ativamente, torcendo, opinando, preenchendo as tabelinhas dos jogos, ajudando minha mãe e minha avó a preparar os lanches para as partidas, aprendendo sobre um universo novo, que se tornou fascinantemente especial depois da conquista do tetra. Lembro de chorar pela derrota de 1998 e me perguntar por que aquele cara da França tinha que nos humilhar ainda mais marcando o terceiro gol contra nós, no finalzinho do segundo tempo. Lembro de acordar de madrugada em 2002 para assistir a muitas das partidas que nos levariam ao pentacampeonato. E lembro de pouco me lixar para o que aconteceu nas copas que vieram depois. Até essa, de 2014.

A Copa do Mundo desse ano está sendo diferente. Porque somos os anfitriões, sim. Embora, eu vá assistir a todos os jogos pela TV mesmo, como sempre. Mas, principalmente, porque a reação dos brasileiros quanto ao evento está tornando esse um momento singular. Há quem considere essa uma ótima oportunidade de demonstrar toda a nossa paixão pela camisa verde e amarela, vibrando e fazendo o possível para que essa seja a Copa das Copas. Todavia, há quem torça contra o sucesso do Mundial e, também, da Seleção Brasileira. A motivação? Protestar contra a corrupção. Porque se acha totalmente inútil mobilizar todo um país para um evento supérfluo enquanto a educação, a saúde e todo o resto agonizam. Parece justo. Acontece que não é. Não na minha humilde opinião.

É como aquela velha polêmica que questiona por que gastar dinheiro comemorando Carnaval enquanto outros setores públicos precisam tanto de verba. Particularmente, não sou adepta da comemoração. Mas, creio que, se o dinheiro da educação, da saúde, do transporte, da habitação e da “mãe do Badanha” fossem aplicados como deveriam, haveria recurso de sobra para tudo. Inclusive, para a cultura e o entretenimento. As festas não são o vilão. O vilão é a má-utilização do dinheiro público. E isso acontece com ou sem Copa. Com ou sem Carnaval. Com ou sem PT. Infelizmente.

Muitas vezes, esse pessimismo coletivo não tem nem um fundamento decente. Hoje, por exemplo, tinha gente se dizendo croata desde pequeninho e nem sabia explicar o porquê. Quer dizer, sabia: apenas para ser contra o Brasil.

Ainda bem que a gente ganhou. Seria muito frustrante perder o primeiro jogo, em casa, reforçando todo esse ar de mau humor que anda pairando por aí nos últimos meses. Entendo as justificativas de quem espera muito mais do que estádios padrão FIFA para melhorar a nossa situação. De quem quer muito mais do que chamar a atenção do resto do mundo, quer uma vida digna para se viver quando não tiver nenhum turista olhando. Entendo tudo isso. Sou brasileira. Mas, não sou alienígena. Por isso, nessa Copa, entre o pessimismo e o otimismo, fico com o segundo. Que tudo possa dar muito certo. Dentro e fora do campo. O espetáculo começou e, sim, vai ter Copa.

Taís Brem
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Incorretos

letrasA placa em frente ao açougue era simples, daquelas escritas com giz branco. E anunciava, entre outras coisas, que ali tinha “figuinho” pra vender. Alguém já disse que o importante para que uma comunicação seja estabelecida é que haja entendimento entre as partes. E parece que, neste ponto, estava tudo certo. Quem passava por ali e lia a placa, entendia a que produto ela se referia: fígado de galinha, o popular “figuinho”, ora bolas!

É claro que se levarmos para o lado linguístico da coisa, sabe-se que “figuinho” deveria ser o diminutivo de “figo”, não de fígado. Mas, como ninguém fala “figadozinho”, a adaptação acaba valendo. Senão nas provas de português, pelo menos no linguajar das ruas. Como na frente daquela casa, onde o pedreiro colocou um cartaz anunciando que faz de tudo: do “alicersso” ao telhado…

É aquele tipo de palavra que todo mundo – ou a maioria, pelo menos – sabe que não é assim que se pronuncia. Mas, pelo costume, acaba ficando tudo desse jeito, incorreto.


Não é difícil encontrar, por exemplo, quem tenha percorrido um trajeto caminhando e diga que veio “de a pé”, em vez de “a pé”, simplesmente. Ou quem tenha feito algo recentemente e explique que “arrecém” realizou tal ação. O correto é “recém”. Porém, mesmo sabendo qual é o certo, quantas pessoas você conhece que falam assim?


Dia desses, descobri que a palavra “subsídio” não se fala com som de “z”, mas com som de “c”. O correto seria “subcídio”, portanto. Compartilhando a informação com uma amiga, ela disparou: “Mentira que esse é o certo? Acho mais bonito continuar falando errado!”. E, de fato, muitas palavras que são adaptadas no nosso dia a dia, devem ter encontrado sua versão popular nessa mesma justificativa: o correto é correto, mas não cai tão bem aos ouvidos. Então, bem-vindos ao mundo incorreto dos “guspes”, “cônjugues”, “sombrancelhas”, “mendingos”, “rúbricas” e companhia limitada. Quem nunca foi adepto delas, que atire a primeira borracha.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Se eu soubesse, tinha guardado

Objetos que eram hit no passado, voltam à moda (Foto: Divulgação)
Objetos que eram hit no passado, voltam à moda (Foto: Divulgação)

Meus tios-bisavós Florício e Dininha tinham uma casa encantadora. Passar algumas horas por lá era uma estadia no paraíso, principalmente para as crianças: bolachinhas, geléias, chás, refrigerante, bife, goiabada… Tudo delicioso! Mas, não era só no quesito hospitalidade que eles tiravam nota 10, não. Tinha outra coisa que chamava a atenção de quem visitava aquele lar: a bela cozinha vermelha que eles tinham.

Quando falo de cozinha, não falo de alguns acessórios apenas. Falo de tudo. Tudo – mesmo – naquela cozinha era vermelho: o fogão, a geladeira, a mesa, as cadeiras, as latas de mantimentos… Devia ser moda na época em que eles casaram – lá pela década de 1940, calculo eu, tendo em vista a idade avançada que teriam hoje, caso estivessem vivos.

Toda vez que eu vejo um móvel ou eletrodoméstico daquela cor, lembro da cozinha da tia Dininha e do tio Florício. A moda voltou. E agora tem nome: retrô. Ou vintage. Tudo o que tiver no mercado atualmente com essa terminação, pode crer que é daquele tipo de coisa que você já teve um dia, colocou fora, pensando que nunca mais ia usar, e agora lamenta: “Ah, se eu soubesse… Teria guardado!”.

Pode dar uma olhada por aí. Tanto nas lojas virtuais quanto nas físicas, os tais objetos estão em alta. E o preço deles não fica atrás. Uma vitrola, uma televisão antiga, uma geladeira arredondada, um óculos com uma cara mais antiguinha, uma cristaleira, uma penteadeira, uma câmera analógica… Voltou à moda e, portanto, custa muito caro.

Minha mãe sempre disse que moda é coisa que vai e volta. Mas, do jeito que o consumismo nos afeta, o que virou moda mesmo foi adquirir muito e descartar, também, com a mesma intensidade. O interessante é que esse vai-e-vem não é coisa recente. Realmente, volta e meia, o que se usava numa época, torna a ser tendência algumas eras depois. Talvez, seja a deixa para que a gente comece a observar melhor o que está sendo deixado de lado, gastando menos, economizando e reaproveitando mais. Um dia, você vai poder se orgulhar em dizer: “Ufa! Ainda bem que eu guardei!”.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Obrigada, não sou macaca

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A mania de aproveitar o espaço esportivo para exercitar o preconceito – sobretudo, racial – está em alta. Por isso, dia desses surgiu uma nova vítima, o jogador do Barcelona Daniel Alves, que é negro. Parece que ele estava em campo contra o Villareal e foi atingido por uma banana, lançada por um torcedor numa clara tentativa de chamá-lo de macaco. Eu não sei se Alves, por acaso, já tinha pensado com seus botões que reação teria caso fosse alvo de uma atitude assim. O certo é que ele fez o inusitado: parou a bola, pegou a banana, descascou-a e comeu. Para só depois continuar o jogo. Queria, como declarou depois, “rir dos racistas retardados”.

E foi assim que começou essa enorme campanha com a hashtag #SomosTodosMacacos, que está se espalhando pela Internet e além dela. Os pais da ideia? O também jogador de futebol Neymar e a agência de publicidade Loducca.

Eu não conhecia a história desde o começo. E, sinceramente, quando deparei com ela, pensei que era algo mais profundo – Darwin, evolução, macacos, seres humanos, entende? De qualquer forma, contou com meu repúdio desde o início. Porque acredito no criacionismo. Não me conformaria em ser resumida a uma macaca, mesmo que evoluída.

Contudo, quando soube do que, de fato, se tratava a iniciativa, tentei entender pelo lado positivo. As pessoas que têm aderido à campanha, principalmente as celebridades – de Dilma Rousseff a Michel Teló -, parecem querer apenas mostrar que estão do lado dos negros desprezados, que sofrem preconceito dessa forma tão arcaica e sem criatividade. Mas, esse lema soa aos meus ouvidos como um “tiro no pé”, que estimula a associação entre negros e macacos mascaradamente. Ou seja, dá no mesmo. E nesse circo todo, até os macacos resolveram se defender e dizer que não querem ser comparados aos seres humanos. Certo eles. Cada um na sua.

Como negra, agradeço a solidariedade de todos os que aderiram a essa polêmica campanha em prol do respeito às diferenças raciais. Gosto muito de banana, mas gosto ainda mais de respeito. Muito obrigada, mas eu não sou macaca.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Entre risos e recordações

Bom humor pode ajudar na memória (Foto: Divulgação)
Bom humor pode ajudar na memória (Foto: Divulgação)

Os especialistas dizem que nós, os seres humanos, somos capazes de lembrar o que nos aconteceu aos dois anos de idade. Eu não lembro se eu tinha dois anos naquele dia. Talvez, um pouco menos. Talvez, mais. Mas, lembro que eu estava sentada no chão da sala de casa, brincando com o meu lego, enquanto meu pai se despedia para ir trabalhar. Lembro do dia em que minha mãe chegou em casa chorando, porque tinha sido mandada embora do emprego. Sempre foi raro ver minha mãe chorar. Deve ser por isso que marcou. Lembro, também, de quando aprendi a ler. Meu pai perguntou se eu sabia o que estava escrito no jornal. Eu disse que não. E ele falou, então, que iria me ensinar. Nesse caso específico, eu já tinha uns quatro ou cinco anos.

Nossa memória é uma coisa bem interessante. Às vezes, recordamos de fatos distantes, ocorridos há décadas. Mas, não somos capazes de descrever o cardápio de ontem. Minha falecida vó Nilza era craque nisso. Volta e meia, ela contava em detalhes a cena que emoldurou a briga histórica que ela e a sogra tiveram no início de seu casamento – leia-se há mais de 60 anos. Parecia que tudo tinha acontecido uns cinco minutos atrás. Era incrível! Principalmente, porque quando se tratava de lembrar o que, de fato, tinha ocorrido há pouco tempo, a memória dela tirava sarro da cara de todo mundo. A pessoa podia tê-la cumprimentado com pompas e honras na chegada da festa que, com certeza absoluta, ao passar por ela de novo, iria ouvir, em alto e bom som: “Não vais falar comigo? Ah, tá! Pensei que tinha te feito alguma coisa!”. Era assim sempre, tão certeiro quanto 2+2 são 4. Em questão de minutos (minutos, mesmo!), ela já esquecia se tinha falado ou não com a pessoa. E, principalmente, se a pessoa tinha ou não falado com ela…

O curioso é que esquecer das coisas não é privilégio de quem já tem uma idade avançada, como tinha minha avó. Os mais novos também se esquecem. A chaleira no fogo, a data do aniversário do melhor amigo, a chave pendurada pelo lado de fora da porta… Quem nunca?

Para resolver o problema, especialistas e leigos dão inúmeras dicas: de tratamentos medicamentosos a cursos de memorização, de alimentação saudável a abandono de vícios, como o álcool e o cigarro. E rir mais. Sim, uma pesquisa desenvolvida recentemente pela universidade californiana de Loma Linda mostrou que, quanto mais se diverte, menos estressada a pessoa fica. E como o estresse é inimigo da memória, quem ri mais, tende a ter uma memória melhor. Por via das dúvidas, não custa tentar. Se o nível de recordação não melhorar, pelo menos a vida vai ficar mais divertida.

Taís Brem

Mais que uma primeira impressão

Eu gosto de saber o que as pessoas pensam sobre mim. Parece estranho assumir isso em meio a uma sociedade em que a maioria diz que não se importa com a opinião alheia e jura que está “pouco se lixando” para a visão que os outros têm de si. Mas, eu gosto de saber dessas coisas. Sobretudo, quando aquele primeiro encontro, que gerou uma primeira impressão, evoluiu para uma amizade duradoura. Daquelas que ultrapassam anos, que chegam a décadas, que perduram para a eternidade.

De vez em quando, exercito fazer perguntas desse tipo para meus amigos: “O que vocês achavam de mim quando me conheceram?”. A maioria me achava tímida, séria demais ou metida. E foi, modéstia à parte, se surpreendendo ao longo do tempo. Descobriu que, na verdade, eu poderia ser uma boa amiga ou, pelo menos, uma pessoa mais simpática do que parecia à primeira vista.

Da mesma forma, gosto de relembrar como eu imaginava que certas pessoas eram antes de ter uma proximidade maior com elas. A Ana Paula, mesmo. Não, não foi um caso de amor à primeira vista. Ela foi simpática comigo desde o primeiro momento. Eu, não. Devo confessar que treinei o melhor de meus sorrisos amarelos para o momento em que ela arriscasse dizer “oi”. Eu realmente não fiz a menor questão de ser (ou parecer) simpática naquela ocasião. Mas, de alguma maneira extremamente constrangedora, fui pega de jeito. É engraçado pensar que aquela mesma pessoa que antes eu queria evitar é hoje tão importante na minha vida, capaz de mudar meu dia com um abraço (ou uma bronca). Desde aquele primeiro contato, ela já ouviu muitas de minhas lamúrias, já guardou muitos de meus segredos, já me deu infinitos conselhos, já enxugou minhas lágrimas, já riu das minhas piadas, já brigou comigo como uma mãe faz com a filha que ama, já disse que tinha orgulho de mim, já orou, em prantos, pra eu melhorar quando estava doente, já me pegou no colo…

E hoje é o seu aniversário. Por mais que eu tente, eu nunca vou conseguir retribuir tudo o que ela já fez por mim, tudo o que essa amizade tem me feito crescer como pessoa, como mulher, como esposa, como mãe, como filha de Deus. Nessa hora, sinto-me como alguém que vai presentear alguém que já tem de “tudo”, que parece não precisar de nada e para quem, por isso mesmo, acertar um presente é tão simples que chega a complicar. Ela é assim. Essa homenagem, portanto, não tem a pretensão de ser convencional. Seu objetivo? Dizer “eu te amo” com algo a mais que sete letras. Dizer “obrigada” com mais do que somente uma palavra. Repetir o clichê dos clichês (“você é única e especial”) sem cair na mesmice. E fazer tudo isso sem encher linguiça, mas produzindo aquele efeito que só os amigos com “A” maiúsculo reconhecem. Se o seu nome é Ana Paula Oliveira Guimarães e você está do outro lado da tela, lendo essa crônica e enxugando as lágrimas, o objetivo foi alcançado. Te amo, minha amiga, minha mãe, minha irmã, minha pastora. Parabéns!

Taís Brem

Wilson Lima e suas histórias

Gosto pela fotografia começou na infância (Foto: Robson Hellebrandt)
Gosto pela fotografia começou na infância (Foto: Robson Hellebrandt)

A primeira vez que ouvi falar de Wilson Lima foi durante um estágio no Jornal Diário Popular, lá por 2006, 2007. Lembro que a editora-chefe comentou: “Já visses as fotos do seu Wilson? Tem uma que mostra uma guriazinha tomando vacina que é perfeita! Ele conseguiu capturar a gotinha bem redondinha, entrando na boca dela. Ele é fantástico!”. Fiquei curiosa para ver a tal foto, tamanha era a empolgação da narração. Felizmente, não demorou muito para que eu pudesse conhecer não apenas essa imagem, mas muitas outras que fazem parte da carreira desse talentoso fotógrafo que, atualmente com 74 anos, acumula 66 de carreira, diversos prêmios e passagens por veículos importantes na história da Comunicação no Brasil, como as extintas revistas Manchete e Cruzeiro.

Minha convivência com seu Wilson começou quando passei a estagiar na Assessoria de Comunicação e Marketing da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), onde, aliás, trabalhamos até hoje. Ele é o único fotógrafo da Universidade, responsável por registrar os variados momentos que fazem parte da vida acadêmica, desde grandes eventos a simples entrevistas do dia a dia. O talento e a disposição com que exerce o seu dom são admiráveis. A fotografia é o seu ganha-pão, sim. Ele mesmo já declarou que não se imagina trabalhando noutra coisa. Mas, mais do que meio de sobrevivência, tirar fotos é um prazer para o seu Wilson. Seu olhar está tão acostumado a fotografar, que ele sempre vê um ângulo diferente, novo e surpreendente em cada situação.

Wilson Lima tem diversos prêmios em seu currículo (Foto: Paulo Rossi)
Wilson Lima tem diversos prêmios em seu currículo (Foto: Paulo Rossi)

Trabalhar com Wilson Lima é estar lado a lado com o prodígio que, aos oito anos de idade, tirou um retrato do muro caído de um galpão no Centro da cidade e teve sua foto publicada no jornal onde seu pai, o também fotógrafo Ramão Barros, trabalhava. É ouvir as histórias de bastidores de eventos como as edições do Festival de Cinema de Gramado das décadas de 1970 e 1980. É enxergar o brilho do olhar de quem esteve no México, durante a Copa do Mundo de 1970, capturando o momento em que Pelé dava o seu famoso soco no ar. É se admirar ao saber que ali está o responsável pelo registro que imortalizou Fidel Castro bebendo Coca-Cola. É imaginar a felicidade de Elis Regina ao experimentar seu vestido de noiva durante uma sessão de fotos e se emocionar com a sensibilidade da artista chorando a morte de Che Guevara, momentos depois. É se divertir escutando a reprodução dos trechos de uma conversa com Raul Seixas, assim como descobrir as surpresas que podem ocorrer durante um velório, como o de Lupicínio Rodrigues. E é, também, querer revirar meio-mundo atrás das fotografias que registram essas histórias todas. Não para comprovar a veracidade delas. Apenas para ter o gosto de apreciá-las e guardá-las com carinho. Seu Wilson não fez isso. Acostumado a ver seu trabalho publicado periodicamente, ele nunca achou que seria importante guardar as edições para que, no futuro, pudesse relembrar os momentos de sua carreira ou mesmo compartilhar esses fatos com quem não teve a oportunidade de vivenciá-los. Achava que era bobagem. Uma lástima.

São muitas as experiências a que se tem acesso quando ele é o assunto e uma saída para uma pauta é garantia de boas risadas. Muito provavelmente, porque por trás desses 74 anos, há uma criança que nunca saiu de cena. Seu Wilson é tão contagiante que apenas reproduzir suas piadas já garante um bom status humorístico. Não é pouca a quantidade de amigos e familiares que tenho que dizem “Preciso conhecer esse senhor!”, quando eu conto suas peripécias. Sua companhia é tão agradável e divertida que certa vez um de seus netos passou um espetáculo de circo inteiro na plateia apenas observando os palhaços sem esboçar a reação característica das crianças diante de uma atração desse tipo. Não havia motivo para rir. Por quê? “Meu avô é muito mais engraçado que eles!”, justificou, desapontado.

Wilson Lima e Taís Brem (Foto: Paulo Soares)
Wilson Lima e Taís Brem (Foto: Paulo Soares)

Dizem que para ser completo, o ser humano precisa plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Um filho eu já tenho, embora planeje ter mais uns dois, se assim Deus permitir. Árvore eu já plantei, levando em conta, inclusive, as sementes de feijão plantadas no colégio. Mas, livro, ainda está na esfera dos sonhos. Fiz alguns ensaios de publicações quando criança, dignos de quem sempre quis ser algo como jornalista ou escritora, desde que se entende por gente. Porém, ainda que em fase de projeto, uma coisa é certa: quando minha carreira como escritora deslanchar, seu Wilson será assunto de um dos meus livros. Sua história é digna de ser conhecida por muita gente e imortalizada como um tributo a pessoas que fazem desse planeta um lugar melhor para se viver.

Taís Brem
*Texto classificado em segundo lugar na categoria Histórias de Vida do III Prêmio Longevidade Bradesco Seguros 2013

Pelotas, 26 de setembro de 2013

É clichê, eu sei. Mas, foi de uma sabedoria incrível a inspiração do cara (ou da mulher) que disse aquela frase “Hoje é o aniversário do fulano, mas quem ganha o presente é você”. Popularmente, utilizada para slogan de promoção no comércio, a declaração cabe, também, para marcar o aniversário de pessoas. Afinal, apesar dos pesares que a convivência nos impõe, celebrar o aniversário de alguém tem muitas partes boas. A escritora americana Stormie Omartian disse, inclusive, que “todo relacionamento exige sacrifício. Mas, todo sacrifício traz uma recompensa”.

E é verdade. Temos o que comemorar quando percebemos que a vida nos brindou com mais um ano ao lado de alguém que nos completa, de alguma forma. Hoje, dia 26, é aniversário do meu marido, Wilson. E creio, portanto, que não haveria outro tema mais apropriado que esse para tratar nesta crônica.

Em dezembro, completaremos sete anos de casados. Foi um casamento incomum, para dizer o mínimo. Não houve ficada, nem namoro, muito menos noivado. Nos conhecemos e nos casamos. Ou melhor, casamos sem nos conhecer direito. Como cristãos, entregamos essa e todas as outras decisões da nossa vida nas mãos de Deus. É engraçado e estranho falar sobre isso num mundo em que, cada vez mais, as pessoas rejeitam a interferência do sobrenatural. Ouvi uma pessoa dizer certa vez que a última coisa que ela precisava era de um Deus tomando conta dela o tempo todo. Respeito a posição. Mas, lamento. Na minha vida e na vida do meu marido essa interferência constante é mais que bem-vinda, é implorada a cada segundo. Porque, venhamos e convenhamos, a humanidade já tem um bom tempo de estrada para comprovar que não tem maturidade alguma para tomar conta de si própria sozinha. E permitir que Deus tome as rédeas, não é usar uma espécie de bengala ou seguir uma fé cega. É um estilo de vida que, ao menos nós, temos sentido que dá certo. Haveria inúmeras formas de tentar explicar isso, ainda que, na verdade, seja algo inexplicável. Uma tentativa é simplesmente dizer que Deus tem uma perspectiva acima da nossa. E como Pai, Ele sempre vai nos encaminhar para aquilo que é o melhor. Ainda que não entendamos. Por exemplo: naturalmente, pelo menos por enquanto, eu sou mais alta que meu filho, de um ano e sete meses. E, por ter uma visão mais abrangente, posso tomar conta dele muito melhor do que ele faria por si próprio. Creio ser assim, também, na relação do ser humano com Deus. É fé. E fé se vive, não se explica.

A questão do nosso casamento foi algo muito pessoal. Não indico que outros façam a loucura que fizemos. A não ser que também sejam chamados para tanto. Contudo, foi um passo de fé, porque nos dispusemos a entender que, mesmo que não conhecêssemos um ao outro, Deus conhecia a nós dois muito bem. Ele sabia que não havia mulher melhor que eu para o meu marido e vice-versa. Eu poderia deixar essa homenagem para o aniversário do nosso casamento. Mas, resolvi fazê-la agora, abrindo esse pedacinho da nossa vida íntima para compartilhar que também mereço os parabéns hoje. Fiz um ótimo negócio naquele 31 de dezembro de 2006. Modéstia à parte, me considero apta para protagonizar alguma propaganda de “casamento à moda de Deus”. Não perfeito, mas conduzido por aquEle que é a própria perfeição. A propósito, parabéns pra ti, também, Prê!

Taís Brem