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É preciso saber perder

Quarto lugar na Copa trouxe à tona decepção da torcida com a Seleção e mostrou que o povo não sabe lidar com a derrota

Foto: Divulgação
Sonho do hexacampeonato foi adiado (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM).

O Brasil pode até ter sediado a tal Copa das Copas, no que diz respeito à hospitalidade para com os turistas e o clima de festa com que realizou o Mundial por aqui. Mas,  o desempenho da Seleção Brasileira dentro de campo esteve bem aquém do que esperava a Pátria de Chuteiras. Tanto, que nem mesmo o mais pessimista dos brasileiros poderia imaginar que aquele jogo contra a Alemanha, no Mineirão, em 08 de julho, viraria a maior derrota de um time anfitrião de Copa do Mundo e a pior goleada que já sofremos em 100 anos de história. Mais trágico ainda foi perder a chance de garantir o terceiro lugar, no último sábado (12), no mínimo, como prêmio de consolação.

Que foi “apenas um campeonato de futebol perdido”, todo mundo sabe. Todavia, um sentimento de frustração, de tristeza e, até mesmo, de luto tomou conta de grande parte da população brasileira. Muita gente encarou os dois resultados negativos como algo bem mais sério que uma competição esportiva. Na opinião da psicóloga Lauren Gómez, 34, a reação dos torcedores denota que o brasileiro, em linhas gerais, não sabe perder. “O reflexo disso se viu, por exemplo, nos programas de TV, que enfatizaram a tristeza das crianças ao assistirem o fracasso da Seleção. Isso mostra o quanto os pais reproduzem para os filhos esta falsa ideia de que o Brasil tem que ser perfeito em aspectos como o futebol e o Carnaval – já que não somos exemplo em educação, saúde etc -, em vez de prepararem suas crianças para aprender a conquistar, mas, também, saber enfrentar as perdas e tolerar frustrações”, opinou. Para ela, é essencial que se saiba viver e passar para as outras gerações a importância de conceitos como a resiliência e a adaptabilidade, justamente para enfrentar as crises, que são inevitáveis, da melhor forma possível. “O mundo não é suave quando se trata de lições de vida”, sentenciou a psicóloga.

Roberta (E) torceu, mas não se iludiu (Foto: Arquivo Pessoal).

A estudante Roberta Oliveira de Souza, 18, também disse acreditar que a reação da torcida não foi das mais adequadas. “Quem sabe perder? Acho que ninguém, né? Mas, deveríamos encarar isso como uma grande experiência de vida. Nem sempre conquistamos tudo”, comentou.

Torcedores conscientes
Lauren e Roberta torceram pela Seleção Brasileira na Copa. “Mas, com os pés no chão, porque eu sabia que eles não estavam preparados”, ressaltou a psicóloga. O estudante de Jornalismo, Henrique Massaro, 22, disse ter criticado bastante a maneira como a Copa foi trazida para o Brasil. Todavia, quando a Seleção entrou em campo, ele parou para torcer. Torcida que, infelizmente, não bastou para a conquista do hexa. “Acho que o brasileiro está tendo que se conformar, afinal já é a terceira eliminação seguida em copas. Mas, perder levando sete gols é algo que ninguém está preparado. Para mim, é momento de aproveitar e voltar os olhos para o futebol brasileiro, que está jogado às traças em termos de estrutura”, opinou.

"O jeito é se conformar", disse o estudante de Jornalismo (Foto: Henrique Massaro).
“O jeito é se conformar”, disse o estudante de Jornalismo (Foto: Henrique Massaro).
Foto: Arquivo pessoal
Juliana disse acreditar que os jogadores também merecem respeito (Foto: Arquivo Pessoal).

A auxiliar contábil Juliana Zandoná de Mattos, 27, ficou chateada com a má campanha. Porém… “Torcedor de verdade está junto ganhando ou perdendo. Espero que as famílias que têm filhos pequenos utilizem isso como lição de que, na vida, nem sempre teremos vitórias. Às vezes, nós perdemos e outros ganham”, disse. E, para ela, aceitar os momentos de perda com maturidade também incluiu respeitar a dor alheia, no caso, a dos protagonistas desse espetáculo que não teve um final feliz. “Antes de jogadores milionários, eles são seres humanos. Claro que eles não queriam que isso acontecesse também. Se nós estamos decepcionados, imagina eles?”.

Taís Brem
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Falando em Copa

Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).
Copa desse ano tem dividido opinião de torcedores (Foto: Divulgação).

Falar de Copa de Mundo me traz muitas coisas à mente. Lembro da Copa de 1990, quando a bola em campo era o que menos me importava. Tudo o que eu mais queria era colecionar aqueles copões da Pepsi, decorados com motivos relacionados ao Mundial. Lembro da de 1994, a “minha primeira Copa”, de fato, da qual participei ativamente, torcendo, opinando, preenchendo as tabelinhas dos jogos, ajudando minha mãe e minha avó a preparar os lanches para as partidas, aprendendo sobre um universo novo, que se tornou fascinantemente especial depois da conquista do tetra. Lembro de chorar pela derrota de 1998 e me perguntar por que aquele cara da França tinha que nos humilhar ainda mais marcando o terceiro gol contra nós, no finalzinho do segundo tempo. Lembro de acordar de madrugada em 2002 para assistir a muitas das partidas que nos levariam ao pentacampeonato. E lembro de pouco me lixar para o que aconteceu nas copas que vieram depois. Até essa, de 2014.

A Copa do Mundo desse ano está sendo diferente. Porque somos os anfitriões, sim. Embora, eu vá assistir a todos os jogos pela TV mesmo, como sempre. Mas, principalmente, porque a reação dos brasileiros quanto ao evento está tornando esse um momento singular. Há quem considere essa uma ótima oportunidade de demonstrar toda a nossa paixão pela camisa verde e amarela, vibrando e fazendo o possível para que essa seja a Copa das Copas. Todavia, há quem torça contra o sucesso do Mundial e, também, da Seleção Brasileira. A motivação? Protestar contra a corrupção. Porque se acha totalmente inútil mobilizar todo um país para um evento supérfluo enquanto a educação, a saúde e todo o resto agonizam. Parece justo. Acontece que não é. Não na minha humilde opinião.

É como aquela velha polêmica que questiona por que gastar dinheiro comemorando Carnaval enquanto outros setores públicos precisam tanto de verba. Particularmente, não sou adepta da comemoração. Mas, creio que, se o dinheiro da educação, da saúde, do transporte, da habitação e da “mãe do Badanha” fossem aplicados como deveriam, haveria recurso de sobra para tudo. Inclusive, para a cultura e o entretenimento. As festas não são o vilão. O vilão é a má-utilização do dinheiro público. E isso acontece com ou sem Copa. Com ou sem Carnaval. Com ou sem PT. Infelizmente.

Muitas vezes, esse pessimismo coletivo não tem nem um fundamento decente. Hoje, por exemplo, tinha gente se dizendo croata desde pequeninho e nem sabia explicar o porquê. Quer dizer, sabia: apenas para ser contra o Brasil.

Ainda bem que a gente ganhou. Seria muito frustrante perder o primeiro jogo, em casa, reforçando todo esse ar de mau humor que anda pairando por aí nos últimos meses. Entendo as justificativas de quem espera muito mais do que estádios padrão FIFA para melhorar a nossa situação. De quem quer muito mais do que chamar a atenção do resto do mundo, quer uma vida digna para se viver quando não tiver nenhum turista olhando. Entendo tudo isso. Sou brasileira. Mas, não sou alienígena. Por isso, nessa Copa, entre o pessimismo e o otimismo, fico com o segundo. Que tudo possa dar muito certo. Dentro e fora do campo. O espetáculo começou e, sim, vai ter Copa.

Taís Brem
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