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O exemplo de Amália

Octogenária é destaque por ações de voluntariado em Canoas

Dona de casa trabalha com a comunidade há quatro décadas (Foto: Arquivo Pessoal).
Dona de casa trabalha com a comunidade há quase cinco décadas (Foto: Arquivo Pessoal).

 

Se um dia seu telefone tocar e, do outro lado, uma voz lhe convidar, com entusiasmo: “Vem comer peixe aqui em casa!”, pode desconfiar. Não que a anfitriã não tenha talento para preparar um prato à altura da empolgação do convite – muito pelo contrário. Mas, não seria precipitado dizer que se trata de uma piada. Uma piada com a cara da dona Amália. E o dia que esse ilustre convite veio ao seu encontro por via telefônica, deve ser dia de jogo entre o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense de dona Amália, e o Santos Futebol Clube, que ela prefere chamar de peixe. Pode conferir! Deve ser bem cedo. E, a essa hora, enquanto você recém está tomando ciência do que está acontecendo ao redor do universo, ela já está acordada há um bom tempo, a par das principais notícias divulgadas pela televisão, pelo jornal impresso e pelo bom e velho rádio. De onde, afinal, você acha que veio a informação que suscitou o espírito competitivo, confiante e piadista da nossa personagem?

Então, o leitor se pergunta quem é essa tal “dona Amália”. A pergunta é pertinente. Até porque, a resposta correta é “Amália Severo Gonçalves”. Entretanto, seu sobrenome também soa bem trocado por “Solidariedade”, “Benevolência”, “Caridade”, ou – quem sabe? – “Hospitalidade”. Não é à toa que a etimologia diz que seu primeiro nome vem do germânico “Amal”, que quer dizer trabalho. Em hebraico, também é essa a definição do título que se encaixa perfeitamente em sua personalidade: trabalhadora, ativa e diligente.

Trabalho voluntário sempre foi sua paixão (Foto: Arquivo Pessoal).
Trabalho voluntário tornou-se sua paixão (Foto: Arquivo Pessoal).

Essa é a dona Amália, do auge de seus 83 anos de idade. Natural da cidade gaúcha de Rosário do Sul e casada com o seu Agapíto Costa Gonçalves há respeitáveis 57 anos, ela é mãe de cinco filhos – Eliane Maria, César Luiz, Carmen Lúcia, Jorge Alberto e Cláudio Antônio – e avó de quatro netos – Gabriela, Daniel, Gustavo e Guilherme. Seu currículo profissional não contém nenhuma graduação, tampouco mestrado ou doutorado. Sua profissão, de fato? “Sempre fui dona de casa”, disse, com simplicidade. “Nunca pude trabalhar fora, porque tinha que cuidar dos meus filhos. Mas, comecei a achar que eu estava muito só dentro de casa e resolvi procurar uma entidade para poder ajudar outras pessoas”.

Foi aí que iniciou a história de dona Amália com o serviço voluntário. No ano de 1966, ela e a família já haviam se mudado para o município de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Lá, dona Amália e outras mulheres com ideais semelhantes, se juntaram para criar uma instituição filantrópica, chamada Clube de Mães Maria Goretti. Ela entrou na iniciativa como sócia-fundadora e, na entidade, já transitou como tesoureira, secretária e presidente, sempre sendo exemplo para os demais. “Acho [o voluntariado] uma coisa muito boa. Quantas pessoas entraram ali para estudar, participar de um chá, um jantar, almoço, fazer uma vacina, um curso de corte e costura ou datilografia e cresceram muito? É muito gratificante”, afirmou.

Cristã, dona Amália optou por deixar sempre muito claros em suas ações os valores do amor, da caridade, da solidariedade e da família. Com o espírito humanitário que procurou transferir aos seus filhos e netos, nunca se negou a estender a mão ao necessitado. “Sempre colaborei”, disse, ao opinar que, se todo mundo fizesse alguma coisa por quem necessita, o mundo poderia ser melhor. “Sempre temos que ter um pouquinho de disponibilidade para ajudar aos outros”.

E dona Amália não é suspeita para falar do assunto: é habilitada. Afinal, são 48 anos atuando como líder comunitária. A gratificação não vem em forma de salário, em cédulas ou moedas, mas ela garante que sente muito recompensada e nem pensa em se aposentar das boas ações que pratica. Trabalhar pelo bem do próximo só lhe faz bem.

Reconhecimento
Em 1975, dona Amália recebeu uma homenagem por seu trabalho voluntário no Clube e foi eleita Mãe do Ano. De lá para cá, muitas foram as conquistas que acolheram com carinho a comunidade de Canoas e região. Ela já preparou café da manhã para crianças carentes, já intercedeu junto a instituições profissionalizantes pela implantação de cursos de capacitação, promoveu campanhas de solidariedade, movimentou uma verdadeira força-tarefa pela construção de uma nova sede para a igreja local, realizou rifas, chás e bazares beneficentes. Por meio de palestras, incentivou mulheres a serem exemplo como mães, esposas e cidadãs.

A partir de 1991, o Clube Maria Goretti transformou-se no Clube de Mães Amor e Paz, localizado na Sociedade Cultural e Beneficente Rui Barbosa. Lá, dona Amália começou como segunda tesoureira. No ano de 2001, foi eleita como conselheira junto ao Conselho Geral de Mães, chegando à presidência seis anos mais tarde. Crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, atendidos pela Casa do Pequeno Trabalhador, já receberam das mãos dela alimentos produzidos com carinho para fortalecer o corpo, alimentar a alma e alegrar o espírito. Seu talento também beneficiou a crianças abandonadas na Casa de Passagem, assim como os recém-nascidos do Hospital Nossa Senhora das Graças, que foram presenteados com enxovais confeccionados por amigos e parentes dessa senhora que não apenas se engaja, mas motiva parceiros a aderirem a essas causas mais do que nobres.

Dona Amália recebe honraria (Foto: Prefeitura de Canoas).
Dona Amália recebe honraria (Foto: Prefeitura de Canoas).

Recentemente, como presidente do Conselho Fiscal do Clube de Mães Amor e Paz, recebeu uma homenagem durante a comemoração dos 75 anos de emancipação política de Canoas. Ela e outras dez personalidades foram agraciadas com a Medalha Pinto Bandeira, honraria máxima concedida pelo município a cidadãos que se destacam em suas áreas de atuação, prestando relevantes serviços à cidade.

Taís Brem
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Cansei de ter chefe

Preferência pelo empreendedorismo continua crescendo, mas nem tudo são flores

Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura do próprio negócio (Foto: Divulgação)
Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura da própria empresa (Foto: Divulgação)

De cada quatro brasileiros, três querem abrir o próprio negócio. É o que mostra uma pesquisa feita pela Endeavor Brasil, com o apoio da Ibope Inteligência, em fevereiro do ano passado. O dado pode ser relativamente antigo, mas continua a expressar a relação da população com o fenômeno do empreendedorismo. Cada vez mais pessoas, qualificadas ou não, desejam se libertar do padrão tradicional de emprego para serem chefes de si mesmas. Na empolgação, tem quem se surpreenda ao perceber que a experiência demanda muito trabalho – não raro, mais do que quando se trabalhava como empregado. E isso torna cada vez mais claro o fato de que ser dono da própria empresa está longe de ser brincadeira.

Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)
Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)

O jornalista Miguel Martins, 39, tinha certa noção disso desde o começo. Mas, depois de trabalhar em diversos setores – de supermercado a imobiliária, passando pela telefonia móvel -, desde os 17 anos, ele se deu conta de que poderia exercer melhor sua atual profissão na condição de empreendedor. “Após me formar em Jornalismo em 2007, observei que eu poderia fazer muito mais pela comunidade local com uma empresa própria do que somente como colaborador”, disse Martins, que é egresso da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

A empresa própria a que ele se refere é a revista Vida Saudável, que objetiva levar aos leitores informações sobre qualidade de vida e bem-estar. A publicação foi lançada em novembro de 2009 e é distribuída gratuitamente em toda a zona Sul do estado. A competitividade local, principalmente no que tange aos patrocínios comerciais, é colocada pelo jornalista como uma das principais dificuldades de levar adiante o negócio. Entretanto, quando questionado se faria tudo de novo, caso pudesse voltar atrás, ele é taxativo: “Sim, com certeza! Mas, teria tentado melhorar ainda mais o início de tudo”.

Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)
Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)

Arrependimento também não é o lema do analista de sistemas Guilherme Cunha, 27. De 2006 a 2013, ele passou por duas empresas diferentes e era bem remunerado pelo seu trabalho. “Mas, me sentia preso e nem sempre as minhas opiniões eram aceitas”, afirmou, ao explicar que a busca por liberdade profissional foi o que lhe impulsionou a pedir demissão e tornar-se seu próprio patrão.

O começo como proprietário da Data Extreme Consultoria em TI [Tecnologia da Informação] foi difícil e seu projeto ainda não alcançou os 100% de satisfação. “Há muita dificuldade para conseguir novos clientes, mas, aos poucos, tenho conseguido conquistar a confiança do meu público-alvo”, disse Cunha.

Além dos espinhos
Que seguir carreira como empreendedor é um desafio, isso já deu para entender. Porém, não há só problemas. Para Martins, a melhor coisa em ser chefe de si mesmo é a sensação diferenciada de dever cumprido. “Poder chegar em casa no fim do dia e sentir orgulho de fazer um trabalho que leva qualidade de vida para uma considerável fatia da população e saber que pessoas mudaram seus hábitos, deixando o sedentarismo de lado, após lerem a revista, é o melhor de tudo”. Cunha, por sua vez, destaca a conquista de independência. “Não ter que aturar desaforo e má educação por parte dos chefes é uma das melhores recompensas. Acredito que esse seja o motivo pelo qual tantas pessoas optam por seguir esse caminho, principalmente os jovens”.

Inspiração e transpiração

Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)
Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)

Para ser um empreendedor de sucesso algumas habilidades específicas são indispensáveis, como organização, liderança, flexibilidade e perseverança. De acordo com as dicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além disso, ter senso de planejamento é extremamente necessário para que a empresa não apenas seja criada, mas permaneça no mercado e sobreviva frente à concorrência.

Taís Brem
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