Eu te vi, Jequiti!


Deve durar um segundo, o tempo de um piscar de olhos. Ou menos. Ou mais. De qualquer modo, se for realmente uma tentativa de mensagem subliminar, está um tanto mal feita, pois pode ser percebida. No início não ficava claro se se tratava ou não de um erro da equipe técnica da emissora. Acontece que o “erro” foi ficando cada vez mais frequente e… Bem, a coisa chegou ao ponto de telespectadores recorrerem à internet para reclamar que estão se sentindo lesados. Afinal, em primeira instância, quando se liga a televisão para assistir a um filme, um noticiário ou o programa que seja, não se faz para avistar mini-comerciais de cosméticos. Assim, a atitude do SBT em colocar em sua programação pequenas inserções contendo propagandas dos produtos da marca Jequiti – que, como se sabe, pertence ao “patrão” Silvio Santos – é, no mínimo, uma estratégia perigosa.

A questão da eficácia das mensagens subliminares é discutida há décadas por comunicadores e profissionais afins. Será que inserir de propósito determinados estímulos no meio de uma sequência de imagens realmente tem o poder de nos levar a consumir algo ou simplesmente agir de um jeito conveniente a uma empresa ou uma ideologia, por exemplo? Há mensagens que duram apenas um frame (0,04 segundo). Dessa forma, portanto, não podem ser percebidas pela visão. Mas, se, realmente, o cérebro captar a mensagem, é aí que mora o perigo.

Um dos casos mais famosos de mensagem subliminar ocorreu na década de 1950. Enquanto as pessoas assistiam a um filme no cinema, “liam”, em milésimos de segundos, as frases “Beba Coca-Cola” e “Coma pipoca”. Reza a lenda que, no fim da exibição, a maioria das pessoas foi mesmo acatar a “sugestão”, o que alavancou as vendas dos dois produtos.

“Tiro no pé”

Esses estímulos preparados para atingir o cérebro de modo não consciente podem adquirir, também, a forma de sons, como os barulhos sinistros que já foram inseridos em filmes de terror para aumentar o pânico de quem está assistindo.

Embora em nosso país a legislação não puna diretamente quem utiliza esse tipo de estratégia, a punição pode vir, justamente, de um resultado contrário ao que espera a empresa. Porque, em vez de começar a cogitar a ideia de se tornar consumidor Jequiti, de tanto se deparar com as imagens em momentos inapropriados, o telespectador pode passar a ter repulsa contra os tais produtos e não querer vê-los nem pintados de ouro! Conheço quem já levanta essa bandeira e acha a ideia desrespeitosa, irritante e inconveniente. Mesmo que o número de reclamações não aumente nem se transforme em pedidos de indenização por danos morais, nesse caso, se torna automaticamente desnecessário fazer qualquer tipo de estudo aprofundado sobre o poder de eficácia do método. Tá na cara que não colou.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Pelotismos e pelotices

Quem é pelotense nato, como eu, ou mora aqui há certo tempo deve estar se divertindo bastante ao acompanhar a campanha publicitária de um empreendimento que está em vias de inauguração na cidade. Feita no Facebook, a série de propagandas mostra o jeito peculiar que Pelotas tem de se comunicar. Claro que muito do que está ali pode ser confundido com o que é dito no resto do Rio Grande do Sul (como o “cacetinho”, o “guisado” e o “negrinho”). Mas, temos, sim, expressões que bem podiam ser apelidadas de “pelotismos” ou “pelotices”, que o digam o “partiu o Guabiroba”, o “te desse”, o “merece” e o “bem capaz”.

Além de provocar boas recordações, a iniciativa traz um sem número de expressões semelhantes à memória. Me peguei com bloco e caneta na mão dia desses anotando o que poderia caber exatamente na ideia daquelas propagandas. A torneira que chamamos de “pena”, o armazém que apelidamos de “venda”, o glacê que denominamos “merengue”, o rabo-de-cavalo que, pra nós, é “colinha”.

Há uns dez anos, uma amiga carioca, recém-chegada na cidade, se surpreendeu ao ouvir o elogio de uma pelotense à sua filha que tinha cerca de dois aninhos: “Que nojo!”, disse a mulher. A expressão dela, no entanto, não era de asco, mas de quem acabava de achar a guriazinha fofa demais, lindinha, quase uma bonequinha. Minha amiga deduziu, portanto que, para os pelotenses, “que nojo” também pode ser sinônimo de “que amor”, “que graça” ou coisa que valha.

Sim, ela estava chegando à terra em que ponto de ônibus é “paragem”, geada é “cerração” e inseticida é “flit” ou “xispa”. O que o resto do Brasil chama de manta, para nós é “coberta” ou, até, “sono leve”. E a nossa “manta”, para eles é cachecol.

Pelotas tem dessas coisas. Lembro do tempo em que 07 de setembro era data mais que certa no calendário para reunir as famílias para assistir à Parada da Juventude na Avenida. A atração mais esperada? “A Banda da Escola”. Ninguém precisava perguntar a que avenida, a que banda ou a que escola nos referíamos. Estava subentendido: a “avenida” era a Bento Gonçalves e a “banda”, a marcial da “escola”, a Escola Técnica Federal de Pelotas – que já foi CEFET e hoje atende pelo nome de IF-Sul. Conheço, inclusive, quem, ao completar a maioridade, se surpreendeu ao saber que Pelotas tinha, sim, outras avenidas e que a Bento não era exclusiva.

Só quem é daqui entende o que queremos dizer quando falamos de “Curva da Morte”, “Bairro Cidade”, “Guabi”, “Bonja”, “Donja” ou “Avenida Interbairros”. E aquela rua que lá na capital, Porto Alegre, chamam de “Marechal”, pra nós é apenas “Deodoro”. Deve ser porque nos sentimos mais íntimos.

Taís Brem

Texto publicado também no site Reportchê.

Mais do mesmo

O telespectador postou no Facebook que estava assistindo à morte do Tião Galinha na TV. Não, ele não estava contando aos amigos o sonho que teve durante o soninho da tarde. Estava assistindo ao Canal Viva, canal da televisão paga, pertencente à Rede Globo, que se destina a transmitir reprises de programas da emissora, principalmente novelas. No caso mencionado na rede social, tratava-se de Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, exibida originalmente em 1993.

A ideia da Globo foi boa. Afinal, sabe-se que sempre há uma audiência garantida para esse tipo de programação. Quem não gosta de reassistir algo que foi marcante em sua vida? Acontece que, ultimamente, até quem não acha que valha a pena ver de novo tem tido poucas opções para fugir do “Hum… Acho que já vi essa cena antes…”.

Sim, os remakes e as reprises estão na moda e estão com tudo. Nessa onda, já voltaram com nova cara à telinha “O Astro”, “Gabriela”, “Ti-ti-ti”, “Guerra dos Sexos”, “Dona Xepa”, “Saramandaia”, “Carrossel”… E seguem reprisando clássicos da TV mexicana que a audiência já cansou de ver – que o digam a série de folhetins das “Marias” interpretadas por Thalia Ariadna e a dupla Chaves e Chapolin Colorado.

Alguém pode protestar que o método só segue sendo executado porque está sendo tão divertido para os olhos dos telespectadores quanto é rentável para o cofre das emissoras. O povo gosta. Fica apenas a reflexão se os milhares de comunicadores e afins que as faculdades jogam para o mercado todos os semestres não têm a criatividade necessária para inovar e arriscar um pouco mais. O exemplo não se resume a novelas e seriados. Outros formatos de programas, de entretenimento a noticiários, são copiados tal e qual de TV’s estrangeiras. Uma vez ou outra, tudo bem. Mas, o significativo aumento dessas ocorrências chega a ser sofrível, deixa implícito que a capacidade dos profissionais da mídia televisiva brasileira não tem sido usada a pleno. Não precisa abusar tanto assim da famosa máxima “Nada se cria, tudo se copia”.

A contribuição dos enlatados

Em sua maioria importadas dos Estados Unidos, até as séries têm contribuído, ultimamente, para reforçar o ar de falta de criatividade na TV. A primeira vez que notei o debate em uníssono deve ter ocorrido mês passado. O senhor Drummond, da família protagonista de “Arnold”, fazendo o possível e o impossível para esconder sua idade real e, assim, conquistar uma namorada mais nova. Tal qual um dos personagens principais de “Três é Demais”. Depois, a abordagem hilária do conflito de gerações passou para os filhos mais velhos de Drummond: tanto a garota quanto o garoto fingiram ser mais velhos para fazer bonito com seus pretendentes. Tudo isso em episódios diferentes, se é que se pode usar essa expressão.

Na última semana, foi a vez de “Eu, a Patroa e as Crianças” e “Um Maluco no Pedaço” se combinarem para mostrar ao público a saga dos adolescentes que sofrem bullying na escola e acabam vendo seus pais se engalfinhando para defendê-los. De novo, a mesma história; só mudou o endereço.

Os exemplos podem ser fruto de planejamento. Talvez na tentativa de reforçar uma espécie de marketing social na cabeça das pessoas (eles podem ser fãs de Glória Perez, por que não?).

Enquanto isso, a ideia segue sendo executada. As novas Chiquititas, que estrearam nessa segunda-feira (15), são um ótimo convite para quem está gostando da brincadeira.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa