O que Deus uniu, não separe o Face

Onda de casais que mantêm perfis duplos na rede social é cada vez mais comum

(Foto: Taís Brem)
Perfil “Ines Y Jorge” é um exemplo desse modismo (Foto: Taís Brem)

Se esse não é o seu caso, com certeza, sua lista de amigos do Facebook contém um ou outro perfil do tipo “João Maria da Silva” ou “Maria José Aguiar”, por exemplo. E não porque alguém resolveu se identificar na rede social com o nome completo que, por acaso, contém um segundo nome característico do sexo oposto. Mas, porque a tendência de unificar perfis na rede está cada vez mais forte entre os casais. A moda vale para namorados, noivos, casados e afins. Para quem está do outro lado, a opção é confusa, já que nunca se sabe ao certo com quem se está falando, de quem é o aniversário indicado, a idade e outras tantas informações disponíveis no Face que foram feitas para cada indivíduo em particular e não para duplas. Porém, quem aderiu ao modelo garante que está tudo bem. Ciúme, forma de controle, falta de individualidade? Que nada! Para eles, Mark Zuckerberg é que deveria se atualizar e criar opções para esse público que não se desgruda nem na hora de se conectar ao mundo virtual.

Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal optou por manter apenas uma conta no Facebook (Foto: Arquivo Pessoal)

É assim com o agente de segurança Jorge Luis Padilha, 43, e sua mulher, a universitária Inês, 30. A ideia de criar o perfil duplo foi dela. E ele, por sua vez, quando soube, aprovou. “Para os casais que levam a relação a sério, a tendencia é aumentar [a escolha por esse tipo de perfil], pois a confiança entre eles é maior”, opinou Padilha. “Além do mais, não temos nada a esconder um do outro”, disse ele, ao comentar que, por enquanto, é Inês quem usa mais a conta, em função das informações acadêmicas que acessa pela rede.

Spohr: "Tudo depende da forma como o Face é usado" (Foto: Arquivo Pessoal)
Spohr: “Tudo depende da forma como o Face é usado” (Foto: Arquivo Pessoal)

Donos do perfil “Marcus Debora Spohr”, o jornalista e professor universitário de 34 anos e a cabeleireira e maquiadora, de 32, também são casados e, assim como Jorge e Inês, consideram positiva a moda de unificar contas nas redes sociais. “Ela me falava que queria um Face. Como eu já tinha, decidimos unir os dois nomes. Não tinha sentido manter apenas no meu nome, visto que eu e minha esposa vivemos em unidade”, explicou Spohr, ao frisar que a medida não deve ultrapassar limites: “O mútuo acordo sobre o que deve ser publicado é fundamental. Entendemos que o Face é uma ferramenta muito boa para se comunicar. No entanto, o que é bom pode ser, também, muito negativo. Tudo depende da forma que ele é usado”.

Particularmente, a psicóloga Ângela Luca Firmino Branco não vê com bons olhos a ideia do compartilhamento de perfis. “Cada um é sua própria singularidade e nas redes sociais não deve ser diferente. Alguns casais utilizam esse recurso, na minha opinião, como forma de controle do outro ou por insegurança, na ilusão de achar que o que é compartilhado ficará sob controle”, disse. “Ledo engano. Acho que a vida a dois pode ser suficientemente compartilhada em diversos momentos do dia a dia sem que cada um precise perder ou diluir sua própria identidade. É preciso ter claro até onde podemos e para quê precisamos expôr nossa privacidade. E, se optarmos por isso, precisamos ter claro a serviço de quê estamos fazendo”.

Para Ângela, a moda dos perfis duplos é mais um sinal de que, ao longo das décadas, as pessoas foram perdendo a noção de privacidade e individualidade. “Há alguns anos, antes da Internet e das redes sociais, brigava-se para que a informação fosse democratizada e compartilhada. Hoje, brigamos para que essas mesmas informações sejam privativas e não compartilhadas e precisamos mudar uma configuração para que nossa vontade se legitime. Assim, acredito que perdemos muito do nosso anonimato, nossa individualidade e tudo, inclusive meu ‘eu’ pode ser compartilhado, dividido, exposto, divulgado, universalizado. Meu perfil sou eu e mais alguém, um grupo, uma coletividade, deixei de ser um sujeito e passei a ser um grupo, deixei de ser completo para ser uma parte, deixei de ser inteiro para ser uma metade”, opinou. “Existem muitas vantagens nas redes sociais, a universalidade da informação facilitou muito diversos aspectos da vida moderna numa rapidez impressionante, mas ainda sou do tempo em que alguns aspectos da vida a dois combinam mais entre quatro paredes”.

Solução virtual

Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)
Especialista, Gabriela Zago não gosta da tendência (Foto: Wilson Lima)

Tanto Inês e Jorge quanto Marcus e Débora concordam que seria muito melhor se o próprio Facebook oferecesse uma opção de perfil para casais. “Daria uma maior dinâmica de uso da ferramenta para os usuários”, disse Spohr. “E, aí, fica um perfil que envolve realmente os dois, com informações de data de aniversário, sexo, empregos, locais onde estudou etc de cada um”, completou Padilha.

A boa notícia é que, embora no formato de perfil as configurações sejam restritas apenas a indivíduos em particular – ainda que na teoria -, no modo “página”, é possível adaptar a opção para unificar perfis. “O próprio Facebook oferece páginas com perfil de casal ou sobre o relacionamento entre quaisquer dois amigos no Facebook, a partir da combinação das informações dos dois usuários. Funciona, também, para casais”, sugeriu a jornalista e professora do curso de Design Digital da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Gabriela Zago, 27. “Pela lógica, um perfil de casal deveria ser uma página, como as criadas para representar grupos ou associações. Embora seja uma prática que já vem de outras redes, como Orkut, acho [a tendência de unificar perfis] ruim. Dificulta o contato com outras pessoas e a interação na rede. Numa rede social, cada perfil deveria representar um indivíduo”, comentou.

Taís Brem

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Sobre Mandela

Morto aos 95 anos, no início do mês, o primeiro presidente negro da África da Sul, líder da resistência contra o apartheid e Nobel da Paz de 1993, Nelson Mandela foi sepultado no último domingo (15). Mas, antes mesmo de ser enterrado em sua terra natal – o vilarejo Qunu, na província de Cabo Oriental -, já estava recebendo homenagens dos quatro cantos da terra de celebridades e, também, de anônimos. O Blog Quemany traz aqui um recorte delas, em nosso tradicional formato de compilação de frases. Querido leitor, prepare-se para encontrar de tudo: de declarações inspiradoras e aparentemente emocionadas a frases postadas na redes sociais por quem parece querer somente dizer que sabia que Mandela existiu e não quis ficar de fora do assunto do momento, passando, é claro, pelas gafes dos desinformados e pelos textos que têm todo o jeito de que foram citados pelos assessores. Enfim, boa leitura.

Ex-presidente sul-africano morreu dia 05 (Foto: Divulgação).
Ex-presidente sul-africano morreu dia 05 (Foto: Divulgação).

“Ele não pertence mais a nós, ele pertence à história”
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.

“Seu legado é a pacífica África do Sul que vemos hoje”.
Elizabeth 2ª, rainha da Inglaterra.

“Eu rezo para que o exemplo do ex-presidente inspire gerações de sul-africanos para colocar a Justiça e o bem-estar comum no ponto mais alto de suas aspirações políticas”.
Papa Francisco, líder máximo da Igreja Católica.

“A herança de Mandela ficará marcada para sempre nas páginas da História e nos corações de quem se aproximou”.
Shimon Peres,
chefe de Estado israelense e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1994.

“Um gigante entre os homens morreu. É uma perda tanto para a África do Sul como para a Índia. Era um verdadeiro gandhiano”.
Manmohan Singh,
primeiro-ministro da Índia.

“O exemplo deste grande líder guiará todos aqueles que lutam pela justiça social e pela paz no mundo”.
Dilma Rousseff,
presidenta do Brasil, ao considerar Mandela a “maior personalidade do século 20”.

“O mundo perdeu a pessoa mais inspiradora que já caminhou sobre a Terra”.
Kelly Osbourne, apresentadora de TV. Opiniões devem ser respeitadas, mas acho que ela ainda não ouviu falar de Jesus Cristo… Só acho.

“A morte de Nelson Mandela torna o mundo mais pobre de referências de coragem, dignidade e obstinação na defesa das causas justas. Seu nome permanecerá como sinônimo de esperança para todas as vítimas de injustiça em qualquer parte do mundo”.
Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

“O mundo perdeu um homem que ofereceu um arco-íris de possibilidades para um país segregado entre negros e brancos”.
Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial.

“Na cultura de celebridades que marca o novo milênio, concentrada no indivíduo como criador do próprio destino, é frequente considerar que Mandela foi não só o senhor de seu destino pessoal, mas o principal arquiteto da nova África do Sul”.
Elleke Boehmer, escritor e autor da biografia “Mandela: o Homem, a História e o Mito”.

“Isso demonstra a importância que Madiba tinha como líder”.
Jacob Zuma, atual presidente da África do Sul, ao afirmar que o amor demonstrado pelos sul-africanos e por outros países ao ex-líder é “sem precedentes”.

“Eu sinto como se eu tivesse perdido meu pai, alguém que cuidava de mim. Como negro sem conexões, você já sai em desvantagem”.
Joseph Nkosi, segurança, morador de um subúrbio de Johanesburgo.

“Ele nos ensinou o perdão em uma grande escala”.
Muhammad Ali, ex-boxeador norte-americano.

“Lamento a irreparável perda do lutador Nelson Mandela, sem dúvidas um dos melhores atores de Hollywood. Que descanse em paz”.
Javi Jimenez, goleiro do time espanhol Levante, ao confundir Mandela com o ator Morgan Freeman, que interpretou o ex-presidente no filme “Invictus”. Ah tá!

“Nós vivemos e presenciamos a vida de Mandela, guardaremos pra sempre em memórias.Nosso filhos estudarão toda sua história!”.
Priscila Pires,
ex-participante do Big Brother Brasil.

“Grato Madiba por seu legado e seu exemplo. Você sempre estará conosco.”
Cristiano Ronaldo, jogador português.

“Meu respeito, minha admiração…”.
Bruno Gagliasso, ator.

“Obrigada por tudo!! #Mandela”.
Gaby Amarantos, cantora.

“A vida do presidente Mandela é a coisa mais próxima que nós temos da prova da existência de Deus”.
Arnold Schwarzenegger, ator e político.

“Hoje, o anjo retornou ao céu…”.
Luan Santana, cantor.

“Descanse em paz mestre! Sem mais”.
Alexandre Pires, cantor.

Taís Brem
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Black Friday made in Brazil

Promoção ocorrida há duas semanas mostrou que empresas ainda tentam enganar o consumidor

No Brasil, promoção tem o negativo rótulo de "Black Fraude" (Foto: Taís Brem)
No Brasil, promoção tem o negativo rótulo de “Black Fraude” (Foto: Taís Brem)

Há duas semanas, está aberta a temporada oficial de compras para as festas de fim de ano. É o que diz a cópia brasileira da tradicional promoção do comércio americano, a tal Black Friday, ocorrida por aqui no dia 29 de novembro. A sexta-feira que antecede o feriado de Ações de Graças na terra do Tio Sam é marcada pela desesperada procura dos clientes por preços mais baratos que os convencionais. Mas, a onda do varejo que existe desde a década de 1960 nos Estados Unidos não tem, pelo menos por enquanto, muita semelhança com o que acontece no Brasil há quatro anos. Se lá, a chamada “sexta-feira negra” é cenário, inclusive, para cenas de violência (onde pessoas cospem umas nas outras ou disparam tiros para garantir pechinchas), aqui o consumidor tem mesmo é que se cuidar para não ser violentado pela esperteza das empresas, que não raro aproveitam a oportunidade para maquiar preços, alardear descontos que, na prática, não existem e faturar em cima da ingenuidade dos clientes.

A tática, apelidada de “Black Fraude”, tem chamado a atenção, até do Procon, o Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor, que multa as empresas que comprovadamente usam de “má-fé” com o público. As reclamações registradas por compradores tanto de lojas físicas quanto de virtuais no Procon ou em sites como o Reclame Aqui bateram recorde em 2013: em apenas 12 horas de promoção, havia mais de 5 mil queixas registradas contra 8 mil em um período de 24 horas no ano passado.

Maquiagem comprovada

Pesquisa mostrou resultados da edição 2013 (Foto: Taís Brem)
Pesquisa mostrou resultados da edição 2013 (Foto: Taís Brem)

Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (13) pelo Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (PROVAR/FIA), em parceria com a empresa de monitoramento de preços no comércio virtual Íconna mostrou que 21,5% dos produtos pesquisados apresentou alta de 10,2% nos preços. Ao todo, foram analisadas as variações de preços de 1.312 produtos, como aparelhos de ar condicionado, lavadoras, câmeras digitais, fogões, cooktops, aparelhos de DVD, refrigeradores, filmadoras, impressoras, livros e conjuntos de panelas. Mas, nem tudo foram espinhos: em relação aos produtos com redução, 9,5% dos itens apresentaram desconto médio de 11% nos preços. Embora pareça pouco, os números são menos desagradáveis que em 2012, quando apenas 2,8% dos produtos apresentaram queda média de 6,3%. “Houve promoções e alguns itens apresentaram grandes quedas, mas um consumidor sem referência de preços correu um risco maior de pagar mais caro do que obter um bom desconto no dia da promoção”, afirmou o diretor de pesquisas do Provar e coordenador da pesquisa, Nuno Fouto.

Mesmo com todos os inconvenientes, a edição 2013 da Black Friday Brasil movimentou R$ 424 milhões somente em vendas no ambiente virtual, o que se traduz como 95% a mais do que o registrado em 2012, quando o faturamento chegou a R$ 217 milhões.

Andressa queria um livro e uma camiseta (Foto: Arquivo Pessoal)
Andressa queria um livro e uma camiseta (Foto: Arquivo Pessoal)

A fotógrafa Andressa Barros, 27, estava “enrolando” há um tempão para comprar uma camiseta com a imagem do roqueiro Ozzy Osbourne estampada. Preço básico do objeto de desejo em dias normais: R$ 75,00 mais frete (R$ 16,00 via PAC, a encomenda “econômica” dos Correios, e R$ 34,00 via Sedex, o serviço de encomenda expressa). No dia 29, quando conversou com o Blog Quemany, Andressa tinha acabado de ouvir falar que todas as t-shirts do site paulistano por que se enamorara estavam com preço reduzido: R$ 39,00. A oferta foi uma tentação. “Nunca comprei nada [na Black Friday], mas se essa camiseta fizer parte da promoção, com certeza estrearei minhas compras hoje”, disse, ao citar que também estava de olho num livro de composição fotográfica que estava por R$ 9,00.

Ana e o irmão: sugestão de presente (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana e o irmão: sugestão de presente (Foto: Arquivo Pessoal)

A gerente administrativa Ana Carolina Magalhães, 21, queria mesmo era adquirir uma câmera fotográfica. Só que… “Há um mês, ela estava por R$ 699,00 e, na Black Friday, continua com o mesmo preço, mesmo anunciada como promoção. Ou seja, não compensa”, comentou. Para ela, a ilusão dos consumidores se deve ao “vislumbre das propagandas”. “As empresas fazem o cliente acreditar que está fazendo um bom negócio. Só que para se certificar disso, é necessário fazer uma boa pesquisa”, opinou ela, que chegou a postar em seu perfil do Facebook o indignado post “Que Black Friday mais fajuta!”. Contudo, momentos depois, Ana encontrou na promoção uma forma de garantir economia para o bolso do irmão, no caso de ele desejar comprar uma “lembrancinha” para ela: “Aproveita o preço de hoje e já compra meu presente de Natal! Grata!”, cutucou, linkando o site que anunciava a promoção da coleção de 40 DVD’s com as dez temporadas completas do seriado americano Friends.

Coleção de temporadas de seriado estiveram em promoção (Foto: Divulgação)
Coleção de temporadas de seriado esteve em promoção (Foto: Divulgação)

Taís Brem
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Não era o que você estava pensando

Imagem polêmica de líderes mundiais gerou comentários maliciosos

Cameron, Helle, Obama e Michelle (Foto: Roberto Schmidt/ Agência AFP)
Cameron, Helle, Obama e Michelle (Foto: Roberto Schmidt/ Agência AFP)

Muita gente publicou e republicou. Curtiu e ajudou a repercurtir. E, a cada versão, o conto ganhou mais um ponto. Distorcido. A sequência de imagens feitas pelo fotógrafo da Agência AFP Roberto Schmidt num evento em memória ao ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, na terça-feira (10), acompanhada de comentários maliciosos por parte da imprensa de todo o mundo, foi o suficiente para levantar uma série de afirmações sobre a falta de educação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e da primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt.

Quem olha as fotos, vê o trio às gargalhadas, posando para foto no celular de Helle, e Michelle, a primeira-dama americana, com cara de poucos amigos ao lado. As conclusões: além de estar se divertindo em hora imprópria com os colegas, Obama estava correndo sério risco de ir dormir no sofá, dada a situação chata provocada pelo entrosamento com a loira assanhada. Foi isso que o planeta inteiro comentou. Acontece que, pelo que parece, a apuração jornalística gerou um “furo furado”. Porque não foi bem isso que ocorreu. Para esclarecer o caso polêmico, Schmidt publicou um post no blog dos correspondentes da AFP, dizendo que tirou as fotos logo após Obama ter discursado no estádio FNB (Soccer City), em Johannesburgo. No momento, o clima era de celebração pela memória de Mandela, bem ao estilo africano de ser, com danças, cânticos e sorrisos, inclusive. Uma questão cultural. “Era mais como uma atmosfera de carnaval, nem um pouco mórbida. A cerimônia já tinha ido por duas horas e duraria mais duas”, relembrou. “Eu não vi nada de chocante no meu visor. Os líderes mundiais simplesmente agiram como seres humanos, como eu e você. Duvido que alguém teria permanecido totalmente pedregoso enquanto dezenas de milhares de pessoas estavam comemorando no estádio. Políticos ou não, estávamos na África”.

Conforme o relato, Obama, Cameron e Helle estariam, então, apenas entrando no clima da descontraída homenagem. Michelle, também. Não fossem alguns segundos de diferença do clique, ela mesma teria sido flagrada brincando com o trio. “Seu olhar severo foi capturado por acaso”, explicou o fotógrafo, ao demonstrar frustração com a repercussão negativa atribuída ao trabalho. “Mandamos cerca de 500 fotos, tentando retratar verdadeiros sentimentos, e esta imagem aparentemente trivial parece ter eclipsado muito desse trabalho coletivo. Confesso, também, que me deixa um pouco triste que estamos tão obcecados com o dia a dia de trivialidades, em vez de coisas de real importância”, finalizou.

Ainda bem que as palavras estão aí para desfazer os mal-entendidos que a interpretação errada de uma imagem pode causar.

Taís Brem

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A corrupção nossa de cada dia

Mesmo imperceptíveis, atos corruptos acabam fazendo parte do cotidiano de simples cidadãos

Quando apreendidos, produtos falsificados são destruídos (Foto: Prefeitura de Contagem)
Quando apreendidos, produtos falsificados são destruídos (Foto: Prefeitura de Contagem)

A prima de Breno* comemorava a instalação de uma televisão a cabo gospel em sua casa. Era o fim da dependência midiática àquela emissora cuja qualidade da programação há muito deixou de acompanhar sua popularidade. Ele também viu nisso motivo para comemoração e não perdeu a chance de fazer a proposta: “Vamos compartilhar?”.

Durante uma discussão acalorada, Maiara* aumentou o tom da voz para que todos os colegas de classe pudessem ouvir sua opinião a respeito do consumo de produtos piratas. O professor lançou a questão e ela falou, até com certa dose de orgulho nas palavras: “Eu compro piratas, sim! E, duvido que, com o preço que estão os originais, alguém consiga manter uma coleção de CD’s se não for desse jeito!”.

Gislaine* é médica, profissão sonhada por muitos por ter a fama de remunerar bem. Em tese, não tem do que reclamar. Mas, quando o assunto é imposto, ela reclama, sim. “Eu acho muito dinheiro. Trabalhei ‘um monte’ ano passado, retive na fonte e ainda tive que pagar R$ 8 mil que faltaram!”. Sobre a pirataria, a questão financeira, novamente, ganha foco: “É ambivalente mesmo e eu fico me culpando. Tento evitar, mas, se eu não comprar pirata, eu não vou comprar o original, porque não tenho o dinheiro”, argumenta.

Ândrea* diz que nada compensa o preço baixo dos produtos piratas, porque danificam os aparelhos e, é lógico, não têm a qualidade de um produto original. “Já comprei, mas, hoje em dia, prefiro não comprar mais”.

Bárbara* conhece a lei. Sabe que comprar mercadorias não-originais é crime e demonstra receio em admitir. Entretanto… “Sim, eu compro. Mas sei que é errado”.

O leitor que chegou até aqui deve estar com um pé atrás com o título da reportagem. Até porque pequena é a probabilidade de você estar numa praia paradisíaca, lendo essa notícia no seu notebook ou tablet para relaxar, depois de aplicar o seu mais recente golpe milionário. Mas, pode acreditar, não é nada pessoal. Qualquer um de nós está sujeito a ser corrupto em pequenos e corriqueiros hábitos do dia a dia. No contexto, a compra de produtos piratas, a sonegação de impostos e a ligação clandestina de energia elétrica, de sinal a cabo e de Internet são somente a ponta do iceberg. Tem, também, a cola na prova, o troco a mais não devolvido, o atestado “frio” no serviço e até a manobra para furar a fila e chegar mais rápido ao atendimento. A lista só aumenta. Infelizmente, a frequência com que tais comportamentos são praticados é tão grande que esses e outros atos corruptos viraram rotina. E, o pior: uma rotina aceitável na qual o adjetivo “corrupto” soa até como exagero. No momento em que o país inteiro se revolta contra a má administração do governo e os episódios de corrupção que dominam a máquina pública, é válida a reflexão sobre a parte que cada cidadão deve desempenhar. Apesar dos preços altos e do superfaturamento que favorece os setores público e privado, é justificável pagar na mesma moeda?

Na opinião do pastor do Ministério Casa de Oração (MCO) e coronel da reserva do Exército Brasileiro, Sergio Ribeiro Guimarães, a postura não é generalizada. Mas, muitas das pessoas que reclamam da desonestidade dos políticos, também agem de forma desonesta. “Na verdade, elas estão reclamando, porque não tiveram a oportunidade de fazer o mesmo que esses políticos estão fazendo. Acredito, também, que existam muitas pessoas honestas indignadas com a bandalheira dos nossos políticos e que esperam uma mudança na mentalidade que tem norteado muitos brasileiros para levar vantagem em tudo”, comentou.

“Não existe pequena corrupção ou grande corrupção. O que existe é a oportunidade de cometê-la no meio que estamos inseridos. Estes grandes corruptores quando estavam em outras camadas sociais já praticavam suas corrupções, assim como creio que esses que cometem as pequenas, se chegarem lá no alto poder virão a cometer as grandes, também”.

A psicóloga Marilei Vaz partilha da mesma opinião e diz acreditar, inclusive, que até os asteriscos que acompanham o nome das personagens no início desta reportagem (colocados a pedido dos entrevistados para proteger sua real identidade), podem ser encaixados no que, na psicanálise, chama-se “mecanismos de defesa”: “Embora essas atitudes desonestas tenham respaldo social, as pessoas tendem a querer camuflá-las e usar de mecanismos para suportar a dificuldade de aceitar os próprios erros”, explicou. “Na verdade, não importa se são pequenas coisas ou não. Quem é honesto, é honesto. O ideal seria que a sociedade parasse de resolver tudo na mentira e voltasse à transparência”.

Um jeitinho ali, outro acolá
Soando ou não como falso moralismo, o debate é extenso e provoca posicionamentos diversos. O músico e publicitário, André Chiesa, por exemplo, concorda que práticas como a sonegação de impostos e a pirataria sejam erradas. Porém, faz ressalvas. “Tenho dois lados. Acho importante ser visto que, assim como não é certo consumir um produto que não é original, uma pessoa que vende esse tipo de produto trabalha igualmente, como qualquer outro comerciante. Até onde estamos errados?”, questiona. “Sabemos que as marcas originais superfaturam seus valores simplesmente pelo logo impresso ao mesmo tempo em que escravizam chineses, indianos e tantos outros em suas fábricas terceirizadas”.

Integrante da banda Pimenta Buena, Chiesa diz, inclusive, que não se sente lesado com as cópias que volta e meia surgem do DVD e dos dois CD’s já lançados pelo grupo. “Acho que ajuda muito a divulgar. Em um mercado onde quem menos ganha é quem cria tudo, para nós só ajudou”, disse.

Punição ou conscientização?
Em maio desse ano, o Ministério da Justiça lançou o 3º Plano Nacional de Combate à Pirataria, elaborado pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual (CNCP). A ideia é trabalhar ações de conscientização tanto junto aos consumidores quanto aos próprios órgãos públicos, além de apoiar iniciativas empresariais voltadas à formalização da economia, inclusão social, apoio à gestão da inovação e ao empreendedorismo. Aumentar o enfrentamento da pirataria por meio de ações repressivas ou de fiscalização também está no projeto.

Companhia faz fiscalização e campanhas de alerta à população (Foto: CEEE)
Companhia faz fiscalização e campanhas de alerta à população (Foto: CEEE)

Sob o mote “Se alguém está utilizando energia de graça, os outros estão pagando por isso!”, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) possui até formulário online para quem quiser contribuir denunciando irregularidades. E não apenas pelo prejuízo financeiro, mas, para evitar casos como o ocorrido em dezembro de 2011, quando um homem morreu eletrocutado, próximo à Estação Rodoviária de Pelotas, ao tentar puxar energia elétrica para sua casa de um poste da CEEE.

Quando o assunto é a clandestinidade no sinal de TV a cabo, também se fala em providências. Conforme dados divulgados pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), num período de dez anos, sem um combate eficiente, a pirataria no setor pode eliminar 150 mil postos de trabalho legais e qualificados, sonegar mais de R$ 500 milhões ao Tesouro Nacional, desviar R$ 10 bilhões em investimentos e atrasar programas de inclusão digital. Embora socialmente tolerados, os praticantes dessa infração são enquadrados, há dois anos, como usuários ilegais de telecomunicações, pela Lei Geral das Telecomunicações. Isso vale tanto para quem concede como para quem utiliza o sinal clandestino.

Quem pratica sonegação fiscal, omitindo informações na Declaração do Imposto de Renda para diminuir a contribuição, por exemplo, está sujeito a pena de reclusão e a multa, de acordo com a legislação federal.

Mas, e quando os pequenos delitos não são considerados crimes formalmente falando? A funcionária pública Luiza Soares, considera que, mesmo assim, vale a auto-vigilância. “São coisas muito sérias. Se não vigiarmos, nas pequenas coisas podemos estar concordando com o que eles [os corruptos] estão fazendo”. Ao que Sergio Guimarães completa: “Cabe a cada um de nós fazer a nossa parte dentro da sociedade e orarmos para que essa mudança ocorra ainda em nossos dias”. Agora, a responsabilidade fica na consciência de cada um.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente em agosto de 2013 no site de notícias Reportchê.

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