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O milagre do respeito

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Acabei de ver um vídeo interessante que me fez refletir sobre o respeito ao próximo. É fato que vivemos numa sociedade cada vez mais egoísta em que o “faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem por você” anda em acelerado desuso. Mas, quando nos deparamos com ações como a da Comisión Especial de Discapacidad do Congreso de la República del Perú – ou Comissão Especial sobre Deficiência do Congresso da República do Peru, em tradução livre –, o choque é inevitável.

Deve ter sido exatamente esta a intenção de quem elaborou a peça: chocar. Objetivo que foi alcançado com êxito. É uma sacada bem simples, mas muito inteligente. Trata-se de um vídeo que mostra motoristas saindo de seus carros caminhando normalmente, logo após estacionarem os automóveis em vagas destinadas a pessoas portadoras de necessidades especiais. Então, atores chegam perto dos condutores simulando uma série de cuidados e perguntando se eles se sentem bem, se não querem uma cadeira de rodas pra auxiliar na locomoção, entre outras estratégias, todas bem aplicadas com o intuito de constranger a pessoa. Afinal, se o motorista que acabou de sair de um carro estacionado numa vaga para cadeirante o faz sem apresentar nenhum sintoma de deficiência que justifique a parada no local, das três, uma: ou essa pessoa precisa de ajuda para se locomover com segurança, ou merece os parabéns por ter sido milagrosa e instantaneamente curada ou está pedindo por um bem-dado “puxão de orelhas” para aprender a respeitar o espaço alheio. Infelizmente, as reações mostradas nas imagens levam a crer que a terceira hipótese é a correta.

Seria interessante se o mesmo grupo surpreendesse o falso cadeirante torcedor da Copa que foi pego saltitando da cadeira de rodas na fila próxima ao gramado, destinada pela Fifa aos portadores de necessidades especiais.

Uns o fazem simplesmente para conseguir um lugar privilegiado na competição esportiva mais emocionante do planeta. Outros, simplesmente porque querem levar vantagem numa boa vaga de estacionamento. A unanimidade fica por conta mesmo da falta de respeito. A peça peruana traz como slogan a frase “Pedimos respeito, não milagres”. Eu diria mais: seria bom se a prática do respeito deixasse de ser milagre e se tornasse algo corriqueiro. Um dia, quem sabe celebraremos esse prodígio.

Taís Brem

*Texto publicado originalmente no Clicsul.Net.

Letras miúdas

MP900385253Seria muito bom se aquele aparelho de DVD custasse apenas R$ 33,00. Ou se o aquecedor estivesse só R$ 39,90, ainda mais com o frio que anda fazendo por essas bandas nos últimos dias. Mas, não. Para identificar o preço verdadeiro desses e de outros produtos, os consumidores têm de fazer um esforço extra. Não basta somente passar os olhos pelos encartes e cartazes que anunciam promoções. É imprenscindível atentar para os detalhes e ver se o preço alardeado com fontes garrafais não está acompanhado de algum asterisco ou informação em letras menores, que indicam, por exemplo, que o valor convidativo é apenas o que custa uma das parcelas necessárias ao pagamento da bendita mercadoria.

Ao prestar atenção nesses pequenos e importantes detalhes, o consumidor pode descobrir que não é R$ 18,00. São 3x de 18. Não é R$ 29,99. São 30x desse valor. Uma surpresa bem desagradável. Ou não. Afinal, um pouco de desconfiança nesses casos não faz mal a ninguém. E, a bem da verdade, por mais estratégica que seja a iniciativa das empresas em camuflar as letras miúdas que realmente interessam num contrato de compra e venda, isso não é nenhuma novidade.

Na linguagem do marketing, deve ser a mesma lógica que guia os números para as vírgulas e os “99″ da vida. Porque todo mundo sabe que são minúsculas as chances de se receber R$ 0,01 de troco quando se paga R$ 10,00 por algo que, pela etiqueta, vale R$ 9,99. Mas, todo mundo compra. E se gaba de ter feito um bom negócio. Já dizia o velho ditado: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Ainda que as letras sejam miúdas demais para se enxergar a olho nu.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.

Uma senhora propaganda

Costume saudável de beber água mineral pode influenciar gerações

Ana Paula, em visita a Israel, com a inseparável garrafa d'água (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana Paula (D), em visita a Israel, com a inseparável garrafa d’água (Foto: Arquivo Pessoal)


Ninguém lembra ao certo o motivo que desencadeou o hábito – pode ter sido para aliviar o esforço que o uso contínuo da voz causava às cordas vocais ou para melhorar o funcionamento dos rins. O que se sabe é que funcionou e contagiou muitas pessoas. Às vésperas de completar 45 anos, a pastora do Ministério Casa de Oração (MCO) e empresária carioca Ana Paula Oliveira Guimarães, pode não ter mais idade de garotinha. Mas, o vigor e a disposição que esbanja têm muito a ver com a mania que cultivou de sempre carregar junto a si uma garrafa com água mineral. Mesmo que a embalagem seja daquelas grandes, de um litro e meio. E cada vez que ela aparece bebendo o seu líquido precioso, faz uma “senhora propaganda” do produto do qual muitos desconhecem os benefícios.

Ana Paula mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul, há mais de uma década. E foi nesse período, em que reside em terras gaúchas, que o filho mais velho, Paulo Roberto, 23, aconselhou-a a começar a tomar água mineral. “Eu não lembro bem, ao certo, como começou essa história da água. Mas, realmente, ela influenciou muita gente. Especialmente eu, que dei o conselho e depois comecei a seguir minha própria ideia”, disse.

O gosto da carioca pelo produto é tão intenso que ela ingere apenas uma marca específica. E, dado ao paladar aguçado, sabe discernir se o lote em questão está “bom” ou não. “A água que ela toma é de uma fonte distinta, como todas as águas minerais de boa qualidade, mas essa foi a que acabou agradando”, comentou Paulo.

Ariadne e Paulo, tomando gosto pela água mineral (Foto: Arquivo Pessoal)
Ariadne e Paulo, tomando gosto pela água mineral (Foto: Arquivo Pessoal)

Também pastor, cantor e recepcionista da Beit Immanuel, em Tel Aviv, Israel, Paulo estudou Louvor e Adoração por dois anos no Centro de Treinamento Missionário Diante do Trono (CTMDT), em Minas Gerais. Enquanto esteve por lá, recebeu, por várias vezes, a visita da família. E foi uma grande sensação para os colegas perceber em sua mãe o hábito incomum de carregar a garrafa de água mineral a tiracolo. Comprovados os benefícios do hábito, até os colegas de Paulo passaram a ingerir mais o líquido, principalmente durante as apresentações da banda formada pelos alunos do Seminário. “Eu via todo mundo tomar muita água e acabei pegando essa fase de influência por causa do Paulo, que carregava uma garrafa de um litro e meio direto”, disse a agora acadêmica de Dança da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) Ariadne Cunha, 25.

Carioca passou a carregar garrafas maiores para suprir o hábito (Foto: Arquivo Pessoal)
Carioca passou a carregar garrafas maiores para suprir o hábito (Foto: Arquivo Pessoal)

Saber que sua mania saudável faz discípulos diverte Ana Paula. “Amo a verdadeira água da vida. Esse é o ‘top’ do percurso, que me faz mergulhar mais profundo nesse estilo, gerando vida e influenciando nossa geração a desfrutar saúde, respirando”, comentou. “Para mim, água tem sabor de vida pura”.

Também pudera. Encher uma embalagem de PVC com água da torneira ou mesmo do filtro é fácil. Mas, cumprir à risca o protocolo de realmente beber água mineral, não é coisa que se veja em qualquer esquina. Infelizmente. “A água mineral é uma água naturalmente abundante em sais. Ela provém de nascentes onde o solo é rico em sais minerais”, explicou a professora Eva Regina Lemos, técnica em Química pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IF-Sul) e graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ao acrescentar que considera que as pessoas tomem água por ser uma necessidade do corpo humano, mas não aproveitam os benefícios que a mineral pode trazer à saúde por falta de conhecimento do assunto.

A marca que Ana Paula costuma ingerir é classificada como radioativa e, portanto, possui propriedades calmantes, além de contribuir na dissolução de cálculos renais, melhorar a digestão e aliviar cólicas estomacais e intestinais. Existem, ao todo, 11 classificações diferentes de água mineral, com várias contribuições à saúde, como a carbogasosa, indicada para repor energia; a iodetada, que combate inflamações na laringe; e a ferruginosa, que pode, inclusive, ajudar no combate à anemia.

Águas e águas
Nem tudo o que é incolor, inodoro e insípido é a mesma coisa. Saiba a diferença.

Water DropletsÁgua potável – De acordo com Eva, esse é um tipo de água que sofre tratamento físico e químico para que se torne apta para o consumo;

Água filtrada – “A água filtrada passa por um tratamento físico que é a filtragem. Se for feito em água potável, esse processo retira algumas partículas sólidas que podem ser adquiridas na tubulação do serviço de saneamento básico até a residência onde está o filtro”, disse a professora. “Existem, também, filtros especiais que retiram o resíduo de cloro da água, como o filtro de carvão ativado”;

Água mineral – Entre os sais presentes na água mineral estão o cálcio, que auxilia no combate à osteoporose, o cromo, que regula taxas de açúcar no sangue, o magnésio, que previne a hipertensão, e o bicarbonato, que controla o nível de acidez estomacal. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam), todas as etapas de produção – da captação à venda ao consumidor –, obedecem a rigorosos padrões nacionais e internacionais de higiene, o que garante efetiva contribuição à nutrição e à saúde do organismo. “A diferença básica entre a água mineral com gás e a sem gás é que a água com gás tem adição de gás carbônico, enquanto a outra tem apenas os sais minerais”, esclareceu Eva.

Taís Brem

Eu te vi, Jequiti!


Deve durar um segundo, o tempo de um piscar de olhos. Ou menos. Ou mais. De qualquer modo, se for realmente uma tentativa de mensagem subliminar, está um tanto mal feita, pois pode ser percebida. No início não ficava claro se se tratava ou não de um erro da equipe técnica da emissora. Acontece que o “erro” foi ficando cada vez mais frequente e… Bem, a coisa chegou ao ponto de telespectadores recorrerem à internet para reclamar que estão se sentindo lesados. Afinal, em primeira instância, quando se liga a televisão para assistir a um filme, um noticiário ou o programa que seja, não se faz para avistar mini-comerciais de cosméticos. Assim, a atitude do SBT em colocar em sua programação pequenas inserções contendo propagandas dos produtos da marca Jequiti – que, como se sabe, pertence ao “patrão” Silvio Santos – é, no mínimo, uma estratégia perigosa.

A questão da eficácia das mensagens subliminares é discutida há décadas por comunicadores e profissionais afins. Será que inserir de propósito determinados estímulos no meio de uma sequência de imagens realmente tem o poder de nos levar a consumir algo ou simplesmente agir de um jeito conveniente a uma empresa ou uma ideologia, por exemplo? Há mensagens que duram apenas um frame (0,04 segundo). Dessa forma, portanto, não podem ser percebidas pela visão. Mas, se, realmente, o cérebro captar a mensagem, é aí que mora o perigo.

Um dos casos mais famosos de mensagem subliminar ocorreu na década de 1950. Enquanto as pessoas assistiam a um filme no cinema, “liam”, em milésimos de segundos, as frases “Beba Coca-Cola” e “Coma pipoca”. Reza a lenda que, no fim da exibição, a maioria das pessoas foi mesmo acatar a “sugestão”, o que alavancou as vendas dos dois produtos.

“Tiro no pé”

Esses estímulos preparados para atingir o cérebro de modo não consciente podem adquirir, também, a forma de sons, como os barulhos sinistros que já foram inseridos em filmes de terror para aumentar o pânico de quem está assistindo.

Embora em nosso país a legislação não puna diretamente quem utiliza esse tipo de estratégia, a punição pode vir, justamente, de um resultado contrário ao que espera a empresa. Porque, em vez de começar a cogitar a ideia de se tornar consumidor Jequiti, de tanto se deparar com as imagens em momentos inapropriados, o telespectador pode passar a ter repulsa contra os tais produtos e não querer vê-los nem pintados de ouro! Conheço quem já levanta essa bandeira e acha a ideia desrespeitosa, irritante e inconveniente. Mesmo que o número de reclamações não aumente nem se transforme em pedidos de indenização por danos morais, nesse caso, se torna automaticamente desnecessário fazer qualquer tipo de estudo aprofundado sobre o poder de eficácia do método. Tá na cara que não colou.

Taís Brem

Texto publicado também no Observatório da Imprensa.

Quatro cabeças pensantes

Ainda hoje não sei – e também não me dei ao trabalho de procurar saber – porque os antigos vídeos-cassete eram classificados em duas e quatro – e talvez até mais – cabeças. De todo o jeito, essa qualidade deles sempre me chamou a atenção. Desde a primeira vez que ouvi a designação, quando criança, achei, no mínimo, engraçado.

Mas, além de me divertirem, as cabeças do vídeo-cassete ajudavam na tarefa de reproduzir filmes, transformando nossas humildes salas em mini cinemas. E também serviam para gravar coisas que considerávamos importantes. Lembra do botãozinho REC, sempre acionado para registrar finais de capítulos das novelas, reportagens interessantes de telejornal e célebres propagandas? O mais legal de tudo isso é que hoje em dia o produto das quatro cabeças pensantes está disponível pela internet, através do You Tube. Sim, porque, embora eu não tenha a dimensão exata de como essas coisas foram se acoplando por lá, imagino que tenham sido os milhões de arquivos pessoais de VHS dos aficionados por vídeos Brasil e mundo afora que originaram os baita acervos digitais a que temos acesso. E é maravilhoso poder digitar uma frase memorável de algum destes momentos legais de nossas infâncias e testificar “Puxa, eles têm isso aqui gravado também!”.

Desses registros, são as propagandas o que mais me chama a atenção. Quem não lembra do “elefante fã de Parmalat” que junto com o “boto cor-de-rosa e o macaco” fizeram um dos melhores comerciais de leite de todos os tempos? E o japinha simpático que contava, com a encantadora inocência de uma criança, como era o seu café da manhã – “eu gosto com açucra, porque o açucra afunda”? Isso sem deixar de citar a vontade que dava de tomar uma guaraná bem geladinha toda vez que a “pipoca na panela começava a arrebentar”. Agradáveis lembranças! Nessa hora, meu lado publicitário até tenta se manifestar para me influenciar a fazer uma segunda faculdade!

Triste é notar que aquela analogia da faca é muito real também no mundo virtual. Tal qual como o talher pode servir tanto para passar a All Day no pão quanto para sacrificar um mamífero – e inclua-se nisso o homem –, redes sociais como o You Tube também são usadas tanto para o que presta quanto para o que não vale um sabugo. Li outro dia que tá na moda adolescentes filmarem suas aventuras sexuais e postar na rede. A intenção é ver quem tem maior capacidade de atrair o olhar alheio. E assim eles, que ainda nem saíram das fraldas, disputam a audiência doentia de quem se delicia com a intimidade – e a imaturidade – dos outros. Perigo. Não somente porque é uma pouca vergonha. Deixando de lado, os julgamentos moralistas, o que mais choca é perceber que um ato impensado desses pode custar danos em todas as esferas, inclusive a emocional, que vão afetar pela vida toda. Esses adolescentes apenas se iludem com a possibilidade de estar curtindo a liberdade, mas, na verdade, estão sendo escravos da libertinagem. E pior ainda são os que nunca crescem. Lamentável. Para melhorar, oremos.

Taís Brem