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À la Jolie

Considerada controversa por profissionais, retirada de mamas para prevenir câncer fez dobrar procura pela cirurgia no Brasil

Procedimento feito por Angelina Jolie tem sido mais procurado por pacientes (Foto: Divulgação)
Procedimento feito por Angelina Jolie tem sido mais procurado por pacientes (Foto: Divulgação)

Uns fazem por necessidade. Outros, por puro modismo. O fato é que depois que a atriz holiwoodiana Angelina Jolie, 38, anunciou ter feito uma dupla mastectomia preventiva – cirurgia para retirada dos seios –, os pedidos por esse tipo de operação dobraram aqui no Brasil e até um curso básico de reconstrução mamária (com carga horária de 200 horas) foi criado no Distrito Federal para capacitar mastologistas a lidar com a nova demanda. A situação levou a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) a realizar o Fórum Internacional sobre Cirurgia Redutora de Risco do Câncer de Mama, em 28 de setembro. Durante o evento, oncologistas, mastologistas, geneticistas e cirurgiões plásticos, além de outros profissionais envolvidos no diagnóstico e tratamento do câncer de mama, debateram, entre outras questões, que critérios devem ser adotados para com as pacientes que, a cada dia, chegam aos consultórios solicitando a retirada de mamas para prevenção de tumores futuros. Afinal, esse tratamento controverso realmente previne o câncer de mama?

Entre os leigos, a questão divide opiniões. A publicitária Lara Yamim, 26, por exemplo, disse considerar válida a atitude de Angelina. “Acredito que, se tivesse os percentuais que ela tinha de desenvolver a doença, eu também o faria, pois, atualmente, com os recursos oferecidos de prótese, isso não geraria um problema estético impossível de ser contornado. Exceto, claro, para algumas parcelas da população, que não teriam acesso a eles”, disse. Lara, que está estudando para prestar vestibular para Medicina, concorda que muitas pessoas estão se deixando influenciar pela atitude da atriz, fazendo o procedimento sem saber direito dos riscos reais de desenvolver o câncer. “Mas, acho que [o exemplo dela] acabou motivando mais positivamente do que o contrário”, pontuou.

Da mesma forma, o estoquista Israel Vallim, 23, demonstrou ser favorável à cirurgia. “Creio que ela foi prudente, ainda mais porque, além de ter histórico da doença na família, Angelina trabalha com a imagem e precisa se cuidar. É o que mais pesa para ela”, opinou.

Servidora pública, Carmen Severo discorda: “É uma mutilação desnecessária, principalmente porque os médicos nem sabem garantir ainda se o procedimento, de fato, evita o câncer. Eu não faria, com certeza”. Na opinião do bombeiro civil Daniel Borges, 33, o fato de Angelina Jolie ser uma figura de influência midiática é um fator preocupante, nesse caso. “É a valorização daquele velho estereótipo do ‘ter’ e não do ‘ser’. A maioria das pessoas se maravilha em ter um corpo lindo, longe de doenças, sem gordurinhas, ter grana para esbanjar, ter influência para burlar o sistema, mas eu ainda prefiro ficar nessa minoria do ‘ser’ do que não ter nada de proveitoso para apresentar ao próximo”.

Decisão polêmica

Diversas ações de conscientização são realizadas em outubro (Foto: Divulgação)
Ciência não prova que retirada dos seios evita câncer (Foto: Divulgação)

Após retirar os dois seios, Angelina colocou próteses de silicone e sentenciou: “Agora, posso dizer aos meus filhos que eles não precisam ter medo de me perder para o câncer de mama”. Contudo, a situação não é tão simples quanto parece, pois não há consenso científico que respalde a eficácia da mastectomia como forma de prevenção do câncer. Além disso, nem sempre o implante de silicone feito depois da operação agrada às pacientes, que podem, entre outros malefícios, perder a sensibilidade na região das mamas.

No artigo “Minha escolha médica”, escrito para o jornal The New York Times, a atriz argumentou que decidiu agir dessa forma pró-ativa, principalmente, pelos seis filhos que tem com o também ator Brad Pitt, 49.  “Minha mãe combateu o câncer por quase uma década e morreu aos 59 anos. As crianças perguntaram se o mesmo podia acontecer comigo. Sempre respondi que não deviam se preocupar, mas a verdade é que eu tinha risco de 87% de desenvolver câncer de mama e de 50% de desenvolver câncer de ovário”, explicou, ao mencionar que, com a cirurgia, o primeiro índice caiu para 5%. Eles sabem que os amo e que farei qualquer coisa para ficar com eles pelo maior tempo possível”. De acordo com a atriz, a principal motivação em compartilhar sua decisão foi encorajar outras mulheres com histórico semelhante a fazer o mesmo. “A vida vem com muitos desafios. Aqueles que podemos encarar e sobre os quais podemos tomar o controle não devem nos assustar”, afirmou.

Cor-de-rosa choque
Desde a década de 1990, outubro é um mês marcado, em diversos países, pela realização de ações que intensificam os esforços pela detecção precoce do câncer de mama. O período é chamado “Outubro Rosa”. De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de mama é a quinta maior causa de mortalidade do mundo.

A voz do povo
carmen_quemany“É uma mutilação desnecessária, principalmente porque os médicos nem sabem garantir ainda se o procedimento, de fato, evita o câncer. Eu não faria, com certeza”.
Carmen Severo, servidora pública

lara_quemany

 

“Acredito que, se tivesse os percentuais que ela tinha de desenvolver a doença, eu também o faria”.
Lara Yamim, publicitária

daniel_quemany

 

“Não concordo. É a valorização daquele velho estereótipo do ‘ter’ e não do ‘ser’”.
Daniel Borges, bombeiro civil

israel_quemany

 

“Creio que ela foi prudente. Angelina trabalha com a imagem e precisa se cuidar. É o que mais pesa para ela”.
Israel Vallim, estoquista

 

Taís Brem