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“É um estar no mundo diferente do que se tinha décadas atrás”

Pediatra Luiza Novaes explica as peculiaridades do desenvolvimento das crianças de hoje à luz da ciência

Afinidade com a tecnologia é principal diferencial das crianças atuais (Foto: Taís Brem)
Afinidade com a tecnologia é principal diferencial das crianças atuais (Foto: Taís Brem)

Elas estão, a cada dia, mais espertas. E isso não é apenas impressão sua. Realmente, “não se faz mais crianças como antigamente”. Nesta entrevista concedida ao Blog Quemany, a médica especialista em Pediatria Luiza Helena Vinholes Siqueira Novaes comenta de que forma a Medicina explica essa evolução do desenvolvimento infantil ao longo das eras. Médica do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), Luiza Helena é mestre em Saúde e Comportamento, doutora em Ciências da Educação e professora adjunta de Pediatria no curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

Blog Quemany – Ao comentar a forma como as crianças demonstram desenvolvimento, as pessoas costumam dizer que antigamente “os bebês nasciam de olhos fechados e, hoje, só faltam nascer falando”. A ciência mostra que realmente há uma evolução das crianças de hoje em comparação às de antigamente ou é apenas impressão nossa?

Luiza Novaes (Foto: Wilson Lima)
Luiza Novaes (Foto: Wilson Lima)

Dra. Luiza Helena Novaes – A neurobiologia tem nos ajudado a entender este fato observável pelos pais. O cérebro é muito dinâmico, tem uma capacidade de reorganização de seus neurônios admirável, que sofrem amadurecimento e organização em diferentes tempos e etapas, e são influenciáveis pelo ambiente em que se insere a criança e sua família. Este fenômeno é conhecido por nós, médicos, como neuroplasticidade. Se compararmos o ambiente de algumas décadas atrás com o ambiente em que é hoje recebida a criança, notaremos mudanças marcantes em relação à luz, aos sons, aos movimentos, à dinâmica da família e da sociedade. Para exemplificar, antes a criança nascia, permanecia no hospital de três a quatro dias no ambiente escurecido, com todos se comunicando à meia-voz, interagindo com ela o mínimo possível para não excitá-la e perturbá-la. Hoje, se tudo bem, com 24 horas, um bebê está em casa, inserido no toque do celular, das fotos, da televisão, do barulho da rua, das luzes do dia e da noite, com a algaravia diária da casa, sem maiores restrições aos irmãos, familiares e amigos da família. Isto é saudável para o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo da criança, desde que dentro de parâmetros equilibrados. O desenvolvimento infantil começa ainda na gestação e o que podemos e devemos é estimular o cérebro infantil desde muito cedo.

BQ – Como se dá essa “evolução”? Esse movimento é algo natural, de tempos em tempos?
Dra. Luiza – Esta “evolução” acompanha a evolução das sociedades, das diferentes culturas em que está inserida a criança, e é um fenômeno natural, assim como a nossa vida, cada dia mais nova, plena de novas descobertas e conhecimentos em todas as áreas, inclusive na área médica, que crescem de maneira exponencial e de forma muito rápida.

(Foto: Taís Brem)
Ligação com aparelhos eletrônicos é comum (Foto: Taís Brem)

BQ – Na sua percepção, como profissional, que diferenças são mais marcantes entre a geração atual de crianças e crianças que viveram em outras décadas?
Dra. Luiza – O que mais me chama a atenção é a capacidade da criança atual, em ainda tenra idade, ser capaz de mergulhar com tanta facilidade no mundo tecnológico do toque na tela ou no teclado e estar conectada aos seus e ao mundo, mesmo que distantes dela. É fato comum para ela comunicar-se com a mãe no trabalho via celular ou pelo computador, assim como com os avós, que moram no outro lado do mundo. É um estar no mundo diferente do que se tinha décadas atrás, que esperamos, trará benefícios para a criança e seu desenvolvimento, se usado com cuidado, sob supervisão e orientação. Os estudos, em um futuro muito breve, nos mostrarão o resultado e as implicações disso tudo.

BQ – Que fatores podem ser citados como aceleradores do desenvolvimento infantil?
Dra. Luiza – Não se é capaz de acelerar aquilo para o qual o cérebro da criança ainda não está pronto a realizar, mas podemos, sabedores de que haverá etapas de amadurecimento neurológico a serem vencidas, ofertar um ambiente e atitudes paternas e familiares, e, também, da sociedade onde se incluem a escola, a assistência médica, as entidades das quais a família participa, a própria mídia de qualidade, favoráveis a este desenvolvimento de qualidade. Ao início da vida da criança, é o afeto, o tempo de qualidade despendido com ela e o toque amoroso, que ensinam o amor e a confiança. Logo depois, o brincar, o “conversar”, o sorrir, a música, a descoberta dos objetos em suas diferentes texturas, dos diferentes cheiros que compõem a vida. Com mais idade, a movimentação ativa, a descoberta das palavras, das sentenças, das histórias, das letras, dos números e por aí afora. Oportunizar à criança estes contatos e estas experiências estimulará seu desenvolvimento, suas emoções e sentimentos, determinando mais confiança e coragem para sua vida.

Taís Brem

Tudo “azul” em 5, 4, 3…

Em clima de contagem regressiva, Pelotas já recebeu a maioria dos parquímetros que regularão o estacionamento no Centro a partir do dia 26

Estacionamento rotativo entra em vigor nos próximos dias
Estacionamento rotativo entra em vigor nos próximos dias (Foto: Wilson Lima)

A previsão é que daqui a exatos dez dias, a Sertell – empresa responsável pela instalação dos equipamentos que regularão o tempo e cobrarão os motoristas que estacionarem seus veículos na popularmente conhecida “zona azul” – estará com tudo pronto para começar seu trabalho. Vencedora da licitação referente à monitoração do estacionamento rotativo em Pelotas, a empresa já está finalizando a instalação dos parquímetros no quadrilátero formado pelas ruas Doutor Cassiano, Marechal Deodoro, Lobo da Costa e Gonçalves Chaves, incluindo a praça Coronel Pedro Osório.

Nesse trecho, 1.100 vagas serão controladas para, conforme o gerente

Cardozo considera iniciativa positiva
Cardozo considera iniciativa positiva (Foto: Divulgação)

de trânsito da Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGMU), Cléo Cardozo, 30, facilitar o estacionamento na área. A partir de então, cada condutor terá que obedecer a um período máximo de permanência no local. Caso contrário, será punido. “O tempo máximo será duas horas. O condutor que desrespeitar, será autuado em uma infração de natureza leve, de R$ 53,20, receberá três pontos na CNH [Carteira Nacional de Habilitação] e, ainda, terá seu veículo removido”, informou.

Cardozo também acrescentou que o estacionamento deve funcionar das 9h às 19h, de segunda a sexta-feira, e das 9h às 13h, aos sábados. A hora estacionada custará R$ 1,50 para carros e caminhões de até dez metros de comprimento. Os únicos veículos isentos de tarifa são as motos, que terão espaço específico para estacionar. Mas, mesmo com as taxas, o gerente diz acreditar que a novidade será aprovada pela população. Também profissional da área, o agente de trânsito Wilson Brem, 37, demonstra opinião contrária, pelo menos em primeira instância. “Não me agrada termos que alugar um espaço público. Existem inúmeras áreas públicas que necessitam de melhorias. Teremos que arcar com esforço financeiro nesses casos, também?”, questionou, ao mencionar que consideraria mais eficiente qualificar a sinalização e subsidiar a fiscalização. “Eu lamento que, para termos um trânsito aceitável, sejamos obrigados a pagar um valor extra, além dos impostos, por utilizar uma área que deveria ser pública, no sentido literal da palavra: sem custo”.

De fato, há sinalizações que permitem ao cidadão estacionar por pouco tempo sem que tenha gastos com isso, como as placas que permitem o estacionamento por 15 minutos, desde que o pisca-alerta esteja ligado. “Passado esse período, o cidadão é onerado financeiramente, com multa, e pode ter o seu veículo removido, para que outro possa utilizar o espaço público”, continuou Brem.

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Tempo de estacionamento será monitorado (Foto: Wilson Lima)

Novo destino para as moedas
Não é de hoje – literalmente, às vésperas da inauguração do estacionamento rotativo na cidade –, que a questão gera a dúvida sobre como ficará a situação dos guardadores de veículos. Em 2011, durante uma Audiência Pública proposta pelo vereador Roger Ney para agilizar o que era apenas um projeto de melhoria urbana, o presidente da Associação dos Guardadores de Carros de Pelotas, Cláudio Oliveira, solicitou que se discutissem alternativas para que o grupo não fosse prejudicado. Os parlamentares concordaram. “Foram abertas, há um tempo atrás, inscrições de cursos profissionalizantes para que os guardadores fossem alocados em outras áreas, mas a procura foi pouca”, disse Cardozo, ao explicar, contudo, que a falta da qualificação oferecida pela Prefeitura não proíbe os trabalhadores autônomos de continuarem atuando. Porém… “Agora, será mais difícil, pois em cada quadra terá um monitor da empresa, que ficará observando o tempo dos veículos estacionados”, afirmou. “Acredito que, pagando o rotativo, as pessoas parem de contribuir com os guardadores, pois acabariam pagando duas vezes”.

A promotora de eventos Francine Baschi, 22, considera que será pouca a diferença entre “pagar pela intimidação dos guardadores” e investir num serviço organizado. Mesmo habilitada para dirigir, ela pouco pega ao volante, mas, quando anda de carona, observa, com pesar, o quanto é diretamente proporcional o tempo desperdiçado para encontrar uma vaga ao valor investido quando se decide, finalmente, optar pelos estacionamentos pagos. “Para mim, que preciso fazer paradas rápidas no Centro, serão ótimos os parquímetros”, comentou. “Só tem que ver se o custo vai valer a pena e se vai funcionar. Em se tratando de serviço público, confesso que até tenho medo!”.

Seguindo exemplos
Na mesma época em que solicitou a Audiência Pública, o vereador Roger Ney usou como argumento o fato de o estacionamento rotativo já ser uma realidade de sucesso em muitos outros lugares, até mesmo menores – como Rio Grande e Bagé, que, juntos, têm menos habitantes que a população de Pelotas.

Militar citou bom exemplo de outros locais
Militar falou sobre benefício ao desenvolvimento local (Foto: Divulgação)

Na opinião do militar carioca Daniel Avellar, 29, que mora aqui há quatro anos e possui Habilitação desde 2004, a maior prova de que o estacionamento rotativo será bem-sucedido em Pelotas é, exatamente, a boa experiência já vivenciada em diversos lugares do Brasil e, até, do mundo. “Quando a cidade começa a crescer, também cresce o numero de carros e a área comercial não comporta todos ao mesmo tempo. É normalmente no Centro da cidade onde tudo acontece. Se as pessoas que dependem desses serviços tiverem seu acesso dificultado, a cidade vai perder”, opinou.

A publicitária Laura Vianna, 24, já observou o funcionamento dos parquímetros em Porto Alegre e diz ter achado positivo. “Porque, dessa forma, terá mais lugares no Centro para estacionar”, explicou. “Claro que haverá o custo, mas, assim, talvez as pessoas pensem ‘duas vezes’ em andar de carro em vez de caminhar mais em pequenas distâncias”.

Laura mora no Areal e dirige até o Centro diariamente para trabalhar. Todavia, ainda que a agência onde atua seja fora do trecho contemplado pelos parquímetros, ela pretende utilizá-los em seu horário de almoço, quando costuma ficar “rodando horas para achar um lugar”. “Como estou sempre com pressa, assim, vai até facilitar”, completou.

O funcionamento
De acordo com o site da Serttel, o estacionamento rotativo público funcionará a partir da utilização de tíquetes virtuais, comercializados através de telefone celular, Internet e em pontos de vendas fixos e móveis. Para fiscalização e controle do uso das vagas, haverá um software especializado de gestão e terminais inteligentes. Entre os benefícios prometidos pela solução estão a disciplina no uso do espaço público; o aumento da rotatividade e da oferta de vagas, melhorando a acessibilidade dos cidadãos no Centro; a maior comodidade para o usuário através de diversos meios de pagamento e aquisição dos tíquetes; e, inclusive, a redução de ocorrências de pequenos acidentes nas vias públicas.

Ao que parece, a população pelotense, no geral, também está com boas expectativas pelo serviço. Na enquete virtual feita pela Câmara de Vereadores, dos 246 votos registrados até a publicação desta reportagem, 170 concordavam com a iniciativa e somente 76 eram contra.

Por que “azul”?
Em Pelotas, o apelido “zona ou área azul” que os estacionamentos rotativos receberam em vários locais onde foram implantados cairá bem, uma vez que combina com o uniforme dos agentes de trânsito, os populares “azuizinhos”. Não há registros se essa foi a associação que originou essa história. Entretanto, o que se sabe até agora é que a área destinada aos parquímetros tem tanto de azul quanto tem de preto as famosas caixas cor-de-laranja que ficam dentro dos aviões.

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Taís Brem