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Coração voluntário

Jovens estão entre os milhares de brasileiros que trabalham doando tempo e talento voluntariamente

Élem e Jaqueline trabalham como voluntárias na escola e na igreja (Foto: Wilson Brem)
Élem e Jaqueline trabalham como voluntárias na escola e na igreja (Foto: Wilson Brem)

Jaqueline Cruz e Élem da Luz são tia e sobrinha, embora a idade delas não revele esse curioso detalhe. Aos 18 e 17 anos, respectivamente, as estudantes que no fim de 2013 concluem o Ensino Médio já possuem três anos de trabalho voluntário em seu currículo. E são um exemplo de jovens que dispõem de seu tempo e talento para disseminar conhecimento, ajudando outras pessoas e contribuindo para o enfrentamento de problemas que assolam nossa nação, como as barreiras ao desenvolvimento educacional no Brasil. Elas estão entre os milhares de brasileiros engajados no voluntariado em ações simples, desenvolvidas em escolas e igrejas, por exemplo, mas que têm um poderoso impacto de transformação na sociedade.

A história de amor delas com o trabalho voluntário teve início enquanto cursavam a oitava série e se candidataram para, em horário inverso ao de suas aulas, ajudarem na organização da biblioteca da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Aparentemente insignificante para alguns, a tarefa diária de catalogar livros e organizar prateleiras despertou nelas a paixão pela literatura, bem como a percepção para a lacuna que a falta de interesse pela leitura estava fazendo na educação dos pequenos.

Incentivo à leitura foi objetivo principal do projeto (Foto: Arquivo Pessoal)
Incentivo à leitura foi objetivo principal do projeto (Foto: Wilson Brem)

Após um tempo trabalhando ali, Jaque e Élem desenvolveram e apresentaram à diretoria da escola um projeto ao qual deram o nome de “Hora do Conto”. Trocando em miúdos, tratava-se de um plano de atividades voltadas para as séries iniciais, em que as meninas contariam histórias para as crianças, com o propósito de estimular o gosto pelos livros. “Começamos a ver que as crianças não tinham vontade de pegar os livros para ler. Então, pensamos em fazer um projeto de leitura e arrumar um cantinho específico na biblioteca para contar histórias e incentivá-las”, disse Jaqueline. A ideia foi prontamente aceita pela então diretora, a professora Neusa Coi, 55, e pelos demais docentes que, inclusive, colaboraram doando tapetes, almofadas e outros materiais que deixaram o cantinho destinado ao projeto confortável e convidativo. “Eles confiaram na gente e isso foi muito importante, porque, também, nos motivou a ir melhorando o projeto”, disse Élem. A Hora do Conto tinha cerca de meia-hora. Após ler uma história, elas distribuíam atividades para as crianças, como folhas com desenhos para colorir, e conversavam sobre o que tinha sido narrado, estimulando a imaginação dos pequenos. “A gente sempre propunha que eles dessem um novo final às historinhas”, relembrou Jaqueline.

O trabalho realizado pelas meninas merece destaque não apenas por ser voluntário, mas por ter surgido de uma iniciativa própria. Afinal, elas mesmas se dispuseram a pôr a mão na massa para mudar a situação de distanciamento que notaram entre os alunos e os livros. “Ambas tiveram um comportamento maravilhoso, tanto no trato para com os alunos, quanto no preparo das atividades e tarefas realizadas”, observou Neusa. “Elas são muito dinâmicas e criativas. Vejo como muito importante a participação de jovens em trabalhos voluntários como o que as meninas realizaram na escola, pois a instituição tem a oportunidade de oferecer aos alunos novas possibilidades de atividades e o voluntário adquire experiência”.

Para Neusa, o perfil do voluntário é essencial para o sucesso da atividade – no caso das meninas, elas deveriam gostar de crianças, ter paciência, ser tranquilas, criativas e sentir muito prazer no que estavam fazendo. Quesitos esses que foram preenchidos com muito êxito, tanto que, quando tiveram que deixar a escola para iniciar o Ensino Médio em outro colégio, Jaqueline e Élem continuaram engajadas na causa do voluntariado na instituição, realizando, agora, tarefas de recreação vinculadas ao Programa Mais Educação, do Governo Federal. No momento, elas aguardam pela diretoria da escola o chamado para realizar algum trabalho com as séries iniciais.

Paixão que contagia

Atividades são desenvolvidas com crianças (Foto: Wilson Brem)
Atividades são desenvolvidas com crianças (Foto: Wilson Brem)

Anos depois de ter deixado – com muito pesar, é verdade – os momentos de leitura da Hora do Conto, as meninas ficaram sabendo que seu esforço rendeu frutos. Certa vez, ao visitarem a escola elas viram uma das alunas que ouvia as historinhas contadas por elas seguindo o exemplo e contando histórias a outras crianças menores. Perguntar se elas se sentiram orgulhosas com isso, seria desnecessário. Mas, a resposta é sim. “Foi algo muito legal. Percebemos que o projeto ajudou as pessoas e trouxe crescimento e experiência de vida, tanto para eles, quanto para nós”, frisou Jaqueline que, já pensa no que fazer assim que concluir o Ensino Médio: dar aulas de História. Já Élem, não gostaria de seguir nenhuma profissão ligada à Pedagogia, porém falar em escrever faz seus olhos brilharem. “Quero fazer algo ligado à Literatura ou Jornalismo, talvez”, afirmou.

Mãe de Élem e irmã de Jaque, a doméstica Neusa Luz, 50, disse considerar excelente o tempo que as duas dedicaram ao desenvolvimento das tarefas voluntárias na escola. “Elas demonstravam muito entusiasmo e ficaram muito mais responsáveis. Foi ótimo para elas”, pontuou.

Amanda, Giovanna e Marianna também são discipuladoras (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda, Giovanna e Marianna também são discipuladoras (Foto: Arquivo Pessoal)

Na mesma época em que começaram as atividades na Escola Nossa Senhora de Fátima, Élem e Jaque foram convidadas a integrar o time das chamadas “discipuladoras” na igreja que frequentam, o Ministério Casa de Oração (MCO). Seu papel: nos dias de culto – aos domingos, terças e sextas-feiras –, ser responsáveis pelos membros infanto-juvenis do Ministério, desenvolvendo tarefas específicas para a faixa etária de 0 a 12 anos, enquanto os pais assistem à reunião no templo principal. Junto com elas, completam a equipe as irmãs Giovanna, 16, e Marianna Guimarães, 14, e Amanda Vieira, que também tem 14 anos. A irmã caçula de Élem, Milene, 15, não é discipuladora oficial. Todavia, ao que parece, isso é apenas questão de tempo, pois volta e meia a adolescente é flagrada com alguma criança no colo, auxiliando as mães que precisam de ajuda para cuidar dos filhos durante as reuniões.

Meninas se revezam no atendimento da Biblioteca Cultural (Foto: Wilson Brem)
Meninas se revezam no atendimento da Biblioteca Cultural (Foto: Wilson Brem)

O trabalho na biblioteca desenvolvido lá na escola, há três anos, serviu como base para o aperfeiçoamento de outro projeto ligado ao MCO. Sim, as garotas não param: elas também são as responsáveis pela Biblioteca Cultural da igreja. Num espaço cuidadosamente arrumado por elas culto após culto, estão estantes lotadas de livros doados pelos próprios membros do Ministério, que são colocados para locação. A verba arrecadada com a atividade é destinada para trabalhos missionários desenvolvidos dentro e fora do país, sobretudo em locais onde práticas ligadas ao cristianismo são reprimidas oficialmente, gerando perseguição aos seguidores da religião.

Taís Brem

Quando o sonho vence o medo de voar

Pesquisa aponta avião como meio de turismo preferido dos brasileiros

Jovelisa pretende realizar sonho com a família ano que vem (Foto: Arquivo Pessoal)
Jovelisa pretende viajar com a família ano que vem (Foto: Arquivo Pessoal)

Ainda é cedo para arrumar as malas. Mas, Jovelisa Ferreira, 29, já planeja visitar o Rio de Janeiro com a família – o marido e o bebê do casal – em 2014. Todavia, pretende fazê-lo antes da Copa do Mundo, já que a intenção não é participar do grande reboliço que promete tomar conta da Cidade Maravilhosa no ano que vem. O que a promotora de vendas quer mesmo é aproveitar a chance para conhecer tranquilamente alguns dos pontos turísticos mais famosos do Brasil e do mundo. E, é claro, realizar o sonho de andar de avião, o que fará apesar do medo que sente só de pensar na experiência. Em agosto, o Ministério do Turismo (MTur) divulgou uma pesquisa realizada em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) que informa a intenção de viagem para o próximo semestre de dois mil cidadãos em sete capitais do país – Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Denominado “Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem”, o levantamento mostra que o avião é o meio de transporte preferido de quem quer viajar, mesmo entre a população de menor renda. Jovelisa encaixa-se na faixa etária que mais demonstra interesse em viajar de avião: a das pessoas com menos de 35 anos. Em seguida, vêm os cidadãos que já têm mais de 60.

Brasileiros querem conhecer o próprio país (Foto: Márcio Coimbra)
Brasileiros querem conhecer o próprio país (Foto: Márcio Coimbra)

Embora o tal “frio na barriga” seja sempre ponto de discussão quando o assunto é viagem de avião, as estatísticas provam que, cada vez mais, aqueles que nunca tinham utilizado esse meio de transporte estão dispostos a encarar o desafio. “Estamos com o mercado interno muito ativo, com a intenção de viagem muito forte por parte daqueles que entraram agora no consumo do turismo”, comentou o ministro Gastão Vieira. “Nós estamos falando de todas as faixas de renda, principalmente daqueles 35 milhões de brasileiros que entraram no mercado de consumo nos últimos dez anos”. Ainda conforme a pesquisa do MTur, quem quer viajar de avião, quer fazê-lo acompanhado, basicamente do cônjuge e dos filhos. Quanto ao destino, a maioria pretende aproveitar as promoções do setor para conhecer o próprio país. E o Nordeste é o lugar que mais se encaixa na lista de desejos dos brasileiros: 53,7% dos entrevistados querem ir para lá. O índice é alto. Para se ter uma ideia, sozinha, a região nordestina atrai mais turistas que todas as outras quatro regiões somadas – Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Norte.

Emoções nas alturas
Mesmo sem nunca ter andado de avião, Jovelisa já experimentou sensação semelhante, durante um passeio panorâmico de helicóptero, em 2012. O problema é que os cinco minutos que tinha disponíveis para conhecer de cima a cidade onde mora – Caxias do Sul, na Serra Gaúcha – e vivenciar a emoção, gastou de olhos fechados, agarrada de um lado no marido e do outro num desconhecido, com quem dividiram o voo. “Ainda passei a vergonha de, ao pousar, não largar o desconhecido. Até perceber que já havia acabado e ter que dizer: ‘Ops, querido! Desculpe o desespero!”, relembrou, às gargalhadas. Isso sem contar a ocasião em que acompanhou seu irmão mais velho, o contabilista Lázaro, ao aeroporto, na despedida para uma viagem profissional. “Quando o avião decolou, comecei a chorar copiosamente. Foi lindo, mas eu nunca tinha visto um avião tão próximo. Foram duas emoções: ver a ‘pequena nave’ tão de perto e ver meu irmão andando de avião numa viagem de trabalho. Fiquei orgulhosa”.

Atualmente, Lázaro já não voa com tanta frequência, em função da troca de emprego. Contudo, quando o faz, não nega que é irmão de Jovelisa. “Andar de avião foi um sonho realizado, desde a primeira vez. Mas, ainda tenho medo. Até hoje, me apavoro a ponto de ter meu sistema nervoso afetado e, consequentemente, meu sistema digestivo”, comentou. “Mesmo uma semana antes de entrar em um avião, eu tenho fortes dores de barriga”.

A comerciante Eliane Zuchelo, 57, tem várias experiências das viagens de avião que regularmente faz com a família para o Chile, onde a filha mora há onze anos. “E realizar o sonho, agora está barato. Voar [de Pelotas, onde reside] para Porto Alegre está mais barato que ir de ônibus e ainda dá para parcelar no cartão”, comentou.

Passeio gringo

Graciele está conhecendo a Europa (Foto: Arquivo Pessoal)
Graciele está conhecendo a Europa (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando tinha oito anos, Graciele Cardozo viajou pela primeira vez de avião: foi para Manaus. Na ocasião, não fugiu à regra da maioria dos entrevistados dessa reportagem. “Lembro de fazer um fiasco, pois não queria entrar no avião. Estava com medo. Mas, depois amei, pois as aeromoças me deram um lanche com chocolate, sanduíche e refrigerante”, contou. Hoje, aos 22 anos, a história é outra. O medo já ficou de lado, bem como a euforia pelas guloseimas oferecidas pelas empresas aéreas. Atualmente nutricionista, Graciele viu em sua mais recente viagem de avião, em julho desse ano, uma oportunidade de realizar outro sonho que acalentava desde os 15 anos: o de morar fora do país. Por meio de um intercâmbio, ela agora mora em Newcastle Upon Tyne, norte da Inglaterra. “A viagem de avião foi confortável, apesar da distância de aproximadamente 14 mil quilômetros. Os aeroportos são de fácil acesso e entendimento e há boa orientação para os viajantes estrangeiros”, disse. “Realmente, os brasileiros estão viajando mais e tendo mais acesso a esse tipo de oportunidade, pois o governo tem incentivado. Na minha universidade, por exemplo, chegou a ter 30 brasileiros estudando inglês no verão europeu”.

Experiência a bordo

Interesse da terceira idade tem aumentado (Foto: Divulgação)
Interesse da terceira idade tem aumentado (Foto: Divulgação)

De olho numa das faixas de idade que mais deseja voar pelo Brasil, o MTur lançou, em setembro, a segunda edição do Programa Viaja Mais Melhor Idade, que integra o Programa Viaja Mais. A iniciativa, que teve sua primeira versão em 2010, registrou, agora, o interesse de mais de 70 mil idosos. Isso com apenas duas semanas de lançamento. A intenção é incentivar os brasileiros com mais de 60 anos a viajar de avião pelo Brasil, com descontos e vantagens exclusivas. Além de pacotes fechados, estão previstas ofertas em serviços avulsos, como hospedagem, passagens, locação de veículos e atrações turísticas. Os aposentados e pensionistas podem parcelar os custos da viagem em até 48 vezes pelo Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal, com juros reduzidos. Conforme a oferta, há a possibilidade de estender as vantagens, também, para acompanhantes de menor idade.

Atualmente, o programa oferece 270 ofertas para 70 destinos do país. Em 2010, os pacotes mais procurados foram para Natal (RN), Fortaleza (CE), Lins (SP), Caldas Novas (GO) e Serra Gaúcha (RS).

Você tem medo de quê?

Estresse deve ser evitado antes mesmo do voo (Foto: Infraero)
Estresse deve ser evitado antes mesmo do voo (Foto: Infraero)

Por ser bastante comum, o medo de viajar de avião tem mobilizado, ao longo das últimas décadas, profissionais ligados à área de Medicina Aeroespacial a desenvolverem métodos de intervenção eficazes para administrar essa ansiedade. Só o fato de estar tão distante do chão já é suficiente para gerar certo pânico. E passageiros com tendências claustrofóbicas ou fobias em ambientes aéreos e aglomerados humanos devem procurar um médico antes do voo para realizar algum tratamento, inclusive com remédios, se for o caso. Porém, a grande parte das situações é bem mais simples. Há quem se sinta atemorizado ou excitado até mesmo nos preparativos do pré-voo, como na arrumação de malas, locomoção para o aeroporto, check-in, transporte de bagagens pesadas nos corredores e até na emoção da despedida. Para tornar a experiência o mais agradável possível, anote as dicas:

1. Recomenda-se que, antes do voo, os passageiros evitem mascar chiclete e ingerir bebidas com gás, pois isso faz com que se engula grande quantidade de ar;

2. É importante alimentar-se bem, mas, sem exageros. Lembre-se que alimentos como feijão, repolho, pepino, brócolis e couve-flor têm alto grau de fermentação e aumentam a quantidade de gases no interior do tubo digestivo, gerando mal-estar;

3. Deve-se evitar bebidas alcoólicas antes de voar, pois o álcool diminui a capacidade de as células cerebrais utilizarem o oxigênio que lhes é fornecido – que, a propósito, diminui a bordo;

4. A cada duas horas de voo, recomenda-se ingerir um copo de água ou suco de laranja;

5. Os voos diurnos são considerados ideais, uma vez que a viagem tem início após uma noite de sono, e não depois de um dia em que o corpo e a mente já estão cansados. Outro fator importante nesse caso é que, na chegada ao destino, os passageiros podem contornar a ansiedade produzida pelo voo, tomando um banho relaxante e ingerindo refeições leves.
Fonte: Cartilha de Medicina Aeroespacial “Doutor, posso viajar de avião?”, criada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 

Taís Brem

Orientação ou multa?

Qual a melhor alternativa para conscientizar sobre o destino certo do lixo?

Garis cariocas já sentem positiva diferença (Foto: Prefeitura RJ)
Após implantação de punições, garis cariocas já sentem positiva diferença (Foto: Prefeitura RJ)

Primeiro passo: focar na conscientização da população pelotense com medidas educativas contra o mau costume de lançar lixo nas ruas. Em caso de insistência no erro, passar para a aplicação de multa e até, quem sabe, de punições, como a de trabalhar um dia na limpeza da cidade. A ideia do consultor de Tecnologia da Informação (TI) Guilherme Cunha, 26, é boa. Afinal, possibilita chance para que cidadãos que insistem em desviar o lixo do seu destino certo possam se reeducar. Além, é claro, de sinalizar uma ótima oportunidade para que a cidade fique – e permaneça – mais limpa.

A Prefeitura do Rio de Janeiro, entretanto, já executou a primeira parte. Agora, é a vez do tópico financeiro. Ao que parece, o programa adotado na Cidade Maravilhosa desde a última terça-feira (20) – denominado Lixo Zero – é pioneiro no Brasil. Fruto de uma lei de 2001 que só não estava em vigor porque não tinha valores estipulados para punir os infratores, o programa multa cidadãos que colocarem lixo no chão. Simples assim. E o custo da falta de educação varia de R$ 157 a R$ 3 mil, conforme o tamanho do objeto descartado.

Nas primeiras dez horas de atividade, os 192 fiscais que trabalham na ação multaram 121 pessoas, a maioria por descartar tocos de cigarro. No segundo dia, foram 50 pessoas abordadas. Por enquanto, a receptividade foi boa, mas, quem não quiser pagar, ficará com o nome sujo. Questionada sobre a possibilidade de uma lei semelhante em Pelotas, a estudante Amanda Hertzberg, 24, mostrou-se favorável: “Acho que seria bom. Assim, diminuiria a quantidade de lixo na rua”, disse. A técnica de enfermagem Marcia Valadão, 31, concordou: “Estamos precisando que se imponham regras na sociedade. Está tudo virando uma baderna. Daqui a pouco vamos conviver com os ratos e as pessoas vão achar normal”.

Só falta praticar
O que poucos sabem é que há uma punição semelhante a do Programa Lixo Zero prevista para todo o país, por meio do artigo 172 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). De acordo com a lei, quem for pego jogando lixo – objeto ou substância – pela janela do veículo, leva quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação e deve pagar multa de aproximadamente R$ 90.

Número de agentes é pequeno para subsidiar fiscalizações extras (Foto: Divulgação)
Número de agentes é pequeno para fiscalizar a poluição gerada pelos condutores (Foto: Divulgação)

O agente de trânsito Wilson Brem, 37, já autuou um motorista por causa dessa infração. Um apenas, em todos os seus onze anos de serviço. Isso porque, segundo ele, fica difícil manter a fiscalização dessas ocorrências, quando existem outros problemas mais graves para se coibir no trânsito. “Em um lugar onde tem gente avançando sinal vermelho, realizando conversão proibida e veículos ameaçando pedestres que atravessam na faixa, não tem como priorizar a punição a quem lança objetos na via”, explicou, ao citar, também, o déficit no número de profissionais para fazer o serviço. “Como não conseguimos autuar todas as infrações, priorizamos as mais importantes ou mais perigosas”.

O jornalista pelotense Daniel Vasques, 33, que está morando no Rio atualmente, não chegou a presenciar nenhuma cena de abordagem nesses dois dias de aplicação do programa Lixo Zero, mas gente jogando lixo na rua, isso ele já viu, aos montes. Para ele, a lei é bem-vinda. “Acho que tem um lado autoritário, mas educativo. Pode ser lúdica, também, porque faz as pessoas refletirem sobre a sujeira das ruas”, comentou.

Em Pelotas, Vasques considera a educação a melhor escolha (Foto: Divulgação)
Em Pelotas, Vasques considera a orientação a melhor escolha (Foto: Divulgação)

Vasques disse, inclusive, que já ouviu falar sobre o artigo do CTB que cita a punição para quem sujar a via pública. “Aqui eles consideram válido, porque, como contam os cariocas, tem quem atire até jornal pela janela do carro”, afirmou, ao acrescentar que considera a ação importante em grandes centros, onde circulam muitas pessoas. “[No caso de Pelotas], o ideal seria fazer uma campanha antes, explicando os benefícios de cuidar da cidade e porque você pode ser multado”.

Vale lembrar que a lei do CTB é apenas um apoio na preservação da limpeza das cidades, mas, obviamente, não deve ser encarada como única obrigação de fiscalização por parte dos órgãos ligados ao trânsito.

O destino correto

Sanep é responsável pela coleta e tratamento do lixo (Foto: Janine Tomberg)
Sanep é responsável pela coleta e tratamento do lixo (Foto: Janine Tomberg)

Conforme dados do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), os pelotenses geram cerca de 160 toneladas de lixo por dia, o equivalente a 32 caminhões cheios. A destinação final dos resíduos sólidos é um aterro controlado com três lagoas de tratamento com sistema de drenagem de gases e de tratamento de chorume.

Taís Brem

“Ruim é teu passadis”


Na última semana, uma grande fabricante de produtos capilares publicou, em sua página do
Facebook, a foto de uma garota com o penteado da moda: coque com fios bagunçados. A menina tinha cabelo liso e loiro. Muitas curtidas e comentários simpáticos depois, um, em especial, chamou minha atenção: “Acho que vocês deveriam começar a postar dicas para cabelos crespos. Só acho”, sugeriu uma consumidora. A empresa prontamente respondeu que sim, providenciaria dicas que se adaptassem às diversas necessidades das clientes. Foi quando outra consumidora resolveu levar para o lado da ignorância e se meteu na conversa: “Fulana, se seu cabelo é ruim, ninguém pode fazer nada por você!”.

O comentário ridículo teve pouco apoio – uns dois likes, no máximo. A maioria do feedback que a moça recebeu pela sua infeliz colocação foi de reprovação. Não abri a foto para saber se a primeira sugestão veio de uma negra. Mas, quando ela resolveu levantar a bandeira dos cabelos crespos, ficou rotulada, no mínimo, como quem tem problemas graves a cada vez que decide pegar um pente para domar as madeixas, como os proprietários do chamado “cabelo ruim”. Ainda que apenas uma pessoas tenha tido a coragem de expor esse pensamento.

A classificação dada aos cabelos de afrodescendentes não é nova. A variação “cabelo duro”, inclusive, já foi usada para preencher os versos de uma música popular muito cantada lá pelos anos 1990 – ruim, aliás, era a tal música. Alguns diriam que esse “modo de falar”, trata-se apenas de um costume cultural inocente. Mas, para outros, é uma prova de que o preconceito racial que dizem já não existir aqui no Brasil não acabou coisa nenhuma. Afinal, qual é mesmo a métrica que se utiliza para definir se algo é “ruim” ou não? Cabelo de negro é difícil de pentear, é fato. Mas, a palavra ruim carrega consigo um sentido tão pejorativo quanto o que acompanha expressões como “ovelha negra”, “imprensa marrom”, “denegrir a imagem”… É como se o senso comum bradasse que, “se é preto ou negro, basta para ser ruim”. De qualquer forma, como disse meu pai quando conversávamos sobre o assunto há um tempo atrás, a única coisa que destoa dessa realidade é a “grana preta”, que todos querem ter.

Velado ou descoberto, consciente ou inconsciente, o tema merece reflexão sobre a forma com que emprestamos nossas bocas para reproduzir comportamentos preconceituosos que só atrasam o progresso da humanidade.

Se Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, legítimo representante do humor negro, entrasse naquela polêmica facebookiana, seu comentário certamente seria: “Ruim é teu passadis”.

Taís Brem

Texto publicado também no Reportchê.

Tudo “azul” em 5, 4, 3…

Em clima de contagem regressiva, Pelotas já recebeu a maioria dos parquímetros que regularão o estacionamento no Centro a partir do dia 26

Estacionamento rotativo entra em vigor nos próximos dias
Estacionamento rotativo entra em vigor nos próximos dias (Foto: Wilson Lima)

A previsão é que daqui a exatos dez dias, a Sertell – empresa responsável pela instalação dos equipamentos que regularão o tempo e cobrarão os motoristas que estacionarem seus veículos na popularmente conhecida “zona azul” – estará com tudo pronto para começar seu trabalho. Vencedora da licitação referente à monitoração do estacionamento rotativo em Pelotas, a empresa já está finalizando a instalação dos parquímetros no quadrilátero formado pelas ruas Doutor Cassiano, Marechal Deodoro, Lobo da Costa e Gonçalves Chaves, incluindo a praça Coronel Pedro Osório.

Nesse trecho, 1.100 vagas serão controladas para, conforme o gerente

Cardozo considera iniciativa positiva
Cardozo considera iniciativa positiva (Foto: Divulgação)

de trânsito da Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGMU), Cléo Cardozo, 30, facilitar o estacionamento na área. A partir de então, cada condutor terá que obedecer a um período máximo de permanência no local. Caso contrário, será punido. “O tempo máximo será duas horas. O condutor que desrespeitar, será autuado em uma infração de natureza leve, de R$ 53,20, receberá três pontos na CNH [Carteira Nacional de Habilitação] e, ainda, terá seu veículo removido”, informou.

Cardozo também acrescentou que o estacionamento deve funcionar das 9h às 19h, de segunda a sexta-feira, e das 9h às 13h, aos sábados. A hora estacionada custará R$ 1,50 para carros e caminhões de até dez metros de comprimento. Os únicos veículos isentos de tarifa são as motos, que terão espaço específico para estacionar. Mas, mesmo com as taxas, o gerente diz acreditar que a novidade será aprovada pela população. Também profissional da área, o agente de trânsito Wilson Brem, 37, demonstra opinião contrária, pelo menos em primeira instância. “Não me agrada termos que alugar um espaço público. Existem inúmeras áreas públicas que necessitam de melhorias. Teremos que arcar com esforço financeiro nesses casos, também?”, questionou, ao mencionar que consideraria mais eficiente qualificar a sinalização e subsidiar a fiscalização. “Eu lamento que, para termos um trânsito aceitável, sejamos obrigados a pagar um valor extra, além dos impostos, por utilizar uma área que deveria ser pública, no sentido literal da palavra: sem custo”.

De fato, há sinalizações que permitem ao cidadão estacionar por pouco tempo sem que tenha gastos com isso, como as placas que permitem o estacionamento por 15 minutos, desde que o pisca-alerta esteja ligado. “Passado esse período, o cidadão é onerado financeiramente, com multa, e pode ter o seu veículo removido, para que outro possa utilizar o espaço público”, continuou Brem.

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Tempo de estacionamento será monitorado (Foto: Wilson Lima)

Novo destino para as moedas
Não é de hoje – literalmente, às vésperas da inauguração do estacionamento rotativo na cidade –, que a questão gera a dúvida sobre como ficará a situação dos guardadores de veículos. Em 2011, durante uma Audiência Pública proposta pelo vereador Roger Ney para agilizar o que era apenas um projeto de melhoria urbana, o presidente da Associação dos Guardadores de Carros de Pelotas, Cláudio Oliveira, solicitou que se discutissem alternativas para que o grupo não fosse prejudicado. Os parlamentares concordaram. “Foram abertas, há um tempo atrás, inscrições de cursos profissionalizantes para que os guardadores fossem alocados em outras áreas, mas a procura foi pouca”, disse Cardozo, ao explicar, contudo, que a falta da qualificação oferecida pela Prefeitura não proíbe os trabalhadores autônomos de continuarem atuando. Porém… “Agora, será mais difícil, pois em cada quadra terá um monitor da empresa, que ficará observando o tempo dos veículos estacionados”, afirmou. “Acredito que, pagando o rotativo, as pessoas parem de contribuir com os guardadores, pois acabariam pagando duas vezes”.

A promotora de eventos Francine Baschi, 22, considera que será pouca a diferença entre “pagar pela intimidação dos guardadores” e investir num serviço organizado. Mesmo habilitada para dirigir, ela pouco pega ao volante, mas, quando anda de carona, observa, com pesar, o quanto é diretamente proporcional o tempo desperdiçado para encontrar uma vaga ao valor investido quando se decide, finalmente, optar pelos estacionamentos pagos. “Para mim, que preciso fazer paradas rápidas no Centro, serão ótimos os parquímetros”, comentou. “Só tem que ver se o custo vai valer a pena e se vai funcionar. Em se tratando de serviço público, confesso que até tenho medo!”.

Seguindo exemplos
Na mesma época em que solicitou a Audiência Pública, o vereador Roger Ney usou como argumento o fato de o estacionamento rotativo já ser uma realidade de sucesso em muitos outros lugares, até mesmo menores – como Rio Grande e Bagé, que, juntos, têm menos habitantes que a população de Pelotas.

Militar citou bom exemplo de outros locais
Militar falou sobre benefício ao desenvolvimento local (Foto: Divulgação)

Na opinião do militar carioca Daniel Avellar, 29, que mora aqui há quatro anos e possui Habilitação desde 2004, a maior prova de que o estacionamento rotativo será bem-sucedido em Pelotas é, exatamente, a boa experiência já vivenciada em diversos lugares do Brasil e, até, do mundo. “Quando a cidade começa a crescer, também cresce o numero de carros e a área comercial não comporta todos ao mesmo tempo. É normalmente no Centro da cidade onde tudo acontece. Se as pessoas que dependem desses serviços tiverem seu acesso dificultado, a cidade vai perder”, opinou.

A publicitária Laura Vianna, 24, já observou o funcionamento dos parquímetros em Porto Alegre e diz ter achado positivo. “Porque, dessa forma, terá mais lugares no Centro para estacionar”, explicou. “Claro que haverá o custo, mas, assim, talvez as pessoas pensem ‘duas vezes’ em andar de carro em vez de caminhar mais em pequenas distâncias”.

Laura mora no Areal e dirige até o Centro diariamente para trabalhar. Todavia, ainda que a agência onde atua seja fora do trecho contemplado pelos parquímetros, ela pretende utilizá-los em seu horário de almoço, quando costuma ficar “rodando horas para achar um lugar”. “Como estou sempre com pressa, assim, vai até facilitar”, completou.

O funcionamento
De acordo com o site da Serttel, o estacionamento rotativo público funcionará a partir da utilização de tíquetes virtuais, comercializados através de telefone celular, Internet e em pontos de vendas fixos e móveis. Para fiscalização e controle do uso das vagas, haverá um software especializado de gestão e terminais inteligentes. Entre os benefícios prometidos pela solução estão a disciplina no uso do espaço público; o aumento da rotatividade e da oferta de vagas, melhorando a acessibilidade dos cidadãos no Centro; a maior comodidade para o usuário através de diversos meios de pagamento e aquisição dos tíquetes; e, inclusive, a redução de ocorrências de pequenos acidentes nas vias públicas.

Ao que parece, a população pelotense, no geral, também está com boas expectativas pelo serviço. Na enquete virtual feita pela Câmara de Vereadores, dos 246 votos registrados até a publicação desta reportagem, 170 concordavam com a iniciativa e somente 76 eram contra.

Por que “azul”?
Em Pelotas, o apelido “zona ou área azul” que os estacionamentos rotativos receberam em vários locais onde foram implantados cairá bem, uma vez que combina com o uniforme dos agentes de trânsito, os populares “azuizinhos”. Não há registros se essa foi a associação que originou essa história. Entretanto, o que se sabe até agora é que a área destinada aos parquímetros tem tanto de azul quanto tem de preto as famosas caixas cor-de-laranja que ficam dentro dos aviões.

Clique aqui para obter mais informações.

Taís Brem

Três palavrinhas

“Hoje sabemos que os efeitos da proibição, como o tráfico de drogas, saltam muito mais aos olhos do que o uso da erva. É a mesma coisa que proibir a masturbação”.
Marcos Winter,
ator e protagonista da peça “Monólogos de marijuana”, que pretende tratar sobre a descriminalização da maconha. Mas não é apologia, garante o diretor Emílio Gallo.

“Quando estou fazendo capa de ‘Nova’, visto uma pombagira de poder, praticamente um travesti. Não sou aquela pessoa. Encarno uma personagem e me divirto”.
Carolina Dieckmann,
atriz, explicando como concebe os personagens para estampar capas de revistas por aí.

“Eu acho que o vírus da paz está comigo desde que estava no útero da minha mãe. Não me lembro do dia em que briguei com alguém”.
Lula,
presidente do Brasil, em visita a Israel. Tão santo quanto a terrinha…

As mais-mais

 

A revista Veja fez um levantamento bastante interessante sobre peculiaridades de 40 cidades brasileiras. Algumas são tão curiosas que resolvi reproduzir aqui. Tá curioso também? Então, dá uma lida na lista de alguns dos municípios mais-mais do Brasil e, em alguns casos, até do mundo.

 

Mais segura

Desde que criou um canal permanente de comunicação entre os cidadãos e a polícia, o município de Maringá, no Paraná, é o mais seguro do país. Enquanto outras cidades tem taxa de homicídios de 35,5 para cada 100 mil pessoas, lá este número é de apenas 7,9. Chega a ser parecido com a capital da Holanda, Amsterdã.

 

Mais informatizada

Brasília é a cidade do Brasil que mais tem domicílios com acesso a aparelhos de tecnologia de informação e comunicação. As proporções de lares com desktops, de pessoas com notebooks e de donos de celulares da capital federal chegam a superar às de São Paulo.

 

A que mais recicla

O Brasil é o país que mais recicla alumínio no mundo: mais de 1 milhão de latinhas por hora. Destas, 70% são recicladas em Pindamonhangaba, no leste paulista, que sedia a maior empresa de reciclagem do planeta, a Novelis.

 

A maior produtora de suco de laranja

Itápolis, em São Paulo, é a cidade que mais produz suco de laranja. E isso não só no Brasil, mas mundialmente. Por ano, 710 mil toneladas de laranja são espremidas para virar bebida.

 

Mais alfabetizada

Parecido com o Japão, o município catarinense de São João do Oeste tem menos de 1% de analfabetos em sua população com mais de 15 anos.

 

Onde mais se lê

Em Passo Fundo, aqui no Rio Grande do Sul, os habitantes leem, em média, seis livros por ano. O índice é três vezes maior que o normal registrado no Brasil. Encosta no padrão francês.

 

Só brancos

Todos os 1.583 habitantes da cidade gaúcha de Montauri, contados em 2007 pelo IBGE, são brancos. O município foi fundado em 1904 por italianos.

 

Mais negros

Riacho Frio, no sul do Piauí, é o município brasileiro com o maior porcentual de negros do Brasil: 62% da população. Outros 18% são pardos. Presume-se que a concentração se deve à sua proximidade com antigos quilombos.

 

A mais evangélica

Dos 3.600 habitantes de Quinze de Novembro, no centro do Rio Grande do Sul, 60% se denominam protestantes. Eles mantiveram a religião de seus antepassados, luteranos alemães que fundaram a cidade no início do século XX.

 

A mais incrédula

Em Nova Ibiá, Bahia, 60% dos habitantes se declaram sem religião. A segunda colocada neste quesito é Pitimbu, na Paraíba.

 

A capital do divórcio

Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, é também considerada capital dos divórcios no país. É a cidade que mais registra casos de separação judicial.

 

Mais motos

Tabatinga, no Amazonas, tem cerca de 25 mil motos, praticamente uma para cada dois habitantes. Até 2007, a cidade não tinha nem posto de gasolina. Mesmo assim, os veículos de duas rodas eram abastecidos por combustível vendido dentro de garrafas plásticas.

 

Taís Brem 

 

Parece, mas não é

 

Da série “Palavras que significam uma coisa, mas soam como outra completamente diferente”. A língua portuguesa – pelo menos, a falada no Brasil – tem destas coisas. Já percebeu como existem palavras que parecem querer dizer algo que é totalmente o contrário do que realmente significam? Não? Claro que sim! Explico melhor, para ajudar a refrescar a memória.

 

Eu tava falando disso, dia desses, com minha colega de trabalho, a Raquel. E o tema me veio à tona novamente quando li numa destas revistas semanais que a Susana Vieira havia sido “ovacionada” enquanto desfilava na Sapucaí. Ovacionada? Ok, tudo bem. A matéria fez questão de ressaltar que a atriz estava muito feliz com a recepção, mas, pelo menos aos meus ouvidos, essa palavra não remete a algo muito bom. Imagina se “ovacionada” significasse o que parece. Seria um termo semelhante a “tomatizada” ou algo assim. A jovem senhora foi sambar na avenida, o povo reprovou e jogou meia dúzia de ovos para expressar o descontentamento. Pronto: ela foi ovacionada. Mas, nada disso. Ovacionar significa aclamar, aplaudir… ou seja, o contrário, exatamente.

 

O mesmo acontece quando escuto que algum patrimônio foi “tombado”. Ah, tá, demoliram o tal prédio? Não, muito pelo contrário. Embora o termo em si caracterize algo que foi destruído, dizer que um patrimônio foi “tombado” significa dizer que ele está justamente protegido de qualquer destruição ou intervenções do tipo.

 

Dá, também, pra acrescentar aos termos desta despachada pesquisa em nosso adorável idioma a palavra “perene”. Explicação daquilo que é duradouro, eterno e infindável, o adjetivo “perene” bem que sugere algo passageiro, perecível, que chega a se desmanchar de tão frágil.

 

E as coisas “nocivas”? Não dão a ideia de algo inofensivo? “Nocivo”… bonitinho, suave… Não parece? Parece, mas não é. “Nocivo” é sinônimo de perigo. Um veneno é nocivo. Um bebezinho, não. Pelo menos, enquanto continua bebezinho.

 

E você? Ativou a cuca o suficiente para enriquecer a listinha? Então, manda o comentário! Vai ser uma boa trocar figurinhas.

 

Taís Brem