Movimento dos Sem-filhos

 

A proposta é se opor a uma das leis máximas da natureza: o famoso “crescei e multiplicai-vos”. E o objetivo incomoda justamente por ser uma espécie de hino contra o que chamamos de família normal, como a própria autora define. Escrito pela francesa Corinne Maier, o livro “Sem filhos – Quarenta razões para não ter” chegou ao Brasil em agosto, depois de causar muita polêmica pela Europa e continua levantando por aqui dúvidas acerca da necessidade de procriar.

 

Há quem diga que não há mal algum numa mulher que decide, por A + B, que gerar não é um bom negócio. O mundo não vai ficar significativamente menor por causa disso. Ok. Muitos são os que decidem permanecer solteiros e até o apóstolo Paulo já dizia que, se alguém prefere não casar e, por conseqüência, não dar início a uma nova família, nisso não peca. Beleza. A liberdade desta escolha está inclusa no que denominamos livre arbítrio. Mas existe o grupo – e eu me incluo nele – que vê nesta posição anti-filhos uma coisa meio de frustração, de vazio. Parece-me um negócio estranho demais alguém querer ir contra tudo o que se faz normalmente desde que mundo é mundo. E além do mais, ela usa argumentos absurdos, como, por exemplo, que ter filhos num país rico é um tipo de atentado ao meio-ambiente, já que a população aumenta e o consumo cresce obrigatoriamente… Meu Deus, que drama! Todavia, para que você tire suas próprias conclusões, leia abaixo a íntegra da entrevista que a agência O Globo fez com Corinne. Em tempo, ela mesmo é mãe de dois adolescentes, mas dizer que se arrepende bastante disso faz parte de seu discurso.

 

 

O Globo – Das 40 razões para não ter filhos, quais as três que você considera as principais?

Corinne – Os filhos exigem tanto tempo e energia dos pais que impedem eles de fazer um monte de coisas: mudar, viajar, ter uma vida de aventura, se enfiar na política, ganhar dinheiro… tudo isso é difícil quando se tem filhos. Principalmente para as mulheres. Não as avisamos o suficiente que elas serão prisioneiras dos filhos por 20 anos.

 

O Globo – Por que uma mulher que opta por não ter filhos é considerada suspeita, fraca, medrosa ou doente ainda nos dias de hoje?

Corinne – São preconceitos de gente sem imaginação. No século 20, mulheres como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt ou Alexandra David-Neel tiveram vidas interessantes e escolheram não ter filhos. Elas não eram nem fracas, nem medrosas.

 

O Globo – Você admite que em alguns momentos se arrepende de ter tido filhos. Que tipo de reação essa declaração provoca?

Corinne – Isso choca algumas pessoas. O discurso esperado é: eu sou preenchida (plena) pelos meus filhos. As crianças dão sentido à vida? Tenho dúvidas. Pode ser para uma minoria de pessoas, mas não para todas. Seria muito simples e um pouco decepcionante: a espécie humana estaria na terra unicamente para se reproduzir? Não é um pouco limitado?

 

O Globo – Para você, o que motiva as pessoas a terem filhos: os antigos dogmas ou o que chamou de baby-business? A paternidade é, mesmo, um aliado objetivo do capitalismo?

Corinne – Muita gente quer filhos: talvez seja um meio de fazer como todo mundo, de se integrar à sociedade. Talvez seja um meio de se projetar no futuro. Mas não existem outros meios como, por exemplo, fazer o que a gente realmente gosta? Ter filhos conforta a ordem: as crianças estimulam os pais a consumir sempre mais para provar que eles são bons pais. E também, quando somos pais, estamos tão ocupados em ganhar a vida e educar os filhos que a gente não tem tempo para pensar em mudar o mundo ou imaginar uma outra sociedade.

 

O Globo – Você diz que existem 40 razões para não ter filhos; há ao menos quatro razões para tê-los?

Corinne – Talvez,  mas não é meu métier de falar disso. Eu escrevo ensaios para fazer refletir (ou incomodar), não hinos à família.

 

O Globo – Alguém já disse que você se sente uma péssima filha e uma péssima mãe e por isso escreveu o livro? Qual seria sua resposta a isso?

Corinne – Me acusam de ser uma mãe ruim por causa desse livro. Tudo bem, isso me faz rir. As boas mães são as que não se questionam? Além do mais, as boas mães existem?

 

O Globo – Você afirma que um filho é capaz de acabar com a vida sexual e o desejo de um casal. Que tipo de reação você queria provocar, ao misturar num mesmo livro dois tabus – maternidade e sexo?

Corinne – Nenhuma, eu só disse que a verdade, com humor, sobre a vida sexual de muitos dos pais.

 

O Globo – Por que afirma que ter um filho num país rico é um ato não-cidadão?

Corinne – Porque o planeta já é superpopuloso e não necessita das nossas maravilhosas crianças. Seria preciso fazer as pessoas que decidem ter crianças pagar mais impostos. Na verdade, os pais acabam pressionados a consumir mais (carro, casa, gadgets, etc) e o meio ambiente sofre.

 

 

 

12 comentários em “Movimento dos Sem-filhos”

  1. Adorei esta escritora!! Enfim alguem que tem coragem para discutir o assunto. Realmente, toda maioria é burra… parabens Corinne!

  2. Ao ler essa materia, tentei imaginar o tipo de sentimento que essa escritora causa em seus filhos, por saberem que o mundo dela seria bem melhor sem eles.O diabo usa pessoas e muitas vezes até os próprios pais com palavras ousadas para minar a mente dos jovens como o famoso e triste “aborrecentes”. Tenho falado a todos os adolescentes que nao aceitem essa palavra sobre suas vidas e declaro inclusive aos meus dois filhos adolescentes que eles são abençoecentes, sao bençãos de DEUS para a minha vida, verdadeiros presentes do SENHOR. So nos resta clamar a DEUS pela vida dessa escritora, que por algum motivo, DEUS sabe qual, tem escrito TUDO ISSO.
    “Jovens, sois fortes e a palavra de DEUS está em vós…(I Joao:14).

  3. Adorei o livro, a autora é bem humorada e mostra as crises conjugais pós filhos de forma interessante.

    Eu como mulher solteira vejo minhas vizinhas casadas e com filhos muito mal-humoradas, dez anos mais velhas do que consta no RG. sendo chifradas pelos maridos o tempo todo e escravas do lar e dos filhos.

    Mas acho que elas no fundo sentem algum tesão sexual nisso, vejo todo final de semana um vizinha maluca xingando o marido e claro, levando uns bons tapas na cara, mas no fundo ela gosta e quer mais…muito mais.

    Pra todas valem a pena o esforço de ter filhos e garantir aquele macho, aquele teto e aquela cestinha básica no final do mes, mesmo que seja por alguns anos, os filhos seguram o homem,e faz com que ele não vá embora de casa.

    Eu não tô criticando estou expondo uma realidade das categorias C, D e E que eu conheço. Cada mulher faz o que quer para si e para sua prole, pois todas sabem as consequencias mas querem os beneficios de ter filhos, e são muitos.

    Por que o filho serve como ferramente de trabalho, ele ajuda em casa, trabalha fora, é uma companhia contra a solidão e ainda serve quando a mulher estiver velha.

    Logo ter filho é algo muito útil para algumas mulheres, que querem ser sustentadas.

    Já eu prefiro continuar sem filhos e sem deformações no corpo causadas pela gravidez e parto e ser realizada no meu trabalho.

  4. Achei o ponto de vista da escritora muito interesante.
    Ela não está falando bem o mal, está apenas alertando e expondo suas idéias.
    Vou comprar o livro e ler completo.

  5. Muito interessante o livro. Eu comprei na semana passada é posso garantir que é muito instigante e nos leva a refletir sobre vários lendas, entre eles o MITO DO AMOR MATERNO. São quebras de paradigmas e é lógico que vai despertar os mais inflamados comentários de pseudo moralistas de plantão!

  6. Eu li o livro e é maravilhoso para quem entende que ser mãe é estar constantemente algemada e cega para as coisas que acontecem ao redor. As mulheres querem ter filhos, mas não querem ser mães, a verdade é essa. Um doação que no final das contas de tá uma boa conta no psicólogo, rugas e cabelos brancos e te leva a fazer promessas para teu filho largar as drogas. Tô foraaaaaaa, sou inteligente.

  7. Tem gente que faz filho por puro “acidente” (o nome disso é burrice mesmo) e depois quer te convencer de que foi planejado, que sempre quis ter, etc., e quer que você acredite que a vidinha de merda que ela leva é abençoada por Deus e coisa e tal… Afff! E lá vai ela pras casas Bahia comprar secador de cabelo e micro-ondas tosquera com o dinheiro do Bolsa vagaba… Ops! Bolsa-família. Lamentável…

  8. Nossa, ainda não li esse livro, mas ele me parece por demasiado interessante. Assim como Corinne, eu também tenho quarenta motivos para não ter filhos. A diferença é que nos meus motivos, o foco não está nos problemas que isso acarreta para os pais, mas nos problemas que isso acarreta para as crianças.
    Todos os dias vejo pessoas sem a menor estrutura terem filhos, e então eu me pergunto: “por que elas fazem isso?” Digo estrutura, é claro, em todos os sentidos: econômico, social, psicológico… Eu não sei se vocês sabem, mas a maioria das famílias brasileiras, e se duvidar, do mundo, encontram-se desestruturada. Criar bem um filho não é uma tarefa fácil, e todos precisam ser exaustivos na tentativa de fazer isso. E então eu lhes pergunto: “quantas são as pessoas dispostas a fazer isso?” “Em que tipo de indivíduo uma criança vai se transformar se quem a colocou no mundo não estiver disposto a ser exaustivo na tentativa de criá-la bem? Conversando certa vez com uma amiga, utilizei o termo “meninos de rua”. Ela logo replicou dizendo que não existe meninos de rua, que esses meninos não são de rua, mas que foram colocados na rua. Disse para ela que ninguém os colocou na rua, eles próprios saíram de suas casas e foram para as ruas. Alguém os colocou, sim, no mundo sem ter a menor estrutura para criá-los, e por isso eles saíram de suas casas e foram para as ruas.
    Tive uma infância muito dura, cheia de limitações financeiras e de outras ordens. Meus pais tiveram a mim e a mais cinco irmãos. Para todos nós, sobretudo para mim a meu irmão mais velho, faltaram sempre as coisas mais básicas que vocês podem imaginar, e não apenas material. Os meus pais não tinha estrutura para ter filhos e isso me deixou sequelas que eu gostaria de não ter. Hoje, curso a universidade e tenho uma situação um pouco melhor, mas ainda muito longe da dignidade que todas as pessoas precisam. E mesmo o pouco que consegui, consegui com todas as dificuldades do mundo. Corinne se arrepende de ter tido os filhos, eu não tenho como me arrepender de ter nascido, mas gostaria que meus pais tivessem usado camisinha.
    Corinne também diz que os pais são levados a consumir por causo por filhos. Claro! Uma criança precisa de plano de saúde, para não morrer na fila do SUS, de alimentação de qualidade, para desenvolver bem o seu intelecto, de escola de qualidade, para enfrentar esse mundo cada vez mais competitivo, e de cultura, esporte e lazer para não se tornar marionete da televisão.
    Adoro crianças e por isso decidi não ter filhos. As pessoas sempre se chocam quando digo isso, mas não há nada de paradoxal nisso. Hoje em dia, não ter filho é uma prova cabal de amor. Ora, as pessoas não dizem que quem ama cuida? Que quem ama quer o melhor? Então, por que ter filhos se não se pode dar esse melhor??
    Tem uma personagem de uma certa novela que quer fazer inseminação artificial para ter filho. O marido diz que não quer e que nunca desejou sequer ter filhos naturais, e a relação dos dois está girando em torna dela convencê-lo a ter esse filho. Então eu lhes pergunto? “Que tipo de pai vai ser alguém que não deseja ter filhos, que esta sendo pressionado e tê-lo?” Isso me parece um tanto quanto insano.

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