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O apoio das estrelas

Candidatos aproveitam a influência das celebridades para arrebatar eleitores

Foto Orlando Brito
Aécio Neves recebe reforço de Ronaldo Nazário e Fafá de Belém (Foto: Orlando Brito).

Eles podem não ter arriscado concorrer a uma vaga para ingressar na vida política. Por outro lado, se dispõem a aproveitar a visibilidade que a fama lhes propicia para apoiar seu presidenciável favorito. A mesma tática de marketing vista no primeiro turno das Eleições 2014 (que, diga-se de passagem, não é exclusividade deste ano), está ainda mais explícita, conforme se aproxima o dia de definir quem, de fato, fica com o poder a partir de 2015. Chamar personalidades para participar das campanhas eleitorais pode ser um bom norteador aos indecisos. Porém, há quem veja com cautela esta postura.

Renan Vaz (Foto: Wilson Lima).
Renan Vaz (Foto: Wilson Lima).

O advogado Rodrigo Garcia, 33, é um desses. Ele diz reconhecer que o fato de pessoas públicas abrirem seu voto influencia,
sim, a muitos, mas garante não ser o seu caso. “De acordo com as besteiras que alguns falam para colaborar com a propaganda dos candidatos, às vezes, crio até uma antipatia pela celebridade em questão”, disse. O professor de Matemática, Renan Vaz, 29, também não encara a estratégia com bons olhos. “Eles se expõem pelo dinheiro, que, por sinal, não é pouco”, sugeriu, com desconfiança. “Mesmo o sistema sendo democrático, acho que nenhum artista deveria influenciar no voto da população. Pra mim, o voto é secreto”.

Embora vá justificar sua presença nas urnas no próximo dia 26 por estar se recuperando de um acidente, Vaz afirmou que também não faz parte daqueles que se deixam levar pelas dicas das celebridades. “Antes de votar, sempre leio tudo sobre o candidato, entro no site, vejo se ele possui a ficha limpa, quais são seus projetos e o que pretende fazer para melhorar mais nosso país”, enumerou. “Penso que, como eu, existem milhares de pessoas por aí. Logo, acho que os artistas não deveriam se expor tanto”.

David Coimbra: Influência não é tão grande quanto parece (Foto: Clic RBS).
David Coimbra: Influência não é tão grande quanto parece (Foto: Clic RBS).

O jornalista e escritor David Coimbra, 52, disse não ver problema algum em qualquer pessoa declarar o seu voto, seja ela famosa ou não. Entretanto, reconhece a possibilidade de uma celebridade mudar o voto de alguém. “Mas, acho que é menos do que se acredita que mude, até porque o posicionamento de muitos já é bastante conhecido. Todo mundo sabe que o Chico Buarque é petista, mesmo que ele diga que não é. Todo mundo sabe que o Lobão e o Roger são anti-PT”, disse. “O ideal, é claro, seria que o apoio de uma celebridade não mudasse o voto de ninguém, a não ser que ela desse argumentos bons o suficiente para que isso acontecesse. Mas, aí, estamos entrando no terreno do mundo ideal, que não existe”.

Foto: Arquivo pessoal
Thaís Carvalho (Foto: Arquivo pessoal).

Ideal, aliás, é o mesmo termo que a professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Thaís Carvalho, 27, utilizou para exemplificar a sociedade formada por “cidadãos conscientes da importância de seu papel, não só no período eleitoral, mas em todas as decisões concernentes a sua cidade, seu bairro e seu país”. “Este tipo de atitude não teria a influência e nem a atenção que as campanhas eleitorais e a mídia lhe conferem atualmente. A despolitização do voto no Brasil passa pelo apelo sensacionalista de xingamentos chulos, pela exploração da vida pessoal dos candidatos, pelo apoio de pessoas públicas, dentre outras maneiras que desvinculam as eleições de um pensamento voltado ao bem coletivo e à construção da cidadania. Eu, particularmente, não mudo meu voto em razão do apoio desta ou daquela celebridade. O contrário (infelizmente) talvez aconteça: de o apoio político de determinado artista me decepcionar de tal maneira que eu jamais volte a vê-lo com o mesmo encantamento”, destacou Thaís, que é graduada em História.

A assistente social Adriane Vasconcelos, 42, demonstra mais flexibilidade. “Não posso julgar quando alguém utiliza essa postura para se expressar, porque cada um tem a capacidade de analisar aquilo em que acredita”, opinou. “A melhor propaganda, como já diziam nossos avôs, é o ‘boca-a-boca’. Mas, por que não melhorar isso trazendo para a população depoimentos de pessoas famosas, cujo símbolo de beleza está estampado nas novelas e nas capas de revistas? A propaganda eleitoral tem que ser renovada, já não bastam mais os santinhos. Hoje, o eleitor quer algo mais. E quando esse ‘algo mais’ vem acompanhado da imagem do galã da novela falando que vai votar nesse ou naquele candidato, isso faz diferença para muitos eleitores”, concluiu. “E é bom para a carreira deles, porque quem não é visto não é lembrado”.

Quem apoia quem?

Foto: Assessoria Dilma Rousseff
Para Lula, obviamente, Dilma é a candidata do povo (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).

Além dos galãs e das beldades, esportistas, intelectuais, religiosos e, é claro, outros políticos, já fizeram questão de tornar pública a decisão que poderia ficar restrita apenas à urna eletrônica. “No primeiro turno, votei na Luciana Genro. Agora, voto na Dilma. Uma questão de coerência”, resumiu a cantora Marina Lima. Já o ator Dado Dolabella, criou polêmica ao comparar os eleitores da presidente atual a quem foi contaminado com o vírus ebola. “É digno de pena e reclusão da sociedade. Um marginal”, exclamou.

De um lado, estão figuras como a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, o lutador Anderson Silva e o ator Milton Gonçalves. De outro, aparecem a cantora Alcione, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e a atriz Marieta Severo. Até quem não vota no Brasil, aproveitou para dar o seu palpite. O ator americano Danny Glover, que é casado com a escritora brasileira Eliane Cavalleiro, destacou, em nota, o progresso do país durante o governo petista e, por isso, disse apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Já a revista britânica The Economist publicou, na última semana, uma matéria favorável à candidatura de Aécio Neves (PSDB), o que, obviamente, contou com a rejeição do também petista e ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, o Lula. “Essa revista é a mais importante do sistema financeiro internacional, dos bancos, dos achacadores que dizem que são de investidores, mas que são exploradores. Pois bem. Qual é a resposta que temos que dar? Que o Aécio é candidato dos banqueiros? Ótimo. A Dilma é candidata do povo brasileiro”, rebateu.

Nesta terça-feira (21), a empresa Hollywood.TV, que tem filial no Brasil e é especializada em publicidade com celebridades, mediou um pseudo-apoio da modelo britânica Naomi Campbell e da atriz americana Lindsay Lohan à candidatura tucana. Em entrevista à Folha de São Paulo, Jairo Soares, um dos sócios da empresa, admitiu que, como vai votar em Aécio, “usou sua influência para conseguir os posts”, sem, contudo, envolver dinheiro na transação.

O professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Eduardo Silveira de Menezes, 30, escreveu, em 2010, um artigo a respeito do tema, intitulado Da estética do medo ao medo da estética. Nele, Menezes e seu então orientador de mestrado, Valério Cruz Brittos, comentaram o grau de espetacularização que os responsáveis por planejar e operacionalizar as ações de marketing político conferem ao processo eleitoral. “Embora estejamos vivenciando o momento histórico de maior crise das agremiações partidárias – o que se reflete na confusão ideológica da maior parte dos eleitores –, acredito que o eleitorado que se identifica com determinados artistas o faz justamente por endossar os discursos daqueles que toma como referência política ou cultural”, disse o professor, que, também, é jornalista. “A todo o momento a postura e o compromisso de cada uma dessas personalidades agregam ou afastam o público; eles criam adesões e as repelem na mesma medida em que manifestam suas opiniões. Nesse sentido, o PSDB certamente agrega um maior número de votos despolitizados. Dificilmente alguém que vota no Aécio por ser fã de Luciano Hulk, por exemplo, tem algum envolvimento com a militância política ou uma mínima compreensão da diferença crucial entre os dois candidatos”.

Eles vão de 13

Antônio Pitanga (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).
Antônio Pitanga (Foto: Assessoria Dilma Rousseff).

– Henri Castelli, ator
– Negra Li,
cantora
– Emicida, cantor
– Sergio Loroza, ator e cantor
– Céu, cantora
– Xico Sá, jornalista
– Marcelo Yuka, músico
– Laerte, cartunista
– Zeca Baleiro, cantor
– Fernando Morais, jornalista e escritor

Eles preferem 45

Oscar Schmidt (Foto: Assessoria Aécio Neves).
Oscar Schmidt (Foto: Assessoria Aécio Neves).

– Rosamaria Murtinho, atriz
– Marina Silva, política
– Lima Duarte, ator
– Pastor Everaldo, político
– Eduardo Jorge, político
– Fagner, cantor
– Wanessa, cantora
– Leonardo, cantor
– Luiz Fernando Guimarães, ator
– Alexandre Frota, ator

Taís Brem
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Quebra de jejum

“Não morre o candidato Eduardo Campos, morre a pessoa, o ser humano, porque indivíduos não são funções”.
Tati Quebra Barraco, funkeira e aspirante a filósofa, sobre o trágico falecimento do candidato à presidência da República, no dia 13 de agosto.

“Olhe só como o mundo mudou: hoje temos que assumir que somos hétero”.
Fabrício Carpinejar, escritor, ao justificar que seu estilo espalhafatoso não muda sua preferência pelo sexo feminino.

“Foi bacana, mas está funcionando pouco. O dinheiro não entrou. Mas acho que demora para compensar, né? Ou as pessoas não tinham o número da conta”.
Silvia Tortorella, diretora-executiva do Instituto Paulo Gontijo, uma das entidades brasileiras que recebe doações para pesquisas sobre a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), ironizando a repercussão dos desafios com banhos gelados das celebridades pela causa.

“Eu desafio cada um de vocês que me perguntam a toda hora se eu já ‘aderi’ a cobrar todos os artistas e pessoas que participaram a pagar nem que seja uma merrequinha”.
Xuxa, apresentadora, que diz já ter dado sua contribuição para o nobre propósito.

“A vida de artista é pesada pra mim, mas nunca vou desistir. Preciso de ajuda, só isso”.
Armandinho, cantor, assumindo ter problemas com álcool.

“A gente tinha que ter duas vidas. Uma para experimentar, ver o que dá certo, e outra para viver. Mas, infelizmente, só temos uma. Por isso, sigo um ditado que adoro: ‘Escolha tomada, escolha acertada’.”
Mel Fronckowiak, pelotense que ficou conhecida como Miss Bumbum em 2008 e, atualmente, apresenta o programa A Liga, da Band.

“Aprendi que nunca se pode perder a maior matéria-prima da criação: a curiosidade”.
Céu, cantora.

” Não considero que seja mais arriscado do que andar no trânsito do Rio”.
Paulo Sergio Reis, médico carioca que trabalhou com pacientes com ebola na África Ocidental por três meses, sobre os perigos da epidemia.

“Eu faço o que for preciso para continuar aqui”.
Cláudia Jimenez, atriz, sobre os tratamentos a que se submete para manter a saúde em dia.

“Limite é um problema. Você só nota quando passou”.
Drica Moraes, atriz, que, mesmo recuperada de uma leucemia, ainda enfrenta certas limitações físicas.

“Não sou a favor de bater em mulher. Mas, nesse caso…”.
Luciana Gimenez, apresentadora, ao opinar sobre a forma como o ex-polegar Rafael Ilha devia ter lidado com sua esposa Aline Kezh, que, inocentemente, lhe convenceu a atravessar a fronteira Brasil/Paraguai com uma espingarda. Por causa da aventura, o rapaz foi preso acusado de tráfico internacional de armas.

Taís Brem
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Um lugarzinho no céu

É certeiro: morre uma celebridade e, no dia seguinte, lá está, no miolo de grande parte dos jornais, uma charge com a personalidade sendo recebida por uma multidão de anjos, por São Pedro e pelo próprio Deus. No céu, é claro. O cenário é sempre o mesmo. O que variam são as apresentações. Hebe Camargo, morta em setembro, por conta de complicações do câncer de peritônio contra o qual lutava desde 2010, foi homenageada inúmeras vezes dessa forma pelas publicações brasileiras.

Houve cartunista que deu ênfase ao seu principal bordão – “Gracinha!” – ao desenhar a apresentadora cumprimentando seus mais novos anfitriões. Houve quem focasse noutra de suas marcas registradas, o famoso selinho. Em algumas ilustrações, Hebe apareceu tascando um beijo no Criador. Noutras, mais comportadas, Ele conseguia fugir dela. Em síntese, nada que desse muitas asas angelicais à criatividade.

O desenhista Maurício de Sousa omitiu as nuvens do desenho feito para homenagear a dama da TV, mas, no comentário postado em sua conta do Twitter, registrou sua convicção de que a loira estaria brindada com um espaço na parte boa da eternidade: “Hebe passou gloriosamente pelos portões do céu. Documentação de toda uma vida em ordem para continuar a distribuir graça e alegria por lá”. Sousa fez coro com as dezenas de outras personalidades que também proferiram palavras do tipo. E assim o é, cada vez que o planeta Terra perde um habitante famoso.

Obviamente, não cabe a nós, reles mortais, discutir se Hebe Camargo foi ou não para o céu. Até porque, alguns de nós nem mesmo acreditam na existência dele. Mas é interessante observar como os chargistas reagem frente a ocorrências como a morte de pessoas que fazem história popularmente. Talvez seja mais fácil – e menos polêmico – sempre cair na mesmice de garantir um lugarzinho no céu para as celebridades falecidas que arriscar, como fazia Miguel Falabella quando apresentador do Vídeo Show, que alguma delas foi para o “andar de baixo”. Se bem que Falabella restringia esse destino apenas para políticos de muito má índole, estilo Hitler, ou para pop stars que tinham, assumidamente, uma certa simpatia pelo Cão. Pensando bem, não fora nada muito surpreendente.


Taís Brem