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Uma senhora propaganda

Costume saudável de beber água mineral pode influenciar gerações

Ana Paula, em visita a Israel, com a inseparável garrafa d'água (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana Paula (D), em visita a Israel, com a inseparável garrafa d’água (Foto: Arquivo Pessoal)


Ninguém lembra ao certo o motivo que desencadeou o hábito – pode ter sido para aliviar o esforço que o uso contínuo da voz causava às cordas vocais ou para melhorar o funcionamento dos rins. O que se sabe é que funcionou e contagiou muitas pessoas. Às vésperas de completar 45 anos, a pastora do Ministério Casa de Oração (MCO) e empresária carioca Ana Paula Oliveira Guimarães, pode não ter mais idade de garotinha. Mas, o vigor e a disposição que esbanja têm muito a ver com a mania que cultivou de sempre carregar junto a si uma garrafa com água mineral. Mesmo que a embalagem seja daquelas grandes, de um litro e meio. E cada vez que ela aparece bebendo o seu líquido precioso, faz uma “senhora propaganda” do produto do qual muitos desconhecem os benefícios.

Ana Paula mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul, há mais de uma década. E foi nesse período, em que reside em terras gaúchas, que o filho mais velho, Paulo Roberto, 23, aconselhou-a a começar a tomar água mineral. “Eu não lembro bem, ao certo, como começou essa história da água. Mas, realmente, ela influenciou muita gente. Especialmente eu, que dei o conselho e depois comecei a seguir minha própria ideia”, disse.

O gosto da carioca pelo produto é tão intenso que ela ingere apenas uma marca específica. E, dado ao paladar aguçado, sabe discernir se o lote em questão está “bom” ou não. “A água que ela toma é de uma fonte distinta, como todas as águas minerais de boa qualidade, mas essa foi a que acabou agradando”, comentou Paulo.

Ariadne e Paulo, tomando gosto pela água mineral (Foto: Arquivo Pessoal)
Ariadne e Paulo, tomando gosto pela água mineral (Foto: Arquivo Pessoal)

Também pastor, cantor e recepcionista da Beit Immanuel, em Tel Aviv, Israel, Paulo estudou Louvor e Adoração por dois anos no Centro de Treinamento Missionário Diante do Trono (CTMDT), em Minas Gerais. Enquanto esteve por lá, recebeu, por várias vezes, a visita da família. E foi uma grande sensação para os colegas perceber em sua mãe o hábito incomum de carregar a garrafa de água mineral a tiracolo. Comprovados os benefícios do hábito, até os colegas de Paulo passaram a ingerir mais o líquido, principalmente durante as apresentações da banda formada pelos alunos do Seminário. “Eu via todo mundo tomar muita água e acabei pegando essa fase de influência por causa do Paulo, que carregava uma garrafa de um litro e meio direto”, disse a agora acadêmica de Dança da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) Ariadne Cunha, 25.

Carioca passou a carregar garrafas maiores para suprir o hábito (Foto: Arquivo Pessoal)
Carioca passou a carregar garrafas maiores para suprir o hábito (Foto: Arquivo Pessoal)

Saber que sua mania saudável faz discípulos diverte Ana Paula. “Amo a verdadeira água da vida. Esse é o ‘top’ do percurso, que me faz mergulhar mais profundo nesse estilo, gerando vida e influenciando nossa geração a desfrutar saúde, respirando”, comentou. “Para mim, água tem sabor de vida pura”.

Também pudera. Encher uma embalagem de PVC com água da torneira ou mesmo do filtro é fácil. Mas, cumprir à risca o protocolo de realmente beber água mineral, não é coisa que se veja em qualquer esquina. Infelizmente. “A água mineral é uma água naturalmente abundante em sais. Ela provém de nascentes onde o solo é rico em sais minerais”, explicou a professora Eva Regina Lemos, técnica em Química pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IF-Sul) e graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ao acrescentar que considera que as pessoas tomem água por ser uma necessidade do corpo humano, mas não aproveitam os benefícios que a mineral pode trazer à saúde por falta de conhecimento do assunto.

A marca que Ana Paula costuma ingerir é classificada como radioativa e, portanto, possui propriedades calmantes, além de contribuir na dissolução de cálculos renais, melhorar a digestão e aliviar cólicas estomacais e intestinais. Existem, ao todo, 11 classificações diferentes de água mineral, com várias contribuições à saúde, como a carbogasosa, indicada para repor energia; a iodetada, que combate inflamações na laringe; e a ferruginosa, que pode, inclusive, ajudar no combate à anemia.

Águas e águas
Nem tudo o que é incolor, inodoro e insípido é a mesma coisa. Saiba a diferença.

Water DropletsÁgua potável – De acordo com Eva, esse é um tipo de água que sofre tratamento físico e químico para que se torne apta para o consumo;

Água filtrada – “A água filtrada passa por um tratamento físico que é a filtragem. Se for feito em água potável, esse processo retira algumas partículas sólidas que podem ser adquiridas na tubulação do serviço de saneamento básico até a residência onde está o filtro”, disse a professora. “Existem, também, filtros especiais que retiram o resíduo de cloro da água, como o filtro de carvão ativado”;

Água mineral – Entre os sais presentes na água mineral estão o cálcio, que auxilia no combate à osteoporose, o cromo, que regula taxas de açúcar no sangue, o magnésio, que previne a hipertensão, e o bicarbonato, que controla o nível de acidez estomacal. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam), todas as etapas de produção – da captação à venda ao consumidor –, obedecem a rigorosos padrões nacionais e internacionais de higiene, o que garante efetiva contribuição à nutrição e à saúde do organismo. “A diferença básica entre a água mineral com gás e a sem gás é que a água com gás tem adição de gás carbônico, enquanto a outra tem apenas os sais minerais”, esclareceu Eva.

Taís Brem

O desafio de ser sustentável

Como os pelotenses se comportam frente à possibilidade de escassez mundial de água

Mudança de comportamento deve começar pela rotina diária (Foto: Divulgação)
Mudança de comportamento deve começar pela rotina diária (Foto: Divulgação)


Não é novidade para ninguém que a água é um bem esgotável. Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, atualmente, 1,6 bilhão de pessoas no planeta vive em região com escassez absoluta de água. E as condições críticas desse quadro, que refletem, sobretudo, na saúde pública, têm tudo para afetar dois terços da população mundial até 2025, se o ritmo do consumo continuar como está, com um quê de despreocupação. Como se não fosse suficiente, desastres relacionados com água – que estão cada vez mais frequentes e intensos – contabilizam 90% dos riscos naturais. Até no Brasil, que é uma das nações mais abundantes em água do planeta, a situação é um problema. Mas, o que a população tem feito para evitar – ou, pelo menos, retardar – um possível colapso ambiental?

Na teoria, o caminho é adotar procedimentos simples no dia a dia, não desperdiçando água enquanto se escova os dentes, ensaboando a louça com a torneira fechada e aposentando a mangueira para lavar o carro com baldes, por exemplo. O desafio está, contudo, em viver esse ideal sustentável e ecologicamente correto na prática.

Para o ecólogo e coordenador florestal Elder Finkenauer, 29, a razão pela qual muitas pessoas ignoram a gravidade da questão está relacionada ao fato do desconhecimento das consequências. “Muitos veem como sendo um exagero, principalmente porque não são afetados pelo problema diretamente”, disse. “A mudança de comportamento é necessária e pode vir em pequenas rotinas, quando as pessoas passarem a valorizar a água como algo precioso, como deve ser”.

A administradora Suzana Lauz, 26, faz parte da parcela da população que não confia totalmente nas estatísticas. “Será que um dia vai faltar água mesmo? Sinceramente, eu não acredito muito. Mas, vá que seja verdade? Por via das dúvidas, eu não economizo, mas, também, não esbanjo”, afirmou.

Na casa da manicure e cabeleireira Andreia Nizolli, 38, a regularidade entre um consumo mais moderado e um gasto maior de água varia. Mas, ela diz acreditar que o ideal seria se todos levassem a sério os alertas para a preservação do recurso. “Que bom que muitas pessoas pensassem que, se continuar o desperdício, isso [os problemas pela falta mundial de água] pode acontecer”, apontou.

Na conta de quem?

Jéssica Farias diz ter consciência do problema ambiental (Foto: Arquivo Pessoal)
Jéssica considera importante poupar água (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma coisa é certa: se o bolso não é afetado diretamente, fica bem mais difícil perceber uma mudança de postura. Porém, tanto pela questão mundial de escassez, quanto pelo gasto que um comportamento relapso pode causar às finanças da família, a estudante Jéssica Farias, 19, diz ter consciência da situação. Ela garante que demora entre dez e 15 minutos no banho, não mais. “Acho que é sério e temos que poupar mesmo”, disse. Entretanto, quando a mãe, Simone, entra no assunto, comenta que nem sempre o consumo é assim tão econômico. Quando alguém – além de Jéssica, moram com a cabeleireira outros dois filhos e um neto – fica tempo demais embaixo do chuveiro, ela reclama, batendo na porta do banheiro para mostrar que não está alheia à demora. ”Sei que os aparelhos com resistência têm maior consumo, então, incomodo mesmo. Enquanto eles não me ajudam a pagar as contas, pelo menos, devem colaborar para não gastar demais”, comentou. “O desperdício me incomoda. Detesto ver alguém varrendo a calçada com mangueira ou lava-jato. E o pior é quando a gente questiona e a pessoa responde: ‘Eu é que pago a minha conta de água’”.

Na opinião da universitária Cássia Amaro, 21, a conscientização não deve ser baseada apenas pelo lado do dinheiro. “Mas, pela questão sustentável e prática, afinal a minha geração já sente as consequências, o que dirá a geração dos meus filhos!”, ressaltou. “Uma coisa que muita gente não percebe é que economizar luz, no caso do Brasil, que usa a eletricidade para tudo, inclusive para o aquecimento, é, também, economizar água, mesmo que indiretamente”. Por isso, em sua família, Cássia diz que todos se engajam para economizar ambos – a luz e a água. “Aqui em casa, a gente toma um super cuidado e busca aproveitar a água de todas as maneiras possíveis: a da máquina de lavar é reaproveitada, as torneiras são conferidas para que estejam bem fechadas, os banhos não são demorados e, sempre que a gente lava o carro e a calçada, por exemplo, não fazemos com a mangueira aberta todo o tempo, usamos bastante baldes”.

No início desse ano, a presidente da República Dilma Rousseff divulgou a tão esperada queda nas contas de energia elétrica. A partir de então, a conta de luz está 18,49% mais barata. O impacto da economia foi sentido em muitos lares – e bolsos –, como o do casal de comerciários Monique, 27, e Márcio Coimbra, 37. Eles afirmam que perceberam a diferença e acolheram-na como uma ótima notícia. Mas, confessam que, diante da economia, perder mais tempo no banho é uma tentação. “Já que a conta está mais barata, acabo demorando mais mesmo, porque sei que, até chegar ao valor que era antes, vamos precisar gastar muita água”, afirmou Monique. Além disso, o casal mora num condomínio, onde a conta de água é dividida por todos os moradores, independente do quanto gastam em seus lares, por família. “Muitas vezes, isso faz com que a gente pense: ‘Se temos que pagar mesmo sem usar, não há mal nenhum em gastar um pouco mais”. O marido, porém, demonstra entender que o comportamento deve ser mudado. “Está na hora de gastar menos para sobrar mais água para o planeta, porque essa história de escassez pode não ser bobagem”.

Simone, Cássia e Coimbra estão certos. Assim como o banheiro é o lugar onde mais se gasta água numa residência, conforme a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), os chuveiros elétricos são responsáveis por uma porcentagem significativa no consumo geral de energia da casa. No inverno, inclusive, quando o aparelho normalmente é regulado para aquecer mais a água, o consumo chega a aumentar até 30%.

“E eu, com isso?”

Fábio Roberto e Lia Machado (Foto: Divulgação)
Fábio Roberto e Lia Machado (Foto: Arquivo Pessoal)

O técnico em Contabilidade Fábio Roberto, 36, diz acreditar que o assunto é sério: realmente, pode chegar o dia em que a água não será mais tão acessível para a maior parte dos habitantes da Terra. Mesmo assim, para ele, a sociedade continua se comportando de forma despreocupada, porque não crê que as consequências chegarão à geração atual. “Pode acontecer, mas não vai nos atingir, então, não nos preocupamos. A maioria pensa que não estará mais aqui para sofrer com isso”, disse. Sua mulher, Lia Machado, 48, acha que o caso não é tão simples assim. Moradora do bairro Guabiroba, a secretária cita a escassez que ela e os vizinhos enfrentam durante o verão, quando costuma faltar água na localidade, como um sinal do problema. Finkenauer esclareceu que a falta de água a que Lia se refere não tem a ver com o racionamento mundial, já que a água potável é diferente da água total do planeta. Ainda. “Mas, poderá se tornar no futuro”, alertou o ecólogo.

Vilão ou mocinho?
Por que viver de modo sustentável fica ainda mais difícil quando se está debaixo do chuveiro?

Economia no tempo do banho é boa para o bolso e para o planeta (Foto: Daniel Avellar)
Economia no tempo do banho é boa para o bolso e para o planeta (Foto: Daniel Avellar)

Segundo informações do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), um banho de chuveiro elétrico de 15 minutos consome aproximadamente 144 litros. Ao fechar o registro enquanto se ensaboa, o consumidor pode economizar mais de 50 litros de água. O grande “problema”, é que, tomar banho está longe de ser apenas o símbolo da higiene completa do corpo. Uma boa ducha é capaz de aliviar dores e estimular a circulação do sangue. Se está frio, a chuveirada ajuda a aquecer o corpo, e, refresca, quando faz calor. É indicada para despertar, mas, também, ajuda para relaxar, depois de um longo dia de trabalho.

Realmente, está para nascer uma prática que se encaixe tão bem nas diversas necessidades do ser humano como o banho. Todavia, a culpa não é apenas dele, que impulsiona bastante o consumo desenfreado no ambiente doméstico. Como causas da escassez que ameaça o planeta estão o esgotamento das reservas naturais de água, o desmatamento, a poluição e a falta de políticas públicas que estimulem o uso sustentável, a participação da sociedade e a educação ambiental. O desperdício ainda pode ser fomentado pelas perdas decorrentes da deficiência técnica e administrativa dos serviços de abastecimento de água, provocadas, entre outros motivos, por vazamentos e rompimentos de redes. Ainda conforme informativo do Sanep, essas perdas se devem à falta de investimentos em programas de reutilização da água para fins industriais e comerciais, “pois, água tratada, depois de utilizada, é devolvida aos rios sem tratamento, em forma de efluentes, esgotos e, portanto, poluída” e inutilizável.

Taís Brem

Água benta

 

Depois do Guaraná Jesus e do Leão de Judá Cola, uma empresa de Santa Catarina criou uma água mineral para hidratar, como o próprio slogan deles sugere, “o corpo e a alma”. Chamada 100% Jesus, o produto tem foco direcionado para o povo evangélico, é claro, mas está disposto a cativar também consumidores de outras religiões, afinal quem não curte uma mensagenzinha de vibrações positivas vez ou outra, não é? E isso, 100% Jesus terá de sobra. No rótulo de cada embalagem haverá um versículo bíblico. Quer coisa melhor? A novidade, com opções com e sem gás, será produzida pela Aquarol Água Mineral.

 

Taís Brem

 

PS: Antes que alguém se manifeste, o título acima não está eclesiasticamente equivocado. Assim como “oxalá” também pode ser lido como “Deus queira”, “bento” é sinônimo de “benzido”, mas também de “abençoado”, sacou? Então, tá valendo.