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Didático?

Primeiro foi o Paraguai, aparecendo duas vezes no mapa de um livro de Geografia da sexta série, o que já era péssimo. Agora, por acaso, alguém se deu conta que um erro ainda pior estava presente em publicações destinadas para o terceiro ano do Ensino Fundamental de escolas paulistas. Termos impróprios e de conotação sexual foram encontrados na obra “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, comprada aos montes pela Secretaria Estadual de São Paulo para subsidiar o ensino a estudantes com idade média de nove anos. Nove anos, terceira série… Pode? Dizem os subordinados de José Serra que o “equívoco” será resolvido em breve, já que houve ordem para que os livros sejam recolhidos imediatamente.

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A editora Via Lettera, responsável pela obra, justifica dizendo que o livro é voltado para adultos e adolescentes. “Não sabíamos para qual faixa etária seria destinado. Se soubéssemos, avisaríamos a secretaria”, disse o gerente de marketing da empresa, Roberto Gobatto. Caco Galhardo, cartunista que escreveu a história mais criticada da publicação por causa do conteúdo picante, foi além: “O cara que escolheu não leu o livro”.

Se realmente não leu, apesar de chocante, esta é a única explicação que ameniza o episódio. Mas do que, afinal, trata o livro? Bem, a história cuja autoria pertence a Galhardo, por exemplo, é a caricatura de um programa de mesa-redonda de futebol na TV. Enquanto o comentarista faz perguntas sobre sexo, jogadores e treinadores respondem com clichês de programas esportivos, como “o atleta tem de se adaptar a qualquer posição”. Fraquinho? Hã… Isso para não citar as palavras de baixo calão que constituem os apelidos mais “comuns” usados para ânus e sexo oral, se é que vocês me entendem… Meus filhos não leriam.

Embora tenha reconhecido que houve “falha”, o governo de São Paulo explicou que a intenção foi mais uma ação de boa-fé do “grande esforço que se tem feito para estimular o hábito da leitura” na idade escolar, por meio do projeto “Ler e Escrever”. Afirmou ainda que a infeliz comprinha de R$ 35 mil representa “apenas” um dos 818 títulos que os estudantes têm à sua disposição. Em miúdos, dá só 0,067% do total de publicações disponíveis para leitura na escola ou em casa. Como se o zero à esquerda aliviasse o transtorno.

 

Taís Brem