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Rico dinheirinho

Como as famílias trabalham a educação financeira junto a seus filhos

Mesmo pequenas, crianças já devem aprender noções básicas de finanças (Foto: Divulgação)
Mesmo pequenas, crianças já devem aprender noções básicas de finanças (Foto: Divulgação)

Em alguns lares, ainda hoje é assim: num determinado dia do mês, os pais dão aos filhos uma quantia fixa, chamada mesada, uma espécie de salário que as crianças e adolescentes recebem para administrar, exercitando, assim, sua independência financeira. Em outras residências, o trato recebe o nome de semanada e, portanto, refere-se ao pagamento concedido de semana em semana. Há, ainda, as famílias que investem na caderneta de poupança, separando um valor que, de tempos em tempos, é depositado no banco para custear algum projeto futuro, como o ingresso na universidade. E tem os casos mais simples, em que a educação financeira é praticada no bom e velho cofrinho. Ali, de moeda em moeda, os pequenos vão aprendendo a lidar com o dinheiro.

Longe de ser uma brincadeira, a tarefa de ensinar a administrar as finanças é indicada aos pais por especialistas da área, com o objetivo de colaborar na criação de adultos economicamente responsáveis, desde cedo. Assim, espera-se que aumentem as chances de os pequenos saírem desse processo preparados para enfrentar a selvageria do mundo capitalista em que vivemos.

Em geral, é na faixa dos dois anos de idade que começam a ser reproduzidas em lojas, supermercados e afins aquelas cenas dramáticas que todos nós já cansamos de assistir, cujo texto, salvo ligeiras variações, é sempre “Mãe, me dá isso? Pai, me dá aquilo?”. E é nesse ponto que as noções básicas sobre economia encontram espaço para se desenvolverem. “No mundo moderno, quase tudo tem um preço. Se você quer, por exemplo, um chocolate, deve pagar o valor que o vendedor pede. A mesma coisa acontece com os outros alimentos que você come, com a roupa que você usa, com a luz que ilumina a sua casa à noite, com a água que você usa para tomar banho e com o telefone que você usa para conversar com seus amigos. Como você pode ver, cada coisa tem um preço que se mede com dinheiro”, diz um trecho da cartilha “O que é o dinheiro?”, disponível no site do Banco Central do Brasil (BCB). A cartilha integra o Programa de Educação Financeira, projeto criado pelo BCB para aproximar a comunidade dos conhecimentos sobre economia e finanças.

O público-alvo do projeto não é composto apenas de crianças e adolescentes, mas seu material serve como subsídio para a conscientização dessa faixa etária. As ações educativas de curto, médio e longo prazo estão divididas em cinco pilares básicos – planejamento financeiro, economia, operações financeiras, Banco Central e meio circulante – e incluem, por exemplo, promoção de palestras em universidades, visitas de alunos de Ensino Médio e Fundamental ao Museu de Valores do Distrito Federal e a série de cadernos ilustrativos com textos simples que oferecem uma explicação clara a respeito de temas e conceitos básicos de economia.

Na prática

Kelen e Ariel (Foto: Daniel Avellar)
Kelen e Ariel (Foto: Daniel Avellar)

Ariel Borges tem sete anos. Mas, muito antes de completar essa idade, já havia ganhado de seus avós um cofrinho, que se abastece de moedas toda vez que os patriarcas vão visitá-la. Ela não ganha mesada, entretanto seus pais entendem a importância de ensinar o valor do dinheiro. Tanto que a própria Ariel, quando acompanha a mãe, a estudante Kelen Costa, 28, até o mercado, já sabe quando determinada mercadoria está com o preço alto demais para ser levada para casa.

“Ela sabe distinguir e me diz ‘Hum, isso é caro! Tem tal número na frente; não dá para comprar”, explicou Kelen. Ariel leva tão a sério suas economias que certa vez Kelen pediu emprestado umas moedas do cofre da filha e ouviu um alerta: “Só não pega tudo, porque eu tô guardando para comprar nosso apartamento”, disse a menina. É bem provável que Ariel não tenha noção de quanto custará ao bolso da família adquirir uma casa própria. Mas, o fato de ter sido estimulada a administrar seus trocados está lhe ajudando a ter uma visão mais clara do complexo formato que contorna as transações econômicas do nosso cotidiano. “Do meu ponto de vista, acho que as crianças têm que ter noção de valores, números e quantidade, desde pequenas”, opinou Kelen. “É uma forma de aprendizado. Você ensina e, também, aprende muito com elas”.

Jamile quer ajudar a comprar o carro da família (Foto: Wilson Brem)
Jamile quer ajudar a comprar o carro da família (Foto: Wilson Brem)

A família de Jamile já não vive de aluguel. Portanto, as moedas que guarda em seu cofrinho não serão necessárias para ajudar a subsidiar o sonho de uma nova moradia. Porém, a menina de nove anos tem planos igualmente ousados para alguém de sua idade: quer ajudar a mãe, a auxiliar de Educação Infantil Eloisa Santos, 40, a adquirir um carro. “Não dou mesada a ela, mas dou umas moedinhas, de vez em quando, para ela guardar no cofre. O trato é abrir só quando encher e houver um objetivo”.

De família evangélica, Jamile tem o hábito de separar 10% de tudo o que ganha e direcionar para o dízimo. O restante só é investido após o aval da mãe. “Normalmente, ela pede minha opinião”, comentou Eloisa, ao destacar que considera fundamental ensinar da forma correta para que os filhos não se tornem avarentos.

Nem todas as crianças e adolescentes seguem o exemplo de Ariel e Jamile; preferem custear investimentos bem mais modestos, como o lanche da escola ou o brinquedo do momento. Para Eloisa, entretanto, o principal é orientar para que não haja exageros, nem quanto ao desperdício nem quanto à valorização exacerbada. “Acho que dar dinheiro aos filhos requer, também, orientação. Só dar o dinheiro, sem propósito, não irá edificá-los em nada”, pontuou.

Porquinho de estimação

Tradição de fabricar cofres em formato de porco surgiu na Europa (Foto: Divulgação)
Tradição é europeia (Foto: Divulgação)

Criatividade é o que não falta na hora de inventar novas caras para os tradicionais cofrinhos. Mas, quando se fala de economizar moedas, a primeira imagem que nos vem à cabeça é, inevitavelmente, a de um porquinho. E isso por influência do Velho Continente. Reza a lenda que, por volta do século 16, os europeus costumavam guardar dinheiro em vasinhos feito com um argila chamada “pygg clay”. Mais tarde, o recipiente passou a ser conhecido como “pygg banks”. E, como em inglês, a palavra “piggy” é porquinho, foi daí que os ceramistas tiraram a ideia de começar a fabricar cofres nesse formato. A prova de que a invenção foi um sucesso é que até hoje ela é imitada nos quatro cantos do planeta.

Taís Brem

Um shopping para chamar de nosso

Em 03 de outubro, finalmente, Pelotas assistirá à inauguração de seu primeiro shopping center

Shopping Pelotas será o primeiro da cidade (Foto: Taís Brem)
Shopping Pelotas será o primeiro da cidade (Foto: Taís Brem)

O shopping que leva o nome da cidade e o peso de ser o primeiro empreendimento do tipo a ser inaugurado em Pelotas estará aberto ao público a partir do mês que vem. A expectativa é enorme entre os moradores da cidade. Afinal, a Princesa do Sul, do alto de seus 201 anos, já teve de tudo: centro comercial, galeria, hipermercado e lojas que lançaram a escada rolante como novidade, excursões para a capital que incluíam passeios em shoppings e vários projetos que nunca chegaram a vingar. Mas, shopping mesmo, é a primeira vez.

Laureni Mendes (Foto: Arquivo Pessoal)
Laureni Mendes (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a maioria dos cidadãos pelotenses, a implantação de um shopping na cidade é positiva, uma vez que, entre outras coisas, é sinal de desenvolvimento econômico. “Vai proporcionar novas oportunidades de emprego e será mais um ponto turístico para os visitantes, sem contar que é um grande investimento para Pelotas”, opinou a dona-de-casa Laureni Mendes, 45. Sheila Teixeira, 19, concorda, principalmente, porque poderá impulsionar as chances para os jovens que nunca trabalharam. Porém, embora considere que o empreendimento será um marco para a cidade, a estudante não acha que o visitará com frequência, já que o Shopping Pelotas funcionará no bairro Areal e Sheila mora no Fragata. Para o jornalista e professor Jairo Sanguiné, o empreendimento dará vida à cidade. “Meu interesse pessoal são as salas de cinema, pois Pelotas é tida como polo cultural e ainda não tem salas de cinema de qualidade”, apontou. A expectativa do militar Igor Silveira, 19, é por variedade de entretenimento. Tendo algo diferente, como boliche ou área de pentibol, eu pretendo frequentar”, comentou.

Com apenas um pavimento, o Shopping Pelotas tem mais de 35 mil metros quadrados de área construída e conta com 172 lojas, seis âncoras, cinco megalojas, dois restaurantes, 14 fast-foods, cinco salas de cinema (sendo que duas são 3D) e 1.173 vagas de estacionamento. Por serem inéditas em Pelotas, as filiais das lojas Americanas e Riachuelo e da rede de fast-food Burger King estão entre as mais aguardadas pelo público.

Progresso ou retrocesso?
Na opinião de Silveira, a instalação do shopping em Pelotas é uma evolução. “Mas, uma evolução meio atrasada”, explicou. “Nós temos uma economia significativa para fazer o shopping render e, de uns tempos para cá, a economia da cidade, que está entre as maiores do Rio Grande do Sul, ficou mais forte. [Essa inauguração] Poderia ter ocorrido antes”. Na mesma linha, a psicóloga Marilei Vaz opinou que o “reboliço” feito pela população em torno da implantação do empreendimento soa como exagero. “Para uma cidade que tem tantos prédios bonitos e já viveu tanto glamour, inaugurar um shopping a esta altura é um retrocesso”. “Depois que municípios, como Lajeado, Passo Fundo, Novo Hamburgo, entre outras cidades menores já têm shopping há mais de dez anos, é, no mínimo, motivo para reflexão”, disse o administrador de empresas Marco Soares, 41, que é pelotense, mas, atualmente, mora na capital paulista. “A propósito, agora que Pelotas está inaugurando um shopping, o ‘comércio de rua’ está em alta”, comentou Soares, ao citar o sucesso da 25 de março, do Brás, da Teodoro Sampaio e da avenida Paulista, em São Paulo; do Saara, no Rio de Janeiro; e dos Open Mall, uma espécie de shopping de rua, famoso nos Estados Unidos e que, agora, ganha força na região de Campinas e Belo Horizonte.

Os envolvidos com o projeto, obviamente, não estão alheios a essa realidade. “Um shopping em Pelotas é aguardado há décadas. Por isso, posicionamos o shopping como uma novidade que veio realizar um sonho do pelotense, mas, sem esquecer que é uma iniciativa que nasceu localmente, que tem a cara de Pelotas e que, por isso, irá satisfazer totalmente nossa comunidade”, disse o diretor de criação da Incomum, Daniel Moreira, o Cuca.

Ação teve início em junho (Foto: Divulgação)
Ação teve início em junho (Foto: Divulgação)

A Incomum é a agência de comunicação estratégica que possui a conta do Shopping Pelotas. Na ação prévia feita para gerar envolvimento e movimentação na Fan Page, a agência utilizou expressões características da região. O primeiro passo foi dado no evento da entrega dos capacetes, em 20 de junho. Na ocasião, os convidados receberam um bolo inglês acompanhado de uma etiqueta com a frase “Não é bolinho, é queque”. “Dando continuidade a esse mimo, criamos a campanha no Facebook, onde, com a mesma estrutura de frase, fizemos 25 posts, publicados de 26 de junho a 29 de julho”, disse Cuca. “A soma do alcance de cada post da campanha foi de 208 mil pessoas. O mais exitoso foi ‘Não é vou embora, é partiu o Guabiroba!’, com um alcance de mais de 40 mil pessoas distintas, 653 compartilhamentos, 450 curtidas e 40 comentários”.

Hoje, a Fan Page do Shopping Pelotas, que ficou popular trazendo à memória dos pelotenses o “frege”, o “mandinho”, o “de primeiro” e a “recheada”, tem mais de nove mil fãs. A expectativa da agência é chegar aos 15 mil até o fim desse ano.

Antes tarde do que nunca
O publicitário Paulo Soares, 52, que também já deixou de morar em Pelotas há mais de 20 anos, torce para que o empreendimento dê certo. A respeito de uma provável resistência local a novidades, o publicitário opinou: “Não há lógica em rejeitar o progresso, se não há uma manutenção e um progresso do comércio nativo. Na Bahia, há uma rejeição à música internacional e até mesmo a ritmos brasileiros não baianos, mas, há uma força incontestável do axé-music, com todas as suas variantes”, exemplificou. “O comércio de Pelotas não oferece, nem nos produtos locais, doces, compotas, artigos de couro, alternativa moderna de compra, nem uma feira permanente, a não ser a dominical da Avenida [Bento Gonçalves]. Em Fortaleza, tem uma feira como essa funcionando todos os dias, das 17h às 23h. Na Praia de Boa Viagem, em Recife, também. Por que Pelotas não trabalha sua vocação turística? Por que o Mercado Público está fechado, um ano depois da previsão de reabertura? São coisas como essas que eu acho que justificam o atraso desse empreendimento”, enumerou. “O Shopping Pelotas será um sucesso se incorporar a cultura da cidade, o samba, inclusive. Se tiver uma política de inclusão de pequenos estabelecimentos, sem deixar de focar nos grandes. Se tiver linhas de ônibus e lotação para acesso fácil, eventos culturais, participação na vida da cidade. Se tiver a coragem de romper com a apatia e se posicionar como uma operação revolucionária”, sugeriu. “Assim esperamos”.

Alerta redobrado

Agente alerta para a prudência no dia da inauguração (Foto: Taís Brem)
Agente alerta para a prudência no dia da inauguração (Foto: Taís Brem)

A inauguração do Shopping Pelotas está marcada para o dia 03 de outubro. E, como a movimentação deve ser intensa no local, intensifica-se, também, a necessidade de prudência no trânsito. “Mesmo se tratando de uma rótula, há um uso excessivo da velocidade dos veículos e desrespeito à sinalização. Por isso, é necessário ter prudência redobrada. O local estará mais sensível a ‘acidentes’, em função do aumento do número de veículos e de pessoas”, lembrou o agente de trânsito Wilson Brem.

O Shopping Pelotas funcionará na avenida Ferreira Viana, 1.526, no cruzamento com a São Francisco de Paula.

Taís Brem

O desafio de ser sustentável

Como os pelotenses se comportam frente à possibilidade de escassez mundial de água

Mudança de comportamento deve começar pela rotina diária (Foto: Divulgação)
Mudança de comportamento deve começar pela rotina diária (Foto: Divulgação)


Não é novidade para ninguém que a água é um bem esgotável. Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, atualmente, 1,6 bilhão de pessoas no planeta vive em região com escassez absoluta de água. E as condições críticas desse quadro, que refletem, sobretudo, na saúde pública, têm tudo para afetar dois terços da população mundial até 2025, se o ritmo do consumo continuar como está, com um quê de despreocupação. Como se não fosse suficiente, desastres relacionados com água – que estão cada vez mais frequentes e intensos – contabilizam 90% dos riscos naturais. Até no Brasil, que é uma das nações mais abundantes em água do planeta, a situação é um problema. Mas, o que a população tem feito para evitar – ou, pelo menos, retardar – um possível colapso ambiental?

Na teoria, o caminho é adotar procedimentos simples no dia a dia, não desperdiçando água enquanto se escova os dentes, ensaboando a louça com a torneira fechada e aposentando a mangueira para lavar o carro com baldes, por exemplo. O desafio está, contudo, em viver esse ideal sustentável e ecologicamente correto na prática.

Para o ecólogo e coordenador florestal Elder Finkenauer, 29, a razão pela qual muitas pessoas ignoram a gravidade da questão está relacionada ao fato do desconhecimento das consequências. “Muitos veem como sendo um exagero, principalmente porque não são afetados pelo problema diretamente”, disse. “A mudança de comportamento é necessária e pode vir em pequenas rotinas, quando as pessoas passarem a valorizar a água como algo precioso, como deve ser”.

A administradora Suzana Lauz, 26, faz parte da parcela da população que não confia totalmente nas estatísticas. “Será que um dia vai faltar água mesmo? Sinceramente, eu não acredito muito. Mas, vá que seja verdade? Por via das dúvidas, eu não economizo, mas, também, não esbanjo”, afirmou.

Na casa da manicure e cabeleireira Andreia Nizolli, 38, a regularidade entre um consumo mais moderado e um gasto maior de água varia. Mas, ela diz acreditar que o ideal seria se todos levassem a sério os alertas para a preservação do recurso. “Que bom que muitas pessoas pensassem que, se continuar o desperdício, isso [os problemas pela falta mundial de água] pode acontecer”, apontou.

Na conta de quem?

Jéssica Farias diz ter consciência do problema ambiental (Foto: Arquivo Pessoal)
Jéssica considera importante poupar água (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma coisa é certa: se o bolso não é afetado diretamente, fica bem mais difícil perceber uma mudança de postura. Porém, tanto pela questão mundial de escassez, quanto pelo gasto que um comportamento relapso pode causar às finanças da família, a estudante Jéssica Farias, 19, diz ter consciência da situação. Ela garante que demora entre dez e 15 minutos no banho, não mais. “Acho que é sério e temos que poupar mesmo”, disse. Entretanto, quando a mãe, Simone, entra no assunto, comenta que nem sempre o consumo é assim tão econômico. Quando alguém – além de Jéssica, moram com a cabeleireira outros dois filhos e um neto – fica tempo demais embaixo do chuveiro, ela reclama, batendo na porta do banheiro para mostrar que não está alheia à demora. ”Sei que os aparelhos com resistência têm maior consumo, então, incomodo mesmo. Enquanto eles não me ajudam a pagar as contas, pelo menos, devem colaborar para não gastar demais”, comentou. “O desperdício me incomoda. Detesto ver alguém varrendo a calçada com mangueira ou lava-jato. E o pior é quando a gente questiona e a pessoa responde: ‘Eu é que pago a minha conta de água’”.

Na opinião da universitária Cássia Amaro, 21, a conscientização não deve ser baseada apenas pelo lado do dinheiro. “Mas, pela questão sustentável e prática, afinal a minha geração já sente as consequências, o que dirá a geração dos meus filhos!”, ressaltou. “Uma coisa que muita gente não percebe é que economizar luz, no caso do Brasil, que usa a eletricidade para tudo, inclusive para o aquecimento, é, também, economizar água, mesmo que indiretamente”. Por isso, em sua família, Cássia diz que todos se engajam para economizar ambos – a luz e a água. “Aqui em casa, a gente toma um super cuidado e busca aproveitar a água de todas as maneiras possíveis: a da máquina de lavar é reaproveitada, as torneiras são conferidas para que estejam bem fechadas, os banhos não são demorados e, sempre que a gente lava o carro e a calçada, por exemplo, não fazemos com a mangueira aberta todo o tempo, usamos bastante baldes”.

No início desse ano, a presidente da República Dilma Rousseff divulgou a tão esperada queda nas contas de energia elétrica. A partir de então, a conta de luz está 18,49% mais barata. O impacto da economia foi sentido em muitos lares – e bolsos –, como o do casal de comerciários Monique, 27, e Márcio Coimbra, 37. Eles afirmam que perceberam a diferença e acolheram-na como uma ótima notícia. Mas, confessam que, diante da economia, perder mais tempo no banho é uma tentação. “Já que a conta está mais barata, acabo demorando mais mesmo, porque sei que, até chegar ao valor que era antes, vamos precisar gastar muita água”, afirmou Monique. Além disso, o casal mora num condomínio, onde a conta de água é dividida por todos os moradores, independente do quanto gastam em seus lares, por família. “Muitas vezes, isso faz com que a gente pense: ‘Se temos que pagar mesmo sem usar, não há mal nenhum em gastar um pouco mais”. O marido, porém, demonstra entender que o comportamento deve ser mudado. “Está na hora de gastar menos para sobrar mais água para o planeta, porque essa história de escassez pode não ser bobagem”.

Simone, Cássia e Coimbra estão certos. Assim como o banheiro é o lugar onde mais se gasta água numa residência, conforme a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), os chuveiros elétricos são responsáveis por uma porcentagem significativa no consumo geral de energia da casa. No inverno, inclusive, quando o aparelho normalmente é regulado para aquecer mais a água, o consumo chega a aumentar até 30%.

“E eu, com isso?”

Fábio Roberto e Lia Machado (Foto: Divulgação)
Fábio Roberto e Lia Machado (Foto: Arquivo Pessoal)

O técnico em Contabilidade Fábio Roberto, 36, diz acreditar que o assunto é sério: realmente, pode chegar o dia em que a água não será mais tão acessível para a maior parte dos habitantes da Terra. Mesmo assim, para ele, a sociedade continua se comportando de forma despreocupada, porque não crê que as consequências chegarão à geração atual. “Pode acontecer, mas não vai nos atingir, então, não nos preocupamos. A maioria pensa que não estará mais aqui para sofrer com isso”, disse. Sua mulher, Lia Machado, 48, acha que o caso não é tão simples assim. Moradora do bairro Guabiroba, a secretária cita a escassez que ela e os vizinhos enfrentam durante o verão, quando costuma faltar água na localidade, como um sinal do problema. Finkenauer esclareceu que a falta de água a que Lia se refere não tem a ver com o racionamento mundial, já que a água potável é diferente da água total do planeta. Ainda. “Mas, poderá se tornar no futuro”, alertou o ecólogo.

Vilão ou mocinho?
Por que viver de modo sustentável fica ainda mais difícil quando se está debaixo do chuveiro?

Economia no tempo do banho é boa para o bolso e para o planeta (Foto: Daniel Avellar)
Economia no tempo do banho é boa para o bolso e para o planeta (Foto: Daniel Avellar)

Segundo informações do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), um banho de chuveiro elétrico de 15 minutos consome aproximadamente 144 litros. Ao fechar o registro enquanto se ensaboa, o consumidor pode economizar mais de 50 litros de água. O grande “problema”, é que, tomar banho está longe de ser apenas o símbolo da higiene completa do corpo. Uma boa ducha é capaz de aliviar dores e estimular a circulação do sangue. Se está frio, a chuveirada ajuda a aquecer o corpo, e, refresca, quando faz calor. É indicada para despertar, mas, também, ajuda para relaxar, depois de um longo dia de trabalho.

Realmente, está para nascer uma prática que se encaixe tão bem nas diversas necessidades do ser humano como o banho. Todavia, a culpa não é apenas dele, que impulsiona bastante o consumo desenfreado no ambiente doméstico. Como causas da escassez que ameaça o planeta estão o esgotamento das reservas naturais de água, o desmatamento, a poluição e a falta de políticas públicas que estimulem o uso sustentável, a participação da sociedade e a educação ambiental. O desperdício ainda pode ser fomentado pelas perdas decorrentes da deficiência técnica e administrativa dos serviços de abastecimento de água, provocadas, entre outros motivos, por vazamentos e rompimentos de redes. Ainda conforme informativo do Sanep, essas perdas se devem à falta de investimentos em programas de reutilização da água para fins industriais e comerciais, “pois, água tratada, depois de utilizada, é devolvida aos rios sem tratamento, em forma de efluentes, esgotos e, portanto, poluída” e inutilizável.

Taís Brem