Taí uma novidade que, até então, não estava nos gibis: a Turma da Mônica agora é uma turma de “gente grande”. Sim, eles cresceram e serão apresentados ao grande público por meio de uma revista mensal cujo lançamento está previsto para a 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. O evento é ainda em agosto.
“Pai” de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha, Maurício de Sousa disse que a nova cara dos personagens não deve substituir a faceta que os levou à fama. Será apenas um núcleo diferenciado. Agora a protagonista não é mais baixinha e muito menos gorda. A adolescente sensual acompanha a tendência da amiga e ex-gulosa Magali, adepta de um sistema balanceado de alimentação. Cebolinha parou de falar “elado”, graças à ajuda de uma fonoaudióloga. E Cascão já toma banho. Pelo menos, de vez em quando.
“Era uma velha curiosidade minha e dos leitores: Como seriam os personagens depois que crescessem? O que se modificaria? O que se firmaria na personalidade de cada um?”, disse Souza, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Ao abrir uma série de possibilidades para temas que fogem ao tradicional universo infantil abordado até agora nas historinhas, os novos gibis prometem vir carregados de muita aventura, humor e até romance. As ilustrações também são diferentes, uma vez que seguem traços dos quadrinhos japoneses, os mangás. Isso seria uma estratégia marketeira para tentar abocanhar os jovens que curtem o estilo. Ou seja, eles verão seus heróis da infância sob uma perspectiva bem mais atraente. Mas será que esta nova turma seduzirá apenas os mais grandinhos?
Eu, sinceramente, acho que não. E muito disso deve-se à sociedade que faz as crianças acharem que crescer é a melhor coisa do mundo. Não que não seja. Isto não é o foco agora. Falo que os anos estão fazendo com que pular etapas se torne divertido. A classe das guriazinhas e gurizinhos está em extinção. O que temos agora são mini-mulheres e homenzinhos. E todos acham uma gracinha o decotinho, a micro-sainha, o reboladinho, o garanhãozinho e por aí vãozinho. Agora me aparece uma revista, considerada por público e crítica como um material recomendável para as crianças ao longo dos anos, apresentando seus personagens em fase adulta. O que os pequenos vão querer também? Se espelhar neles. Óbvio.
Por que isso me parece trágico? Porque lembra o que aconteceu com a mente da geração de adeptos a Barbies, Malhações, Tchans, Rebeldes e, agora, mais recentemente, Gossip Girls. Este último é o nome de uma série americana cultuada por adolescentes de vários países. No enredo, sexo, consumismo, fantasia, ilusão. Na carona, uma multidão de crianças que, autonomamente, se dão por adultas seguindo valores contrários aos que todo papai e mamãe (normais, é claro) desejariam que seu filho seguisse.
Tudo bem, isso tudo são apenas hipóteses. Vamos esperar para ver. Vá que a Turma da Mônica Jovem apresente referências eticamente corretas para o público infantil. Sendo assim, retiro o que eu disse. Todavia, isso seria algo difícil pacas. Faz muito tempo que o que é certo virou errado e vice-versa. Bancar o bonzinho não dá nem ibope nem dinheiro. É descartável, não serve.