Cansei de ter chefe

Preferência pelo empreendedorismo continua crescendo, mas nem tudo são flores

Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura do próprio negócio (Foto: Divulgação)
Ideal de independência profissional é um dos principais atrativos para a abertura da própria empresa (Foto: Divulgação)

De cada quatro brasileiros, três querem abrir o próprio negócio. É o que mostra uma pesquisa feita pela Endeavor Brasil, com o apoio da Ibope Inteligência, em fevereiro do ano passado. O dado pode ser relativamente antigo, mas continua a expressar a relação da população com o fenômeno do empreendedorismo. Cada vez mais pessoas, qualificadas ou não, desejam se libertar do padrão tradicional de emprego para serem chefes de si mesmas. Na empolgação, tem quem se surpreenda ao perceber que a experiência demanda muito trabalho – não raro, mais do que quando se trabalhava como empregado. E isso torna cada vez mais claro o fato de que ser dono da própria empresa está longe de ser brincadeira.

Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)
Martins fundou a própria empresa em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)

O jornalista Miguel Martins, 39, tinha certa noção disso desde o começo. Mas, depois de trabalhar em diversos setores – de supermercado a imobiliária, passando pela telefonia móvel -, desde os 17 anos, ele se deu conta de que poderia exercer melhor sua atual profissão na condição de empreendedor. “Após me formar em Jornalismo em 2007, observei que eu poderia fazer muito mais pela comunidade local com uma empresa própria do que somente como colaborador”, disse Martins, que é egresso da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

A empresa própria a que ele se refere é a revista Vida Saudável, que objetiva levar aos leitores informações sobre qualidade de vida e bem-estar. A publicação foi lançada em novembro de 2009 e é distribuída gratuitamente em toda a zona Sul do estado. A competitividade local, principalmente no que tange aos patrocínios comerciais, é colocada pelo jornalista como uma das principais dificuldades de levar adiante o negócio. Entretanto, quando questionado se faria tudo de novo, caso pudesse voltar atrás, ele é taxativo: “Sim, com certeza! Mas, teria tentado melhorar ainda mais o início de tudo”.

Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)
Cunha também decidiu trabalhar por conta própria (Foto: Arquivo Pessoal)

Arrependimento também não é o lema do analista de sistemas Guilherme Cunha, 27. De 2006 a 2013, ele passou por duas empresas diferentes e era bem remunerado pelo seu trabalho. “Mas, me sentia preso e nem sempre as minhas opiniões eram aceitas”, afirmou, ao explicar que a busca por liberdade profissional foi o que lhe impulsionou a pedir demissão e tornar-se seu próprio patrão.

O começo como proprietário da Data Extreme Consultoria em TI [Tecnologia da Informação] foi difícil e seu projeto ainda não alcançou os 100% de satisfação. “Há muita dificuldade para conseguir novos clientes, mas, aos poucos, tenho conseguido conquistar a confiança do meu público-alvo”, disse Cunha.

Além dos espinhos
Que seguir carreira como empreendedor é um desafio, isso já deu para entender. Porém, não há só problemas. Para Martins, a melhor coisa em ser chefe de si mesmo é a sensação diferenciada de dever cumprido. “Poder chegar em casa no fim do dia e sentir orgulho de fazer um trabalho que leva qualidade de vida para uma considerável fatia da população e saber que pessoas mudaram seus hábitos, deixando o sedentarismo de lado, após lerem a revista, é o melhor de tudo”. Cunha, por sua vez, destaca a conquista de independência. “Não ter que aturar desaforo e má educação por parte dos chefes é uma das melhores recompensas. Acredito que esse seja o motivo pelo qual tantas pessoas optam por seguir esse caminho, principalmente os jovens”.

Inspiração e transpiração

Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)
Empreendedorismo exige muito trabalho (Foto: Divulgação)

Para ser um empreendedor de sucesso algumas habilidades específicas são indispensáveis, como organização, liderança, flexibilidade e perseverança. De acordo com as dicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além disso, ter senso de planejamento é extremamente necessário para que a empresa não apenas seja criada, mas permaneça no mercado e sobreviva frente à concorrência.

Taís Brem
*Curta o Blog Quemany no Facebook e siga-nos pelo Twitter #NóisGostaDeFeedback 😉

Obrigada, não sou macaca

macaco_quemany

A mania de aproveitar o espaço esportivo para exercitar o preconceito – sobretudo, racial – está em alta. Por isso, dia desses surgiu uma nova vítima, o jogador do Barcelona Daniel Alves, que é negro. Parece que ele estava em campo contra o Villareal e foi atingido por uma banana, lançada por um torcedor numa clara tentativa de chamá-lo de macaco. Eu não sei se Alves, por acaso, já tinha pensado com seus botões que reação teria caso fosse alvo de uma atitude assim. O certo é que ele fez o inusitado: parou a bola, pegou a banana, descascou-a e comeu. Para só depois continuar o jogo. Queria, como declarou depois, “rir dos racistas retardados”.

E foi assim que começou essa enorme campanha com a hashtag #SomosTodosMacacos, que está se espalhando pela Internet e além dela. Os pais da ideia? O também jogador de futebol Neymar e a agência de publicidade Loducca.

Eu não conhecia a história desde o começo. E, sinceramente, quando deparei com ela, pensei que era algo mais profundo – Darwin, evolução, macacos, seres humanos, entende? De qualquer forma, contou com meu repúdio desde o início. Porque acredito no criacionismo. Não me conformaria em ser resumida a uma macaca, mesmo que evoluída.

Contudo, quando soube do que, de fato, se tratava a iniciativa, tentei entender pelo lado positivo. As pessoas que têm aderido à campanha, principalmente as celebridades – de Dilma Rousseff a Michel Teló -, parecem querer apenas mostrar que estão do lado dos negros desprezados, que sofrem preconceito dessa forma tão arcaica e sem criatividade. Mas, esse lema soa aos meus ouvidos como um “tiro no pé”, que estimula a associação entre negros e macacos mascaradamente. Ou seja, dá no mesmo. E nesse circo todo, até os macacos resolveram se defender e dizer que não querem ser comparados aos seres humanos. Certo eles. Cada um na sua.

Como negra, agradeço a solidariedade de todos os que aderiram a essa polêmica campanha em prol do respeito às diferenças raciais. Gosto muito de banana, mas gosto ainda mais de respeito. Muito obrigada, mas eu não sou macaca.

Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.