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Alalaô!

Reclama daqui, reclama de lá e, como em tudo na vida, tem gente que adora e gente que dispensa. Mas, é verão! Fazer o quê?  (Foto: Rede Globo).

Semana passada, a jornalista Maria Júlia Coutinho anunciou no Jornal Nacional que grandes eram as chances de uma enorme chuva atingir municípios do Sul, como Uruguaiana e Pelotas. “Pode chover forte nesses locais, pois há instabilidade e uma frente fria se movimentando”, disse, ao citar, inclusive, a possibilidade de temporal. Ela acertou a previsão quando mencionou a chuva, mas a quantidade não foi exatamente o que os que aguardam ansiosamente pelo outono gostariam. Ao menos, nos primeiros dias. Na gíria da própria Maju, o que caiu estava mais para “chuvica” que para “chuvona”. Daquelas que dá uma animadinha, de leve, mas, no fim, em vez de refrescar, até abafa mais.

A professora de Design de Moda, Ana Luiza Soares, 33, até se disse esperançada ao contemplar os primeiros sinais de que o tempo estava querendo virar. “Tá [sic] nublando, gente! Que emoção!”, postou Ana, nas redes sociais. Falta exatos 12 dias, entretanto, para “as águas de março fecharem o verão”, como diz a célebre canção composta por Tom Jobim em 1972 e regravada com louvor, em parceria com Elis Regina, dois anos mais tarde.

Estação alegre
Se para uns, o fim dos dias quentes traz “promessa de vida aos corações”, para outros, o verão é majestade eterna quando se fala de período mais feliz do ano. “Verão, pra mim, é mais alegre. Tem [como curtir] praia, sol, festas e, claro, as férias”, opinou o estudante Bruno Odekayode, 17. Mesmo nascido em Porto Alegre, onde as temperaturas mais baixas predominam em boa parte dos meses, ele disse ainda não ter se acostumado. “No frio é tudo muito preso, muitas roupas, chuva… Dá uma agonia não poder aproveitar por causa do clima!”.

Ana joga no time contrário ao de Odekayode e já começou sua campanha para tentar mudar as regras nas próximas vezes. “Quando eu for Deusa, a temperatura nunca vai passar dos 29 graus. Votem em mim para o Novíssimo Testamento”, proclamou, bem-humorada.

A tal da murmuração
Ana Luiza tenta arrumar alternativas para alterar o inalterável, nem que seja só para se divertir. Bruno, quando pode, dá uma escapadinha para o Rio de Janeiro onde alivia sua sede pelo calor. Mas, e quando – faça chuva ou faça sol – a moral do indivíduo é somente reclamar do tempo? “Acho engraçado… No verão, todo mundo reclama e clama pelo inverno. Aí, chega o inverno e querem o verão!”, observou a nutricionista Rochele dos Santos, 34. “Ah, por favor, né? Tá [sic] com calor? Toma um banho, coloca uma roupa fresquinha, bebe bastante água! Está com frio? Coloca mais roupa, toma um chá ou café quentinho, fica no sol, quando tem! Acho que o que as pessoas realmente gostam é de reclamar…”.

Indo embora
Amado ou odiado, não tem jeito: o verão está de malas prontas para partir exatamente no dia 20 de março de 2017, bem cedinho, às 7h29min, dando lugar ao outono. Ele, que junto com a primavera, é apelidado de “meia-estação”, justamente por não ser tão frio nem tão quente, traz consigo expectativas de dias mais brandos.

Maju e a galera da Meteorologia podem até dar um pitaco e outro e, não raro, acertarem na previsão. O folclore – provavelmente baseado na passagem bíblica em que Jesus dá a Pedro as chaves dos céus (Mateus-16:19) -, ainda credita ao apóstolo o domínio sobre o controle do ar-condicionado lá de cima, na esperança de que ele possa regular alguma temperatura que enfim, agrade a todos. Mas, enquanto Ana Luiza não é eleita, quem decide mesmo esses detalhes é o Todo-Poderoso.

Taís Brem

Um lugarzinho no céu

É certeiro: morre uma celebridade e, no dia seguinte, lá está, no miolo de grande parte dos jornais, uma charge com a personalidade sendo recebida por uma multidão de anjos, por São Pedro e pelo próprio Deus. No céu, é claro. O cenário é sempre o mesmo. O que variam são as apresentações. Hebe Camargo, morta em setembro, por conta de complicações do câncer de peritônio contra o qual lutava desde 2010, foi homenageada inúmeras vezes dessa forma pelas publicações brasileiras.

Houve cartunista que deu ênfase ao seu principal bordão – “Gracinha!” – ao desenhar a apresentadora cumprimentando seus mais novos anfitriões. Houve quem focasse noutra de suas marcas registradas, o famoso selinho. Em algumas ilustrações, Hebe apareceu tascando um beijo no Criador. Noutras, mais comportadas, Ele conseguia fugir dela. Em síntese, nada que desse muitas asas angelicais à criatividade.

O desenhista Maurício de Sousa omitiu as nuvens do desenho feito para homenagear a dama da TV, mas, no comentário postado em sua conta do Twitter, registrou sua convicção de que a loira estaria brindada com um espaço na parte boa da eternidade: “Hebe passou gloriosamente pelos portões do céu. Documentação de toda uma vida em ordem para continuar a distribuir graça e alegria por lá”. Sousa fez coro com as dezenas de outras personalidades que também proferiram palavras do tipo. E assim o é, cada vez que o planeta Terra perde um habitante famoso.

Obviamente, não cabe a nós, reles mortais, discutir se Hebe Camargo foi ou não para o céu. Até porque, alguns de nós nem mesmo acreditam na existência dele. Mas é interessante observar como os chargistas reagem frente a ocorrências como a morte de pessoas que fazem história popularmente. Talvez seja mais fácil – e menos polêmico – sempre cair na mesmice de garantir um lugarzinho no céu para as celebridades falecidas que arriscar, como fazia Miguel Falabella quando apresentador do Vídeo Show, que alguma delas foi para o “andar de baixo”. Se bem que Falabella restringia esse destino apenas para políticos de muito má índole, estilo Hitler, ou para pop stars que tinham, assumidamente, uma certa simpatia pelo Cão. Pensando bem, não fora nada muito surpreendente.


Taís Brem