A própria cegueira

 

saramago

 

Ele é aclamado no mundo inteiro por conta de seus livros, considerados verdadeiras obras-primas. Mas, quando se trata de espiritualidade, José Saramago, autor de “Ensaio sobre a Cegueira”, é o próprio cego. Foi o que deu pra notar dando uma olhada num vídeo de uma entrevista com ele que circula pela internet.

 

Confesso que sei muito pouco sobre a figura. É português. Ganhou o prêmio Nobel de Literatura. E escreveu este tal romance que virou filme e tem emocionado muita gente. Cristãos, inclusive. Enfim, deve ter seu mérito. Entretanto, qualquer pontinha de pré-admiração que eu pudesse ter por ele a ponto de me levar a pesquisar mais sobre sua vida e obra caiu por terra ontem, quando vi este vídeo. Trata-se de uma sabatina feita por alguns jornalistas da Folha. Nela, o cara fala, entre outras coisas, do que pensa sobre Deus e de como visualiza a Bíblia e coisas que, na sua opinião, a Igreja teria inventado, como o pecado e o inferno.

 

Parece que não é a primeira vez que ele dá suas alfinetadas no cristianismo e faz questão de dizer que é ateu. Não deveria. Entretanto, se fosse apenas uma opinião isolada que não fizesse diferença alguma para o resto do mundo, paciência. Não fomos criados como robôs e ninguém tem a obrigação de pensar de uma única forma. As religiões e seitas existem aos montes por aí – inclua-se nisso o ateísmo.  Cabe a cada um definir o que é melhor para sua vida. O problema é que, por ser alguém de muita influência, considerado extremamente sábio por público e crítica em todo o planeta, Saramago chega a envenenar com suas declarações pagãs. Basta observar os risinhos de aprovação e os aplausos da platéia para comprovar o efeito que sua postura causa.

 

Um dos repórteres perguntou se, após a cura da doença respiratória que quase lhe custou a vida, sua percepção sobre Deus havia mudado. E ele, sarcasticamente, responde: “Por que mudaria? Quem me curou foi meu médico e aquela senhora que está sentada ali”, disse, fazendo referência à esposa, Pilar. Logo depois, emendou: “Não quero ofender ninguém, mas, para mim, Deus não existe. Não brinquemos com estas coisas”.

 

Na seqüência, o autor, atualmente com 86 anos, diz acreditar que Deus é apenas uma invenção dos homens. Coisa de alguém que teve medo da morte e pensou que era melhor se agarrar à possibilidade de existência de um ser superior. Daí, segundo ele, é que a Igreja Católica teria aproveitado também para criar o inferno e o purgatório. O pecado, outra invenção, seria um “instrumento da igreja para controlar os corpos”.

 

Para arrematar os comentários de fundo (anti) religioso, Saramago fala que a Bíblia é um verdadeiro desastre. Foi escrita por homens e, por isso, não merece crédito. Além do mais está cheia de exemplos de incestos e assassinatos. “Não é um livro que possa ser deixado na mão de um inocente”, completou. Aham. Quem sabe a sua coleção aclamada mundo afora possa. Coleção esta que inclui o livro que lhe garantiu o Nobel de literatura, há dez anos, chamado “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Trata-se de um relato que, conforme a jornalista Maria das Graças Targino, mostra um “Deus vingativo”, um “diabo simpático” e um “Jesus maravilhosamente imperfeito”. “Uma obra-prima recheada de passagens literalmente incríveis”, comenta a moça, encantada.

 

Tá vendo como estas baboseiras perturbam a cabeça das pessoas? Mas, como ele é um intelectual inteligentíssimo, o cara, um grande sábio, tá valendo. Louco e ignorante é quem ousa discordar.

 

Taís Brem