Sede abençoada

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Esta é velha, mas eu ainda não sabia. Ouvi falar que no Maranhão existe um tal guaraná chamado Jesus que vende mais que Coca-Cola. Mais curioso que isso só a matéria do site midiaindependente.org, com o título “Coca-Cola quer ser dona de Jesus”, escrita em 2001. Pode? Hilário! E tem mais: lendo a tal reportagem, descobri que o refri não foi batizado deste jeito por ser de um cristão. Muito pelo contrário. Era o inventor da coisa que se chamava Jesus. E ele era ateu…

Leia abaixo alguns trechos da matéria. É meio grandinha, mas vale a pena.

 

 

“Me vê um Jesus, aí!”

 

É desse jeito que o maranhense pede o seu refrigerante preferido. Tão típico quanto a cultura do bumba-meu-boi no Estado, o emblemático guaraná Jesus tem coloração cor-de-rosa, gosto de canela e cravo e é muito, muito doce.

 

Fenômeno de vendas sem ter praticamente nenhuma verba publicitária (a bebida só é distribuída no Maranhão), desafia os conceitos de marketing e, agora, está fazendo até a toda-poderosa Coca-Cola, que negocia a compra do produto, se render aos seus encantos. O refrigerante tem um slogan que a acompanha há décadas e que até hoje é estampado nos rótulos: “Guaraná Jesus, o sonho cor-de-rosa”.

 

“As discussões estão avançadas, é questão de algumas semanas”, afirma Hector Nuñes, diretor-geral da Companhia Maranhense de Refrigerantes, da Família Lago, que comprou a marca Jesus em 1980 e também detém a licença para produzir e distribuir Coca-Cola no Maranhão. Está em discussão desde uma licença para fabricação e distribuição do produto em outros Estados até a aquisição dos direitos da marca.

 

Mas que refrigerante é esse, que chega a ser motivo de orgulho para os maranhenses e todo visitante é sempre convidado a provar? Para quem não é do Maranhão, o que mais chama a atenção é a cor. Se não estivesse em uma garrafa de refrigerante, poucos diriam que se trata de uma bebida. O nome também pode soar inconveniente. Mas, no Maranhão, quem gosta de refrigerante não troca um copo de guaraná Jesus nem por dois litros de Coca-Cola bem gelada.

 

“O produto é bom, saudável, natural e extremamente saboroso”, afirma Nuñes. “Não é algo que bebo todo dia, mas é um produto diferente, que não tem similares no mercado e com padrão de qualidade internacional.”

 

Mesma fórmula há 80 anos e 17 ingredientes

 

A fórmula do refrigerante, com sua coloração rosa e garrafa retrô, é a mesma criada em 1920 num laboratório de fundo de quintal em São Luís, pelo farmacêutico Norberto Gomes, que acabara de importar uma máquina de gazeificação.

 

Inicialmente, o objetivo era produzir uma espécie de magnésia fluída, um remédio que estava na moda, mas o negócio não deu certo e ele resolveu fazer uma bebida para os netos, a partir de 17 ingredientes básicos, entre eles ervas e produtos que descobria em suas viagens pela Amazônia. O gostinho de canela adocicada e a cor diferente agradaram a criançada de toda a vizinhança e, com o tempo, Jesus (o guaraná) foi caindo no gosto popular.

 

“O pessoal do Maranhão é louco por Jesus. Não é exagero dizer que aqui quando se fala em Jesus se pensa primeiro no guaraná do que no Cristo”, afirma o publicitário Fábio Gomes, de 45 anos, autor do novo design do rótulo, da primeira campanha publicitária do produto e neto do criador do Jesus, o farmacêutico Jesus Norberto Gomes.

 

A família Jesus manteve fábrica própria até o início de 1960. Vinte anos depois foi vendido para a Companhia Maranhense de Refrigerantes, que já tinha licença para fabricar e distribuir a Coca-Cola no Estado. Os dois refrigerantes, portanto, são engarrafados no mesmo local e saem juntinhos para os supermercados. Outro detalhe: é vendido em mercearias, supermercados ou em qualquer outro estabelecimento pelo mesmo preço da Coca-Cola.

 

Jesus na mamadeira

 

Gomes conta que seu pai, que chegou a administrar a fábrica de refrigerantes, levava o xarope puro sem gás de Jesus e dava para o filho tomar na mamadeira. “Eu não tinha nem quatro meses, não estava desmamado e já tomava Jesus”, diz. “O mais surpreendente é que descobri que aquilo que meu pai fazia, as mães de hoje ainda fazem. Elas batem o Jesus no liquidificador para sair o gás e depois colocam na geladeira.”

 

O publicitário acredita que a tradição está ligada à idéia de produto natural. “Quando as crianças passam a tomar Coca-Cola já estão viciadas em Jesus. Não é um processo racional. A criança pede Coca-Cola e a mãe diz: toma Jesus, meu filho!”.

 

Segundo a família Jesus, a cor do guaraná foi um dos fatores que levaram também a apresentadora Xuxa, por intermédio de sua então produtora Marlene Matos (que por sinal é maranhense), a tentar adquirir os direitos do refrigerante. Não vingou.

 

Jesus era ateu

 

O criador do Jesus (quem diria?) era ateu e foi excomungado pela Igreja Católica. Jesus Norberto Gomes nasceu no interior do Maranhão e chegou a São Luís com 19 anos. Analfabeto, começou a trabalhar em uma farmácia. Foi praticamente adotado pelo casal proprietário do negócio que não tinha filhos e aprendeu a ler e escrever. Aos 40 anos, transformou-se efetivamente em um farmacêutico e criou o refrigerante que herdou o seu nome.

 

“Meu pai era uma genialidade, mas era uma personalidade muito controversa. Ateu e tido como comunista, ele foi esconjurado pelo Papa depois que deu uma surra no padre, e alimentava uma lenda que tinha feito pacto com o diabo”, afirma o neto Gomes, filho de Jesus Norberto Gomes Filho, um dos sete filhos do farmacêutico.

 

Depois de ser exorcizado, Jesus mandou trazer da Alemanha uma série de caras de Fausto (personagem de Goethe que vende a alma ao demônio) e as colocou nas entradas da farmácia, somente para alimentar a lenda.

 

“Ele era uma pessoa meio neurótica para desespero da minha avó, que era muito carola e passou a vida determinada em salvar a alma do marido.” Jesus morreu em 1963, sem retornar à Igreja.

 

Enquanto a distribuição de Jesus continua restrita aos limites maranhenses, pelo menos os paulistanos podem matar a curiosidade experimentando o produto num restaurante chamado Raízes do Maranhão. Na Terra da Garoa, a lata de Jesus é vendida a R$ 2.

 

Taís Brem

 

 

 

 

Bueno!

 

“Os jogos de poder e as intrigas amorosas comuns à nossa natureza estão nessas obras. A Bíblia é um verdadeiro catálogo das paixões humanas”.

Moacyr Scliar, escritor, sobre o livro “Manual da Paixão Solitária”, que escreveu com base em Gênesis-38. A passagem bíblica narra a definição da linhagem de Judá a partir do incesto provocado por sua nora, Tamar.

 

“O que a minha família me passou foi esse conceito muito claro de liberdade: ‘Não tem que casar, não tem que ter filho. Você tem é que lutar para ser livre’”.

Glória Maria, jornalista.

 

“Associar o Saci à imagem de demônio não é válido. Pela lenda, ele é um menino sapeca que preferiu ser livre em vez de viver na senzala nos tempos de colonização do Brasil. Cada um cria sua imagem do Saci”.

Mário Candido da Silva Filho, presidente da Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci), defendendo o personagem. 

 

“Não gosto daquela felicidade plena que o Dalai Lama prega. Você não vai ter um estágio idiota de alegria. Isso é o dia-a-dia, isso é a realidade’”.

Evandro dos Santos, humorista e intérprete do personagem Christian Pior, do Pânico.

 

“Eu apresentei a ela heroína, cocaína e a autodestruição. Me sinto mais do que culpado”.

Blake Fielder-Civil, (quase-ex) marido da cantora Amy Winehouse, assumindo a culpa pelo estado extremo de dependência química a que a garota chegou.

 

“Recebi um telefonema de alguém que achava que o Garfield deveria fazer um vídeo de exercícios para compensar os maus hábitos. Garfield e exercícios, é forçar a barra”.

Jim Davis, criador de Garfield, ironizando a opinião de quem acha o personagem sedentário um mau exemplo por aparecer apenas comendo e dormindo nas tirinhas.

 

“Precisamos de Deus para quê? Nunca o vimos. Tudo aquilo que se diz sobre Deus foi escrito por pessoas”.

José Saramago, prêmio nobel de Literatura, criticando a crença na existência de Deus. Durante sabatina da Folha de S. Paulo, o escritor português ainda taxou a Bíblia de “desastre” que, por ser “cheia de maus conselhos”, não deve ser “deixada na mãos de inocentes”.