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Cala-te, boca!

Evoluindo de xingamento a elogio, palavrões estão na boca do povo, mas ainda são mal vistos

Foto: Divulgação
Popularidade não aliviou má fama dos “nomes feios” (Foto: Divulgação)

Se antes era senha para um bom tapa na boca, hoje já não é tão feio assim. Falar palavrão está na moda. E nessa moda, nomes que acumularam má fama ao longo da história já não são utilizados apenas para descarregar a língua em xingamentos. Eles viraram sinônimo de adjetivos comuns, usados no dia a dia. E estão mais populares do que a gente costuma perceber.

Exemplos? Dizer que você foi a uma p*t* festa, significa que sua saída do fim de semana foi, a nada menos, que a um baita evento. Falar que aquele autor que você adora escreve bem pra c*r*lho, é elogiá-lo por sua capacidade ímpar de colocar as palavras no papel. E o tal do “ligue o f*d*-se” não passa de um conselho para levar a vida de forma mais light e desencanada. A maior prova de que isso não é balela, é que grandes são as chances de você ter lido essas expressões em seu sentido completo, como se os asteriscos não existissem.

Mãe de dois filhos – um de 17 e um de 20 –, a funcionária pública Mariza Cruz, 35, diz acreditar que esse “vocabulário pop” tem a ver com a inversão de valores da sociedade moderna. “Tudo o que circula na mídia, se torna ‘moda’”, disse. “As músicas, entre outros meios, estimulam o uso desse tipo de palavras, assim como o uso de drogas e outras coisas mais graves. Espero que meus filhos não se contaminem, mas não é fácil. Às vezes, ouço conversas dos meus primos, por exemplo, que têm entre 14 e 18 anos, e é assustador”.

Bruna Soares (Foto: Arquivo Pessoal)
Bruna costuma policiar o hábito (Foto: Arquivo Pessoal)

Pelo discurso, é possível que Mariza também ficasse incomodada se ouvisse uma conversa da vestibulanda Bruna Soares, 19, com sua turma. Bruna diz achar normal falar palavrão. “Mas, depende com quem, porque tem uns que eu acho meio pesados para se falar e, de vez em quando, dependendo do ambiente ou das pessoas que estão comigo, eu cuido pra não falar”, ponderou. Os pais de Bruna – o publicitário Paulo e a bancária Marta – estão entre as pessoas que ela considera inadequadas para ouvirem seu palavreado liberal, embora não lembre de ter recebido nenhuma correção deles nesse sentido. “Não lembro de me corrigirem, mas, também, não fico me cuidando. É normal não falar para eles”.

O analista e desenvolvedor de sistemas Robson Hellebrandt, 24, assume, numa boa, que fala palavrão em seu dia a dia, entretanto, como Bruna, ele também estipula restrições. “Não uso para ofender ninguém. Geralmente, é para intensificar alguma novidade, um fato que me emociona ou conquista. Muitas vezes, nos meus encontros com amigos, usamos bastante essa linguagem, mas sempre no intuito de intensificar a emoção do momento. Faz parte, infelizmente”, disse. Ao ser questionado sobre o porquê da palavra “infelizmente” para justificar seu hábito, Hellebrandt explicou: “Acho que posso parecer pouco confiável por, às vezes, me valer de palavrões para expressar algo. Considero que seja uma forma um pouco ‘suja’ de se expressar, que não passa credibilidade”.

"O que é ofensa para uns, não é para outros", disse Daniela (Foto: Taís Brem)
“O que é ofensa para uns, não é para outros”, disse Daniela (Foto: Taís Brem)

Embora tenham adquirido uma aparência mais natural ao longo dos anos, os chamados “nomes feios” não conseguiram, ainda, se desfazer completamente de seu lado negativo. Porém, é provável que esse quadro esteja mudando. “O que é uma ofensa para alguns, em certo contexto, para outros, em outro contexto, é algo natural. Isso acontece, porque a palavra não possui um significado fixo; ela toma diferentes significados, por meio do uso que os falantes fazem dela”, explicou a jornalista e mestra em Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (PPGL/UCPel), Daniela Agendes, 25. “É uma questão sócio-cultural. Talvez, seja uma forma de os falantes se integrarem e se identificarem a um determinado grupo, através do uso que fazem da língua, como se o uso do palavrão de forma diferenciada fosse um requisito para fazer parte daquele grupo”.

Punição a R$ 1
Quem não admite essa mudança sócio-cultural e não quer entrar na onda, deve se policiar. E policiar, também, aos seus. Na casa do fotógrafo Nauro Júnior e da jornalista Gabriela Mazza, esse policiamento teve de partir para o lado punitivo. E pasmem: quem controla a punição, não é o pai, mas a filha do casal, a pequena Sofia, de oito anos. “A coisa surgiu meio que naturalmente. Eu sempre falei muito palavrão, faz parte de meu vocabulário. Meus pais já me cobravam muito em casa e, quando a Sofia, nasceu a Gabi pediu para eu dar uma maneirada. Quando ela começou a falar, lá pelos dois anos, notamos que, às vezes, ela repetia alguns palavrões”, contou Nauro. A tática de dizer a Sofia que “falar palavrão é feio”, por si só, não funcionou. Afinal, ela argumentava que “se o papai podia falar, ela também podia”. “Foi quando a Gabi disse que, a cada palavrão que o papai falasse, teria que pagar um real pra ela. Ela adorou e, além de não dizer palavrão, fica me controlando o tempo todo. Até nas minhas palestras, quando ela vai junto, fica anotando quantos palavrões eu falo e depois me cobra. Se eu estiver conversando com alguém, não interessa quem for, e falar algum palavrão, ela começa a anotar pra me cobrar. Aí, eu tenho que explicar para a pessoa sobre a brincadeira, então prefiro me cuidar e falar menos”, afirmou o fotógrafo.

Se o objetivo era mesmo melhorar a qualidade do vocabulário na família, pelo jeito, está funcionando. “Além de ser cobrado o tempo todo em público, ainda tenho prejuízos. Geralmente, tenho que negociar com ela, porque falo muito mais palavrões do que posso pagar. Ela tem três cofrinhos cheios e, agora, fomos para a Bahia e ela conseguiu até comprar lembrancinhas com o meu dinheiro”. Na verdade, dinheiro dela, honestamente adquirido com seu dedicado trabalho de fiscalização.


Taís Brem

De volta

 

 

“Grandes decisões são tomadas durante conversas na cama, então, estamos pedindo a essas duas senhoras que neste momento de intimidade peçam aos maridos: ‘Querido, você pode fazer alguma coisa pelo Quênia?’”.
Patricia Nyaundi, diretora-executiva da Federação de Advogadas Mulheres (Fida), do Quênia, defendendo a campanha que um grupo de ativistas do país está fazendo em protesto contra as disputas dentro do governo de coalizão. O tema? Greve de sexo… Até as prostitutas de lá serão pagas para entrar na greve e a proposta é convencer também as esposas do presidente Mwai Kibaki e do primeiro-ministro Raila Odinga, protagonistas da crise, a participar.

 

“Estou com medo. Com crise econômica, essa doença e agora isso [o tremor], parece o apocalipse”.

Sarai Luna, cidadã mexicana, comentando seu pavor e o de toda população de seu país em relação à gripe suína e ao tremor de 5,6 graus na escala Richter que ocorreu na Cidade do México.

 

“Não me arrependo de nada, porque adoro minha vida. Adoro até as babaquices que fiz, os sofrimentos que passei. Porque tudo me fez ser o que sou hoje”.

Vera Fischer, atriz

 

“O Ibope não mente. Não teria como me manter num programa ao vivo, no horário nobre, se não fosse por mérito”.

Luciana Gimenez, apresentadora do Super Pop, da Rede TV!, defendendo o programa que é citado como uma das programações onde há mais baixaria na televisão brasileira. E rebate, em tom de sarcasmo: “Não é baixaria, é conflito social”.

 

“Seria bom é que os nomes considerados palavrões se tornassem comuns, sem a carga que têm hoje. Por exemplo: p… é um nome forte, sonoro. Gosto de ser chamada de p…, prostituta. Meretriz, então, acho lindo”.

Gabriela Leite, prostituta aposentada e criadora da grife Daspu.

 

“Eu interpreto um marinheiro e, marinheiro rastafári, não existe, né?”.

Seu Jorge, cantor, explicando que teve de cortar os cabelos para participar das gravações de “Reis e Ratos”, o novo filme de Mauro Lima.

 

“O infeliz Muro de Berlim, na Alemanha, impedia a passagem das pessoas do leste para o oeste. No Rio, não. O morador vai continuar subindo e descendo o morro quando quiser”.

Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, sobre seu novo projeto de construir muros em volta de algumas favelas cariocas.

 

“Quando uma pessoa se projeta numa arte qualquer, essa coisa da cor da pele já não pesa. O que mais pesa hoje no problema racial, nos preconceitos, é no social de uma maneira geral. Só”.

Martinho da Vila, cantor, numa análise totalmente zen acerca da problemática do racismo.

Entre cuspes e beijos

 

Pois é: pelo menos na cidade mexicana de Guanajuato, um beijo em público ou um cuspe na rua têm o mesmo valor, ou seja, podem causar um belo período de até 36 horas na prisão. Ou uma boa multa de uns R$80 mil. Vai ser assim também para quem decidir pedir esmolas ou falar palavrão em via pública. De acordo com o prefeito Eduardo Hicks, a principal finalidade destas medidas previstas em lei é inculcar valores morais e civilizar a população.

 

Vendo pelo lado educativo da coisa, a atitude parece válida. Tem quem diga, inclusive, que proibir beijo em público ajudará a evitar gravidez precoce nas adolescentes, por exemplo. Mas, como em qualquer ação polêmica, sempre tem quem fique contra. É o caso de alguns vereadores de Guanajuato que acusam o projeto de “moralista”.

 

Nesta mesma linha, em setembro passado, o ministro ugandense de Ética e Integridade, Nsaba Buturo, propôs a criação de uma lei que banisse o uso de minissaias no país, já que, em sua opinião, estar com a peça é como andar nu. “Hoje em dia é difícil distinguir a mãe da filha, elas estão todas peladas”, afirmou Buturo.

 

 

 

Taís Brem