A placa em frente ao açougue era simples, daquelas escritas com giz branco. E anunciava, entre outras coisas, que ali tinha “figuinho” pra vender. Alguém já disse que o importante para que uma comunicação seja estabelecida é que haja entendimento entre as partes. E parece que, neste ponto, estava tudo certo. Quem passava por ali e lia a placa, entendia a que produto ela se referia: fígado de galinha, o popular “figuinho”, ora bolas!
É claro que se levarmos para o lado linguístico da coisa, sabe-se que “figuinho” deveria ser o diminutivo de “figo”, não de fígado. Mas, como ninguém fala “figadozinho”, a adaptação acaba valendo. Senão nas provas de português, pelo menos no linguajar das ruas. Como na frente daquela casa, onde o pedreiro colocou um cartaz anunciando que faz de tudo: do “alicersso” ao telhado…
É aquele tipo de palavra que todo mundo – ou a maioria, pelo menos – sabe que não é assim que se pronuncia. Mas, pelo costume, acaba ficando tudo desse jeito, incorreto.
Não é difícil encontrar, por exemplo, quem tenha percorrido um trajeto caminhando e diga que veio “de a pé”, em vez de “a pé”, simplesmente. Ou quem tenha feito algo recentemente e explique que “arrecém” realizou tal ação. O correto é “recém”. Porém, mesmo sabendo qual é o certo, quantas pessoas você conhece que falam assim?
Dia desses, descobri que a palavra “subsídio” não se fala com som de “z”, mas com som de “c”. O correto seria “subcídio”, portanto. Compartilhando a informação com uma amiga, ela disparou: “Mentira que esse é o certo? Acho mais bonito continuar falando errado!”. E, de fato, muitas palavras que são adaptadas no nosso dia a dia, devem ter encontrado sua versão popular nessa mesma justificativa: o correto é correto, mas não cai tão bem aos ouvidos. Então, bem-vindos ao mundo incorreto dos “guspes”, “cônjugues”, “sombrancelhas”, “mendingos”, “rúbricas” e companhia limitada. Quem nunca foi adepto delas, que atire a primeira borracha.
Taís Brem
*Texto publicado originalmente no Clicsul.net.
Gostei!
E os regionalismos neh?
Tem coisa que soh cada estado da federação entende mesmo…
Ou ateh num mesmo estado em regiões diferentes tem disso…
Aqui temos gnt que fala agasalho enqnto no oeste é abrigo!
Beijoss
http://vestidasdeluz.com.br
Que bom que gostou, Samanta! Falando em regionalismos, escrevi há um certo tempo um texto que fala sobre as expressões bem características da minha cidade natal, Pelotas/RS. Acho que vais gostar 🙂 https://quemany.wordpress.com/2013/07/25/pelotismos-e-pelotices/ Seja sempre bem-vinda! Abraços! Taís Brem