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Sua majestade, o bolo

Guloseima mais esperada das festas, os bolos podem ter candidatos a substitutos, mas nunca saem de moda

Bolo foi produzido por Iris Martini (Foto Edson Beline).
Bolo foi produzido por Iris Martini (Foto Edson Beline).

“Onde já se viu casamento sem bolo?”. O questionamento indignado veio dos lábios da advogada Elaine Bierhals, 60, ao saber que a filha e o genro estavam pensando na possibilidade de economizar um pouco trocando o tradicional prato por docinhos mais modestos na festa de casamento. Isto não quer dizer, exatamente, que não haveria bolo. O planejamento até que incluía um artificial, para figurar nas fotos. Mas, com o puxão de orelhas, a jornalista Raquel Bierhals, 31, e o futuro engenheiro elétrico Alexandre Weymar, 27, refletiram e resolveram acatar o palpite de Elaine.

“Pensamos melhor e achamos que seria interessante ter o bolo, sim”, disse Raquel. “Não considero que esteja fora de moda, acho que é um simbolismo interessante. Outras coisas podem ser adaptadas, dependendo do estilo do casal, mas, em termos de casamento, há coisas que devem ser mantidas. E, afinal, consideramos que ter bolo combinaria conosco”.

É bem provável que os convidados do casamento de Raquel e Alexandre, que ocorre no início de novembro, fiquem felizes ao saber da decisão. Pelo menos, a maioria deles. A designer Elisa Cavalheiro, 30, prestigiará a cerimônia, mas não é daquelas que fazem questão de não dar adeus a uma festa antes do partir do prato principal. “Adoro chocolate, mas bolos não amo tanto assim. Prefiro um docinho, tipo brigadeiro, bem-casado, camafeu…”.

Estilos variados
Assim como Elisa (acredite!), tem quem não seja apaixonado por bolos e apele para variações, muitas vezes, até curiosas. Para além dos docinhos, como os clássicos quindins e bombons de morango, por exemplo, e os mais recentes cupcakes, há outras opções para quem investe em inovar, trazendo para o centro da mesa tendências tão curiosas, como o bolo de hambúrgueres que foi servido num casamento de americanos, há um tempo. Dizem que muita gente já copiou a ideia por aí. “Isto é porque eles ainda não provaram o bolo da dona Iris”, comentou, via Facebook, o administrador Marco Antônio Soares, 42, ao tomar conhecimento da bizarra notícia.

Iris trabalha com confeitaria há mais de 20 anos (Foto: Arquivo Pessoal).
Iris trabalha com confeitaria há mais de 20 anos (Foto: Arquivo Pessoal).

A senhora a que ele se refere é ninguém menos que dona Iris Schafer Martini, 68, uma verdadeira autoridade na arte de confeitar. Não é exagero comparar os bolos produzidos por ela a obras de arte. As doçuras que dona Iris faz não apenas servem, mas enfeitam comemorações de todos os tipos – de aniversários infantis a bodas de ouro, de chás de panela a festas de formatura. O resultado são anfitriões e convidados mais que satisfeitos. “A maioria dos meus fregueses volta sempre”, disse.

Adriano e Veridiana Bica (Foto: Arquivo Pessoal).
Adriano e Veridiana Bica (Foto: Arquivo Pessoal).

A também administradora Veridiana Bica, 39, é um exemplo disto. Ela já havia tido um bolo feito pelas mãos de dona Iris na comemoração de sua formatura, em julho de 2009. Seu então noivo, o empresário Adriano Bica, provou o doce e foi paixão à primeira mordida. Logo, quando combinaram a data do casamento, concretizado em novembro de 2011, não tiveram dúvidas. “Como fizemos uma cerimônia em casa, queríamos um bolo bem bonito. Valeu pelo carinho e pela dedicação dela”, relatou a administradora. “Ela é muito profissional, humilde e atenciosa. Seus bolos têm detalhes caprichados e sabores marcantes”.

Ele – o bolo do casamento de Adriano e Veridiana – fez uma viagem considerável: saiu de Videira, no oeste de Santa Catarina, onde reside dona Iris, em direção a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, de ônibus. Depois, partiu pelos ares para a capital do Rio de Janeiro, local de residência do casal e de realização da cerimônia. E chegou inteiro. O trajeto foi longo. Entretanto, Veridiana e o marido sabiam que valia a pena passar certo transtorno e topar o desafio em vez de fazer a encomenda num lugar mais perto de casa.

Confeiteira-padrão
Dona Iris trabalha confeccionando bolos há mais de 25 anos. Embora esta não tenha sido sua única profissão – antes de casar, no ano de 1972, já havia trabalhado como costureira –, ela garante que não se enxerga atuando noutra área. “Adoro o que faço e gosto de todas as minhas receitas e bolos”, afirmou, orgulhosa do que ela chama de suas “obras-primas”.

Na definição de dona Iris, o segredo está na paciência e na dedicação com que executa suas receitas. Segundo ela, seu ingresso no segmento começou, praticamente, sem que ela percebesse. “Comecei fazendo bolos e cucas para uma amiga e outra e, depois, fui me dedicando, aos poucos”. Ao ser questionada sobre o que mais lhe cativa em sua rotina, ela não consegue apontar somente um fator. “Gosto de tudo, não tem o que escolher. Como trabalho sozinha, preciso fazer desde as compras, até lavar a louça e confeccionar os bolos. Sou responsável por tudo”, disse.

Clara e dona Iris (Foto: Fabiana Soares).
Clara e dona Iris (Foto: Fabiana Soares).

Mãe de duas moças e um rapaz, dona Iris, naturalmente, passou um pouco de sua experiência para os filhos. Mas, nenhum deles optou por seguir o mesmo caminho profissional. A neta Clara, de dois anos, todavia, já demonstra certo interesse em ajudar a avó. “Ela gosta de recortar e fazer florzinhas para enfeitar os bolos e admira os trabalhos, falando: ‘Que liiiiindo, vovó!’”, comentou.

O talento de dona Iris é inegável, mas ela, humildemente, garante que todos os bolos que faz não têm somente o toque de sua habilidade, são sugestões dos próprios clientes. Atualmente, o Naked Cake (bolo que dispensa cobertura), Marta Rocha e Floresta Negra são os mais aclamados. Mas, é imprescindível alertar que o leitor não se empolgue. Seria, no mínimo, frustrante a qualquer reles mortal pegar as mesmas receitas que ela utiliza, aguardando obter o mesmo resultado.

Donas Iris, ao lado de um bolo feito para Bodas de Ouro (Foto: Arquivo Pessoal).
Dona Iris, ao lado de um bolo feito para Bodas de Ouro (Foto: Arquivo Pessoal).

Para que todo o trabalho de dona Iris, além de bom e bonito, seja organizado, ela mantém cada uma de suas encomendas detalhadamente anotadas. Quantos pedidos há registrados? “Só contando na agenda. Coisa que eu nunca fiz”. Mas, são muitos. E, em muitos casos, feitos pela mesma pessoa. Quer um exemplo? Temos vários: Veridiana, que teve um bolo de dona Iris em sua formatura e outro em seu casamento; Marco, que, também, teve a guloseima feita pelas mãos da confeiteira em sua cerimônia de matrimônio e, pela propaganda, intermediou encomendas para outros casamentos da família, aniversários e, até, comemorações empresariais; e fregueses que, para confirmar a preferência, já poderiam ter recebido um cartão-fidelidade. “Já fiz até bolos de pessoas que casaram, tiveram filhos, separaram e eu fiz o bolo do segundo, do terceiro casamento e de seus filhos”, mencionou a confeiteira. É muita história regada a glacê para contar sobre estas quase três décadas de trabalho.

Algumas das "obras-primas" de dona Iris (Foto: Arquivo Pessoal).
Algumas das “obras-primas” de dona Iris (Montagem: Fotos do Arquivo Pessoal).


Pelo lado de dentro
Não, esta reportagem não desvendará o segredo dos bolos produzidos por dona Iris. Porém, baseada na receita de um bolo simples de festa – que contém, basicamente, açúcar, manteiga, ovos, extrato de baunilha, farinha de trigo, fermento em pó, leite e chocolate -, a doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Ana Paula Wally, 33, comentou um pouco das principais características de cada um destes ingredientes.

raioxbolo

Taís Brem
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