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Pagando bem…

 

 

É uma boa sacada de marketing. Você pode não conseguir conquistar aquela boazuda da tevê, mas pode beber a cerveja em que ela aparece como garota-propaganda. Ser tão atraente quanto aquela estrela do cinema também está longe das possibilidades naturais, mas você pode, ao menos, fumar o mesmo cigarro que ela fuma. E faz efeito. Psicologicamente, simples assim. Li na Folha de ontem que um grupo de pesquisadores de uma revista britânica de artigos sobre o tabaco publicará um estudo interessante que enfatiza esta constatação. A matéria mostra contratos cinematográficos referentes às décadas de 20 a 50 que envolviam artistas, estúdios e empresas de cigarros em acordos para que o tabagismo aparecesse nas telonas. Sim, os astros hollywoodianos recebiam fortunas para fumar em filmes! Absurdo, não? Além de influenciar o comportamento dos mais fracos da cabeça, ainda colocava o vício como algo glamouroso. E o pior: quem defende a prática, justifica que o cigarro é uma espécie de “patrimônio do cinema mundial”, porque constitui figura indispensável em clássicos como “Casablanca” e “Gilda”, cuja imagem sedutoramente enfumaçada do cartaz oficial ilustra a foto abaixo. Lamentável. Leia na íntegra.

 

 

Astros de Hollywood recebiam fortunas para fumar em filmes*

 

As grandes empresas de cigarro pagavam quantias milionárias às estrelas de Hollywood da primeira metade do século passado para que aparecessem fumando nos filmes, de acordo com pesquisadores que tiveram acesso a alguns desses contratos.


Clark Gable, Spencer Tracey, Joan Crawford, John Wayne e Bette Davis foram algumas das míticas estrelas cinematográficas usadas pela indústria do tabaco, mediante o pagamento de milhões de dólares, para dar uma imagem de “glamour” ao cigarro, denunciaram os pesquisadores.

 

Um equipe dirigida pelo professor Stanton Glanzt, do Centro de Pesquisa e de Educação sobre o Controle do Tabagismo da Universidade da Califórnia (EUA), teve acesso aos contratos assinados entre os produtores de cigarro e as grandes estrelas de Hollywood desde o início do cinema falado, no final da década de 1920, até a chegada da TV, nos anos 1950.

 

O grupo comprovou que Paramount e Warner Bros eram os estúdios com mais acordos promocionais com essas empresas, especialmente Lucky Strike (American Tobacco) e Chesterfield (Ligget & Myers).


Somente a American Tobacco pagou, no final de 1930, o equivalente hoje a US$ 3,2 milhões aos astros do cinema para relacioná-los aos cigarros Lucky Strike.

 

Foi assim que as grandes estrelas da época ajudaram a promover a imagem da marca Lucky Strike, Old Gold, Chesterfield, ou Camel, entre outras.

 

Indústrias amigas

Os pesquisadores destacam a sinergia entre ambas as indústrias, já que os produtores de tabaco ganham uma melhor “aceitação social” do cigarro, e os estúdios de cinema se aproveitam das estratégias comerciais desse setor.

 

A presença de fumantes na telona é denunciada, com freqüência, como incentivo ao tabagismo de jovens e adolescentes. Já os que se opõem a uma regulamentação sobre artistas que fumam nos filmes defendem que a representação do cigarro faz parte do patrimônio artístico do cinema americano e citam clássicos como “Casablanca” (1942).

 

O estudo, financiado pelo Instituto Nacional do Câncer Grant, aparece nesta quinta-feira na revista especializada britânica “Tobacco Control”.

 

*Da agência France Press