Linguajar de tribunal

 

Com a desculpa de dar uma cara mais informal às suas sentenças, o juiz Cláudio Ferreira Rodrigues, titular da Vara Cível de Campos dos Goytacazes (RJ), faz questão de baixar o nível na linguagem em pleno exercício da profissão. Diz que assim fica mais fácil que cada autor entenda por que ganhou ou perdeu tal ação. E foi por isso que, ao determinar o pagamento de uma indenização de R$ 6.000 por defeito em uma TV, Rodrigues sentenciou: “Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor, presente na quase totalidade dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele, como o autor poderia assistir às gostosas do ‘Big Brother’?”. Parece piada, mas é real.

 

O caso era de um cidadão que ficou meses sem poder assistir televisão, em função de um problema técnico no aparelho. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o juiz deixou claro que não se arrepende da descontração e que não adianta falar apenas a língua que os advogados entendem. “[As garotas que participam do ‘BBB’] Não são escolhidas pelo padrão de beleza? 90% das mulheres que vão para lá são bonitas realmente. Talvez eu tenha pecado pela linguagem. Poderia ter falado: ‘Deixando de observar as meninas com um padrão físico’”, explicou, em tom de deboche.

 

No mesmo documento, Rodrigues ainda brincou com a situação do Fluminense e do Vasco, adversários do Flamengo, time para qual torce o autor da ação. “Se o autor fosse torcedor do Fluminense ou do Vasco, não haveria a necessidade de haver TV, já que para sofrer não se precisa de TV”.

 

Taís Brem